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segunda-feira, 24 de agosto de 2015

DGABC: bela história é sinônimo de nota 10?

(TEXTO PUBLICADO DIA 31 DE JULHO DE 2015 E CONTESTADO PELOS JORNALISTAS ADEMIR MEDICI E SERGIO VIEIRA) 

Há pelo menos 15 dias estou engasgado pra comentar um detalhe que encarei como piada de mau gosto.

Respeito a opinião dos jornalistas entrevistados no programa Diálogo Aberto, do companheiro Daniel Lima, mas discordo frontalmente.

Questionados sobre que nota histórica dariam ao jornal Diário do Grande ABC, o diretor de Redação Sérgio Vieira e o  excepcional jornalista e memorialista Ademir Medici, meu amigo, não tiveram qualquer dúvida.

Como numa apuração de desfiles carnavalescos, "nota... déeeez". Só faltou a ênfase do locutor oficial. Torcedores paulistas da Gaviões da Fiel e cariocas da Beija-Flor lotariam a arquibancada e iriam ao delírio.

Porém, aqui, num cantinho reservado à imprensa (independente) eu estaria a vaiar. Trabalhei na editoria de Esportes do DGABC por quase 15 anos e fico muito a vontade pra discordar.

Minha nota pode até ser contestada, mas  é a mesma do sempre rígido, polêmico responsável e competente Daniel. Nada mais do que um cinco.

História do Diário merece ser enaltecida e  respeitada por todos nós, cidadãos do Grande ABC. Afinal, são 57 anos de muita dedicação  diária às coisas de uma região com quase três milhões de habitantes.

Só que, nota 10 é demais pra minha cabeça. Afinal, como todos, o Diário de ontem, de hoje e de amanhã vai acertar e errar.  Qual o problema? Vai questionar e ser questionado. Seu compromisso é com o leitor.  Por isso a credibilidade não pode oscilar tanto em quase seis décadas.

No quesito jornalismo, já cansou de fazer besteira. A começar por uma linha editorial que só agora -- gostem ou não, com as intervenções cirúrgicas do Daniel Lima e a correspondência da equipe --  volta a assumir uma postura de comprometimento  verdadeiro com o Grande ABC.

Tempos atrás, talvez mais de uma década, lançou o slogan definindo-se como braço direito do Grande ABC. Pois é... esqueceram do esquerdo. Por isso andaram fazendo tudo pela metade.

Por isso campeava o compadrio. Por isso brotavam acertos escusos e subterrâneos com o Poder Público. Ao sabor dos ventos e da coloração partidária. Ai de quem não rezasse pela cartilha da Catequese. Pau nele!

Por isso a falta de profissionalismo responsável.  Por  isso a ausência de linha editorial de fato. Por isso derrapagens aos borbotões. Por isso, em alguns períodos, um trem de incompetências a prestar desserviço ao cidadão do Grande ABC.

Por isso a bela história, alternando momentos de jornaleco com posturas de um grande jornal regional, não merece mais do que o cinco da imparcialidade. Com todo respeito, nota 10 é agrado de sonhadores.

Só pra completar: se o importante DGABC deixar de existir nosso mundinho será ainda pior. Já foi ruim com ele, quase exclusivo porque dominador. Pior sem ele,

Que os novos trilhos o conduzam por muitos anos. Sem mentiras. Sem omissões. Sem protecionismo. Sem parcialidade. Sem brincar com a  nobre arte de informar, analisar, questionar e transformar a sociedade.

Uma bela história nem sempre é sinônimo de nota 10.




RESPOSTAS DOS JORNALISTAS CITADOS

Sérgio Vieira





Caro Donizeti,

 

Primeiro lugar, permita-me me apresentar. Meu nome é Sérgio Vieira, sou jornalista formado a duras penas, com imensa dificuldade - financeira, digo - em 1998 na Universidade Santa Cecília, em Santos. Tenho a honra de fazer parte desta fantástica instituição há pouco mais de 10 anos. E, a imensa alegria de comandar este time, com muita humildade mas com muita segurança em buscar fazer o melhor todos os dias, desde dezembro de 2011. Erramos e acertamos. Mas não temos medo de sair do lugar comum, de buscar o melhor para os nossos leitoresSei da responsabilidade e da honra em, aos 38 anos, comandar um dos veículos de comunicação mais importantes do País e por usar a cadeira que já foi do Dr. Fausto Polesi e do grande profissional Daniel Lima, entre tantos outros colegas jornalistas que já dirigiram este jornal. E, justamente por isso, chego aqui todos os dias com o desejo de sempre trazer a verdade e buscar o melhor de nossa equipe para oferecer ao leitor todas as informações, com todas as visões possíveis. A Carta do Grande ABC, escrita por mim mas concebida a partir de análises e conversas com dirigentes do Diário, e a importantíssima contribuição do Daniel, mostram o nosso respeito por essa empresa e pela nossa busca constante em mostrar que podemos, e devemos, ser protagonistas das ações deste Grande ABC e propor soluções para o desenvolvimento de nossas sete cidades. Daí o motivo por termos incluído o item 'Desindustrialização' entre os 10 tópicos que passaram a nortear as ações de nossos profissionais, oficialmente, desde o último 11 de maio.
 
Infelizmente não tenho o prazer de conhecê-lo pessoalmente, mas estou à inteira disposição, quando quiser vir aqui, tomar um café comigo e visitar o 3º andar do prédio na Rua Catequese, 562. Talvez assim você consiga compreender o motivo de tanto eu quanto o seu Ademir, uma referência para mim no jornalismo e que aproveito para fazer minha suas palavras do texto abaixo, termos dado ao Diário nota 10 - também acrescento o 'com louvor' - e entenda que aqui nós não fazemos 'piada de mau gosto'. Nós trabalhamos. Com muita paixão. Pelo jornalismo, pelo Diário e pelo Grande ABC.
 
Saudações cordiais, 

Sergio Vieira
 
 

RESPOSTA DE ADEMIR MEDICI



É sempre bom esperar alguns dias - no caso do Raddi "pelo menos 15 dias" - para desengasgar. No nosso caso, meu e do Sérgio Vieira, a pergunta do Daniel foi na lata e a resposta também - porque, em TV, o tempo urge. Pensando bem, "pelo menos 15 dias" depois, reformulo minha nota ao Diário do Grande ABC: dou 10 com louvor, e não vão me entender isso como "piada de mau gosto".
1 - Dez com louvor porque o Diário do Grande ABC construiu uma História, resistiu ao tempo, tocou sua vida no tempo das vacas gordas e não ficou pelo caminho como aconteceu com grandes jornais do nosso tempo, entre os quais o intocável Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro, o criativo Jornal da Tarde - nosso preferido no tempo da Cásper Líbero, das grandes reportagens, o popularesco Notícias Populares, o Correio Paulistano dos tempos imperiais e que atravessou duas repúblicas para sucumbir no tempo da ditadura militar, o antigo Diário Popular, os antigos Diário da Noite e Diário de São Paulo, sem falar em revistas como Realidade, Manchete e outras mais.
2 - Dez com louvor porque acompanhou a tecnologia, investiu em equipamentos, sem se descuidar da formação humana e na revelação de talentos como o próprio Donizete Raddi.
     3 – Dez com louvor porque sempre teve posições – discutíveis ou não – mas não deixou esse povo que faz política deitar e rolar ao bel prazer.
     4 – Dez com louvor porque sempre teve nos seus quadros profissionais de diferentes posições políticas, num arco que vai da esquerda para a direita (e vice-versa). Profissionais que – por seu próprio mérito – conseguiram traduzir pensamentos, hoje registrados para sempre nas coleções guardadas pelo Banco de Dados.
     5 – Dez com louvor porque sempre teve bons mestres. A Escolinha do Daniel marcou época. É citada sempre por ele, mas também pelos antigos alunos que passaram pela sala de vidro da Redação. Mas antes e depois da Escolinha do Daniel houve outros mestres que passaram conhecimentos e formaram, entre os quais o saudoso Dr. Fausto Polesi com seu lápis azul, temível. E profissionais como José Louzeiro, Hermano Pini Filho e tantos outros representados nas figuras dos editores de ontem e de hoje.
     Paro em cinco pontos porque tenho que fechar a Memória de amanhã, terminando com outro 10 com louvor, que me fala pessoalmente tão próximo: porque o Diário do Grande ABC sempre abriu espaço à História e Memória e não nos faltou em lutas voltadas à importância histórica da Vila de Paranapiacaba e à importância ambiental de uma Serra do Mar.
     Refletindo “pelo menos 15 dias depois”, caríssimo Raddi, respeito a sua nota 5, mas jamais daria ao Diário do Grande ABC o 3 virgula alguma coisa que na mesma entrevista dei às entidades regionais que gravitam em torno dos poderosos. Desta nota você esqueceu de falar, mesmo com os "pelo menos 15 dias" depois.
Saudações alvinegras.

Ademir Medici


MINHAS CONSIDERAÇÕES FINAIS 

Antes de mais nada, é bom ressaltar que reconheço a importância do DGABC e de seus profissionais. Especialmente aqueles -- poucos, por sinal -- que pulam miudinho no intenso dia-a-dia da redação. Basta ler o texto acima com atenção e isenção. Mesmo que alguns demorem "15 dias" pra entender.

Porém, considerando-se os elogios rasgados -- concordo com boa parte deles -- e o "10 com louvor" dos caros jornalistas, especialmente do amigo e excelente profissional Ademir Medici, com quem trabalhei por bom tempo,  sou obrigado a contestar a postura.

Até parece que o Diário a que os companheiros de profissão servem é o suprassumo da ética e do jornalismo perfeito, da empresa nota 10. Principalmente se observarmos apenas um lado da moeda. O que interessa ser revelado e enaltecido.  É possível avaliar  as duas faces?

Por isso, ratifico: respeito mas discordo; dar nota 10 para a bela mas nem sempre exemplar história do mais importante meio de comunicação do Grande ABC é um direito indiscutível, mas soa, sim, como precipitação e piada de mau gosto.

Como ex-profissional do Diário por cerca de 15 anos e leitor por quatro décadas, fico muito à vontade para questionar, criticar e elogiar com imparcialidade. Gostar ou não, concordar ou não,  é um direito de quem está do outro lado.

Aqui não se escreve pensando em agradar ou desagradar poderes ou patrões. Em caso de dúvida, que tal usar o DGABC Pesquisas para ir às ruas e saber do leitor que nota ele daria à publicação levando-se em conta 57 anos de erros e acertos?  Outros profissionais de Imprensa também deveriam opinar. Inclusive quem  está ou  já passou pela redação. Fica o desafio.

Ora, ora, caríssimo Ademir, você é macaco velho.  E dos bons. Como  escritor e memorialista, conhece o Diario, e seus subterrâneos, como poucos.

Nossa (sua) página Memória sim, merece nota bem próxima da máxima. É uma ilha, uma exceção.  Por isso mantenho o cinco pro oscilante Diário como um todo. Sem louvor. Mas com muito respeito e acreditando em dias melhores nas mãos de profissionais idôneos e comprometidos como você.

Se quiser justificativas -- sem ironias -- para a nota cinco vou precisar de muito mais que cinco itens. Nem todos inseridos no banco de dados. Os mesmos que comprovam as limitações da nossas entidades regionais que gravitam no entorno dos poderosos.  Seu " três vírgula alguma coisa" está de bom tamanho. Independentemente de o amigo gostar ou não de "textos aleatórios".

Fique com um abraço tão sincero e autêntico quanto um 10, um cinco, um três ou um zero.

Em tempo: pra não soar deselegante com o diretor de Redação Sérgio Vieira, agradeço o convite para visitar a redação. Também  fica claro que nossa discordância se refere à nota "10 com louvor".  Sei que  não gostou do termo, tem todo o direito, mas o exagero da benevolência sugere, sim,  piada de mau gosto. Simples assim. Já o trabalho do DGABC jamais foi definido como piada. Pelo contrário; é de suma importância. Mesmo com uma credibilidade ao sabor dos ventos de ontem e de hoje. A Carta do Grande ABC é um belo exemplo. Desde que seguida à risca.  Quanto  à dedicação, ao currículo e às conquistas profissionais do jovem  -- e, tomara, promissor -- diretor, merecem total respeito deste veterano metido a besta. Afinal, são  10 anos de casa. Tempo suficiente para conhecer uma história de seis décadas. Espero que o diretor a conheça, de fato.   
     
    
 



 
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