Texto de DANIEL LIMA
Seja qual for o resultado da
disputa eleitoral deste domingo entre o prefeito Aidan Ravin e o oposicionista
Carlos Grana, a certeza é de que Santo André perderá. Seja qual for a combinação
de resultados da última rodada da fase classificatória da Série C do Campeonato
Brasileiro, o Saged, ex-Ramalhão, já perdeu. A confluência desanimadora entre o
futebol e a Administração Pública de Santo André não é peça do acaso. Santo
André chegou ao estágio de profundeza máxima em quesitos que dizem respeito à
cidadania e à autoestima.
No jogo eleitoral a derrota está
expressa na fuga dos candidatos finalistas à responsabilidade de atuar com
transparência. No jogo esportivo a derrota é explicitada no estado falimentar do
modelo terceirizado do futebol do Ramalhão, danosamente concentrado num
empresário do mundo da comunicação que há muito levou o jornal que dirige à
Quarta Divisão do Campeonato Brasileiro de Imprensa, depois de adquiri-lo, a bem
da verdade, já na Terceira Divisão.
Na política, fosse o eleitorado
de Santo André mais politizado e menos bovino, a quantidade de votos nulos e
brancos deveria ser estrondosa. Magnificamente estrondosa. As campanhas de Aidan
Ravin e de Carlos Grana não têm nestas alturas do campeonato requisitos éticos e
morais para exigir nada senão a desconfiança dos eleitores. As duas candidaturas
simplesmente passaram por cima dos escândalos que marcaram a atual gestão e
também a anterior. Preferiram tergiversar ao desfilarem ao longo da campanha
propostas em conteúdo e qualificação muito aquém da abundância de ofensas.
As agremiações representadas por
Aidan Ravin e Carlos Grana estão comprometidas com safadezas entrecruzadas do
presente e do passado não muito remoto. São tantos os percalços que os dois
grupos patrocinaram ou não fizeram a menor questão de apurar que é praticamente
impossível conferir-lhes seriedade como opções restauradoras do processo de
transformações de que Santo André tanto carece.
A minha dúvida é se votarei em
branco ou anularei o voto. Como os leitores sabem, voto em todos os municípios
da região, porque sou um regionalista empedernido. É impossível ir à urna
eletrônica e esquecer o que a memória registrou ao longo dos anos.
Distanciamento que
pesa
Carlos Grana é um bom moço, tem
história de atuação comunitária na região mas também apresenta vácuo imenso a
partir do momento em que, sindicalista de valor que é, meteu-se na direção dos
metalúrgicos do Estado e se afastou desse território. Erraram aqueles que o
acusaram de morar em Ribeirão Pires como pecadilho imperdoável. Não é o fato de
morar durante bom tempo em outro endereço senão em Santo André que torna um
candidato mais ou menos competente.
O deslize de Carlos Grana é que,
independentemente de onde tenha morado, distanciou-se da região durante muito
tempo. Voltou a Santo André escolhido a dedo pelo ex-presidente Lula da Silva.
Sem quadros para comandar uma Santo André que, goste-se ou não, sempre terá o
fantasma de Celso Daniel como referência, Carlos Grana procura tapar buracos de
última hora, depois de um ajuntamento pragmático com forças até então
antagônicas.
Carlos Grana tem a seu lado o que
é de mais conservador da sociedade de Santo André. Gente que pouco produziu ao
longo de décadas senão a especulação permanente e que, algozes do PT no passado,
correram em direção ao candidato da agremiação porque tiveram, em larga parte,
as portas fechadas pelo atual prefeito. Não há nada basicamente de magnânimo na
frente partidária conservadora que se entregou ao PT de Santo André. A política
de resultados, versão do sindicalismo de resultados tão criticado pelos petistas
no passado, é a síntese da operação.
O prefeito Aidan Ravin
seguramente está acima de todos os demais prefeitos que se deram mal no comando
de Santo André, caso, por exemplo, do petista João Avamileno, herdeiro acidental
do trono de Celso Daniel. Formam aqueles seis anos somados aos quatro de Aidan
Ravin uma década de desperdícios, descontroles e desídias administrativas. Santo
André é uma nau sem rumo econômico e social. O atual prefeito perdeu uma grande
oportunidade de lambuzar-se de votos, de perpetuar-se na memória da população,
portador que é de algo fantástico à abertura de portas, janelas e o diabo, ou
seja, de carisma arrebatador que, se independe de poder, imagine-se então com
poder, como ainda o tem.
Saged em
decomposição
Já o Saged, que me recuso a
chamar de Esporte Clube Santo André ou de Ramalhão, por motivos expostos e
arquivados nesta revista digital, não precisa ser despachado à Quarta Divisão do
futebol brasileiro, como tudo indica que será neste domingo, porque o que
apresenta à sociedade é um estado de decomposição incontrolável. Depois do Saged
será muito difícil o futebol de Santo André reerguer-se.
Uma pena, porque o presidente
Ronan Maria Pinto é o condutor da equipe que mais condições dispôs para encetar
uma grande reviravolta na história da agremiação a partir da terceirização, há
cinco anos. Infelizmente, o dirigente pôs tudo a perder porque seu ego é muito
maior que o preparo técnico, embora tente transmitir uma humildade que não passa
de embalagem para boi dormir. Ronan Maria Pinto é docemente autoritário,
educadamente concentrador e encantadoramente desastrado como dirigente de
associação esportiva.
Pobre Santo André esportiva e
pobre Santo André política que neste domingo vão se ver para valer no inferno.
Quem sabe o enredo esportivo e o enredo político não se escreverão com linhas
tortas?
Talvez seja preciso mesmo
exorcizar todos os maus espíritos que dominam os gramados onde o antigo Ramalhão
bota as chuteiras e os gabinetes administrativos onde as autoridades municipais
tomam as mais importantes decisões para o futuro do Município.
Do caos poderemos, quem sabe,
chegar ao consenso corajoso de que é preciso muito mais que simplesmente torcer
e votar. Está na hora de Santo André tomar atitudes, mas quem o fará se um
grupelho de aproveitadores domina todos os espaços de uma cidade fragilizada
economicamente ao longo de décadas de desindustrialização, local onde os abutres
posam de benfeitores?
Nenhum comentário:
Postar um comentário