Seguidores

terça-feira, 4 de outubro de 2016

Desafios e mancadas na Corrida dos Eucaliptos

Terceira edição da Corrida dos Eucaliptos, dia 25 de setembro, em Santa Branca-SP, foi tão desafiadora quanto desorganizada.

Realizado dentro de uma bela reserva de eucaliptos, o evento  organizado pela ZBR Clama Sport tem tudo para ser brilhante, atraente. Mesmo porque, também movimenta a economia da  pequena cidade, que recebe cerca de dois mil visitantes.

Intuito do nosso texto é avaliar com isenção; não é execrar. Para merecer elogios, no entanto, precisa  minimizar algumas mancadas.

Beleza dos eucaliptos, da natureza em si, é indiscutível. Embora, durante a corrida, não dê muito pra ficar sentindo aromas perfumados. Todos só querem andar, correr e chegar.

Percursos com ascendentes e descendentes significativas também é bem interessante. Não é pra qualquer iniciante, juvenil. Bem difícil. Prato cheio especialmente pra quem já está saturado de corridas urbanas, em ruas asfaltadas.

Lógico que há  flagrantes variações de logística e objetivos quando o assunto é rural. Estrutura é bem diferenciada. Porém, organização aceitável é o mínimo que o corredor pode e deve exigir. Mesmo porque, paga caro.

Não basta, nós, corredores  na maioria amadores, fazermos aquela festa,  tradicional e contagiante. Alegria, adrenalina nas alturas, otimismo e orgulho por concluir o desafio e receber a bonita medalha; tudo são componentes indissociáveis do atleta.

Por falar em medalha, a gravação nela aponta 7km, 14km e 21km, em vez de 20km, conforme anúncio em site dos promotores. Será que os deslizes começaram com medição conflitante do percurso?  Não sei não se aquelas plaquinhas brancas, escritas em vermelho, marcavam 20 ou 21km. A conferir.

Existem outros, mas problemas mais graves na Corrida dos Eucaliptos começam pela falta de opções decentes para estacionamento. Um caos! É carro pra todo lado. No acostamento do asfalto e em qualquer estradinha estreita, de terra. 

Nosso veículo, por exemplo, ficou a mais de um quilômetro  do local de largada. Isso porque chegamos com mais de uma hora de antecedência hein!

Para chegar à largada você tem a sensação  (deduzo) de ser  um daqueles bois entrando no antigo corredor dos matadouros. Como em São José do Rio Pardo e São Sebastião da Grama.

Após desistir de utilizar um dos poucos banheiros químicos devido às longas filas, o "herói" dos eucaliptos entra na muvuca. Aos trancos, vai ganhando espaço. "Com licença. Com licença. Obrigado!"

Um caminho bem apertado, com barracas  de equipes e organização (?) tomando  metade da largura. Muitos atletas, como eu, Zé Luiz e Manoel,  caminhavam sobre o barranco  e faziam necessidades primárias ali mesmo, entre árvores de pequeno porte. Sei não se aqueles eucaliptos vão vingar!

Em espaço ainda reduzido, largada sugeria estouro de uma boiada, o que é normal em muitas corridas. Sempre existem os apressadinhos. Que nem sempre chegam ao final.

Só que a 50m  você já entra à direita e sobe por uma espécie de picada, com terra fofa e tocos de eucaliptos recém-cortados. Com certeza muita gente beijou o chão.  Brincadeira de mau gosto, convenhamos!

Outro pecado da organização foi  não dar as caras durante os percursos de 7km, 14km ( o nosso) e 20km. Presença apenas nos  três postos de hidratação, feita  apenas por meio de galões de água, conforme avisado com antecedência. Imagina ficar distribuindo copinho? E o meio ambiente?

Como não havia ninguém  monitorando com veículo, nem mesmo moto ou bike, e a ambulância estava estacionada lá antes da largada, o que seria feito se alguém passasse mal ou um levasse um  simples tombo e precisasse de socorro com urgência?

Também não existia com clareza qualquer marcação como referência de quilometragem percorrida ou restante. Muitos, como eu,  gostam. Apenas  pequenas setas a indicar cada rota. Mesmo assim teve gente que se perdeu no percurso dos 20km, foi parar no asfalto e correu dois quilômetros a mais.

Pessoal dos 7km também andou chiando. Ouvi várias meninas e senhoras reclamando que percurso tinha pelo menos dois ou três quilômetros de "bônus".  Nove ou 10?  Isso é organização?

Mulherada ainda reclamou  do preço do kit. "Onde já se viu o kit básico custar em média R$ 100 e não incluir nem uma camisetinha?". Meu kit era completo, com squeeze, adesivo e uma camiseta sem restrições. Paguei R$ 60 porque já sou sessentão.  Mas concordo com a moça de Ribeirão Pires.

Também concordo com a opinião de várias pessoas que lamentaram muito a existência de uma árvore de grande porte caída no meio da trilha, no final,  coincidente,  dos três percursos. Erro primário!

Trilha na mata foi até bem maneira, legal mesmo. Uma surpresa agradável! Mas sem essa de obstáculo natural. Faltou checagem/fiscalização antecipada e retirada da árvore -- não caiu naquele dia não -- ou alteração do percurso.

Pior mesmo é que ali se encontraram os corredores das três opções de percurso. Imagine afunilar e provocar um congestionamento de mais de 100 atletas. Tenho a foto. Festiva, porém chocante.

Ficamos ali parados por mais de 15/20 minutos porque nem todos conseguiam transpor o tronco sem dificuldades. E o tempo correndo. Lamentável senhores organizadores! Poderia ser evitado. Fica a sugestão.

Sinceramente, a alternativa pra quem gosta de correr na natureza é tentadora, tanto que foram cerca de dois mil malucos, a maioria suada mas com sorriso no rosto,  mas assim não dá pra voltar não.

Estava até propenso a correr 13km, sem subidas e descidas,  na Guaranis Race, lá na aldeia, em Boraceia, em 2017, mas vou   relaxar e repensar.

Quer saber? Talvez seja melhor fazer um aquatrekking (?) no riacho límpido,  lá no fundo do condomínio Morada da Praia, e depois tomar caipirinha de lichia. Só não sei se na casa do Zé Luiz ou do Manoel.

Em tempo: completamos sim os 14km. Cansados, doloridos e realizados. Nem por isso com o senso crítico abalado. Que a ZBR Clama fique ligada e tenha humildade para reconhecer erros e  crescer.

Oficialmente, entre os 24 sessentões que correram os 14km, fiquei em 15º. No geral dos 14km, fui o 290º entre 350. Tempo líquido oficial foi de 2h09min33seg. Meu tempo real, que, por justiça, deveria ser o considerado pela cronometragem, seria pelo 15 minutos a menos.

Mas tudo bem. Afinal, havia uma árvore no meio do caminho. No meio do caminho havia uma árvore. Pois é, Drumond, sua famosa pedra, aquela da poesia,  seria café pequeno.