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sexta-feira, 2 de outubro de 2015

O adeus do sábio Acylino. Sem a última cerveja

Tudo aconteceu na última segunda-feira, a apenas 100 metros de casa, mas só fiquei sabendo ontem de manhã.

Um AVC tirou do nosso convívio uma das figuras mais inteligentes e carismáticas da província de Santo André.

Lá se foi o professor Acylino Bellisomi. Lá se foi o sorriso matreiro de um senhor de 85 anos com cara de  moleque gozador.

Pra falar a verdade, jamais vi no  também jornalista Acylino o intelectual de proa que tanto pregam. Sempre foi um sábio. Um sábio discreto e gozador. No ritmo das palavras, no significado dos conselhos, no sarcasmo da piada.

Uma sabedoria sem a pompa de intelectuais de meia-tigela,  sempre empinados, metidos a dr. sabe-tudo. Daqueles que não se misturam com o povo. Nada disso, o pequeno grande homem desfilava cultura por todos os cantos da cidade.

Voz mansa, pausada; olhar atento e muito jogo de cintura. Não importa se como professor/proprietário do tradicional Colégio Gradual, vereador ou mesmo secretario de Cultura, Esporte e Lazer nas gestões de Celso Daniel e João Avamileno.

Como diretor assistente do Departamento de Esporte, foi nesse período que o conheci um pouco mais. Com ele aprendi muito. Com ele jamais precisei fazer de conta pra agradar políticos inescrupulosos.

Com o dinâmico e sempre ativo  Acylino meus olhos e ouvidos ficaram mais atentos; minha boca, mais fechada. Meu humor mais afiado. Meus sonhos mais adubados. Tivemos algumas discordâncias, sempre respeitadas mutuamente.

Especialista em vinhos, o professor também gostava de provar uma  pinguinha da boa. Com ele tomei muita cerveja. Na rua Andaraí, no mercado municipal ou no primeiro largo da Vila Assunção, o que importava era a companhia sempre agradável.

Só não tomamos a última cerveja.  Que pena! Combinamos há mais ou menos 10/15 dias num dos encontros casuais  na frente do Extrinha -- aqui na João Ramalho -- ou a caminho da casa do Márcio, seu filho, ali perto do sacolão.

Era minha vez de pagar a conta. E eu o faria, como sempre, com enorme satisfação. Mas não deu, caro amigo, eterno professor.

Detalhe: ontem, quando contei pro meu neto de oito anos, o Victor -- palmeirense como o Acylino -- , ele ficou triste e se lembrou de quando os apresentei, num bar ali perto do colégio Celso Gama.

-- Poxa, vô! Que chato hein! Aquele senhor velhinho, pequenininho. Gostei dele. Era seu amigo e brincou comigo aquele dia no bar. Você tá triste né?

-- Sim, filho. Muito triste. Um velhinho sábio, coisa rara hoje em dia. Pequeno no tamanho, grande nas ações. Que  gostava de estar no meio do povo. Que gostava da simplicidade. Vai fazer falta.

Espero, sinceramente, que a Prefeitura  preste uma homenagem digna  ao  professor Acylino. Quem sabe seu nome num dos nossos espaços culturais. Fica a sugestão.