Depois de muito tempo, voltei ao Estádio Bruno José Daniel pra ver o Santo André in loco, ao vivo. Desta vez sem cabine de Imprensa. Agora no meio do saudoso povão.
Sinceramente, pra quem é exigente, apaixonado por esporte, já viu esquadrões inesquecíveis e acompanha a história do clube há 43 anos, não tenho dúvidas de afirmar que esse time é bem limitado. Fraco.
Técnico Toninho Cecílio e equipe tiram leite de pedra. É um verdadeiro milagre estar a apenas um empate ou até derrota por diferença de um gol, sábado em Barretos, para se classificar à decisão da A-2 e garantir acesso à elite do futebol paulista.
A importante e merecida vitória de 2 a 0, diante seis mil pessoas -- muitas das antigas -- foi inquestionável. Porém, não esconde limitações técnicas e táticas não tão raras na Segundona.
Num gramado duro, com a bola sempre viva demais, o que se viu foi um time que esbanja vontade e aplicação defensiva. Jogadores esforçados, nada mais do que cumpridores das determinações do treinador-motivador, que sempre privilegiou a marcação ostensiva, em detrimento da arte, da ofensividade, do jogo objetivo rumo ao gol adversário.
Também, pudera, treinador deve dançar conforme a música. Sem dinheiro e com débito na praça, não dá para o clube contratar. Sem qualificação técnica, chegar às semifinais já é motivo de festa. Só com muito trabalho e suor.
Por isso não será surpresa se o Ramalhão -- fechadinho, compacto e inteligente para contra-atacar em velocidade -- voltar de Barretos sem tombos nem chifradas. Ficar no lombo do touro por oito segundos ou 90 minutos não é missão impossível, não.
Santo André foi melhor no jogo de sábado. Embora tivesse excesso de cuidados defensivos ao entrar com três volantes, um armador e dois homens mais próximos -- ou menos distantes -- do gol. Mas Antônio Flávio, como centroavante flutuante, ficou isolado.
Como o Barretos, apesar de alguma organização defensiva, não conseguia chegar nem penetrar -- afinal, o empate estava ótimo -- numa zaga interna em dia de graça -- laterais atacam melhor do que defendem --, as reais ocasiões de gol foram raras no primeiro tempo. Duas do anfitrião e uma do visitante, em contragolpe.
Porém, o Santo André voltou para o segundo tempo com o atacante Robson no lugar de um dos volantes, Dudu. Individualista, Robson não brilhou e ainda perdeu dois gols por preciosismo, faz o time mudou da água pro vinho com a alteração.
Em termos de atitude, trocou a precaução pelo risco, pela ousadia. Trocou os passes laterais por rapidez e penetrações também verticais. Trocou o falso e estéril volume por uma intensidade indispensável pra quem joga em casa, diante de uma torcida que lembrou os velhos tempos.
Taticamente, trocou o 4-3-1-2 pelo 4-2-1-3. Sim, com três atacantes e o armador Fernando chegando à frente. Tanto que o camisa dez -- não é nenhuma Brastemp mas sabe jogar -- fez os dois gols.
O primeiro aos 15 minutos, penetrando entre os zagueiros e tocando na saída do goleiro, e o segundo aos 34, sofrendo e cobrando pênalti discutível. Pra mim, nem foi tocado pelo central Garutti. Juizão demorou pra marcar e só o fez com a ajuda do assistente.
Sem forças pra chegar com perigo à frente e com o Santo André meio acomodado, o Barretos deve ser dar por contente por não ter perdido de três ou quatro. Resultado seria irreversível. Com 2 a 0 ainda há esperanças.
Se o Barretos ressuscitar o famoso boi Bandido -- touro histórico e um dos mais temidos do mundo -- ou encarnar o Agressivo -- sucessor atual já com fama internacional -- o Ramalhão não aguenta oito segundos.
***DE PRIMEIRA***
*** Assisti à importante vitória ao lado de três personagens importantes na história do Santo André: o ex-volante Fernandinho, o ex-massagista Miguel de Oliveira e o jornalista e amigo Daniel Lima.
*** Antes do jogo, diante de filas de acesso que só tiveram fim aos 15 minutos do primeiro tempo, encontramos o conterrâneo Vitor, ex-goleiro do próprio Ramalhão. Hoje o caipira rio-pardense, como eu, é gerente de futebol do Rio Claro.
*** Pra não passar batido: clássico em que o Santo André eliminou o São Caetano foi o pior que vi -- pela TV -- em todos os tempos entre ambos. Ao Azulão sobraram incompetência ofensiva, discurso monocórdio com toques laterais. Sem criatividade e ousadia, o que se viu um time frouxo, insosso. Ao vencedor restou jogar com o regulamento debaixo do braço, mesmo sem capacidade para armar um único contragolpe fatal. Foi um joguinho, um acinte ao torcedor.
*** Com méritos, o grande Santos e o pequeno e surpreendente Audax/Osasco fazem a final do Campeonato Paulista. Duas boas semifinais, sem especulações nem medo.
domingo, 24 de abril de 2016
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