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terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Carrossel espanhol atropela meninos da Vila

Juro que tentei! Por pelo menos cinco minutos, retardei a corrida matinal no Parque Central e ousei empurrar o Santos pra cima do Barcelona. Só que cinco minutos foram suficientes para concluir que não adiantaria.

Então, me limitei torcer para que Neymar, Messi, Ganso, Iniesta, Xavi e cia fizessem um jogo épico. Estava na cara que o melhor time do mundo, no momento, ganharia. Mas seria legal um 4 a 3, um 5 a 4, sei lá.

Ao Santos de Muricy faltou tudo que sobrou ao Barcelona de Guardiola. A começar pelos próprios treinadores. Além de muito mais educado e privilegiado pelo elenco incomparável, o espanhol demonstra conhecer mais de futebol.

Na montagem dos times, Muricy entrou com um 3-5-2, que, inexplicavelmente, virou 5-3-2 com a variante para 5-2-1-2. Ou não? A linha de cinco defensores -- Danilo, Bruno, Edu Dracena, Durval e Leo -- era tão nítida quanto lenta e conservadora.

No meio-campo, em vez de povoar, Muricy montou um triângulo inerte, morto, com dois volantes (Henrique e Arouca) e um armador, Ganso, preguiçoso e atônito. Um aluno assustado, sem mobilidade. Um craque que virou estátua.

Moral da história: a bola nem chegava na dupla de ataque. Aí, após o vexame, os entendidos se limitaram a criticar Neymar e Borges. Como? A bola não chegou, cara-pálida! Fazer o quê?

Por isso tudo o Santos começou a ser massacrado logo na escalação. O passeio estava marcado e Muricy contribuiu para tal desastre.

Enquanto isso, Guardiola montou um Barça bem próximo do carrossel holandês que encantou o mundo na Copa de 74 mas perdeu da Alemanha.

Muita rotatividade. Muito toque de bola. Muita criatividade. E a dose exata de marcação ostensiva e adiantada, para reduzir o espaço do campeão da Libertadores da América.

Difícil é definir o esquema proposto pelo campeão do mundo: 3-7-0, 3-1-6-0, 4-6-0, 4-4-2, 3-1-4-2 e 3-1-3-3 são apenas seis das mais de 20 opções. Prefiro ficar com o 3-1-4-2 com variação para o 3-1-6-0.

Tento explicar:Puyol, Piquè e Abidal formavam um linha de três zagueiros que se transformava em linha de quatro quando sem a bola -- fato raro, né? -- porque Busquets recuava em sincronia perfeita com quatro armadores atacantes excepcionais -- Xavi, Fábregas, Iniesta e um argentino genial chamado Messi -- e dois alas-pontas em dia de craque.

Principalmente o brasileiro Daniel Alves, um dos melhores em campo ao lado de Messi e Xavi. Pela esquerda, o filho de Mazinho, Thiago, era mais técnica do que velocidade. Os artilheiros Alex Sanches e Davi Villa não fizeram falta.

Com quatro, cinco ou seis jogadores ativos no meio-campo, contra apenas três santistas plantados feito um pé de jequitibá, não poderia dar outra. É morte certa pra qualquer time do mundo.

O nosso Santos poderia jogar mais? Poderia! Correr mais? Também poderia! Contemplar menos? Lógico! Mesmo assim, perderia de um conjunto coeso, harmônico. Como perderiam o Corinthians campeão brasileiro, o Vasco, o São Paulo, o Real Madrid, o Milan... Mas não seria um baile. Especialmente se Muricy escalasse com sabedoria.

Venceu o melhor. Quatro foi pouco! Venceu um carrossel que roda menos mas toca mais a bola do que a Holanda do grande Cruyff. Um carrossel que costuma atropelar espectadores privilegiados -- os meninos da Vila -- com cara de desavisados.

Um carrossell que não é o melhor de todos os tempos, mas se junta ao Santos de Pelé, ao Palmeiras de Ademir da Guia, o Flamengo de Zico, ao Cruzeiro de Tostão, ao Internacional de Falcão, ao Milan de Van Basten, ao Real Madrid de Di Stefano, ao Benfica de Eusébio, ao Ajax de Cruyff...

Bom pra quem, como nós, gosta de futebol-arte. Então, bola pra frente! Que a tristeza santista seja passageira. A safra é boa. Que a alegria proporcionada pelo Barcelona seja como a paixão pelo futebol: eterna.

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