Donizeti Raddi, 70 anos, jornalista e professor de Educação Física aposentado. Hoje, vô babão, trilheiro, montanhista amador, aventureiro e blogueiro ocasional.

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sábado, 14 de abril de 2012

Talento brilha na bacia das almas

Com certeza, quase todo mundo já ouviu a expressão "na bacia das almas". Pra quem não sabe ou não se lembra, quer dizer último momento, derradeira oportunidade, na hora da morte.

Explicação dos entendidos de religião: para os cristãos, a frase retrata os preparativos para o sacramento da extrema unção, quando a bacia em que se colocavam os óleos, unguentos e paramentos do sacerdote ficava ao lado do moribundo.

Se ainda fosse vivo, com certeza meu saudoso pai diria simplesmente que o São Bernardo já estava no bico do corvo, quando o talento de um genuíno prata-da-casa renasceu das cinzas.

Exagero? Nada disso! Criado no Tigre,o ultimamente apagado atacante Raul entrou aos 19 minutos do segundo tempo, no lugar do meia-armador Luciano Mandi.

Até os 45 minutos, o ídolo da torcida tinha jogado pouco; bem pouco; quase nada. Era praticamente um retrato fiel da equipe que empatava de 1 a 1 com o Red Bull.

De repente, um estalo de quem nasceu com talento. Aos 46 minutos, Raul recebe a bola na intermediária, quase na ponta direita, e a conduz com rapidez, na diagonal, rumo à meia-lua. Deixa Murilo para trás e com um leve toque dá o chamado drible-da-vaca no outro zagueiro, Rogélio.

Diante de Gilvan, Raul não titubeia; com calma e categoria, dribla o goleiro, mas a bola escapa um pouco para a direita, dando a impressão que ele perderia o ângulo. O chute rasteiro passa rente aos pés de mais um adversário e a bola entra colada no poste esquerdo.

Assim foi o São Bernardo de agora há pouco no Moisés Lucarelli, em Campinas. Ganhou de 2 a 1, de virada, porque naqueles segundos mirabolantes, já na bacia das almas, contou com o brilho do talento.

Ou alguém duvida de que a igualdade deixaria o Tigre em situação complicadíssima, pela hora da morte, pra quem sonha voltar à elite do futebol paulista?

Assim como quando perdeu em casa do Penapolense, o São Bernardo voltou a jogar mal. Só não desperdiçou tantas oportunidades quanto na quarta-feira porque não as criou.

No primeiro tempo, embora começasse com disposição e agressividade, especialmente com a liberação de laterais/alas, o Tigre só chegou com contundência uma vez. Aos 45 minutos, Luciano Mandi empatou depois de triangular com Zé Forte e Bady, penetrar entre os zagueiros internos e bater no canto direito do goleiro.

Embora menos desorganizado, o Red Bull também não foi lá essas coisas. Marcou aos 17minutos com Henan, o mesmo que desperdiçaria duas outras chances aos 22 e aos 26 minutos, quando o São Bernardo estava ainda mais perdido e errava até mesmo na saída de bola.

Além de falhar na marcação pelas laterais -- principalmente Renato Peixe, pela esquerda -- e na cobertura, o time de Luciano Dias (expulso com rigor espartano por reclamação) abusava do individualismo (de novo) e da apatia. Parecia anestesiado depois do gol.

O São Bernardo voltou para o segundo tempo sem distribuir tantas facilidades defensivas, apesar de manter a liberação dos laterais, enquanto que o Red Bull já não tinha ousadia ofensiva.

Aos 13 minutos, Danielzinho, que, mais vez, jogou bem menos do que pode ou acha que sabe, perdeu gol incrível depois de driblar o goleiro e permitir a chegada do zagueiro Rogélio para salvar.

Aos 16 minutos, o técnico Luciano Dias trocou o 4-4-2 tradicional e inoperante pelo 3-5-2 meteórico ao colocar o zagueiro Max Lelis no lugar do segundo volante Zé Forte e transformar os laterais definitivamente em alas.

Porém, três minutos depois o treinador voltou a fazer alteração questionável ao tirar o meia Luciano Mandi, que até parecia mais motivado depois do gol, e colocar o atacante Raul.

Talvez o objetivo com o teoricamente ousado 3-4-3 ( três zagaueiros, dois alas, um volante, um meia e três atacantes)fosse agredir mais e virar o jogo. Sem armação eficiente, nada disso aconteceu.

Aos 30 minutos, provavelmente reconhecendo o erro ou abdicando de tentar a vitória, Luciano Dias desfez o 3-4-3 e voltou ao 3-5-2 ao trocar o atacante Ricardinho pelo meio-campista Leo Costa.

Apesar da tentativa, o Tigre perdeu o meio-campo, não agrediu com consistência, insistiu em ignorar o jogo coletivo e por duas oportunidades esteve por tomar o gol de um time momentaneamente limitado e já sem tanta intensidade ofensiva.

Não fosse a jogada maravilhosa e o golaço do heroi Raul, a estas horas o São Bernardo estaria mesmo novamente no bico do corvo ou na bacia das almas.

Com a virada, assume o terceiro lugar no grupo, torce por empate entre Penapolense e Noroeste -- amanhã em Penápolis -- e ainda sonha com o acesso, já que tem mais nove pontos a disputar.

Porém, se quiser uma das duas vagas da chave, precisa manter a fé e jogar muito mais do que o fez nas três rodadas desta fase. Afinal, talento individual, atos de heroismo e sorte não dão plantão nem andam de mãos dadas em todos os jogos.

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