Infelizmente, preciso vender minha humilde residência.
Fica na Rua Santo André, pertinho da Brasileira, do Botequim Carioca, do Sindicato dos Rodoviários, da Igreja Matriz, de bancos, parques e supermercados.
Casa geminada, antiga, da década de 1950. Comprida, sem tanta privacidade. São 148 metros quadrados de terreno e igual área construída.
Três quartos, sala, cozinha, três banheiros minúsculos, garagem pra dois carros pequenos, corredor, laje, lavanderia, dispensa-escritório e um barracão-salão.
Ah, meu barracão! Difícil não se apegar. Meus netos vão sentir muito. Lá eles pintam e bordam. Também lá, faço meus exercícios físicos e mentais; recebo meus amigos de verdade.
Muita conversa, muita risada, muita saudade, muita cumplicidade entre uma pinguinha, um bom vinho ou uma cervejinha. E aquela caipirinha de jabuticaba, lichia, uvaia...
Como disse, casa bem antiga; não posso omitir do futuro comprador. O telhado sessentão não se garante. Se chover forte a calha não dá conta. Goteiras também aparecem aqui e ali quando o aguaceiro vem pesado.
O forro, ah, o forro, feito com carinho por um carpinteiro de mão cheia, meu falecido tio/sogro, seu Waldomiro. Tem cupim a dar com pau e furos de dar inveja a qualquer peneira ou goleiro frangueiro.
Caro comprador, preciso ser honesto, não posso deixar de citar as infiltrações nas paredes e no piso. Tô com medo de qualquer hora o forro cair ou o piso afundar.
Já a parte elétrica é mais nova, foi revisada há pouco tempo. Acho que em 1977, há 40 anos. O chuveiro dos fundos queima toda hora.
Por falar em chuveiro, os canos de ferro dominam o cenário, com ferrugens e constantes entupimentos ou limitações de vazão em momentos impróprios. Além de estourarem as paredes dos banheiros.
Resumo da ópera -- ou da obra: minha casa está uma draga. Nem compensa reformar. Por isso está à venda há dois anos, justamente ao mesmo tempo em que o mercado imobiliário da província também naufragou. Mas foi enquadrada como palácio da modernidade.
Avaliada em 2015 por quatro imobiliárias pela média de mercado, nada mais justo, então, do que fixar o preço em cerca R$ 440 mil. Pra vender por R$ 400 mil.
Mas eis que chega o carnê do IPTU! Conforme avaliação da Prefeitura, o valor venal do meu "palacete", com tantos problemas estruturais, chega a exorbitantes R$ 646 mil, sendo R$ 191 do prédio. Valorização estupenda de 170% se considerarmos o carnê do exercício de 2016.
Cá entre nós, pra ser justo, o valor venal estava mesmo defasado. Mas não era o caso de ir com tanta sede ao pote. Bastava ser menos guloso e mais sensato. Simples assim!
Quanto à correção abusiva do imposto predial, se não houvesse o tal limitador da facada, o aumento relativo ao meu imóvel chegaria a escorchantes 304% em dois anos.
Isto posto, decidi que não posso vender meu cafofo pra qualquer um. Que tal, então, ir direto a um comprador em potencial? Alguém que queira montar uma clínica? Talvez escritórios de arquitetura/advocacia ou um belo bar?
Caramba! Por que não o meu candidato (?) nas eleições passadas? O próprio prefeito, boa gente, boa família, mas a se portar como um neófito, iniciante, sem coerência e comedimento na gestão da coisa pública. No caso, a famigerada revisão da Planta Genérica, com IPTU de boi gordo em tempos de vacas magras.
Sim, quero vender meu "palacete" para um calouro incapaz de mensurar o tamanho de seus atos. Tudo em detrimento do cidadão comum; da população. Com o perdão da redundância, mais um político que agora usa escudos com conversa fiada e joga a culpa da insolvência financeira do município só nas administrações anteriores.
Meia verdade! Não nos esqueçamos de que o atual prefeito sabia de tudo. Participava de quase tudo -- possivelmente até de acertos partidários antes das eleições --, pois foi vereador e secretário do desastroso governo petista.
Que pena, Paulinho! Gol contra! Atitude prepotente e sem limites. Característica de juvenil! Você prometeu muito mas parece não saber lidar com o poder que lhe caiu no colo por absoluta falta de concorrência. E que se mantém nele por absoluta conivência de outros poderes.
Compre meu "palacete" ou ofereça para secretários ou vereadores cordeirinhos que endossaram tamanha afronta e agora estão num mato sem cachorro! Só R$ 400 pilas! Oportunidade imperdível! R$ 246 mil de lucro. Pechincha! Galinha morta!
Ah, pode deixar que eu pago o IPTU! Em parcela única. Uma merreca!
Torcida bem maior que a do seu timão, para que rapidinho apareça um comprador do bom... para fechar negócio mesmo!!!!
ResponderExcluirKkk obrigado
ExcluirOuvi e escrevi cafofo, ainda criança no Colégio Anita Costa... adorei a espontaneidade...
ResponderExcluirPois é, a casa antiga virou palacete pra efeito de valor venal e IPTU. Com o conluio entre prefeito, secretários e a maioria dos vereadores. Lamentável!
ResponderExcluirEntendi! Mas, veja o que estamos assistindo no momento, por isso os abusos de todo lado! Vou roubar uma galinha, um shampoo, só prá ver o que vai me acontecer...
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