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sexta-feira, 19 de julho de 2024

DELVAUX E RAINERI: O ÚLTIMO CUME, O ÚLTIMO VÔO


Marcelo Delvaux no cume do Huayna Potosi (6088m), La Paz,  na Bolívia. Raddi e Flávio ficaram pelo caminho. Faz parte!


Rodrigo Raineri no cume do Everest (8848m), no Nepal




De uma tacada só, o montanhismo  brasileiro e mundial perde mais  dois de seus maiores ícones.

Num espaço de duas semanas,  referências como Marcelo Delvaux e Rodrigo Raineri nos deixam órfãos.

Raineri morreu  saltando de parapente durante expedição nas bordas do temível K2, a segunda montanha mais  alta da Terra,  no norte do  Paquistão. 

Com 8614m de altitude, o K2 só perde para o Everest, o teto do mundo, com 8848m,  na fronteira da China com o Nepal. 

   

Durante trekking ao  acampamento base do K2, Raineri resolveu saltar de parapente,  outra de suas especialidades. Desde 2009, quando desceu de parapente após escalar o Mont Blanc. Porém, desta vez deu azar porque o para-quedas se rompeu e Raineri não resistiu à queda.


Figura de proa no montanhismo mundial, Raineri escalou três vezes até o cume do Everest  -- 2008, 2011 e 2013 --, um feito excepcional. 

Em 2002, ao lado de Vitor Negrete, o alpinista  de 55 anos nascido e enterrado em  Ibitinga/SP também superou a assustadora face sul do Aconcágua. Negreti faleceu  em 2006, quando descia o Everest após fazer o cume. Raineri estava na mesma expedição e ficou muito abalado emocionalmente. 

Em 2016, Raineri -- diretor da agência Grade6 ( Campinas) e exímio alpinista -- foi o único brasileiro a guiar clientes nos famosos sete cumes mais altos de cada continente.

Livro na estante de casa: o  mundo aos pés de Rodrigo Raineri




ACONCÁGUA, O QUINTAL DE DELVAUX


Já o  mineiro de Juiz de Fora, Marcelo Motta Delvaux, dominava com maestria a neve, os glaciares e as alturas mais significativas da América do Sul, além de se aventurar também pelo Himalaia. Guiava como poucos. Com cuidado e extrema responsabilidade.


Marcelo, guia  superior do Parque Provincial do Aconcágua


Havia uma fenda profunda no meio do caminho de "Delvô"



Em Arequipa, no Peru, Marcelo Delvaux estava sozinho quando descia mais uma vez o Nevado Coropuna Oeste,  a quarta mais alta montanha do país, com 6425m de altitude. No entanto, encontrou a morte cerca de 150m  após a conquista do vulcão. Havia uma fenda profunda e  traiçoeira coberta por neve no meio do caminho, não tão longe de onde Delvô armara sua barraca. Greta é tão abismal que o resgate é quase  impossível e a morte é dada como certa.

Guia  profissional  extraordinário,  um dos mais conceituados do continente, Marcelo, de 55 anos,  sabia tudo de mais de 160 montanhas americanas, especialmente, Peru,  Venezuela, Guatemala, Bolívia, Equador, Chile e Argentina.   Com 6962m de altitude, o mais alto fora da Ásia, o Aconcágua era seu quintal.





Marcelo Delvaux começou com escalada em rocha na década de 1990. Em 2000 passou a guiar em alta montanha.


Nos últimos cinco anos, entrevistei,  falei e troquei mensagens inúmeras vezes com o sempre atencioso Marcelo. Neste Blogdoraddi, em 2019, o detalhista Marcelo explica com precisão a diferença de guias e GUIAS. Enganadores e verdadeiros.

Trocamos informações  --   orçamentos também -- e orientações sobre  o gigante Aconcágua ( acampamento base,  Plaza de Mulas), Cerro Plata, Huayna Potosi, Osorno,  Vilcanota, Illimani, Acotango,  Sajama e outros.

Eu  e o companheiro Flávio lo Giudice ficamos bem próximos de escalar três montanhas acima de 6 mil metros  -- Huayna Potosi, Parinacota e Acotango  --com ele. De última hora, optamos por uma agência boliviana, em detrimento da Espírito Livre,  do Delvaux.  Me arrependi!

Há três meses, voltamos a conversar sobre Plaza de Mulas e Cerro Plata. Porém, infelizmente, havia uma greta profunda no meio do caminho.

Descanse em paz, meu amigo. Que seu  amplo e belo legado seja aplicado e respeitado mundo afora. 


Bons ventos para Rodrigo Raineri  na Cascata de Kumbu e no  derradeiro escalão Hillary. E para Marcelo Delvaux na perigosa Canaleta do teto da América. 


Muito obrigado. O montanhismo chora, mas  agradece por tudo que ambos realizaram. Com certeza, partiram felizes, fazendo o que sempre amaram. Um último cume. Um último vôo.


Rodrigo Raineri na temida face sul do Aconcágua, seu maior desafio


 No cume do Everest por três vezes e no K2 o último vôo.






























4 comentários:

  1. Foram grandes perdas para o montanhismo!
    Parabéns pelo texto!

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  2. Parabéns professor Everest, pelo lindo e interessante texto. Desejo de coração que esses incríveis e iluminados montanhistas em breve estejam em condições de volitar pelas lindas montanhas protegendo e guiando todos os apaixonados pelo montanhismo.

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  3. Com certeza, nossas referências já estão a guiar e proteger. Obrigado.

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