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sexta-feira, 30 de outubro de 2020

Pedra do Sino do Itatiaia

 Sinceramente, uns 10 anos atrás, cheguei a pensar ser o vizinho  Parque Central  meu único e aconchegante quintal fora de casa. Mas não! 

Ultimamente, cada vez de forma mais cristalina e intensa, percebo que a montanha é minha casa, meu quintal, meu Parque Central. Porém, em forma de latifúndio. Terras, cachoeiras,  pedras, vales e montanhas a perder de vista. 

Ainda não passei escritura, mas não vai demorar. Vou tomar posse da Serra da Mantiqueira,  da Serra Fina, do Parque Nacional do Itatiaia, da Serra da Bocaina, da Serra dos Órgãos, da Serra da Canastra, da Chapada Diamantina...

Já escrevi e  volto a reafirmar sem medo e sem blefe: se um dia eu não voltar, fui porque ELE quis... nada de lágrimas...tome um vinho por mim...fui embora feliz.

Faça chuva ou faça sol, lá é o meu refúgio. Sob calor escaldante ou frio congelante, lá é meu paraíso. Cansado, quebrado, dolorido... às vezes assustado,  quase sempre suado ou até sangrando, mas cantando refrões de  felicidade e declamando poemas de gratidão.

Semana passada, no PNI, não foi diferente. Para escapar da promessa de chuva forte e raios nada amigáveis, trocamos a quarta-feira pela quinta. E deu certo! 

De van, saímos -- Vitor Guia, Flávio, Gabrielle, Lucas, Angela e Raddão -- de Penedo às 5h15min da matina, pegando a Dutra e  saindo pra BR-354 em Engenheiro Passos. Depois de 24km, na Garganta do Registro, divisa com Itamonte-MG, entramos à direita. São 14km até o Posto Marcão ( estrada ruim até a portaria da parte alta).  Cumprimos a tarefa burocrática e começamos a caminhada às 7h40min, a partir do Abrigo Rebouças. 



AGULHAS NEGRAS





PEDRA DO ALTAR






Altar AO FUNDO
























Pedra do Sino


Circuito  começou de leve, quase um passeio no parque, passando pelo lago do abrigo e pela ponte pênsil, até chegar à bifurcação: direita pro  famoso pico   de Agulhas Negras e esquerda pra Pedra do Altar.

Aí a roda da trilha já começa a pegar. Subida exige bom condicionamento físico. Fôlego só volta ao patamar aceitável pouco antes  da Pedra do Altar (2665m, 11° do Brasil ao lado do Pico dos 3 Estados, na Serra Fina).

A partir do Altar, mesmo sem necessidade de tantas orações, o santo passou a ajudar. Descida até a Cachoeira do Aiuruoca, já vislumbrando Ovos da Galinha e o nosso principal objetivo da aventura, a Pedra do Sino do Itatiaia -- pra não confundir com o Sino da Serra dos Órgãos-RJ.

Superada e curtida a cachoeira ainda quase sem água, passamos pelas nascentes do Aiuruoca -- casa do papagaio em tupi-guarani --  e não demoramos pra chegar aos Ovos da Galinha.

Caraca!  E agora? Lá está a almejada Pedra do Sino, 10° ponto mais alto do Brasil com 2670m. Não vai ser fácil. E não foi. Principalmente em tempos de pandemia, quando os treinos são reduzidos e as montanhas viram um desafio, uma exceção. 

Foi difícil evitar pit-stops sequenciais. Muito aclive, muita pedra e pouco oxigênio na caixa. Pelo menos da minha parte, já que o ritmo imposto pelo Vitor ( cel do grande guia é 24.981585085) foi bem forte. Nem poderia ser diferente pra quem pretendia, se desse tempo, completar o circuito no Morro do Couto, o 9° ponto mais alto do País, com 2680m de altitude, segundo dados do IBGE .

Ficamos no Sino cerca de 30/40 minutos. Tempo suficiente pra descansar, respirar,  se hidratar, se alimentar bem, contemplar a paisagem -- apesar da neblina e de  algumas nuvens passageiras -- e fazer as fotos de praxe com imagens privilegiadas de Agulhas Negras,  Pedra do Altar, Asa de Hermes, Morro do Couto e cia.

Iniciamos o retorno ao meio-dia, com o objetivo de chegar ao estacionamento da portaria antes das 15h. Descida cuidadosa foi um pouco menos estafante e mais rápida do que a ascensão. 

Atravessamos um pequeno charco com alguns bambuzinhos e capim elefante, contornamos  os Ovos da Galinha e aceleramos o passo, agora  superando as nascentes do Aiuruoca em terreno plaino, sem passar pela cachoeira,  até iniciar a  longa subida rumo ao Altar.  

Raddão e Angela,  apesar de sessentões determinados, ficaram uns 100/200m pra trás, mas nossos amigos mais jovens nos esperaram de novo no entrocamento do Altar. Em vez de voltar pelo mesmo caminho da ida, Rebouças, optamos pela direita, no circuito dos 5 Lagos,  que nos levaria até o posto Marcão.

Trilha em plano inclinado,  muito rochoso, com blocos enormes, exigiu extremo cuidado. Cair poderia significar rolamento mínimo de 10/20m. Perder o foco seria flertar com o caos e com o abismo. Então, melhor nem olhar pra direita.

Por mais que tenhamos nos esforçado e pisado no acelerador -- bom lembrar que não somos atletas nem estávamos em competição --, alternando sobe-e-desce,  não foi possível chegar ao estacionamento antes das 15h30min. Mesmo com os 15/20 minutos finais sendo em declive. 

Sinceramente, acho que nossa capacidade "atlética", aeróbica, foi superdimensionada, considerando-se que  objetivos principais do dia ficam em lados opostos do parque mais antigo do Brasil.

Por isso, pra não infringir as normas do espaço no quesito horário, optamos por respeitar e deixar o Morro do Couto pra outra oportunidade.

Ficamos muito felizes por cumprir os 23km de pernada, com  significativos 900m de ganho de elevação, em cerca de oito horas. Felizmente, sem pegar chuva. Sem dúvida, mais uma vitória, uma conquista. 

Festejada no "armazém" em reforma  do Breno, na Garganta do Registro. Neto do finado seu Miguel é uma figura ímpar, um vendedor nato. Coisa de DNA. Incrível... a mesma conversa, o mesmo sorriso, a mesma atenção. Até na hora de oferecer os queijos-aperitivos de cortesia,  preparar a pinga com mel sem cobrar e cortar os doces de leite com café/ goiabada e de abóbora com côco de dar água na boca. 
Ah, filho do Nelson também lembra o vô na hora de fechar a conta. Se o Breno te perguntar sua data de nascimento, melhor não revelar... ele pode somar (rsrs). Pena que ele não tenha mais o chope Kalena.


Mais uma vez, com a graça de Deus, em companhia de amigos nota 10, tudo correu sem problemas. Obrigado e parabéns a todos. 

         

Sapinho rubro.negro Flamenguinho

quinta-feira, 1 de outubro de 2020

O ADEUS DO GRANDE GUARDIÃO

 






INFELIZMENTE, SEU MAEDA NOS DEU  O ÚLTIMO ADEUS.   VÍTIMA DE UM ACIDENTE/INCÊNDIO DOMÉSTICO HÁ CERCA DE UM MÊS, O GRANDE GUARDIÃO DA MANTIQUEIRA NÃO RESISTIU ÀS QUEIMADURAS E  FALECEU HOJE DE MANHÃ, AOS 80 ANOS.

QUE A MONTANHA O RECEBA DE BRAÇOS ABERTOS. COM O  CARINHO, O RESPEITO E A GRATIDÃO QUE SEU MAEDA SEMPRE MERECEU.

QUE TURISTAS, GUIAS E,   PRINCIPALMENTE,  MONTANHISTAS JAMAIS SE ESQUEÇAM DE TUDO QUE  O PRECURSOR  EXEMPLAR FEZ POR TODOS NÓS. PEQUENO NO TAMANHO, GIGANTE NAS ATITUDES.

QUE A PARTIR DE HOJE,  O MARINSINHO,  INCRUSTADO NO SEU QUINTAL E NO SEU CORAÇÃO, PASSE A SE CHAMAR PICO MAEDA.

SIM, PICO MAEDA, UMA PEQUENA MAS JUSTA HOMENAGEM A UM  HOMEM QUE NASCEU PRA DEDICAR AMOR INCONDICIONAL À MONTANHA.

QUE CADA UM DOS SEUS 2432M SIGNIFIQUE UM GESTO  DE REVERÊNCIA A UM DOS MAIORES ÍCONES DO MONTANHISMO BRASILEIRO.

QUE CADA PEDRA DO COMPLEXO MARINS/ITAGUARÉ SE TRANSFORME EM LUZ. NAQUELA SETA AMARELA DO GRANDE JAPINHA A NOS MOSTRAR O CAMINHO.

QUE CADA PALMO DE TERRA, CADA BAMBUZINHO, CADA CAPIM ELEFANTE, CADA POR DO SOL E CADA VISÃO ESTONTEANTE DOS CUMES  DA SERRA FINA NOS FAÇAM LEMBRAR COM CARINHO DE QUEM AJUDOU A ABRIR TRILHAS DESAFIADORAS QUE DESEMBOCAM NUM LUGAR  CHAMADO FELICIDADE.

A FELICIDADE DE QUEM SE SUPERA. O ÊXTASE DE QUEM CONQUISTA. A GRATIDÃO DE QUEM JAMAIS SE ESQUECE.

AH, NÃO SE PREOCUPE TANTO, VELHO MESTRE. ALGUÉM HÁ DE CUIDAR COM DENODO DA SUA TRILHA PREFERIDA. DA ÁGUA, DOS MIRANTES, DA PEDRA MONTADA,  DAS SETAS INDICATIVAS, DO PICO MAEDA, DO MARINS, DA PEDRA REDONDA, DO ITAGUARÉ...DA SUA PAIXÃO POR MAIS DE MEIO SÉCULO.

OBRIGADO GRANDE MAEDA.  NOSSO CONVÍVIO FOI BREVE, MAS MINHA GRATIDÃO SERÁ ETERNA. QUE  DEUS O TENHA.