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sexta-feira, 6 de janeiro de 2023

PELÉ, UM DRIBLE IMPOSSÍVEL, UM GOL IMPOSSÍVEL.....



   


Precisa de legenda?


Quando o gênio das pernas tortas morreu, dia 20 de janeiro de 83, com apenas 49 anos,  a  minha manchete da página de Esportes do DGABC foi:  GARRINCHA,  UM DRIBLE IMPOSSÍVEL.

Agora, com a morte de Pelé, o título do blogdoraddi não poderia ser outro. Porém, ampliado. Afinal, se os dribles  desconcertantes e os cruzamentos certeiros eram a marca registrada do ponta Mané, a alegria do povo, o que dizer das  inúmeras virtudes futebolísticas do Rei? 

Resposta tão ampla quanto os latifúndios criados por ambos, transformando vielas em avenidas, rios em oceanos. Seriam os dribles verticais sempre  voltados pra o gol?  Ou os gols (1283) propriamente ditos? Uma enciclopédia Barsa só com fotos de  gols bonitos.

Ou seria o chute mortal, forte ou colocado? Reto ou de efeito,  em curva? Pé direito ou esquerdo? De falta ou de pênalti? Dúvidas cruéis.

Talvez a cabeçada indefensável. Os mais velhos, como eu, hão de se lembrar da impulsão descomunal de Pelé no primeiro gol do Brasil contra a Itália na final da Copa de 70 (4×1).

Também se lembrarão do cruzamento de Jairzinho para o negão subir e cabecear pro chão. Mas lá estava o lendário goleiro Gordon Banks, da Inglaterra, pra fazer uma das mais belas defesas de todas as copas do Mundo.

Ah, só pra lembrar: pra mim, a melhor Seleção Brasileira de todos os tempos foi a de 70. Como não seria, com Pelé, Rivellino, Tostão, Gérson e Jairzinho lado a lado? Com gols, assistências, liderança e jogadas inesquecíveis, o Rei    fez sua  melhor Copa.  Ainda menino, brilhou em 58, na Suécia. Em 62, no Chile, se machucou logo no início e o protagonista do bi foi  um fênomeno chamado Garrincha. Em 66,  um fiasco generalizado, com o Brasil eliminado na primeira fase. Por isso  sua majestade voltou em 70, no México.


 PELESISTA, SIM SENHOR!


Outras confissões  particulares: o melhor time brasileiro que eu vi desfilar foi o Santos daquele lindo manto branco,  imaculado,  que povoava meus sonhos e delírios infantis.

Sim, como aqui  já escrevi, eu era santista (ou pelesista?). Como não seria?  Um timaço. Uma máquina  de fazer gols (Zito,  Mengálvio, Dorval,  Coutinho, Pelé e Pepe, o canhão da Vila). Um trator que atropelava potências  mundiais  como Real Madri, Milan, Benfica...

Ops!!! Voltemos ao extra-terrestre, eterno hor concour. No Pacaembu, no Maracanã ou em qualquer estádio do mundo.  Seria a inteligência? A criatividade? A visão privilegiada? O reflexo meteórico? A velocidade? O arranque? A força física excepcional? A malandragem até pra cavar um pênalti?  A liderança  sem muitas palavras? O companheirismo? Talvez a  humildade e a simplicidade também tenham ajudado tanto no sucesso infinito.

O crioulo ( assim o chamavam os amigos mais próximos e isso jamais gerou mi-mi-mi como hoje em dia)⁹ nunca foi santo. Era caçado no Paulistão, na Libertadores e na Copa do Mundo (62 e 66), mas não tinha medo de cara feia.

Em 70 Pelé levou pisão de um uruguaio naquela semifinal (3x1) histórica por conta do drible fantástico sobre Mazurkiewicz que só não culminou em gol por obra do destino. Ou porque  papai do céu se distraiu  por um segundo e o pincel caiu. Só pode ser!  Nosso eterno camisa 10 descontou o pisão maldoso  em outro adversário. Cotovelada descarada foi digna de expulsão, mas, acredite,  o juizão deu falta a favor do Brasil.

Sem omitir  ainda que Ele,   como dizia o narrador  Walter Abraão, da  TV Tupi,  quebrou a perna de um lateral-esquerdo alemão  num amistoso em 65. Também praticamente inutilizou para o futebol  o zagueiro Procópio, do Cruzeiro. Bateu,  levou! Sem pipocar. Nos olhos, o tempero da maldade.


Caramba,  ainda não consegui explicar o título lá acima. São tantas as qualidades que outros craques ficariam anos luz atrás da estrela mais reluzente. 

Com todo respeito aos  tops que vi jogar ao vivo ou pela TV, mas não tem pra ninguém. Maradona, Puskás,  Di Stéfano,  Eusébio,  Rivellino, Messi, Ronaldo, Mbappé, Zidane, Platini, Falcão, Reinaldo   Ronaldinho, Romário, Neymar, Tostão,   Dirceu Lopes, Ademir da Guia,    Zico,  Cristiano Ronaldo, Cruyff, Bekenbauer, Pedro Rocha...

Desconfio que Deus juntou um pouco de cada um deles e fez essa obra prima. Todos têm  muitas virtudes, mas nenhum deles chega aos pés de Pelé. Talvez  no máximo  a 60% de quem foi perfeito em campo e nem tanto fora dele. Seria pedir demais. A fera ganhou tudo!


PELÉ, O PRIMEIRO GOL; EU, O ÚLTIMO (RSRS)


Com apenas 15 anos de idade, o menino Pelé substituiu o ídolo Dell Vecchio e fez o sexto gol do Santos na goleada de 7 a 1 sobre o  Corintians de Santo André, aqui pertinho de casa. Amistoso aconteceu a 7 de setembro do longinquo 1956.

Pois é... não é que temos algo em comum? A 20 de outubro de  1987, na decisão do campeonato interno do Corintinha,  também no gol dos fundos, uma "obra de arte" do artilheiro da competição. Sem correr, sem driblar, talvez  até meio sem querer, perto da meia lua da área, o centroavante  trombador ( sempre fui zagueiro-central) soltou um canudo de pé direito, quase no ângulo esquerdo. Goleirão, gordo, fora de forma, nem se mexeu. Vitória de 1  a 0 nos deu o título.

Até aí, nada demais. Só festa, cerveja e conversa fiada.  Detalhe  é que no dia seguinte, infelizmente, as máquinas destruíram o campão do histórico  gol de Pelé, hoje espaço destinado a  vários gramados de futebol soçaite. Aluguel  serve apenas para  saldar dívidas e dar sobrevida a quem respira por aparelhos há muito tempo.

Portanto,  nas mesmas traves em que aos 15 anos Pelé apareceu para o mundo da bola esse caipira de 32, à época,  teve a honra do último gol.  (rsrs)






Por falar nisso, ainda na década de 80,  mais precisamente em 82,   participei, no Rio  de Janeiro,      da entrevista coletiva que lançava Pelé como garoto propaganda do Unibanco em  ano de Copa. "É hora de todo brasileiro vestir a mesma camisa".

Meu primeiro vôo de avião (Varig ou Vasp?). Meu primeiro hotel de luxo ( Copacabana,  Nacional ou Meridien?).   Não me lembro. Meu primeiro medo de enchente na cidade grande.  Choveu a cântaros! Meu primeiro jantar  granfino( Iate ou Marina da Glória?) sem ao menos saber escolher a ordem e usar talheres de prata. Quanto ao vinho, caro, óbvio,    nada a reclamar. Eu não entendia nada mesmo.  Só tomava Belotto  ou Sangue de Boi com meu saudoso pai.

Pra ligar o fato do dia com o Grande ABC,  minha pergunta, possivelmente  emocionado,  não poderia ser outra:" Olá, Pelé, boa noite. Por favor,   você pode nos contar como foi seu primeiro gol com  a camisa do Santos, no amistoso contra o Coríntians de Santo André?". 

Educada e humildemente, olhando pra mim, o Rei sorriu e respondeu sem pressa: " Eu tinha apenas 15 anos. Estava na reserva. Entrei no segundo tempo, no lugar do Dell Vecchio, e logo em seguida fiz o sexto gol..." -- detalhou por uns  cinco minutos diante de mais de 50 jornalistas dos cinco continentes.




Ganhei o dia! Diante de tanta gente e tanta pompa, uma única pergunta. Pro menino assustado  de Rio Pardo, um gol de placa. Inesquecível! Um gol de  Pelé!


RIVELLINO, ADEMIR DA GUIA...


Ao vivo,   vi o mágico contra o  Corintians  dos meus ídolos Rivellino e Zé Maria, contra Palmeiras de Dudu e Ademir da Guia,  o Sao Paulo de Gerson e Pedro Rocha,  a Portuguesa de Ivair,   o  Grêmio de Ancheta e Alcindo, o  Flamengo de Dida, o Botafogo de Didi e Garrincha... 

Com a amarelinha da  Seleção Brasileira, in loco, no Morumbi, vi Pelé  apenas contra a Áustria.

Pela TV, um sem-número de vezes. Muitas delas, na década de 60,    no vizinho sapateiro ( seu Waldemar), já  que lá em casa a telinha demorou pra chegar. Sentada no chão,  a molecada delirava com as diabruras de Garrincha e os gols de Pelé. Alemanha e a então União Soviética eram nossas vítimas prediletas. Na camisa dos russos as letras garrafais CCCP. Para nós Cuidado Com o Crioulo Pelé.

Boa parte por causa de Pelé, quero sempre ganhar, mas  sei perder. Aprendi a escrever, a jogar, a lutar,  a viver e a agradecer tendo o esporte como cartilha. E, sem saber, um rei, igualmente formado em Educação Física,  como professor. Daí para o jornalismo esportivo foi um pulinho. Fruto de  muita leitura. Estadão no seu Osvaldo, professor de Português, Gazeta Esportiva na barbearia do Roberto e Revista do Esporte e Placar em casa.

Feliz de quem viu Pelé jogar. Pena que meus herdeiros não tiveram tal privilégio. Se bem que cheguei  a "cantar" um jogo fictício em que meu filho Felipe "assistia" no  encantado Pacaembu à genialidade de um semideus. "Eu vi Pelé jogar (Pipe)" --  foi o título da página de Esportes do DGABC. Ou foi  do Confidencial?  (rsrs)

Feliz de quem viu Pelé transformar o futebol em arte.  Feliz de quem ficou embasbacado, paralisado, com suas obras esculturais. Feliz de quem viu a magia de  Pelé parar uma guerra. Feliz de quem viu um camisa 10, nota 10.

Gratidão eterna! Deus salve o Rei! Pelé é imortal! Quem nos deixou foi o Edson.