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quarta-feira, 30 de abril de 2014

Deu Atlético! Campeão europeu é espanhol.

Foi definido agora há pouco, em Londres, o adversário do Real Madrid na final da Liga dos Campeões da Europa, dia 24 de maio no Estádio da Luz, em Lisboa, Portugal.

E o campeão, já se sabe, será um time espanhol, da capital Madri, já que o invicto Atlético de Madrid venceu o rico e poderoso Chelsea por 3 a 1 e, quatro décadas depois, está na decisão da melhor defesa contra o melhor ataque da Liga.

Primeiro tempo terminou com um justo 1 a 1. Duelo sem brilhantismo técnico e novamente com predominância dos sistemas defensivos. Mas não foi um jogo chato. Time do argentino Diego Simeone começou melhor, sem medo, mas o Chelsea evoluiu, melhorou os passes, equilibrou e agrediu mais depois dos 20 minutos.

Antes do gol, só ameaçara uma vez com David Luiz de meia bicicleta, enquanto que o time espanhol chegara em duas oportunidades, com Koke -- foi cruzar e acertou o travessão -- e Diego Costa.

Mesmo em casa, diante da torcida, o Chelsea não se impôs. Montou um 4-4-2 móvel, mas pouco criativo e com raros espaços para penetrar. Ficou muito na dependência da velocidade de Hazard pela esquerda e do individualismo do disposto mas isolado Fernando Torres.

Mesmo fora de Madri, o Atlético também optou pelo 4-4-2;  manteve sua filosofia de jogo vencedora e prestes a ganhar o Campeonato Espanhol. Sem a bola, intensa marcação; com ela, vamos jogar sem medo, mesmo sabendo que tecnicamente é inferior. Brilha como conjunto, como time.

Fernando Torres, revelado pelo Atlético e até hoje reverenciado pelo torcedor espanhol, fez 1 a 0 aos 35 minutos. El Niño preferiu não comemorar após bela jogada de  Willian pela direita e cruzamento de Azpilicueta, lateral que entrou como meio-campista, só para marcar as subidas de Filipe Luís .

Empate aconteceu aos 44 minutos: volante Tiago, um dos melhores em campo ao lado dos brasileiros Felipe Luís e Miranda,  se aproximou do ataque e lançou  Juanfran na direita; cruzamento atravessou a área e sobrou para Adrian Lopez bater firme, no canto direito.

Igualdade já daria a vaga aos espanhois. Mas o segundo tempo-- bem melhor que o primeiro -- começou com o Atlético ainda marcando em cada palmo do campo e também agredindo o adversário assim que recuperava a bola. Ousadia pura!

Tanto que quase fez 2 a 1 aos dois minutos com Arda Turan exigindo bela defesa do veterano Schwarzer.  Chelsea ameaçou aos 7 com o zagueiro Terry, de cabeça, após cobrança de falta. O jovem belga Courtois, um dos melhores goleiros do mundo, defendeu bem

Um minuto depois José Mourinho  tentou colocar o Chelsea mais à frente. Eto'o entrou no lugar de Ashley Cole, com Azpilicueta indo do meio para a lateral-esquerda. Willian ficou mais pela direita.

Mas aos  13 minutos, ainda com o Atlético melhor posicionado e mais disposto, o artilheiro Eto'o foi ajudar a defesa e fez pênalti em Diego Costa. Mesmo nervoso e recebendo cartão amarelo, o brasileiro bateu forte, sem chances de defesa.

Sem alternativa, o time inglês foi à frente e quase  empatou aos 18 minutos, quando David Luiz cabeceou no travessão. Já o Atlético passou a apostar na quebra de ritmo de jogo ao pôr o meio-campista Raul Garcia no lugar do atacante  Adrian Lopez.

Aos 21 minutos, Mourinho colocou Demba bá no lugar de Fernando Torres. Daí em diante, a tônica foi a continuação da marcação ostensiva e o toque de bola do Atlético diante de um Chelsea que passou a abusar de levantamentos à área e das subidas de David Luiz e Terry.

Foi pouco. Aos 27 minutos, de novo Tiago lançou, de novo Juanfran cruzou e agora Arda Turan concluiu de cabeça na trave. No rebote, com o pé direito, o mesmo Arda Turan mandou para o fundo do gol.

Aos 30, Diego Costa sentiu  dores musculares e foi substituído pelo uruguaio Sosa. E o mais ofensivo Schurrle entrou no lugar de William. Um minuto depois, com o Chelsea atordoado e sem forças, Filipe Luís por pouco não fez o quarto gol.

Daí até o final o perdido Chelsea só chegou uma vez com possibilidades de diminuir. Aos 48 minutos, Courtois fez grande defesa em chute de Hazard e Terry desperdiçou o rebote.

Venceu quem não era favorito. Venceu o primo pobre. Perdeu o poderoso. Venceu o jogo coletivo. Perderam as individualidades e o currículo do marrento José Mourinho.

Decisão é um clássico histórico, doméstico e cheio de peculiaridades. Portanto, sem favoritismo indiscutível. Determinação e coletivismo do Atlético podem, sim, superar individualidades estelares como Cristiano Ronaldo, Di Maria e Bale.

Mas  entendo e respeito a maioria dos especialistas, que  apontam  o Real Madrid -- sete vezes mais rico que o rival  -- como principal candidato ao seu décimo título europeu. Primo pobre decide a Liga dos Campeões pela segunda vez. Na primeira, perdeu do Bayern de Munique.

Gosto e admiro a objetividade do Real, mas, mais uma vez, vou torcer para o time teoricamente mais fraco e que tem o DNA parecido com o Corinthians.

terça-feira, 29 de abril de 2014

Real Madrid atropela o multicampeão

"Real Madrid dá o primeiro passo. É pouco! Acho que dá Bayern". Foi como abri e fechei o texto do blog após a vitória de 1 a 0 do time espanhol, no Santiago Bernabeu,   no primeiro jogo da semifinal da Liga dos Campeões da Europa.

Ledo engano! Queimei a língua! Time de Carlo Ancelotti fez um primeiro tempo primoroso hoje em Munique, administrou o resultado com inteligência no segundo e, após 12 temporadas,  vai tentar ganhar o décimo o título europeu.

Após a goleada de 4 a 0, adversário será o vencedor de Atlético de Madrid e Chelsea, que jogam amanhã em Londres, na Inglaterra. Em Madrid, deu empate de 0 a 0.

Dois dos melhores times do mundo entraram em campo hoje com esquemas teoricamente muito ofensivos. O Bayern com predominância do 4-2-4, com dois volantes-armadores e quatro atacantes de ofício, sem tanto empenho e competência na marcação pelas laterais.

No Real Madrid prevaleceu o  4-4-2/4-3-3 ofensivo, com dois volantes de contenção,  um armador que pensa o jogo e ainda marca pela esquerda (Di Maria) e outro que fecha o espaço, combate e ataca constantemente pela direita. Benzemá e Cristiano Ronaldo ficavam mais próximos do gol, mas, com a bola, tinham a companhia do galês Bale.

Após algum estudo e certa especulação, não foram necessários mais do que 19 minutos para que o jogo e o finalista se definissem com clareza. Enquanto, de novo, o time de Pepe Guardiola tinha muita posse de bola e nenhuma objetividade, nenhum sentido de penetração, o Real -- de novo -- era mais veloz e objetivo.

Quase perfeito taticamente, marcando a saída de bola e se defendendo em bloco com brilhantismo -- outra vez,  Modric e Xabi Alonso se destacaram -- , o Real não permitia que o multicampeão nem ao menos ameaçasse Casillas. Em 19 minutos o Real já ganhava de 2 a 0 -- gols de cabeça do zagueiro Sérgio Ramos.

Abalado emocionalmente, errando passes, marcando mal e não criando para concluir com eficácia, o desorganizado Bayern ainda levou o terceiro gol com Cristiano Ronaldo aos 33 minutos. Contra-ataque com os quatro homens ofensivos foi tão rápido quanto perfeito.

 Nervoso, o Bayern pouco chegou e ainda correu o risco de levar ainda mais dois ou três gols. Um deles, com Cristiano Ronaldo, por cobertura, seria antológico. Antes, quem perdeu foi Bale com Neuer fora do gol.

Segundo tempo não poderia ser diferente. O Real compactado -- eu não disse covardemente recuado --, marcador e inteligente, a administrar um resultado tão surpreendente quanto merecido. O Bayern bem que tentou ser mais ofensivo. Repetiu um domínio estéril, sem objetividade e com raras ocasiões reais  de gol, embora tenha finalizado mais.

Para completar o show espanhol, o melhor do mundo voltou a marcar aos 45 minutos do segundo tempo. Sofreu e cobrou falta por baixo da barreira, que saltou. Foi o 16º gol do maior goleador numa só edição da história da Liga dos Campeões.

No agregado, um sonoro 5 a 0. Indiscutível! Um atropelamento em plena Munique. Pois é... quer dizer que  o 1 a 0 de Madrid não foi pouco. Foi determinante como primeiro passo para superar o poderoso Bayern, campeão nacional, europeu e mundial.

O multicampeão se curvou diante de um Real Madrid objetivo, consciente e arrasador, o que coloca em xeque a decantada momentânea supremacia mundial do Bayern e a também a filosofia de jogo do competente Pepe Guardiola.

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Vales, montanhas, companheirismo e fé

Foram  exatos 206 mil 284 passos em cinco dias. Cerca de 154 quilômetros de muito suor, cansaço, dores, bolhas e até uma pitadinha de sangue. Lágrimas, só na chegada.

Cinco longos e inesquecíveis dias de companheirismo ao lado do amigo-irmão José Luiz Scarpin, o Zé. Subidas e descidas por estradas, montanhas, campos e vales sem fim. Um desafio! Modéstia à parte, não é pra qualquer cristão.

Uma maravilha! Natureza exuberante. E gente simples, hospitaleira. Sem frescura! Sem nariz empinado, sem pompa como muitos bagrinhos e/ou coronéis de províncias com rótulo de cidade grande. Simplesmente, gente como a gente! Dois caipiras quase sessentões, de Birigui e São José do Rio Pardo.

Cinco dias de muito verde, muita vida. Um caminho de casinhas, igrejas, currais e muito gado leiteiro ou de corte. Um caminho de matas, de pássaros, de cafezais, canaviais, arrozais e bananais. Também à sombra de eucaliptos e araucárias.

Um caminho de muita história, muita prosa, causos, palhaçada da dupla e a medida exata de determinação, oração, meditação, esperança e fé.  Mais de 200 mil passos -- segundo o meu pedômetro --, com pedidos de proteção e muita gratidão por graças alcançadas.

Cinco dias praticamente sem TV, rádio, jornal e internet. Celular, de vez em quando, só pra mandar fotos e notícias pra casa.

Cinco dias sem querer saber de sacanagem, vagabundagem e corrupção de políticos e cia de puxa-saquismo, fisiologismo e vassalagem.

Foram 154 longos quilômetros sem querer saber de bandidagem dentro e fora do Poder Público. Nem de manifestações recheadas de black-bocs e outros bandidos, bancados por pseudo-homens, com carácter ao rés do chão.

Vales, montanhas e até campos de altitude da Serra da Mantiqueira foram nossos escudos contra o mal. O silêncio e o aconchego de matas, riachos e pequenas cachoeiras nos acolheu e nos protegeu do barulho ensurdecedor do homem cifrão, do trânsito, do Bombeiro, da Polícia, da ambulância, do racha e do assassino em fuga.

Nosso duro e doce desafio de fé e dos próprios limites físicos e mentais começou na quinta-feira de manhã, em Estiva-MG, e terminou segunda-feira à tarde em Aparecida-SP. Mais precisamente na famosa basílica em homenagem na Nossa Senhora Aparecida.

Antes de iniciar a peregrinação no sul de Minas, saímos de Santo André. Trem tranquilo, metrô ensardinhado, terminal lotado e, milagrosamente, ônibus partindo no horário.

E lá vamos nós. Íamos! Uma hora para superar pequena  distância devido ao congestionamento na Marginal Tietê antes de chegar à Dutra e depois à Fernão Dias. Aí o busão andou pra valer.

Mairiporã, Atibaia,  Bragança Paulista, Vargem e uma lua cheia digna de casais apaixonados. Extrema, Itapeva e Cambuí, com direito a rápida parada na pequena rodoviária.

Quatro horas depois, às 10h30min da noite, somos despejados no acostamento da rodovia, junto à  passarela que dá acesso a Estiva, terra do morango. Dali até a pousada, com a cidade a dormir, descemos e subimos até a praça principal. Um aperitivo de 1,5 quilômetro.

Caminhada pra valer mesmo -- 42 quilômetros -- começou pouco depois das seis e meia da matina e terminou depois da quatro da tarde. Café, leite, mamão, suco de laranja, banana, pão, frios e coragem na medida exata.

É bom lembrar que na noite anterior jantamos muito bem no restaurante Mãe Geralda. Irmãos palmeirenses, Tadeu e Romeu, nos trataram de forma exemplar. Não faltou  a cervejinha, além daquela tradicional água que o passarinho não bebe. Da boa. Oferta da casa.

Passarela superada, o primeiro grande desafio da manhã, após superarmos a bairro Boa Vista,  foi a temida e famosa Serra do Caçador. Lá de cima, o visual  da montanha, do vale e da rodovia Fernão Dias é muito bonito. Extraordinário! Difícil é subir.

Até começar a descer para chegar à pequenina Consolação foi um Deus-nos-acuda. Suei em bicas. Os três ciclistas de Jundiaí que nos alcançaram também penaram. Eles vinham de Tambaú, a mais de 400 quilômetros.

Da pousada Poka (comandada por dona Zezé, que perdeu a hora e atrasou nosso café) até Consolação foram 19,5 quilômetros.  Saímos de 950m de altitude, subimos -- ou escalamos? --  para 1300m e depois descemos para 1050m.

Um sufoco tanto morro a cima quanto ladeira a baixo! Como eu e o Zé Luiz somos meio orelhudos, e teimosos, tivemos certa dificuldade para transpor os mata-burros. Às vezes, preferíamos pular ou abrir a porteira...

Pouco antes da cidade, já no plaino, passamos por uma fábrica de polvilho, que, segundo um certo amigo-irmão, é feito de  "polvo triturado". Por superstição, dois últimos tentáculos devem ser descartados.

Na chegada, tive a paciência de contar 48 canarinhos da terra nos fios logo acima de um curral. Bom lembrar que durante todo o caminho nos encantamos ainda com pássaros pretos (normais e do brejo), pintassilgos, coleirinhas, chupins, tucanos, gralhas, pica-paus, joão-de-barro, sabiás, tico-ticos, quero-queros, carcarás,  gaviãozinho pinhé, viuvinhas, tesourinhas, saracuras e até jacus, ali em Campos do Jordão.

Após merecido descanso na pracinha de Consolação, barrinhas, castanhas, damasco e um Tampico para substituir o pretendido Gatorade, retomamos o desafio.

Mais ladeira até encontrar e andar  cerca de três quilômetros na rodovia asfaltada, onde, na primeira curva mais fechada, quase fomos atropelados por um carro -- pasmem -- da Polícia Rodoviária. Quanta irresponsabilidade de quem deveria dar exemplo.

Mais tarde, deixamos o perigo do asfalto quase sem acostamento e entramos à direita. Com altos e baixos, montanhas e riachos. E muita bosta de vaca pelo caminho. "Olha o toco, Zé".

Próxima parada, estratégica, após oito quilômetros,  foi na casa do Bruno, filho de outro amigo-irmão, o Cal , também de Santo André e do Primeiro de Maio.

Bruno é músico  e também peregrino do Caminho da Fé. Gente finíssima. Um jovem sonhador, nota dez, que já pensa em receber os caminhantes no seu cantinho, ali no bairro dos Jacintos. Fica a sugestão do nome: Pousada do Maestro.

Meia hora de descanso, conversa de amigos, cerveja -- sim, latinha, gelada -- e suco de laranja do quintal. Quando falo que tomamos cerveja com prazer há quem se assuste. Esquece! É uma delícia. Desce doce, hidrata e alegra a mente. Com amigos, vira um néctar.

Porém, ainda faltavam 14 quilômetros para aportarmos em Paraisópolis. Abastecidos, subimos de 900m para 1200m. Coisa de malucos, já cansados e com dores. Descemos novamente para 950m. Eu não tinha dúvidas de que já somava algumas bolhas porque os dedos eram judiados pela bota, embora já amaciada. Me vendeu!

Pior é que ficamos sem água por bom tempo. Até que apareceu uma alma bondosa, o Tiãozinho. Nos protegeu de três cachorros mal encarados. Mangueira junto à piscina foi salvadora. Água guela a baixo, na nuca, na cabeça, nos braços e nas pernas. Quase um banho para superar os descendentes quatro quilômetros restantes do dia.

Arrebentados -- mais eu --, chegamos à pousada da Praça, sob a direção da dona Jandira. Surpreendentemente, fomos avisados de que não havia vagas. Fizemos bico e cara de poucos amigos. Ponderamos que tínhamos feito a reserva há mais de 15 dias e que não era justo.

Após alguns minutos, fomos acomodados em detrimento de outros hóspedes, que, com certeza, pagaram o pato. Depois, fomos bem tratados. Limpeza, atenção, cama boa, chuveiro bom, silêncio e café da manhã sem restrições.

À noite, tomamos uma caipirinha e duas Brahmas para acompanhar a pizza. Só que desta vez com a surpreendente e sempre agradável companhia do Cal e do "maestro". No dia seguinte, dispostos e com bolhas drenadas, saímos pouco depois do nascer do sol. Café bom, como disse,  e no horário combinado.

Nossa planilha apresentava um desafio mais leve, de 24 quilômetros. Asfalto, terra, ponte sobre o Rio Sapucaí. Até o k12 foi molezinha. De 950m para 900m, com pequenas alterações de altimetria. Um sobe-e-desce quase de principiante. Depois, no entanto, sofremos um pouco. Até o k20 subimos para 1250m.

Detalhe curioso: pouco depois do rio,  entramos à direita, já na terra e com generosa sombra de eucaliptos. Com um  vira-lata carente e teimoso a nos acompanhar. Foi conosco por pelo menos dois/três quilômetros. Quando o Zé tirou o facão para cortar um bambu e ajeitar um novo cajado, o cachorro picou a mula; sumiu.

Após descanso, hidratação, castanhas, damasco seco e banho gelado na pequena cachoeira, e superada a pesada Serra do Cantagalo, descemos para 950m e paramos um pouco na pousada simples mas aconchegante da Vó Maria, gerenciada pelo simpático  Rodrigo.

Atencioso, ele nos deu boas-vindas e nos ofereceu água, café, almoço -- abrimos mão pelo horário --, bolachas e até bananinha caseira, além de mexerica, doces de leite e de banana. Simpatia ímpar até no momento de tirar fotos e dar o abraço de peregrino, unindo corações.

Ali, na casa de colônia, não resisti às lembranças de infância. Sentei-me no fogão -- sim, em cima do fogão --, mexi na lenha, assoprei o fogo levemente e me lembrei da  saudosa vó Lica, lá na fazenda Boa Esperança. No paraíso do bairro Cantagalo o Rodrigo ainda oferece livros doados e até filme para o pessoal da roça.

Depois das fotos, descemos para os mesmos 950m. Declive é descomunal por entre árvores variadas e bananeiras intermináveis. Lógico que, sem esforço algum, o Zé pegou, do cacho, meia dúzia de bananas quase maduras, devoradas no dia seguinte.

Descida na chegada parecia não ter fim. Quase chorei de dor. Tudo recompensado pela mãe natureza, pela beleza das montanhas e da "cidadezinha" vista do alto. Incrustada entre maravilhas, Luminosa, com cerca de 600 habitantes, é distrito de Brasópolis, onde fica um dos principais observatórios astronômicos do País..

Ficamos na pousada Nossa Senhora das Candeias, da dona Ditinha e do seu Nilton, também proprietário do bar no andar térreo, onde tomamos duas ... "tubaínas".  Não, cerveja e caipirinha com limão cavalo, e cara alegre,  não fazem mal, não.

No dia seguinte,  sábado, saímos por volta das 7h. A simpática e sempre atenciosa dona Ditinha perdeu a hora e o nosso café atrasou bastante. Ficamos trocando figurinhas -- força de expressão; não é da Copa não -- com herois do Caminho de Frei Galvão e alguns ciclistas.

Duro mesmo era, da sacada,  olhar para a altura dos morros que nos esperavam, fincados nos bananais e nas fazendas de gado que rodeiam o distrito. A marca do Zorro invertida  desenhada no pasto já assustava. Parecia o início do fim!

Conforme informações e anotações, estávamos prestes a encarar um dos trechos mais belos e difíceis  do Caminho da Fé. Tudo confirmado. Infelizmente. De Luminosa até o chalé da dona Erundina, já no bairro Campista, divisa de São Bento do Sapucaí com Campos do Jordão, foi um pega-pra-capar.

Foram 22 quilômetros extenuantes. Nos primeiros quatro/cinco, ainda ali na pousada da dona Inez, eu já estava abrindo o bico. Tomamos água -- agora sem sujeira -- e encaramos o "Zorro".

A maior diferença de altimetria de todo o Caminho da Fé. De 900m para 1800m de altitude. Imagine o grau de dificuldade! É o famoso, temido e amaldiçoado "quebra-perna".  Também poderia ser "quebra-tudo", "quero-minha-mãe" ou "deus-me-acuda".

Subidão não é pra qualquer mortal não! Sofremos muito. Principalmente porque de novo nossa água acabou e ficamos na seca por pelo menos três quilômetros de "Nepal". No fim da escalaminhada existia uma biquinha salvadora no meio da mata.

A melhor água do mundo, sem sombra de dúvidas, como alertou um ciclista que nos ultrapassou sem ser multado por excesso de velocidade. Nós, a dois km/h; ele e o companheiro a três km/h. Empurrando a bike, lógico! Lá não tem farol, nem radar, nem zoinho, como diz meu amigo Lance.

Após pequenos aclives e declives, tudo lá na crista da montanha, mas sempre com sombra protetora de eucaliptos e araucárias, adentramos no asfalto que liga Campos do Jordão-São Bento do Sapucaí.

Próximo à divisa dos estados, num sábado no meio do feriadão, o movimento de veículos era intenso por causa da atrativa Pedra do Baú e foi um obstáculo perigoso.  De novo, faltou o zoinho! Tanto quanta falta responsabilidade a alguns motoristas.

Até a pousada Barão Montês, na ausência de acostamento, fomos dividindo asfalto e curvas com carros quase sempre em velocidade nada compatível. Paciência! Faz parte. Cheiro e condutas da civilização, do mundo urbano. Infelizmente!

Almoçamos deliciosamente, com gosto mesmo,  na bela pousada agora gerenciada pelo Marcelo, irmão do Márcio. Néia, dona Erundina e Andreia, todos alegres e de bom papo, nos atenderam muito bem.

Outra latinha, outra caipirinha, arroz, feijão, macarrão, um filé divino,  ovo frito, salada e pão caseiro caíram como uma dádiva divina. Também, pudera, parecíamos cães famintos.

Como ali não havia vagas, de antemão, por telefone,  já havíamos reservado um dos chalés da própria dona Erundina, cinco quilômetros pra frente e pra baixo, lá no bairro Campista.

Chegamos cansados -- pra variar -- e eu com mais bolhas a castigarem. Antes mesmo do banho reenergizante, o Zé foi às compras no mercadinho (ou boteco?), junto à casa das latinhas.

Tomamos dois litrões de cerveja e mais duas latinhas. Depois, fiz uma caipirinha daquelas e o amigo-irmão caprichou nos seis ovos cozidos, devorados com metade do pão caseiro cedido pelo pessoal da Barão Montês. Também ganhamos caquis.

No domingo, bem cedo, por volta das seis horas, ainda com estrelas, após lanche daquele pão com queijo e geléia -- não sei do quê --, já estávamos na estrada. No meio da mata silente e acolhedora, das araucárias, a ouvir apenas o canto dos pássaros e, depois,  a bagunça dos macacos sauás.

Naquele dia, saímos de mais ou menos 1450m e subimos para quase 2000m de altitude. Foram 32 quilômetros  intermináveis. No início,  10 de subida leve mas constante, de Campista até o asfalto do bairro Alto da Boa Vista, com direito a ver novamente a Pedra do Baú mais de perto.

Maravilha! Uma conquista! Mas um perigo. Escalar quase 500 "degraus" sem equipamento, em dia chuvoso, não é mole não. Já encarei o desafio ao lado da esposa Angela. Naquele dia, sem dúvidas, fui irresponsável.

No asfalto, com vista pra Campos, deixamos o Caminho da Fé e entramos à esquerda, no curto "Caminho do Raddi".  Foram cerca de oito quilômetros de asfalto e terra, passando ao lado do Pico do Imbiri e descendo até o Morro do Elefante. O Zé Luiz sentia dores lombares por causa da mochila e eu nos dedos premiados com aquelas bolhas malditas.

Lá embaixo, por questão de segurança e após ouvir sugestões de amigos caminhantes mais experientes, optamos por fazer de ônibus o percurso até o Horto Florestal. Mais ou menos  20 minutos, sentados e prontos para devorar o lanche de pão e mortadela com requeijão, mais H2O sabor limão. Nem deu tempo de descansar.

Ao descermos do ônibus, já avistamos a indicação do Caminho de Aparecida. Até a pousada Santa Maria da Serra foram mais 14 quilômetros, e não 10, como mostrava a placa. Diferença de altimetria também foi crucial para tamanho sofrimento.

Era subida que não acabava mais. Por sorte, na sombra, e com direito a vistas maravilhosas, lógico. Mirantes eram sinônimo de colírio para ainda olhos vivos e corpos sempre cansados. Mas agora sem fome. Lanchão naquela bengala coberta com parmesão foi incomparável. Tanque cheio!

Pra ser sincero, foi preciso mesmo ter muita fé e determinação  para -- de novo sem água suficiente nem alma bondosa para nos salvar -- chegar vivo ao alto do morro. Além de agradecer e rezar por filhos, netos, irmãos e amigos do peito, pedi a Deus que nos desse forças para chegarmos inteiros.

E Ele ouviu. Dos 14 quilômetros, pelo menos 10 foram de aclive respeitável. Dentro a  extensa fazenda Lavrinhas, aportamos na pousada Santa Maria da Serra por volta das 15h30min. Após um banho reconfortante e duas latinhas  -- de água tônica... -- cada um, saboreadas junto ao belo lago, fizemos aquela refeição espertíssima.

Com dizia o saudoso tio Miro, nunca almocei tão tarde e jantei tão cedo. Atraso no nosso "rango" foi causado pela presença de uma comitiva (Os Sistemáticos) de Piranguinho, cidade vizinha de Itajubá. Peãozada comeu e bebeu com fartura. Depois, sem pagar todas as cervejas,  eles pegaram a estrada morro a baixo, já que dormiriam na pousada do seu Agenor.

Antes das sete da noite, após eu ver meio sem querer o finalzinho do empate do Corinthians com o Atlético Mineiro após quatro dias sem TV,  já estávamos debaixo das  cobertas. A chuva boa e rápida trouxe o frio. Precisamos de  cobertores e aquecedor. Quebrados, não foi difícil pegar no sono antes da oito da noite. Isso mesmo. Dormimos com as galinhas.

Finalmente, chegamos à última etapa da nossa jornada de aventuras, desafios, bolhas e fé. O feriado de segunda-feira prometia. Após o café -- este no horário acertado -- , o pagamento e as despedidas da sempre prestativa Sandra, a gerente da pousada, saímos antes de clarear.

Estava meio frio. Coloquei o gorro e a lanterna de cabeça, mas logo tirei. De cara, começamos a descer a estrada de pedrinhas soltas sem parar. A não ser para admirar e fotografar verdadeiras obras de arte da natureza.

Ainda com direito às luzes das cidades do Vale do Paraíba e a um nascer do sol encantador. Surpreendente a cada curva.  Vista do bairro Gomeral, lá no fundo do vale, também merecia um quadro. Um quadro surreal!

Seriam 34 quilômetros para fechar o compromisso de honra, de amigos,  com chave de ouro.  Foram mais ou menos 12 quilômetros de descida mortal até o Gomeral. Eu com a dança dos dedos e o Zé com dor nos joelhos e nas costas. Mochilas  com seis quilos pareciam pesar uma tonelada.

Até a pousada do simpático seu Agenor foram mais três quilômetros de asfalto,  agora em terreno praticamente plaino, ao lado de um rio. Próximo da pousada, alcançamos um pessoal supersimpático e prestativo -- Mocinha, Creuza, Maria Inês e Marcos, além da jovem Tatiana e de outros de quem não guardei o nome. A maioria participa de um grupo de "aventureiros" com sede em Campinas. "Quem não anda, desanda" - é o sugestivo slogan impresso na camiseta verde.

Descansamos  e papeamos por quase meia hora antes de, sob calor intenso e sol a pino, enfrentar os derradeiros 19 quilômetros da jornada. Muito hospitaleira, a família nos ofereceu água, café e suco de laranja natural. Além de banheiro limpo.  Foi ótimo. Peãozada  de Piranguinho pernoitou lá e, pelo jeito, bebeu demais e  aprontou.

Fortalecidos, descansados -- na medida do possível -- e motivados, encaramos o asfalto, passamos pelo distrito de Pedrinhas, diante da bela igrejinha, e logo entramos à direita, numa estrada de terra e gado sem fim. Sem subida nem descida significativa, mas também sem sombra. Um convite ao caos, à desesperança, à desistência. Dos fracos de espírito.

Antes de faltarem 10 quilômetros já avistávamos a torre da basílica, mas chegar lá pesou como maratona. Tanto que demoramos mais de três horas para passar totalmente pela pequena, quente e nada arborizada Potim antes de cruzar o rio Paraíba  e nos aproximar, de fato,  da grande igreja. E olhe que os dois copos de caldo de cana na beira da estrada me ajudaram. O Zé Luiz não quis.

Juro que no final eu já não aguentava mais de cansaço e dor nos dedos. Principalmente por causa das malditas bolhas. Tanto que fiquei um pouco para trás do pessoal e do amigo-irmão inseparável. Meus neurônios já não pareciam tão ativos. Não sei como não trancei as pernas.

Por bom tempo, caminhamos lado a lado com uma grande e bela romaria de Mogi das Cruzes. Mais de 60 cavaleiros e amazonas, com filhos pequenos, até bebês, charretes e carros de apoio, com direito àquela gostosa música caipira. Eram várias famílias. Lindo!

Quase mortos, atravessamos a linha do trem, pegamos a avenida sem fim e chegamos ao estacionamento da basílica por volta das 14h30. Oramos e agradecemos. Houve momentos em que me perdi ao rezar o pai nosso e chorei de emoção ao pensar nos amados netos e filhos, especialmente no caçula, o Nando.

Depois, na secretaria, carimbamos as credenciais, recebemos o certificado de peregrino do Caminho da Fé e até ganhamos o direito àquele banho deliciosamente gelado no vestiário destinado aos motoristas. Lá também há uma grande sala de descanso com espreguiçadeiras.

Banho tomado, com direito a desodorante,  havaianas, bermuda e camiseta limpinhas e até cheirosas, descemos a rampa e atravessamos o estacionamento com sacrifício. O Zé menos, eu mais quebrado. Almoçamos -- a carne do  churrasco foi um engodo; era horrível, dura -- e fomos para a rodoviária, malcheirosa e mal frequentada, onde, quebrado, confesso, me deitei num dos bancos.

Ônibus da Cometa deveria sair às 17h10min, mas atrasou 30 minutos por causa do trânsito intenso na via Dutra. Para  fugir do nó, o motorista optou pelo caminho de Roseira. Não adiantou muito. Depois, entrou e saiu da Dutra e, por uma via lateral, ganhou um pouco de tempo até Taubaté.

Trânsito só melhorou  quando se dividiu, após o acesso à Rodovia Carvalho Pinto. Até que viemos bem. Rodoviária do Tietê, metrô Ana Rosa, estação Tamanduateí, trem e, finalmente, estação de Santo André. Afinal, nada melhor do que a própria casa.

Tarefa cumprida com prazer, respeito, determinação, companheirismo, bolhas e dor. Com a cumplicidade da natureza. Com a beleza de vales, várzeas, campos e montanhas iluminadas e verdejantes.

Valeu, amigão! Parabéns e obrigado pela companhia! Agora merecemos aquele vinho especial. Sem exageros. Afinal, teremos novos desafios nas próximas décadas.

Sofri mas estou feliz! Uma vitória, uma conquista que ofereço aos meus netos Victor, Júlia e Davi.

Como dizia o poeta, "tudo (a vida) vale a pena quando a alma não é pequena. Valeu a pena!   Com a graça de Deus.







quarta-feira, 23 de abril de 2014

Real Madrid dá o primeiro passo. É pouco

Tido por muitos como o melhor time do mundo na atualidade, o  poderoso Bayern de Munique não teve forças nem futebol  e perdeu do Real Madrid agora há pouco no Santiago Bernabeu.

Merecido placar de 1 a 0 -- gol de Benzemá aos 19 minutos do primeiro tempo -- dá ao Real a vantagem do empate no segundo jogo, na Alemanha, para chegar à final da Liga dos Campeões da Europa.

Primeiro tempo do Real Madrid foi melhor do que o segundo. Especialmente quando  o time espanhol foi veloz, incisivo e objetivo no ataque -- melhor dizer contra-ataque, diga-se.

Defensivamente ( 4-4-2 x 4-3-3) o Real foi quase perfeito. A começar pelos volantes Xabi Alonso e Modric, os melhores em campo ao lado do zagueiro Pepe.

Diante de um verdadeiro paredão e sem espaço, o ofensivo Bayern se limitou a um domínio estéril, enganoso. Tocou  lateralmente, sem penetração,  e teve muito mais posse de bola, jogo preferido do técnico Pepe Guardiola. Foi pouco. E ainda faltou um elo, um armador, já que Kross, bem marcado, não brilhou.

Depois do gol, o time caiu de produção, sentiu o baque, deu espaços em demasia e por pouco não sofreu o segundo em conclusões do lesionado Cristiano Ronaldo e de Di Maria.

Segundo tempo foi equilibrado. Campeão alemão se movimentou mais e deu mais trabalho, além de melhorar a marcação. Real ameaçou duas vezes com o português melhor do mundo, enquanto que o Bayern chegou com Muller e Goetze.

Relativa pressão alemã só aconteceu mesmo no final, quando Pepe já saíra contundido e Guardiola colocou os ofensivos Goetze e Muller nos lugares do bem marcado Ribery e do volante Schweinsteiger.

Mesmo assim, o Real Madrid manteve a consistência defensiva. Só não ampliou a vantagem porque pecou na transição para aquele contragolpe fatal.

Placar  mínimo significa o primeiro passo, mas faz com que o jogo de volta ainda fique em aberto.  Em casa, e com DNA ofensivo, o  último campeão mundial interclubes não vai especular. Correrá todos os riscos possíveis.

Por isso tem plenas condições de fazer o resultado e chegar à final contra o vencedor da outra semifinal, entre Chelsea e Atlético de Madrid. Acho que dá Bayern.    

terça-feira, 22 de abril de 2014

Atlético de Madrid para na muralha inglesa

O 0 a 0 de agora há pouco em Madri foi bem melhor para o visitante Chelsea do que para o Atlético de Madri.

No jogo de volta, em Londres, o Chelsea acredita ter maiores possibilidades de se impor diante do seu torcedor e chegar novamente  à final da Liga dos Campeões da Europa.

Ao Atlético faltaram criatividade, maior sentido de penetração e competência nas finalizações. Determinação, intensidade, volume de jogo, posse de bola, marcação ostensiva, troca de passes, ousadia e cruzamentos laterais, nada foi suficiente para chegar ao gol.

Time espanhol foi superior, especialmente no segundo tempo, mas incapaz de superar ingleses -- recheados de brasileiros -- postados num 4-5-1 eficientíssimo. Taticamente perfeito. Apenas Torres ficava à frente, apostando naquela bola lotérica, no contragolpe fatal.

Sistema defensivo montado por José Mourinho -- uma verdadeira muralha -- mantinha quatro zagueiros fixos, três volantes -- Lampard, David Luiz e Mikel -- e  dois falsos atacantes, já que Ramires e William marcavam as subidas dos laterais espanhóis.

Mesmo abdicando estrategicamente do ataque,  o Chelsea teve o mérito de se defender com sabedoria com o objetivo de decidir em casa. Mesmo abusando da agressividade, o Atlético não teve competência para fazer gol.

Amanhã, também em Madri, o Real do lesionado Cristiano Ronaldo, o melhor do mundo,  recebe o poderoso Bayern de Munique, atual campeão mundial.  Tem tudo para ser um jogão. Sem favoritismo.   

terça-feira, 15 de abril de 2014

Poder de Del Nero e cia é um acinte. É podre!

Sim, o poder do advogado Marco Polo del Nero e cia bela é um acinte, uma provocação a cidadãos de bem  em pleno País da bandalheira, da corrupção.

Sim, assim também é no esporte. Uma podridão. Dá nojo. Assim é na política. Um antro de sacanagem. Dá vergonha. Assim é na vida. Não é só político não! Todos somos muito semelhantes e perpetramos um Everest de lambanças do nascer ao pôr do sol, da primeira à última estrela.

Pior é que nós brasileiros -- pelo menos quem se julga decente, justo, correto --  nos sentimos confrontados, desafiados, e pouco ou quase nada fazemos. Somos muito mansinhos, puxa-sacos quando interessa, e nos juntamos aos "coronéis", aos dominadores.

Marco Polo del Nero, José Maria Marin, Ricardo Teixeira, João Havelange, Joseph Blatter, Nicolas Leoz, Carlos Nuzman, Ari Graça, Renato Pera e tantos outros dirigentes do esporte mundial jogam no mesmo time.

Um time quase todo sujo, com raros lampejos de craques em prol da coletividade. Um bando de prepotentes, presunçosos, vaidosos, ambiciosos, cínicos e irônicos. Bem mais ricos e poderosos que Anita.

Um time se senhores carecas ou de cabelos brancos, arrogantes, que pautam atitudes e a própria vida nababesca por conveniências pessoais, políticas, financeiras e institucionais. Seus valores são outros, bem outros. Haja cifrões!

Presidente da Federação Paulista de Futebol há 11 anos, além de vice da Confederação Brasileira e membro cativo da Conmebol e da FIFA -- tudo da mesma corriola -- Del Nero será eleito por aclamação. Sem concorrência! Trabalho de bastidores, lógico! Subterrâneos! Podres poderes!

Como presidentes de federações e clubes mamam nas mesmas tetas volumosas, também integram o elenco do Poder Futebol Clube. Os capachos não ousam contestar a hierarquia do mandonismo dos sonhos. Por isso a pseudo e frágil oposição nem conseguiu lançar candidato.

Andrés Sanchez, ex-presidente do Corinthians e ex-diretor de seleções da CBF, deixou a entidade quando o técnico Mano Menezes foi, sim,  sacaneado por Marin e cia. Andrés esboçou candidatura mas não a efetivou. Uma pena! Não é perfeito, também fala algumas besteiras, mas pelo menos ousa peitar o poder e não é cordeirinho.

Dentre os cinco vice-presidentes  estão o próprio José Maria Marin -- que pode renunciar antes mesmo do final do mandato, em abril de 2015 -- e Fernando Sarney, filho de José Sarney. Sim, o Sarney sempre em posto privilegiado, o oligarca que jamais deixou o encanto do poder, independente de cor e de partido político.

Vice-presidentes regionais recebem, entre outras benesses escamoteadas, R$ 10 mil  por mês como verba de representação. Presidente tem salário de R$ 160 mil. Sim, só isso! Fora o por fora. Que o digam Teixeira e Havelange.

FIFA bilionária, CBF milionária, federações ricas e a maioria dos clubes à míngua. Inadimplentes contumazes e dependentes químicos do protecionismo governamental.   Tudo em nome de um projeto chamado poder.

Por falar em projeto de poder, o novo presidente da FPF deve ser Reinaldo Carneiro Bastos, braço-direito de Del Nero  e há mais de uma década na rebarba do trono futebolístico estadual.

Reinaldo, o moço de Taubaté,  é amigo de longa data do pessoal do Esporte Clube Santo André. Especialmente do ex-presidente Celso Luiz de Almeida, o Celsinho, hoje no comando do Conselho Deliberativo. Notícia pode até ser boa para o nosso Ramalhão!

Quanto ao São Bernardo e ao São Caetano, não creio em qualquer esboço de privilégio. Dono do Tigre em sociedade com o PT, Luiz Fernando é mais chegado em arrecadar fundos partidários e fazer política.

Já o  senhor Nairo,  xerife (ou capataz?) do decadente Azulão, parece não conseguir fazer bem nenhuma coisa nem outra. Em campo, seu clube tem dado vexames sequenciais. Por que até agora só não trocaram o presidente? Pode ser o pulo do gato!

Voltando à podridão infinita, de pai pra filho, de amigo pra amigo. Se não morrer antes, Del Nero vai ficar mais de duas décadas no poder maior nacional. Lógico que o projeto é a FIFA. E antes de sair ele vai fazer o sucessor. Alguém duvida?

Afinal, como quase todos são da mesma laia, com honrosas exceções,  querem se eternizar no trono banhado a ouro. Um acinte! Sinto nojo! Às favas a tão decantada quanto abissal, distante, utópica, democracia de verdade, sem contornos.


sábado, 12 de abril de 2014

Ramalhão bate na trave; Azulão escapa da A-3

Última rodada do Campeonato Paulista da A-2 foi eletrizante, emocionante, até, mas não alterou absolutamente nada em relação a acesso e descenso.

Quatro classificados para  disputar a elite estadual em 2015 e quatro rebaixados à A-3 são os mesmos da penúltima rodada.

Capivariano (campeão com 40 pontos ganhos de 12 vitórias), Red Bull (40PG e 11V), São Bento (37PG) e Marília (36PG e 11V) venceram e serão as novidades do próximo Paulistão. Mirassol (36PG e 10V) e Santo André (35PG) também ganharam, mas ficaram pelo caminho.

Grêmio Barueri, Itapirense e Grêmio Osasco perderam e se juntam ao São José como rebaixados à Terceira Divisão.

No clássico do Grande ABC, no Anacleto Campanella, o São Caetano perdeu de 3 a 1 do Santo André, mas se salvou por obra -- leia-se, incompetência --  de terceiros. Ficou com 19 pontos ganhos, contra 17 dos concorrentes diretos.

Em alguns momentos da rodada, como quando o Grêmio Barueri vencia o Red Bull em Campinas, o Azulão, o time que mais perdeu no campeonato (10x), chegou a estar na zona de degola.

Em outros, quando Barueri, Itapirense e Grêmio Osasco empatavam seus jogos, o torcedor do São Caetano ficou com o coração na mão. Qualquer gol destes times nos 15 minutos finais levaria o Azulão ao fundo do poço.

Já o  Ramalhão, apesar da boa vitória e do belo final de campeonato, não chegou a "estar" momentaneamente na elite porque São Bento, Marília e Mirassol não permitiram a reação dos adversários.

O Santo André fez sua parte mas bateu na trave. O decepcionante São Caetano não fez a sua mas escapou do vexame de outro rebaixamento porque seus concorrentes também foram derrotados.

Que as campanhas sirvam de alento para o primeiro e de lição para o segundo!

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Pitacos sobre o trânsito de Santo André

Não sou especialista, mas também dirijo pelas nem sempre bem conservadas ruas e avenidas de Santo André. Portanto, com direito a opinar, criticar, questionar e até fazer sugestões pontuais  ao prefeito Carlos Grana.

Lógico que pitacos também são direcionados a Paulinho Serra (secretário de Mobilidade Urbana, Obras e Serviços Públicos), Epeus Pinto Monteiro (diretor do Departamento de Engenharia de Tráfego) e Leandro Petrin (  dirigente mor da SATrans, entidade responsável pelo transporte coletivo da cidade).

1) Trânsito pesado da  rua Guilherme Marconi fica ainda mais travado quando afunila, após o cruzamento com a Joaquim Távora. Renovo a sugestão para que volte a ser proibido o estacionamento do lado esquerdo, especificamente defronte da farmácia e da loja de produtos ortopédicos. Não faz sentido beneficiar poucas pessoas e prejudicar a maioria. Segundo palavras de um agente de trânsito, quem determinou a permissão de estacionamento seletivo foi o doutor Aidan Ravin. Um capricho do poder, lógico. O ex-prefeito não era, nem é, o dono da cidade. Sugestão: que o senhor Grana providencie uma reavaliação do fluxo no local e, se for o caso, volte a proibir o estacionamento.

2) Rua Santo André continua com intenso fluxo de veículos em vários horários -- manhã, meio do dia e final de tarde. Zona azul está por ser implementada, mas precisa funcionar com orientação e fiscalização local. Se estacionarem na frente da minha garagem, não terei dúvidas de ligar para o DET. Se tiver guincho... Além disso, seria interessante reavaliar o tempo do semáforo junto ao estacionamento e à tradicionalíssima Padaria Brasileira, tão badalada pela nata da província.

3) Tanto na Alfredo Fláquer (Perimetral) quanto na rua Carijós, motoristas de ônibus deitam e rolam na chamada faixa exclusiva. Além de  trafegarem em alta velocidade, se julgam proprietários também das demais faixas. Sugestão: análise e multa aos infratores abusados, além de exame de dosagem alcoólica e de consumo de drogas. É um absurdo!

4) Terço final da Visconde de Mauá, na vila Assunção, é estreito e não comporta mão dupla. Especialmente por causa dos coletivos, que são grandes e andam em velocidade nada compatível com o local. Sugestão: multar os apressadinhos e estudar a possibilidade de implantar mão única.

5) Viaduto junto ao Diário do Grande ABC, portanto, às barbas do gabinete do prefeito, tem estreitamento de faixa sem aviso aos motoristas. Reestudar o acesso de quem vem da Figueiras e da Vila Bastos ou ao menos alertar que a segunda faixa vai desaparecer a 200 metros.

6) Trânsito na Oratório, à altura do cruzamento com a Antônio Franco (?), ali no Frangasso, está um caos. Risco de acidentes é iminente porque muitos motoristas não respeitam os semáforos nem o limite de velocidade. Isso quando a árvore não encobre o farol. Sugestão: reavaliação, presença de agentes do trânsito e punição aos infratores.

Aproveitando  a implantação do PAIT -- Programa de Ação Imediata no Trânsito -- ficam, então,  as pequenas sugestões aos donos do poder. Como são conscientes, espero que Paulinho, Epeus e Leandro não façam vistas grossas. Por enquanto, é isso! 

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Quando a determinação supera a arte

Mais uma vez, o futebol-arte do Barcelona ficou pelo caminho na Liga dos Campeões da Europa.

Mais uma vez, a plasticidade e a técnica de um dos melhores times do mundo foram engolidas pela determinação e pela aplicação tática de um adversário operário, que confiou numa missão quase impossível.

De novo, o desfile de individualidades  de grandeza estelar  foi ofuscado pela força do coletivo. De novo, agora há pouco em Madrid, o futebol mostrou por que é apaixonante. Nem sempre ganha o melhor.

Com méritos, o guerreiro Atlético de Madrid venceu o Barcelona de Messi, Neymar, Iniesta e cia bela por 1 a 0 e está nas semifinais da Liga ao lado de  Real Madrid, Chelsea e do atual campeão Bayern de Munique.

Primeiro tempo do time madrilenho foi primoroso. Jogou, pressionou, marcou de forma ostensiva e não deixou o Barcelona respirar e tampouco criar. Ousou como poucos e se entregou como se já fosse uma decisão de título.

Além do gol de Koke, logo aos cinco minutos, o Atlético mandou três bolas na trave, enquanto que o Barcelona só chegou duas vezes com Messi, que não brilhou.

Segundo tempo foi diferente. Barcelona foi melhor, mais agressivo e teve pelo menos três bons momentos de gol, os principais deles com Neymar. Faltou objetividade!

Em vantagem, Atlético preferiu recuar o bloco defensivo com duas linhas de quatro e apostar num contra-ataque fatal que foi armado mas não concretizado com êxito.

Mesmo dominado, o time de Simeoni mostrou consciência e determinação táticas; não se desorganizou. Foi um exemplo de dedicação e confiança do que é capaz.

Quarenta anos depois, o Atlético está numa semifinal cujos jogos serão definidos por sorteio, nexta sexta-feira de manhã. 

terça-feira, 1 de abril de 2014

O sonho, o risco e o clássico

O Santo André perdeu a invencibilidade  de 11 jogos diante do São Bento, em pleno Bruno José Daniel, mas ainda sonha com o acesso à elite estadual.

O instável e nada convincente São Caetano ganhou do bom Marília (2 a 0 ) no Anacleto Campanella, mas continua seriamente ameaçado de rebaixamento à Terceira Divisão (A-3).

Como venho escrevendo há algum tempo, o clássico do próximo dia 13, em São Caetano, pode definir a situação dos dois ou de pelo menos um deles no campeonato. Acesso e/ou descenso podem estar em jogo.

Capivariano está garantido e Red Bull bem próximo. São Bento (31 pontos ganhos e nove vitórias), Marília (30PG e 9V), Mirassol (30PG e 8V), Santo André (29PG e 7V) e Ferroviária (25PG e 7V).

Na zona da degola, o União Barbarense  está em 14º com 19 pontos ganhos e cinco vitórias. O São Caetano é o 15º com 18 pontos ganhos e cinco vitórias. Rio Branco aparece em 16º com os mesmos 18PG e quatro vitórias.

Rebaixados de hoje seriam Itapirense (17PG), Grêmio Osasco (17PG), Grêmio Barueri (14PG) e São José, já na A-3 com apenas 8 pontos ganhos.

Na penúltima rodada o Santo André recebe o Catanduvense antes do clássico do Grande ABC. Já o Azulão vai ao Interior enfrentar a Ferroviária.

Se o Ramalhão repetir os erros da segunda etapa da derrota para o São Bento, pode enfiar a viola no saco porque não vai ganhar os prováveis seis pontos necessários, além de tropeços dos concorrentes.

Até que foi bem no primeiro tempo, mas criou e agrediu pouco. Dominou, mas não foi intenso nem incisivo. Talvez por temer em demasia um contra-ataque, que não aconteceu.

No segundo tempo só deu São Bento. Santo André pediu para tomar o gol desde o início e o técnico Vilson Tadei demorou para mexer no sistema defensivo e na armação/ligação.

Mais ofensivo, ousado e veloz, o time de Sorocaba esbarrou no goleiro Saulo até fazer o gol com Marquinho nos acréscimos, após lambança de Júnior Paulista, que chutou a bola  em Ramalho.

Lento, meio cansado e até dispersivo, o Ramalhão deu espaços e não melhorou na marcação. Mas ao menos reagiu nos 15 minutos finais e tentou atacar.  Jogo poderia ter terminado 4 a 2 para o São Bento.

Portanto, se o Santo André passar e o São Caetano não vencer na rodada deste sábado, o maior clássico regional vai ser de arrepiar.

Já há insinuações -- maldosas, por sinal, mas não 100% descartáveis -- de que um dos dois vai entregar para beneficiar o "inimigo" necessário.

É ver pra crer! Sinceramente, não ponho a mão no fogo, mas não acredito em acerto.