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sexta-feira, 7 de agosto de 2015

A laje, a panela e o socador de caipirinha

Menos de um minuto depois do discursos rocambolescos de Lula, Dilma e Rui Falcão e da encenação do ator José de Abreu -- o mesmo que defende o nobre Zé Dirceu -- meu telefone fixo toca sem parar.

Até  achei que fosse alguma menina educada da Abril a sugerir que eu antecipasse a renovação da assinatura da Veja. Também poderia ser alguém da GVT ou da NET oferecendo serviços de telefonia padrão FIFA.

Nada disso! A surpreendente ligação era do primo do  Zorro, amigo antigo que sempre fala do nosso Santo André, hoje esquecido no implacável  baú do futebol profissional.

Sem máscara, o Zoinho foi direto ao assunto:

-- Alô! É o Raddi? Aqui é o Zoinho, primo do Zorro. Já assisti jogo do Santo André com vocês. Lembra de mim?

-- Falaí Zoinho! Lembro sim. Naquela tarde, com o Bruno Daniel lotado, Corinthians e Ramalhão empataram de 0 a 0 na despedida do guerreiro Zé Maria, um dos maiores laterais da história corintiana. Foi na década de 80. Mais precisamente em 83, com mais de 21 mil pagantes. Éramos jovens.

-- Isso mesmo! Então... tô ligando aqui do meu apartamento  aqui na Agenor de Camargo, vizinho da tua casa. Só que o assunto não é futebol.

-- Peraí... Se for pra  arrumar emprego pra parente, ser avalista ou emprestar dinheiro, tô fora hein!

-- Nada disso! É que, aqui do alto, da sacada,  acabei de te ver você aí no seu terraço...

-- Terraço uma pinóia! Você deveria dizer a laje mais cobiçada da província. Não troco por nenhuma varanda gourmet no bairro Jardim.

-- Que seja! Afinal, estranho quando você não aparece aí de sábado e domingo na hora do almoço. Caipirinha, cervejinha com os amigos. Vidão hein?

-- Ei, você ligou pra falar da minha caipirinha? Quer de jabuticaba, de lichia ou de melancia?

-- Não,  liguei pra falar da sua panela. Não consegui gravar mas vi que durante a fala dos suprassumos da honestidade, da ética e da competência você estava fazendo um barulho danado. Cara, o que era aquilo?  Tinha mais som do que as buzinas.

-- Ah! Nem te falo. Aqui em casa vai dar problema. Panela de arroz da patroa não é das mais novas; tampouco resistente. Daí que deformou. Um calombo com cara de ovo de tanto eu bater contra o estado de insolvência em que os quadrilheiros de plantão colocaram o País.

-- Mas era muito alto Raddi! Cê tava batendo com quê? Ninguém ouvia o meu apito.

-- Socador de caipirinha! Eis o segredo. Tem de ser de madeira boa, firme; daquelas de cajado de peregrino de verdade. Meti o socador com vontade. Tenho um reserva, de metal. Com ele a panela iria abrir o bico de vez.

-- Por que tanta raiva? Tire esse ódio do coração. Eles são legais; são bonzinhos. Você não ouviu o que eles falaram do FIES, do Minha Casa Minha Vida, do Bolsa Família, do Pronatec?

-- Nem precisa. O discurso não muda. Crise? Velá! Nossa economia sempre foi uma fortaleza indestrutível. O BNDES é a salvação da lavoura,  cubana. A Petrobras é a pérola da coroa, venezuelana. Todos os "picaretas" do Congresso são exemplos de dignidade, de transparência ( Noruega 7 a 1), de comprometimento. Não existiu mensalão. Não existe petrolão. Nem desemprego. Olha o Grande ABC, palácio das montadoras e berço do sindicalismo selvagem. Já o  aposentado recebe uma fortuna. A saúde só não está na UTI por falta de vagas. A segurança do cidadão comum é nota 10. Eles brincam com a nossa paciência, menosprezam nossa inteligência.

--  Raddi, posso falar?

-- Me desculpe; ainda não terminei. E a nossa "pátria educadora". Que piada! Nossa educação é risível em comparação com o mundo desenvolvido. Finlândia 7 a 1.  É muita cara-de-pau.  Cinismo, arrogância, ironia, empáfia, deboche puro... Credibilidade no fundo do poço,  e ainda insistem em  tripudiar e desqualificar ou fazer ouvidos de mercador às acusações de corrupção e outras de sem-vergonhices. Doações legais, dentro da lei! Forjadas! Kkk! Me engana que eu gosto. Fico indignado mesmo. Só conversa fiada para boi dormir. Tô de saco cheio! Por isso esse grito doído, do fundo da alma, mas com cheiro de liberdade. E daí? Quem tem moral  pra me impedir?

-- Poxa! Nossa! Você desembuchou quase tudo que eu queria falar. Não deu folga. Foi num fôlego só.  Mas fica a sugestão: já que não temos um navio com fundo falso em zona de tubarões, que tal enfiar todos os exemplares de mau-caratismo na coqueteleira e socar, triturar, amassar? Melhor com pinga; o omi gosta duma branquinha. Se bem que hoje ele também é daselite. Bota banca com uísque importado.

-- Zoinho, a idéia do navio não é novidade, mas atende melhor aos interesses do povo. E dos tubarões.  Mesmo porque, minha coqueteleira é pequena e  ficaria contaminada; meus amigos sentiriam nojo, asco.

--  E o socador, não descascou? Não quebrou? Caramba!

-- Não! É forte! Comprei lá no Salim. No caso, simboliza decência e uma dose de esperança. Simboliza contestação; clama por justiça. Simboliza o nosso direito de cidadão. É um sonoro não aos aloprados. É bom ressaltar que aloprados não são privilégio da cor vermelha. Tudo quanto é partido tem.  E tomara que o panelaço contestatório signifique um futuro melhor pra nossos filhos e netos. Por isso você ainda vai ouvir muito barulho na laje mais cobiçada da província. Por sinal, província comandada, com raríssimas exceções,  pelos mesmos imbecis juramentados. Eles precisam ser cobrados. Afinal, não são donos do corguinho que passa no fundo de casa.

-- Corguinho? Valeu Raddi ! Nos falamos quando o Santo André voltar a campo. Tamu juntu! Boa noite!

-- Valeu, Zoinho! Dá um abraço no Osório.

-- Onório?

-- Eu disse Osório, Osório, o técnico do seu time. Aquele das canetinhas. Quer apostar quanto? Empate é seu. Quer saber? Dou dois de lambuja.

-- Tô fora! O seu Corinthians se garante na estabilidade. Já o meu time é muito instável. Não passa firmeza.  Mas clássico e clássico, né? Deixe de ser garganta. Posso te ligar domingo depois da seis hein!

-- Certo Zoinho. Simples brincadeira após  tanta baboseira em cadeia nacional. Só pra terminar: tem falado com o seu tio petroleiro? Dá um abraço de tamanduá nele; enforca o camarada, se possível, e faz o espertão devolver a grana que roubou em conluio com políticos picaretas. Com o perdão da redundância.

-- Cara, você não ficou sabendo? Titio Cerveró tá no xilindró. Vai pegar uma cana braba. Nada de abraço. Nem escreva que é meu tio. Tchau!

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