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segunda-feira, 24 de agosto de 2015

DGABC: bela história é sinônimo de nota 10?

(TEXTO PUBLICADO DIA 31 DE JULHO DE 2015 E CONTESTADO PELOS JORNALISTAS ADEMIR MEDICI E SERGIO VIEIRA) 

Há pelo menos 15 dias estou engasgado pra comentar um detalhe que encarei como piada de mau gosto.

Respeito a opinião dos jornalistas entrevistados no programa Diálogo Aberto, do companheiro Daniel Lima, mas discordo frontalmente.

Questionados sobre que nota histórica dariam ao jornal Diário do Grande ABC, o diretor de Redação Sérgio Vieira e o  excepcional jornalista e memorialista Ademir Medici, meu amigo, não tiveram qualquer dúvida.

Como numa apuração de desfiles carnavalescos, "nota... déeeez". Só faltou a ênfase do locutor oficial. Torcedores paulistas da Gaviões da Fiel e cariocas da Beija-Flor lotariam a arquibancada e iriam ao delírio.

Porém, aqui, num cantinho reservado à imprensa (independente) eu estaria a vaiar. Trabalhei na editoria de Esportes do DGABC por quase 15 anos e fico muito a vontade pra discordar.

Minha nota pode até ser contestada, mas  é a mesma do sempre rígido, polêmico responsável e competente Daniel. Nada mais do que um cinco.

História do Diário merece ser enaltecida e  respeitada por todos nós, cidadãos do Grande ABC. Afinal, são 57 anos de muita dedicação  diária às coisas de uma região com quase três milhões de habitantes.

Só que, nota 10 é demais pra minha cabeça. Afinal, como todos, o Diário de ontem, de hoje e de amanhã vai acertar e errar.  Qual o problema? Vai questionar e ser questionado. Seu compromisso é com o leitor.  Por isso a credibilidade não pode oscilar tanto em quase seis décadas.

No quesito jornalismo, já cansou de fazer besteira. A começar por uma linha editorial que só agora -- gostem ou não, com as intervenções cirúrgicas do Daniel Lima e a correspondência da equipe --  volta a assumir uma postura de comprometimento  verdadeiro com o Grande ABC.

Tempos atrás, talvez mais de uma década, lançou o slogan definindo-se como braço direito do Grande ABC. Pois é... esqueceram do esquerdo. Por isso andaram fazendo tudo pela metade.

Por isso campeava o compadrio. Por isso brotavam acertos escusos e subterrâneos com o Poder Público. Ao sabor dos ventos e da coloração partidária. Ai de quem não rezasse pela cartilha da Catequese. Pau nele!

Por isso a falta de profissionalismo responsável.  Por  isso a ausência de linha editorial de fato. Por isso derrapagens aos borbotões. Por isso, em alguns períodos, um trem de incompetências a prestar desserviço ao cidadão do Grande ABC.

Por isso a bela história, alternando momentos de jornaleco com posturas de um grande jornal regional, não merece mais do que o cinco da imparcialidade. Com todo respeito, nota 10 é agrado de sonhadores.

Só pra completar: se o importante DGABC deixar de existir nosso mundinho será ainda pior. Já foi ruim com ele, quase exclusivo porque dominador. Pior sem ele,

Que os novos trilhos o conduzam por muitos anos. Sem mentiras. Sem omissões. Sem protecionismo. Sem parcialidade. Sem brincar com a  nobre arte de informar, analisar, questionar e transformar a sociedade.

Uma bela história nem sempre é sinônimo de nota 10.




RESPOSTAS DOS JORNALISTAS CITADOS

Sérgio Vieira





Caro Donizeti,

 

Primeiro lugar, permita-me me apresentar. Meu nome é Sérgio Vieira, sou jornalista formado a duras penas, com imensa dificuldade - financeira, digo - em 1998 na Universidade Santa Cecília, em Santos. Tenho a honra de fazer parte desta fantástica instituição há pouco mais de 10 anos. E, a imensa alegria de comandar este time, com muita humildade mas com muita segurança em buscar fazer o melhor todos os dias, desde dezembro de 2011. Erramos e acertamos. Mas não temos medo de sair do lugar comum, de buscar o melhor para os nossos leitoresSei da responsabilidade e da honra em, aos 38 anos, comandar um dos veículos de comunicação mais importantes do País e por usar a cadeira que já foi do Dr. Fausto Polesi e do grande profissional Daniel Lima, entre tantos outros colegas jornalistas que já dirigiram este jornal. E, justamente por isso, chego aqui todos os dias com o desejo de sempre trazer a verdade e buscar o melhor de nossa equipe para oferecer ao leitor todas as informações, com todas as visões possíveis. A Carta do Grande ABC, escrita por mim mas concebida a partir de análises e conversas com dirigentes do Diário, e a importantíssima contribuição do Daniel, mostram o nosso respeito por essa empresa e pela nossa busca constante em mostrar que podemos, e devemos, ser protagonistas das ações deste Grande ABC e propor soluções para o desenvolvimento de nossas sete cidades. Daí o motivo por termos incluído o item 'Desindustrialização' entre os 10 tópicos que passaram a nortear as ações de nossos profissionais, oficialmente, desde o último 11 de maio.
 
Infelizmente não tenho o prazer de conhecê-lo pessoalmente, mas estou à inteira disposição, quando quiser vir aqui, tomar um café comigo e visitar o 3º andar do prédio na Rua Catequese, 562. Talvez assim você consiga compreender o motivo de tanto eu quanto o seu Ademir, uma referência para mim no jornalismo e que aproveito para fazer minha suas palavras do texto abaixo, termos dado ao Diário nota 10 - também acrescento o 'com louvor' - e entenda que aqui nós não fazemos 'piada de mau gosto'. Nós trabalhamos. Com muita paixão. Pelo jornalismo, pelo Diário e pelo Grande ABC.
 
Saudações cordiais, 

Sergio Vieira
 
 

RESPOSTA DE ADEMIR MEDICI



É sempre bom esperar alguns dias - no caso do Raddi "pelo menos 15 dias" - para desengasgar. No nosso caso, meu e do Sérgio Vieira, a pergunta do Daniel foi na lata e a resposta também - porque, em TV, o tempo urge. Pensando bem, "pelo menos 15 dias" depois, reformulo minha nota ao Diário do Grande ABC: dou 10 com louvor, e não vão me entender isso como "piada de mau gosto".
1 - Dez com louvor porque o Diário do Grande ABC construiu uma História, resistiu ao tempo, tocou sua vida no tempo das vacas gordas e não ficou pelo caminho como aconteceu com grandes jornais do nosso tempo, entre os quais o intocável Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro, o criativo Jornal da Tarde - nosso preferido no tempo da Cásper Líbero, das grandes reportagens, o popularesco Notícias Populares, o Correio Paulistano dos tempos imperiais e que atravessou duas repúblicas para sucumbir no tempo da ditadura militar, o antigo Diário Popular, os antigos Diário da Noite e Diário de São Paulo, sem falar em revistas como Realidade, Manchete e outras mais.
2 - Dez com louvor porque acompanhou a tecnologia, investiu em equipamentos, sem se descuidar da formação humana e na revelação de talentos como o próprio Donizete Raddi.
     3 – Dez com louvor porque sempre teve posições – discutíveis ou não – mas não deixou esse povo que faz política deitar e rolar ao bel prazer.
     4 – Dez com louvor porque sempre teve nos seus quadros profissionais de diferentes posições políticas, num arco que vai da esquerda para a direita (e vice-versa). Profissionais que – por seu próprio mérito – conseguiram traduzir pensamentos, hoje registrados para sempre nas coleções guardadas pelo Banco de Dados.
     5 – Dez com louvor porque sempre teve bons mestres. A Escolinha do Daniel marcou época. É citada sempre por ele, mas também pelos antigos alunos que passaram pela sala de vidro da Redação. Mas antes e depois da Escolinha do Daniel houve outros mestres que passaram conhecimentos e formaram, entre os quais o saudoso Dr. Fausto Polesi com seu lápis azul, temível. E profissionais como José Louzeiro, Hermano Pini Filho e tantos outros representados nas figuras dos editores de ontem e de hoje.
     Paro em cinco pontos porque tenho que fechar a Memória de amanhã, terminando com outro 10 com louvor, que me fala pessoalmente tão próximo: porque o Diário do Grande ABC sempre abriu espaço à História e Memória e não nos faltou em lutas voltadas à importância histórica da Vila de Paranapiacaba e à importância ambiental de uma Serra do Mar.
     Refletindo “pelo menos 15 dias depois”, caríssimo Raddi, respeito a sua nota 5, mas jamais daria ao Diário do Grande ABC o 3 virgula alguma coisa que na mesma entrevista dei às entidades regionais que gravitam em torno dos poderosos. Desta nota você esqueceu de falar, mesmo com os "pelo menos 15 dias" depois.
Saudações alvinegras.

Ademir Medici


MINHAS CONSIDERAÇÕES FINAIS 

Antes de mais nada, é bom ressaltar que reconheço a importância do DGABC e de seus profissionais. Especialmente aqueles -- poucos, por sinal -- que pulam miudinho no intenso dia-a-dia da redação. Basta ler o texto acima com atenção e isenção. Mesmo que alguns demorem "15 dias" pra entender.

Porém, considerando-se os elogios rasgados -- concordo com boa parte deles -- e o "10 com louvor" dos caros jornalistas, especialmente do amigo e excelente profissional Ademir Medici, com quem trabalhei por bom tempo,  sou obrigado a contestar a postura.

Até parece que o Diário a que os companheiros de profissão servem é o suprassumo da ética e do jornalismo perfeito, da empresa nota 10. Principalmente se observarmos apenas um lado da moeda. O que interessa ser revelado e enaltecido.  É possível avaliar  as duas faces?

Por isso, ratifico: respeito mas discordo; dar nota 10 para a bela mas nem sempre exemplar história do mais importante meio de comunicação do Grande ABC é um direito indiscutível, mas soa, sim, como precipitação e piada de mau gosto.

Como ex-profissional do Diário por cerca de 15 anos e leitor por quatro décadas, fico muito à vontade para questionar, criticar e elogiar com imparcialidade. Gostar ou não, concordar ou não,  é um direito de quem está do outro lado.

Aqui não se escreve pensando em agradar ou desagradar poderes ou patrões. Em caso de dúvida, que tal usar o DGABC Pesquisas para ir às ruas e saber do leitor que nota ele daria à publicação levando-se em conta 57 anos de erros e acertos?  Outros profissionais de Imprensa também deveriam opinar. Inclusive quem  está ou  já passou pela redação. Fica o desafio.

Ora, ora, caríssimo Ademir, você é macaco velho.  E dos bons. Como  escritor e memorialista, conhece o Diario, e seus subterrâneos, como poucos.

Nossa (sua) página Memória sim, merece nota bem próxima da máxima. É uma ilha, uma exceção.  Por isso mantenho o cinco pro oscilante Diário como um todo. Sem louvor. Mas com muito respeito e acreditando em dias melhores nas mãos de profissionais idôneos e comprometidos como você.

Se quiser justificativas -- sem ironias -- para a nota cinco vou precisar de muito mais que cinco itens. Nem todos inseridos no banco de dados. Os mesmos que comprovam as limitações da nossas entidades regionais que gravitam no entorno dos poderosos.  Seu " três vírgula alguma coisa" está de bom tamanho. Independentemente de o amigo gostar ou não de "textos aleatórios".

Fique com um abraço tão sincero e autêntico quanto um 10, um cinco, um três ou um zero.

Em tempo: pra não soar deselegante com o diretor de Redação Sérgio Vieira, agradeço o convite para visitar a redação. Também  fica claro que nossa discordância se refere à nota "10 com louvor".  Sei que  não gostou do termo, tem todo o direito, mas o exagero da benevolência sugere, sim,  piada de mau gosto. Simples assim. Já o trabalho do DGABC jamais foi definido como piada. Pelo contrário; é de suma importância. Mesmo com uma credibilidade ao sabor dos ventos de ontem e de hoje. A Carta do Grande ABC é um belo exemplo. Desde que seguida à risca.  Quanto  à dedicação, ao currículo e às conquistas profissionais do jovem  -- e, tomara, promissor -- diretor, merecem total respeito deste veterano metido a besta. Afinal, são  10 anos de casa. Tempo suficiente para conhecer uma história de seis décadas. Espero que o diretor a conheça, de fato.   
     
    
 



 
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sexta-feira, 7 de agosto de 2015

A laje, a panela e o socador de caipirinha

Menos de um minuto depois do discursos rocambolescos de Lula, Dilma e Rui Falcão e da encenação do ator José de Abreu -- o mesmo que defende o nobre Zé Dirceu -- meu telefone fixo toca sem parar.

Até  achei que fosse alguma menina educada da Abril a sugerir que eu antecipasse a renovação da assinatura da Veja. Também poderia ser alguém da GVT ou da NET oferecendo serviços de telefonia padrão FIFA.

Nada disso! A surpreendente ligação era do primo do  Zorro, amigo antigo que sempre fala do nosso Santo André, hoje esquecido no implacável  baú do futebol profissional.

Sem máscara, o Zoinho foi direto ao assunto:

-- Alô! É o Raddi? Aqui é o Zoinho, primo do Zorro. Já assisti jogo do Santo André com vocês. Lembra de mim?

-- Falaí Zoinho! Lembro sim. Naquela tarde, com o Bruno Daniel lotado, Corinthians e Ramalhão empataram de 0 a 0 na despedida do guerreiro Zé Maria, um dos maiores laterais da história corintiana. Foi na década de 80. Mais precisamente em 83, com mais de 21 mil pagantes. Éramos jovens.

-- Isso mesmo! Então... tô ligando aqui do meu apartamento  aqui na Agenor de Camargo, vizinho da tua casa. Só que o assunto não é futebol.

-- Peraí... Se for pra  arrumar emprego pra parente, ser avalista ou emprestar dinheiro, tô fora hein!

-- Nada disso! É que, aqui do alto, da sacada,  acabei de te ver você aí no seu terraço...

-- Terraço uma pinóia! Você deveria dizer a laje mais cobiçada da província. Não troco por nenhuma varanda gourmet no bairro Jardim.

-- Que seja! Afinal, estranho quando você não aparece aí de sábado e domingo na hora do almoço. Caipirinha, cervejinha com os amigos. Vidão hein?

-- Ei, você ligou pra falar da minha caipirinha? Quer de jabuticaba, de lichia ou de melancia?

-- Não,  liguei pra falar da sua panela. Não consegui gravar mas vi que durante a fala dos suprassumos da honestidade, da ética e da competência você estava fazendo um barulho danado. Cara, o que era aquilo?  Tinha mais som do que as buzinas.

-- Ah! Nem te falo. Aqui em casa vai dar problema. Panela de arroz da patroa não é das mais novas; tampouco resistente. Daí que deformou. Um calombo com cara de ovo de tanto eu bater contra o estado de insolvência em que os quadrilheiros de plantão colocaram o País.

-- Mas era muito alto Raddi! Cê tava batendo com quê? Ninguém ouvia o meu apito.

-- Socador de caipirinha! Eis o segredo. Tem de ser de madeira boa, firme; daquelas de cajado de peregrino de verdade. Meti o socador com vontade. Tenho um reserva, de metal. Com ele a panela iria abrir o bico de vez.

-- Por que tanta raiva? Tire esse ódio do coração. Eles são legais; são bonzinhos. Você não ouviu o que eles falaram do FIES, do Minha Casa Minha Vida, do Bolsa Família, do Pronatec?

-- Nem precisa. O discurso não muda. Crise? Velá! Nossa economia sempre foi uma fortaleza indestrutível. O BNDES é a salvação da lavoura,  cubana. A Petrobras é a pérola da coroa, venezuelana. Todos os "picaretas" do Congresso são exemplos de dignidade, de transparência ( Noruega 7 a 1), de comprometimento. Não existiu mensalão. Não existe petrolão. Nem desemprego. Olha o Grande ABC, palácio das montadoras e berço do sindicalismo selvagem. Já o  aposentado recebe uma fortuna. A saúde só não está na UTI por falta de vagas. A segurança do cidadão comum é nota 10. Eles brincam com a nossa paciência, menosprezam nossa inteligência.

--  Raddi, posso falar?

-- Me desculpe; ainda não terminei. E a nossa "pátria educadora". Que piada! Nossa educação é risível em comparação com o mundo desenvolvido. Finlândia 7 a 1.  É muita cara-de-pau.  Cinismo, arrogância, ironia, empáfia, deboche puro... Credibilidade no fundo do poço,  e ainda insistem em  tripudiar e desqualificar ou fazer ouvidos de mercador às acusações de corrupção e outras de sem-vergonhices. Doações legais, dentro da lei! Forjadas! Kkk! Me engana que eu gosto. Fico indignado mesmo. Só conversa fiada para boi dormir. Tô de saco cheio! Por isso esse grito doído, do fundo da alma, mas com cheiro de liberdade. E daí? Quem tem moral  pra me impedir?

-- Poxa! Nossa! Você desembuchou quase tudo que eu queria falar. Não deu folga. Foi num fôlego só.  Mas fica a sugestão: já que não temos um navio com fundo falso em zona de tubarões, que tal enfiar todos os exemplares de mau-caratismo na coqueteleira e socar, triturar, amassar? Melhor com pinga; o omi gosta duma branquinha. Se bem que hoje ele também é daselite. Bota banca com uísque importado.

-- Zoinho, a idéia do navio não é novidade, mas atende melhor aos interesses do povo. E dos tubarões.  Mesmo porque, minha coqueteleira é pequena e  ficaria contaminada; meus amigos sentiriam nojo, asco.

--  E o socador, não descascou? Não quebrou? Caramba!

-- Não! É forte! Comprei lá no Salim. No caso, simboliza decência e uma dose de esperança. Simboliza contestação; clama por justiça. Simboliza o nosso direito de cidadão. É um sonoro não aos aloprados. É bom ressaltar que aloprados não são privilégio da cor vermelha. Tudo quanto é partido tem.  E tomara que o panelaço contestatório signifique um futuro melhor pra nossos filhos e netos. Por isso você ainda vai ouvir muito barulho na laje mais cobiçada da província. Por sinal, província comandada, com raríssimas exceções,  pelos mesmos imbecis juramentados. Eles precisam ser cobrados. Afinal, não são donos do corguinho que passa no fundo de casa.

-- Corguinho? Valeu Raddi ! Nos falamos quando o Santo André voltar a campo. Tamu juntu! Boa noite!

-- Valeu, Zoinho! Dá um abraço no Osório.

-- Onório?

-- Eu disse Osório, Osório, o técnico do seu time. Aquele das canetinhas. Quer apostar quanto? Empate é seu. Quer saber? Dou dois de lambuja.

-- Tô fora! O seu Corinthians se garante na estabilidade. Já o meu time é muito instável. Não passa firmeza.  Mas clássico e clássico, né? Deixe de ser garganta. Posso te ligar domingo depois da seis hein!

-- Certo Zoinho. Simples brincadeira após  tanta baboseira em cadeia nacional. Só pra terminar: tem falado com o seu tio petroleiro? Dá um abraço de tamanduá nele; enforca o camarada, se possível, e faz o espertão devolver a grana que roubou em conluio com políticos picaretas. Com o perdão da redundância.

-- Cara, você não ficou sabendo? Titio Cerveró tá no xilindró. Vai pegar uma cana braba. Nada de abraço. Nem escreva que é meu tio. Tchau!

terça-feira, 4 de agosto de 2015

O Zero, a faixa e o avesso

Zero é um amigo antigo. Professor de Educação Física aposentado. Como eu. Como não tem muito o que fazer além de viajar, caminhar e se exercitar na academia do Primeiro de Maio, sobra tempo até para ler o blogdoraddi.

Porém, não nos vemos com frequência. Pelo menos comigo, o Zero sempre foi bem autêntico. Reclama, cutuca, elogia, sugere, critica e lamenta quando fico muito tempo sem escrever. Normalmente porque estou no aconchego de alguma montanha/ trilha.  Ou curtindo os netos.

E não é que hoje cedo, correndo no Parque Central, o Zero me pregou um susto:

-- E aí meu amigo... tá ficando  véio e vagabundo hein! Não escreve mais por que? Montanha, caminho, preguiça ou falta de tempo?

-- Grande Zero! Tudo bem, meu amigo? O Parque Central não é  tua praia; seu lugar é lá no Duque, hoje Celso Daniel.

-- Vim aqui só pra te cobrar. Entro no blog todo santo dia e não vejo nada de novo. Você não escreve mais? Perdeu a embocadura ou não tem mais saco pra contestar as mesmas coisas?

--  Pode ser, Zero. Tudo é muito igual. Repara que nossas reclamações são sempre as mesmas? E os caras não mudam, não reagem. Só pioram. Só roubam. Prometem mas não fazem nada. Menosprezam inteligência e testa nossa paciência

-- Então ... Tenho uma sugestão de texto: vi ali em cima, na entrada do campo, uma faixa pelo menos interessante.

-- Diz o quê?

-- Mais ou menos isso: "Nós, jogadores do Independente (?),  agradecemos o prefeito Carlos Grana e o Irineu pela manutenção do nosso campo".

-- E daí?

-- Para pra pensar cara-pálida. Parece um jacu. Você não é tão burro. Embora aposentado, cadê aquele faro jornalístico? Cadê o senso crítico?

--  Vamos por partes. Se eu me perder, recorro à prateleira, aquela tática tão desprezada pelas mulheres já elas conseguem falar sobre tudo ao mesmo tempo.

-- Essa é boa! Mulher é foda né? Nunca vi. A sua é que nem a minha? Consegue falar de tudo sem misturar, sem se perder?

-- Mais ou menos. Mas nosso assunto é o campo do parque, a faixa de agradecimento. Primeiro que o pessoal do Independência não tem de agradecer  prefeito nenhum. É obrigação do Poder Público cuidar dos campos distritais. Só entendo que a coisa anda tão preta e o caixa tão raso, no volume morto,  que todos os clubes que  têm a permissão de uso dos campos deveriam ser parceiros de fato. Colaborar com a Prefeitura não vai matar ninguém. Afinal, muitos deles pagam  até "bicho" para jogadores. Não é mesmo?

-- Raddi, sabe que você tem razão. Sei de vários times amadores de Santo André que "contratam" e pagam jogadores de Diadema, São Bernardo, São Vicente, Osasco, Guarulhos... Então, vamos ajudar os caras. Já que usam. A não ser que tudo isso tenha como compensação o velho voto de cabresto. O time usa o campo e vota no cara certo. Quase sempre errado. Que merda né?

-- Zero, há outro detalhe na faixa né. "Nosso campo". Como nosso campo? O Independência, como todos os outros, tem apenas a permissão de uso. Ninguém é dono de nada. Quer dizer, o campo é de todo cidadão andreense e deveria ser melhor utilizado por todos, inclusive o Poder Público e pela população. Deveríamos tem escolinhas de futebol e outras modalidades, como atletismo, em todos os distritais.

-- Mas o problema de tomar conta e não manter é antigo né Raddi?.

-- Certo, amigo. Há mais de três décadas dirigentes de clubes amadores se adonaram dos espaços por conta da omissão e da incompetência dos homens públicos. Poder Público que raramente faz intervenções consistentes. E agora recebem agradecimentos porque passaram a máquina pra nivelar o terrão.  O  quarentão Independência está na dele.

-- Mas quase todos os campos da cidade apresentam os mesmos problemas. Ouvi falar que  alguns ainda têm famílias morando nos vestiários. Quando não abrem um boteco ou usam para prostituição e consumo de drogas. Também alugam o que é do povo pra escolinhas de futebol privadas, de nome.

-- Zero! Zero! Me lembrei de um campo ali perto do Bruno Daniel. Acho que ainda é dividido pelos tradicionais Vasquinho e Portuguesinha. Há mais de cinco anos vejo carretas e outros veículos estacionados no espaço. Também há  propagandas em outdoors e nos muros, provavelmente sem que o destino seja o Fundo de Apoio ao Esporte Amador, se é que  ainda existe na Prefeitura inimiga do Esporte.  Será que alguém está levando por fora?

-- Como assim, professor? Tá sonhando, delirando?

--  Em terra de mensalão, petróleo, semasão e ladrão padrão FIFA, por que não distritão clubista?  Além de usar o campo, alguém deve estar a faturar uma grana nas costas de um espaço público, o que é ilegal.

-- Cara, eu não tinha pensado nisso!

-- Eu entendo; você se aposentou como professor de Educação Física. Além disso, já passou dos 60.

-- Depois dessa é melhor eu ir embora. Lá no Duque ninguém me ofende.

-- Calma Zero. É brincadeira. Afinal, não somos velhos amigos? E não é mais Duque de Caxias; é Celso Daniel.

-- Pois é, como diz a Lelê, intimidade é uma merda. Vou contar pra tua mulher que você me ofendeu. Melhor  mesmo quando você está na montanha ou naquele Caminho do Mé. Assim não te encontro.

-- Cê tá loco? Caminho da Fé! Não é do mé!

-- Tá bom! É mais fácil você subir em Agulhas Negras pra conversar com Deus do que rezar na basílica de Aparecida. Toda vez você e seus amigos tomam cerveja, mé. Não são peregrinos; são perevejas, perebrahmas, perechaças. Tudo, menos peregrino!

-- Por hoje deu. Tchau!

-- Raddi, peraí. Dá um abraço no Daniel. Por falar nele, você também vai voltar pro Diário?

-- Tá maluco? Só se for pra escrever o Confidencial acima de dois mil e quinhentos metros de altitude. Cê tá de brincadeira! Tchau!

-- Chiiii! Tô atrasado pro almoço. Minha mulher vai me fritar. Fui! Tchau!

-- Zé! Zé!

-- Fala!

-- Tua camiseta tá do avesso!

Em tempo: só hoje (12 de agosto), percebi que o agradecimento é dos jogadores do "Independente". Mais uma gafe imperdoável.  Lógico que os jogadores não têm nada a ver com a faixa. Sabem que jogam no Independência. Independência!!! Deve ser mais algum puxa-saco de um prefeito que não está nem aí para o esporte da cidade.