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domingo, 21 de julho de 2024

PINTOU O CAMPEÃO! "CALMA, PAI!"


André Ramalho, estreante nota 10




Calma, corintiano! O ex-artilheiro Ramon Diaz acabou de chegar. Técnico ajuda, mas não ganha jogo.

Falar em dois jogos de invencibidade e  100% de aproveitamento é paixonite aguda.

Coisa de torcedor fanático como meu filho mais novo, o quase quarentão Fernando. 

Chorão assumido, nas vitórias retumbantes e nas derrotas acachapantes, o Nando mandou a seguinte mensagem no zap:

"Pai, hoje o coringão foi muito bem hein! Minha nossa!  Ufa!  Eu não aguentava mais.  Sofremos no final, normal, mas foi merecido. Duas vitórias seguidas".

-- Oi filhão!  Também gostei.  Sem empolgação! O Yuri Alberto é muito esforçado, mas corre pro lado errado, se posiciona mal, domina pior ainda e finaliza como juvenil aprendiz. Deveria voltar pro jardim da infância da bola e aprender todos os fundamentos.

-- Poxa pai,  ele parece desconcentrado, sem foco, mas o time não ajuda, o momento também não.

-- Pára aí filhão. A bola também não. Muito redonda e calibragem acima. Atrapalha quem não tem intimidade! Sem contar o gramado da Fonte Nova. Melhor aprender no terrão esburacado. Com bola pequena, de borracha, como no meu tempo.

-- Paizão, você já jogou bola. Dizem que era um zagueiro que não perdia viagem. Cada enxadada, uma minhoca.

-- Verdade. Não posso negar. Técnica zero. Determinação nota 8. Liderança nota 7. Comigo nosso centroavante não ia pegar na bola. Ia pipocar e se jogar antes da chegada.

-- Acho que ele se esforça como ninguém, mas foi mal. Só que  nosso time ganhou de 1 a 0 com passe dele pro Romero.

Romero fez o gol após passe de Yuri Alberto.


-- Filho, isso é pouco pra quem tem a incumbência de fazer nossa alegria, de fazer gol. Por isso, insisto. Nosso homem-gol deveria ter  características argentinas ou uruguaias. Calleri e Vejeti cairiam como uma luva. Até o veterano  Suares é melhor. Tem cheiro de gol. Têm o DNA do Curíntia.

-- Concordo, mas eles não jogam no nosso time.

-- Verdade. E eu também não disse que o Yuri é perna-de-pau. Só sugeri que volte pra escolinha.

-- kkk..tá certo. Mudando de pato pra ganso. Pai, pessoal  da Internet escolheu o Garro como melhor em campo. O cara só corre e se joga. De vez em quando acerta um chute. Pouco! Já o nosso zagueiro estreante não errou uma bola.

-- De novo falamos a mesma língua, filhão. Vimos o mesmo jogo. O André Ramalho foi o melhor em  campo. Disparado! Sério como deve ser um zagueiro. Firme na  antecipação, na cobertura e com posicionamento exemplar. Além disso. Não errou um passe e se deu ao luxo de, mesmo estreante, mostrar personalidade e liderança.

-- Concordo, paizão! Até pensei que fosse escrever isso na mensagem de intervalo.

-- Pois é, Nando. Tenho alguns  anos de janela. Às vezes erro, mas aprendi que, antes do apito final não podemos execrar artilheiros nem craques. Tanto quanto não podemos elogiar arbitragem, zagueirão e goleiro  antes do fim.  Da merda! Entrega! Por isso o silêncio. Fiquei com medo de secar.

-- Entendi! Vem cá. Estamos momentaneamente fora da zona da degola.  Acha que dá pra se salvar?

-- Lógico!  Pode escrever. Pintou o campeão! Se ganhar todas, todas mesmo, vai pras cabeças. chega pelo menos na Libertadores! Aí nem preciso mais tomar sintocalmy a cada jogo. Pqp! Rsrs

-- Calma, pai!  Não pode estar falando sério. Não temos time. Sem  empolgação!

--  Brincadeira, filho! Apenas uma pitada de licença poética. Mistura de jornalismo "imparcial" com  paixão clubista irreversível. Melhor mesmo é fazer figa e torcer como um bando de loucos. Já te disse. Às vezes parece que " aqui tem um bando de trouxas, chorando por um bando de frouxos".

-- Tá bom!  Agora vou descansar. A semana na GM  é longa. Te amo, viu paizão?

-- Também te amo, filhão! Beijos pra Matheus, Beatrice, Gabriel e Gustavo, um   time de  novos corintianos.

sexta-feira, 19 de julho de 2024

DELVAUX E RAINERI: O ÚLTIMO CUME, O ÚLTIMO VÔO


Marcelo Delvaux no cume do Huayna Potosi (6088m), La Paz,  na Bolívia. Raddi e Flávio ficaram pelo caminho. Faz parte!


Rodrigo Raineri no cume do Everest (8848m), no Nepal




De uma tacada só, o montanhismo  brasileiro e mundial perde mais  dois de seus maiores ícones.

Num espaço de duas semanas,  referências como Marcelo Delvaux e Rodrigo Raineri nos deixam órfãos.

Raineri morreu  saltando de parapente durante expedição nas bordas do temível K2, a segunda montanha mais  alta da Terra,  no norte do  Paquistão. 

Com 8614m de altitude, o K2 só perde para o Everest, o teto do mundo, com 8848m,  na fronteira da China com o Nepal. 

   

Durante trekking ao  acampamento base do K2, Raineri resolveu saltar de parapente,  outra de suas especialidades. Desde 2009, quando desceu de parapente após escalar o Mont Blanc. Porém, desta vez deu azar porque o para-quedas se rompeu e Raineri não resistiu à queda.


Figura de proa no montanhismo mundial, Raineri escalou três vezes até o cume do Everest  -- 2008, 2011 e 2013 --, um feito excepcional. 

Em 2002, ao lado de Vitor Negrete, o alpinista  de 55 anos nascido e enterrado em  Ibitinga/SP também superou a assustadora face sul do Aconcágua. Negreti faleceu  em 2006, quando descia o Everest após fazer o cume. Raineri estava na mesma expedição e ficou muito abalado emocionalmente. 

Em 2016, Raineri -- diretor da agência Grade6 ( Campinas) e exímio alpinista -- foi o único brasileiro a guiar clientes nos famosos sete cumes mais altos de cada continente.

Livro na estante de casa: o  mundo aos pés de Rodrigo Raineri




ACONCÁGUA, O QUINTAL DE DELVAUX


Já o  mineiro de Juiz de Fora, Marcelo Motta Delvaux, dominava com maestria a neve, os glaciares e as alturas mais significativas da América do Sul, além de se aventurar também pelo Himalaia. Guiava como poucos. Com cuidado e extrema responsabilidade.


Marcelo, guia  superior do Parque Provincial do Aconcágua


Havia uma fenda profunda no meio do caminho de "Delvô"



Em Arequipa, no Peru, Marcelo Delvaux estava sozinho quando descia mais uma vez o Nevado Coropuna Oeste,  a quarta mais alta montanha do país, com 6425m de altitude. No entanto, encontrou a morte cerca de 150m  após a conquista do vulcão. Havia uma fenda profunda e  traiçoeira coberta por neve no meio do caminho, não tão longe de onde Delvô armara sua barraca. Greta é tão abismal que o resgate é quase  impossível e a morte é dada como certa.

Guia  profissional  extraordinário,  um dos mais conceituados do continente, Marcelo, de 55 anos,  sabia tudo de mais de 160 montanhas americanas, especialmente, Peru,  Venezuela, Guatemala, Bolívia, Equador, Chile e Argentina.   Com 6962m de altitude, o mais alto fora da Ásia, o Aconcágua era seu quintal.





Marcelo Delvaux começou com escalada em rocha na década de 1990. Em 2000 passou a guiar em alta montanha.


Nos últimos cinco anos, entrevistei,  falei e troquei mensagens inúmeras vezes com o sempre atencioso Marcelo. Neste Blogdoraddi, em 2019, o detalhista Marcelo explica com precisão a diferença de guias e GUIAS. Enganadores e verdadeiros.

Trocamos informações  --   orçamentos também -- e orientações sobre  o gigante Aconcágua ( acampamento base,  Plaza de Mulas), Cerro Plata, Huayna Potosi, Osorno,  Vilcanota, Illimani, Acotango,  Sajama e outros.

Eu  e o companheiro Flávio lo Giudice ficamos bem próximos de escalar três montanhas acima de 6 mil metros  -- Huayna Potosi, Parinacota e Acotango  --com ele. De última hora, optamos por uma agência boliviana, em detrimento da Espírito Livre,  do Delvaux.  Me arrependi!

Há três meses, voltamos a conversar sobre Plaza de Mulas e Cerro Plata. Porém, infelizmente, havia uma greta profunda no meio do caminho.

Descanse em paz, meu amigo. Que seu  amplo e belo legado seja aplicado e respeitado mundo afora. 


Bons ventos para Rodrigo Raineri  na Cascata de Kumbu e no  derradeiro escalão Hillary. E para Marcelo Delvaux na perigosa Canaleta do teto da América. 


Muito obrigado. O montanhismo chora, mas  agradece por tudo que ambos realizaram. Com certeza, partiram felizes, fazendo o que sempre amaram. Um último cume. Um último vôo.


Rodrigo Raineri na temida face sul do Aconcágua, seu maior desafio


 No cume do Everest por três vezes e no K2 o último vôo.