Por isso mantive contato preliminar também com vários guias, a maioria pelos quais já fui conduzido. Texto não rolou por falta de tempo de alguns para responder. Outros por esquecimento, opção pessoal ou até certa má vontade. Sem problemas, entendo; continuo respeitando e grato a todos pela convivência sempre amiga, leal e profissional.
Isto posto, aqui transcrevo a resposta por escrito do Marcelo, a quem agradeço muito. Espero que o relato seja útil a guias e clientes, principalmente:
"Sobre guia, eu enfatizaria que deveria estar qualificado e possuir habilidades requeridas para o exercício da profissão. Por exemplo, se é um guia de turismo, deveria possuir formação técnica ou superior em turismo. Se é um guia de trekking ou de montanha, deveria ter um título ou certificação correspondente.
Infelizmente, muitos guias do mercado, principalmente na área da alta montanha, não possuem a qualificação necessária para o exercício da profissão. Qualificação oferecida somente em outros países.
Inclusive, disponibilizam serviços onde essa qualificação é exigida, como no Aconcágua, por exemplo, burlando as regras desses lugares. Isso, além de antiético, vai contra a tendência de profissionalização do mercado de aventura.
Ter a qualificação para os serviços oferecidos é demonstrar postura ética e de respeito para os clientes. Também são importantes as habilidades requeridas para as funções exercidas.
Tem gente oferecendo serviços de guia de montanha que não sabe escalar, o que é incompatível com os requisitos exigidos para se conseguir certificação de guia de montanha, além de trazer insegurança para os clientes.
É fundamental que o guia esteja familiarizado com as técnicas necessárias e com o ambiente onde atua. Se oferece serviços em alta montanha, mas mora e passa a maior parte do tempo no Brasil, onde não há alta montanha, há algo de errado.
Dando um exemplo na área de turismo convencional, se é um guia de turismo que leva clientes para a Disney, mas não fala inglês, também não está correto.
Serviço de turismo, convencional ou de aventura, é algo especializado e um guia deveria oferecer aos clientes serviços compatíveis com suas habilidades.
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Marcelo Delvaux, o GUIA |
POSTURA, ÉTICA, RESPEITO, EDUCAÇÃO...
Acho que outras características que o guia deve possuir estão bastante relacionadas com a qualificação e as habilidades requeridas: postura, ética, respeito ao cliente, paciência, educação e respeito com as populações locais, entre outras.
Também acho que o guia deve ser alguém que detenha amplos conhecimentos sobre a cultura, a história e as características das regiões onde trabalha, e não apenas oferecer serviço de conduzir o cliente por roteiro específico.
Ainda como complemento, lembro aqui algumas da competências técnicas específicas do guia de montanha: escalada em rocha ( mínimo sexto grau francês), escalada em gelo, trânsito em glaciar, trânsito em terreno alpino, resgate em gretas, autorresgate, resgate em terrenos verticais, primeiros socorros e medicina de montanha, guiada com corda curta e guiada em terrenos verticais (rocha e gelo).
Os requisitos variam de lugar para lugar, bem com o currículo mínimo, que inclui x montanhas acima de 6500m, x acima de 5000m, x acima de 4000m, x graus de dificuldade D, x graus de dificuldade AD, x graus de dificuldade PD, x invernais etc. O x depende da escola, do tipo de certificação etc. Portanto, não há um padrão para esses critérios.
Esclarecimento final: o termo "guia de montanha" é único no mundo e inclui guiadas em montanhas como neve, gelo etc. Por isso não há diferenciação de um guia de montanha para o Brasil.
Para o ambiente brasileiro se encaixa melhor guia de trekking ou guia de escalada para lugares que requerem técnicas verticais, como escalar o Pão de Açúcar, por exemplo.
Se formos usar a nomenclatura praticada no mundo, um guia de escalada que trabalha no Rio não poderia ser chamado de guia de montanha. Quando alguém diz "mountain guide" estão implícitas as competências mencionadas".
***MARCELO DELVAUX é guia profissional de montanha com título de guia superior de montaña obtido na EPGAMT. É associado à AAGM e à AAGPM, além de credenciado no Parque Provincial Aconcágua. Pratica escalada em rocha desde a década de 1990 e alta montanha desde o início dos anos 2000, tendo realizado mais de 80 ascensões nos Andes e no Himalaia. É o terceiro brasileiro com mais montanhas acima de 6000m de altitude.