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quarta-feira, 17 de julho de 2019

TRAVESSIA MARINS X ITAGUARÉ EM 12 HORAS

Aqui vai um breve relato da  desafiadora travessia Marins x Itaguaré. Nada de três dias, o mais correto, prudente e tradicional. De novo sob a batuta do Leo (Araucária Expedições) e em  companhia do genro/filho Danilo, o objetivo era fazer em um dia. Light/fast -- leve e rápido. 

Desta vez sem muita preocupação com contemplações demoradas. Nem os pit stops foram superiores a 15 minutos. Tudo pra ganhar tempo e treinar forte pra novos desafios. 

Nossa mochila de 20/30 litros não carregava mais que seis quilos, já considerando os 2,5/3kg de água e Gatorade, dois lanches de salaminho e queijo, chocolate, mel, castanha, damasco e carb up, além de boné, lanterna de cabeça, stick e apenas  peças essenciais de frio. Corta-vento, fleece,  camiseta segunda pele e calça de trilha pra proteger dos bambuzinhos cortantes  -- fui vítima quando teimei em ficar de bermuda por sentir calor, me enrosquei e o sangue escorreu pela canela. 

Sem dúvida, ir leve foi uma boa escolha pra quem quer jogar pesado, revisitando Agulhas Negras ou conhecendo a Pedra do Frade. Ganho de elevação aproximado superior a 1600m, pouco mais do que o somatório de perdas. 

Pra superar 18km --  distância/referência secundária perto da altimetria e demais dificuldades físicas e técnicas -- foram exatas 12 horas de pauleira, com um trepa-pedra constante, assustadoramente constante e desgastante. Exceção às duas horas finais, quando a descida pela  trilha de pouca pedra e muita terra mata adentro não  terminava nunca.  

                                 TREPA-PEDRA SEM FIM 

Viajamos no dia 10 à tarde e dormimos em Passa Quatro, no Hostel Serra Fina, do jovem  Felipe, amigo do Leo. Tudo simples e a contento, com preço justo. Sono de cinco horas ( das 23h até as 4h) foi o suficiente até pra mim, que gosto de dormir 8 horas. 

Café tomado, estômago forrado, dente escovado, bota calçada, lá vamos nós,  às 4h30min. Não sem antes o Danilo observar que o teto do seu carro estava com gelo. Também, pudera, cerca de zero grau na madrugada. 

Demoramos uma hora pra vencer a estrada de terra e chegar ao "estacionamento" no final/início da trilha que leva ou traz do Pico do Itaguaré.  

Lá já nos esperava o possante Uno do seu Clóvis, conduzido pelo Maurício. Um piloto de Marmelópolis para o mundo.  E acelera!  Maurício Senna do Brasil, diria o intragável Galvão Bueno. O cara é fera viu! Ou louco!  PQP!  E nós corajosos PC!.

Chegamos ao acampamento base do Marins ( município de Cruzeiro) pouco antes das 5h30min, pagamos o transfer  atômico e em menos de 10 minutos  já estávamos iniciando a trilha no patamar de 1530m. Num pique danado, diga-se. (O que não me impediu de, na primeira grota, ouvir o pio protetor do meu inseparável nhambu amigo). Até pensei em perguntar pro Leo se queria matar o veinho ou fundir  o motor  do trator 6.4.

Os dois abriram o turbo; eu abri o bico... logo de cara. Tanto que chegamos ao primeiro pit stop -- ou stop and go? --, o Morro do Careca,  1800m, em cerca de 45min. De cara, uma bela visão do amanhecer, com sol, nevoeiro e  muito verde. 

No segundo mirante,  um colchão de nuvens brancas, aquela imensidão iluminada... um mar de montanhas de Minas Gerais. Aquela... que quem te  conhece não esquece jamais. Mais fotos e menos roupa. Temperatura inicial de 3° já beirava os 8°.  Presumo. 

Em ritmo um pouco mais conservador, superamos vales,  vários sobe-e-desce, inúmeros trepa-pedras difíceis, um paredão vertical de uns seis metros e chegamos ao Pico dos Marins, 2.430m, depois de 3 horas e 15 minutos de caminhada tão extenuante quanto gratificante. 

Ah, também superamos a falta de educação de pseudomontanhistas que fazem necessidades nas áreas de acampamento e ainda espalham sujeira pela trilha. Um absurdo! Questão de berço.

Subida da base ao pico dos Marins não é mole  não! Exige escalaminhadas e alguma técnica. Do acampamento base ao cume, aclive acentuado e muita laje de pedra, testando força, resistência, equilíbrio, flexibilidade, respiração, determinação,  joelhos, quadril e lombar. Lá no alto, depois do lanche merecido, aquelas fotos tradicionais e bora assinar o livro de cume.  Tudo nos conformes! 

Visual exuberante de grande parte das cidades do Vale do Paraíba. E com direito a Itaguaré de frente e Pedra da Mina mais ao fundo. Deu saudade!


Itaguaré com Pedra da Mina ao fundo


Sonhando com trepa-pedra até hoje







               MARINZINHO, PEDRA REDONDA E ITAGUARÉ

As 10h em ponto iniciamos a descida do Marins. Só fomos chegar à base do Itaguaré às 16h15min. Depois de superarmos os 2.350m do  Marinzinho ( bom ponto de reposição de água quase na base e o melhor lugar pra quem precisa abortar a travessia e descer para a pousada Maeda); e  em seguida   a Pedra Redonda, que  está em 2.300m e mais parece um enorme tóten com linhas retas. Sim, retas.

Ah, também deixamos pra trás inúmeros aclives e declives, verdadeiros mergulhos sem água, que em alguns momentos exigiram cordas, determinação e extremo cuidado para evitar acidentes. Especialmente quando se fica exposto nas alturas. Resumindo: a cada descida vertical cavalar, uma ascensão agressiva,  chocante. 

Cerca de 80m finais pra se chegar ao verdadeiro cume do Itaguaré (Pedra Sagrada, com 2315m) não é coisa para juvenil não! Pedras grandes e sem apoios confiáveis,  mais escalaminhadas, angulação significativa, falso cume, corda, precipício, elevador manual do guia, pulo do gato na volta e outros sacrifícios. Ah... perto da  base também tem água saudável, mas usamos clorin por precaução.

Fotos feitas  de forma acelerada. Só faltava assinar o livro do cume. Mas cadê o livro? Não estava na caixa de metal. Acho que o guardião -- seria o meu amigo Guto, o guia nota 10? --  levou e ninguém repôs. Paciência! Sem problema. 

O que vale é a conquista. A sensação de quão nos sentimos gigantes ao chegar e o quão nos sentimos um grão de areia ao olharmos ao redor e observarmos a grandeza da natureza. Sim! É a mão de Deus, como diz o Gutão. 

Iniciamos o mergulho final por volta das 16h45min. Laje de pedra bem inclinada merece atenção especial. Se escorregar ou tropeçar, o tombo vai ser federal. Em 30 minutos, sob o testemunho do por do sol alaranjado, adentramos a mata. 

Uma ribanceira interminável! Principalmente pra quem já caminhou mais de 10 horas, está no limite físico e psicológico,  e ainda precisa se preocupar com  tropeções nas raízes expostas. Se perder a concentração o destino é o chão. 

Meia hora derradeira, já com lanterna de cabeça devido à escuridão, é menos traumática. Terreno mais plaino, beirando os riachos, favorece. Danilo abre o lacre do turbo e acelera.  Não demoramos pra chegar. Cansados,  sãos, salvos e muito contentes. 

Deu tudo certo. E a natureza nos premiou com uma beleza incomum. Chegamos quebrados, mas extremamente felizes. Lá estava o carro como deixamos. Brindamos com uma garrafinha de Pati -- pinga, gengibre, mel e limão. O vinho tomamos em casa, com a família. Afinal, merecemos. 

Obrigado Danilo! Obrigado Leo! Obrigado Senhor. 
Lindo por do sol na interminável descida do Itaguaré
 

Um trator 6.4 no pico do Itaguaré... rsrs
Danilo e Leo no Pico dos Marins















quinta-feira, 4 de julho de 2019

Mais sobre a Expedição Chapada


Conforme prometido,  faço aqui o relato  complementar  da viagem de maio à  inesquecível Chapada Diamantina. 

Nossa "Expedição Chapada" começou pela  incrível Travessia do Vale do Pati. Conforme já escrevi, foram cinco dias  de aventuras.  Cinco dias de rios, cachoeiras,  grutas, montanhas e muita trilha. 

No último dia de travessia,  depois dos deliciosos sorvetes de cachaça e de  graviola na Apollo, fomos conhecer o deslumbrante Poço Azul, próximo de Andaraí,  e de lá rumamos para  a aconchegante Mucugê, onde  jantamos e pernoitamos. 

Banho quente, boa comida, boa cerveja,  bom papo, bom sono... Prontos para encarar a cachoeira/poço do Buracão, no Parque Natural Municipal do Espalhado ( Ibicoara). 

Logo de manhã,  ao lado do amigo, motorista e também bom guia Zé Raimundo (Chapada Passeios), o Neto nos pegou na pousada, bem próxima ao iluminado cemitério bizantino. 

Foram cerca de duas horas até o parque, onde, agora sob a condução compartilhada com o  seu Janu,  caminhamos menos de uma hora, curtimos a linda cachoeira e  fizemos um rapel em paredões de 96m (cachoeira tem 85m), descendo nas águas geladas rodeadas por  rochas. 



Baixão: pousada da Bia, dona de simpatia ímpar




Rapel na cachoeira  do Buracão



Depois da aventura, nada mais justo  do que um almoço no capricho. Para variar nosso guia nota 10 mandou bem, com sucos, frutas, saladas e lanches variados. 

Barriga cheia, pé na areia!. Lá fomos nós para a pousada no povoado do Baixão,   da simpaticíssima dona Bia. Sorriso aberto,  suíte presidencial, limpeza impecável, banho bom e comida ótima. 

Sem contar a cerveja e aquela branquinha no capricho, ao som dos nambus alegrando o entardecer. Também foi legal conhecer os meninos Vitor (5 anos)e Leonardo (12), filhos de uma amiga da Bia.  O mais velho é corintiano roxo e quer ser goleiro. Já o Vitor torce pro Flamengo por influência do tio. Gozado que no Baixão pouco se fala  em Bahia e Vitória. 


Nosso sétimo dia na Chapada Diamantina foi especial. Desafio de 18km de trilha difícil pra chegar na cachoeira da Fumacinha ( mais próxima de Ibicoara, mas pertencente ao município de Mucugê) é totalmente compensador. 
Angela, Ana e Raddi flutuando no Poço Azul

Ana, Neto e Raddi na  belíssima Fumacinha:






Maravilhosamente gelada. Principal queda d'água tem mais de 100m de altura e beleza escultural. Trilhas de oito horas (ida e volta) entre matas, pedras e leito do rio são  extenuantes. Especialmente no final, faltando 200m para a Fumacinha. 

Nem todos conseguem chegar por pedras ou pela água. Nada que uma simples bóia,  puxada com  corda no máximo  por 50m, na correnteza, não resolva. Fica a sugestão capaz de evitar frustrações desnecessárias, como ouvimos  de um senhor  (Sérgio) no aeroporto de Tanquinho (Lençóis).  

Sacrifício  de muito trepa-pedra no rio valeu a pena.  Na minha opinião, uma das mais maiores e mais belas cachoeiras da Chapada Diamantina e talvez do Brasil.

Voltamos pro banho final na pousada da Bia. Não sem antes tomar um delicioso caldo de cana no início/final  da trilha. Depois, foram cerca de quatro horas de viagem cansativa até Lençóis,  onde ficamos e passeamos por mais quatro dias. 


                                          LAPA DOCE, MUCUGEZINHO  E PAI INÁCIO


Para fechar nossa expedição Chapada ainda visitamos várias atrações. A começar pela volta ao parque, com direito a cachoeiras, bacias,  antigos garimpos e salão de areia.  Nosso guia foi o Madson, outra figura comprometida com a profissão e conhecedor de detalhes históricos, geológicos e geográficos  da região. 

Ao lado de um guia local, Madson nos acompanhou  na  estonteante gruta da Lapa Doce (Iraquara), com cerca de 1km liberado aos turistas. Além da Angela e da Ana, por lá já passaram notáveis como Xuxa, Ivete Sangalo, Camila Pitanga, Ciro Gomes e tantos outros.

Depois passamos pelo Mucugezinho, onde nadamos no Poço do Diabo. Sempre sob a orientação e  cuidados do  atento Madson, que além de bom guia é taxista em Lençóis.  Tanto que nos levou ao aeroporto no dia de retornar. 

Pra completar o passeio do dia nós subimos o Morro do Pai Inácio, com uma visão espetacular  das  inúmeras montanhas da região, de onde só saímos na boca da noite. Visão é tão fascinante que nem mesmo a impossibilidade de assistir ao por do sol -- muitas nuvens --   gerou qualquer  sentimento de frustração. Foi lindo!



                              SOBRE POUSADAS, GUIAS E TRANSPORTE

Sobre guias  durante  todo o passeio nós já falamos de passagem.  Neto e Madson foram exemplares e podemos indicá-los sem restrições. Ótimos profissionais. Zé Raimundo, que nos acompanhou  no Buracão e na Fumacinha, também foi bem. Conhece do riscado. Melhor como guia do que como motorista -- pé pesado... rsrs.  

Sugiro contatos com guias autônomos -- de preferência  condutores que não incluam dependência de  maconha  no pacote de serviços, como presenciamos --  a partir de indicações confiáveis. Maioria das agências cobra bem mais. 

Quanto ao item alimentação, em Lençóis você estará sempre bem servido.  Comida pra  tudo quanto é gosto  e tudo quanto é bolso. Para aquelas comidinhas urgentes e lanches de trilha a sugestão fica por conta dos mercadinhos, sempre com preços acessíveis. 

Sobre as pousadas, no Vale do Capão ficamos na  Pé no  Mato. Gostamos. Limpeza,  banho, cama e café da manhã sem restrições. Só acho que o recepcionista não precisa forçar tanto a barra ao enaltecer  em excesso o café da manhã em detrimento da pousada como um todo.  Parecia tentar induzir  o hóspede de acordo com suas predileções pessoais.  Inconveniente. 

Maioria dos trilheiros parte  antes das 7h e o  belo café só é servido  a partir das 8h. Não  custa um funcionário entrar mais cedo de vez em quando e depois compensar.  Vila riponga  bem próxima da cachoeira da Fumaça ( 360m) é um charme. Indico.

Em Mucugê nós ficamos no Recanto da Chapada.  Tudo muito bom, inclusive o custo benefício. Só não  gostei  quando um senhora -- talvez proprietária --  colocou restrições ao  perguntarmos se nossos guias poderiam tomar o café da manhã conosco.  Como limitou o regalo ao "cafezinho", eles abriram mão, com o que concordei. Nada agradável. Só por isso eu não indico e não voltaria lá.  Preço justo, mas foi mão-de-vaca. 

Em  Lençóis, no centrinho,  nós ficamos  no Pouso na Trilha, onde também fomos muito bem tratados. Belo  e diversificado  café da manhã com cara de almoço, funcionários simpáticos e  prestativos, caipirinha da boa,  cama, banho e limpeza  a contento.  Preço nada abusivo.  Também indico. 

Sobre transporte, podemos começar pelo aéreo. Latam até Salvador. Ida e volta sem problema e com preços acessíveis. De Salvador a Lençóis fomos pela Azul. Preço abusivo por não ter concorrência e com apenas dois voos  semanais. 

Aeroporto de Tanquinho, distrito de Lençóis, também é bem chinfrim, sem infra-estrutura e com direito a banheiro sujo, sem papel higiênico e barata no saguão. Prefeitura e Azul poderiam investir pensando no turista.

Sem contar  os  constantes cancelamentos de voos por problemas técnicos ou  retornos por falta de teto em Tanquinho, onde não há aparelhos. Fique atento!  Ouvimos várias reclamações sobre cancelamentos de aéreos nada convincentes compensados por oito horas de estrada por meio de van ou ônibus. Cuidado!