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terça-feira, 7 de maio de 2024

Um peregrino no Caminho ...do Vinho


 
Mapa do percurso de cerca de 120km. A pé!!!



Não, você não leu errado! Sim, é Caminho do Vinho mesmo. A pé!  Nada mais do que uma analogia ao famoso Caminho da Fé, tantas vezes trilhado por este peregrino metido a aventureiro. Foram  aproximadamente 120km, da minha saudosa São José do Rio Pardo/SP até a mineira Andradas de tantos vinhos e tantas montanhas maravilhosas.

CASA VERRONE


Traduzindo o mapa acima, saí de Rio Pardo e 13km de asfalto e terra depois cheguei à  vinícola Casa Verrone, onde  fui muito bem recebido pelo gerente Renato. Conheci o restaurante, a loja e os belos parreirais. Dois vinhos frutos de dupla poda( um  tinto seco syrah 2021/14% de teor alcoólico com seis meses de amadurecimento em barris de carvalho francês e um branco seco sauvignon blanc,   também colheita de inverno, 2022/13,8%, com quatro meses de maturação) aumentaram o peso da mochila em 3kg.

Sofri pra descer do Sítio Chaparral,  pegar o asfalto,  passar por Itobi e  completar 33km até Vargem Grande do Sul. Relevo não é pesado no quesito altimetria (  perda e ganho de elevação), mas caminhar pelo acostamento irregular  do asfalto,  próximo a caminhões em altíssima velocidade e com temperatura superior a 32°,  não é moleza não.

Passei por inúmeras plantações,  hortifrutis, vários pesqueiros e até um haras, o  premiado Mulas de Elite, já nas franjas da Vargem.


Em Itobi, a placa indica que são 376km até Aparecida do Norte. Haja fé! Haja pé!


Idoso cansado, perto da Vargem


Jogão no campo da Pratinha, em São João

Há  mais de 50 anos, eu dormi no banco dessa praça

A fonte e a matriz



A antiga rodoviária



No dia seguinte, um sábado, mais cerca de 30km  de asfalto e calor escaldante até São João da Boa Vista, onde descansei por um dia, comi bem e matei saudade da Serra da Paulista, do campo da Pratinha e até da antiga rodoviária, por onde não passava há 50 anos.

Na praça principal, lembrei de uma véspera de Páscoa inesquecível. Prestes a completar 18 anos, eu e o primo Zé Mário pegamos o ônibus da capital até São João porque não havia passagens da viação Nasser pra São José. 

Moral da história: como chegamos por volta da meia-noite e o próximo busão pra São José só saía de manhã, fomos obrigados a dormir ali, no duro  banco da praça.  Doeu?  Não! Com 17/18 anos é só aventura. Nunca dói!   O banco de cimento foi perfeito. Se fosse hoje, perto dos 69, seria um caos pra coluna do Coração Valente.




Parreirais na Casa Verrone


Raddi ao lado do Renato, atencioso e prestativo gerente da Casa Verrone

Entrada da vinícola de Itobi








Plantações  sem fim entre Itobi e Vargem Grande do Sul


Pé de café carregado entre São João e Pinhal 

Mochila e cajado descansando  na sombra; hora do lanche. Pena que ali descobri uma carniça malcheirosa. Melhor partir rapidinho e comer caminhando




Terra, pó e café entre São João e Pinhal







Coração Valente: peregrino ou perevinho? Rsrs



Serra do Caracol/Pico do Gavião ao fundo




Que beleza!  Parreirais perfeitos da Casa Geraldo





Instalações na entrada da Casa Geraldo




Na cave  do tesouro, o amadurecimento do vinho CG. Atendimento do Igor foi irretocável. Fico grato a todos.

Barris de carvalho francês





Loja bem diversificada da família Marcon


Paraíso regado a uvas e vinhos finos

Mais terroirs da excepcional Casa Geraldo/Andradas/MG



VINÍCOLA GUASPARI/PINHAL

Hospedaria do Lago

Antiga estação de trem de Pinhal




Mauricio e Heloisa, da Hospedaria do Lago, ao lado da  Guaspari. Anfitriões incomparáveis. Família  nota 10.  Gracias!!!



Um palmeirense feliz, Lucas, ao lado de um corintiano sofredor. Mas não menos feliz


Cave da Guaspari, em Espírito Santo do Pinhal



Rafa nos apresentou a cave  com  muita desenvoltura. Obrigado! 

Vale da Pedra/syrah top da Guaspari


Na segunda-feira, o caipira aqui foi de São João a Pinhal. Pernada com  dois vinhos nas costas  a partir das 7h10min também beirou os trintinha. De início, pelo asfalto; depois,  por estrada  de terra batida entre cafezais a perder de vista. Que maravilha!  Um paraíso perfeito!

Ao longe,  dos lugares mais altos, já dava pra avistar a Serra do Caracol com o famoso Pico do Gavião, por onde  sempre passamos no Caminho da Fé antes de descer para Andradas.

Conforme combinado com a atenciosa Carol,  passei rapidinho na agora famosa Vinícola Guaspari antes de ir para a Hospedaria do Lago, ambas ao lado do bonito Lago Municipal de Pinhal.

Acompanhei a produção e conheci a cave ao lado da Rafa. Aprendi  que a pombinha símbolo do espírito santo é homenagem da família Guaspari à cidade. Tudo feito com muito zelo. Uma beleza! Impossível não sair de lá com pelo menos um vinho. Optei por um Vale da Pedra syrah tinto seco 2021/15% de teor alcoólico envelhecido em barris de carvalho francês/americano. Com certeza, vou adorar.

Pinhal tem inúmeras vinícolas e agora investe também no azeite e na macadâmia, mas seu forte mesmo sempre foi o excelente café. A  cidade respira café, assim como o fiz serpenteando pelas fazendas da região. Com direito a assustar e ser assustado por um bando de jacus numa das curvas dos cafezais  tão fantásticos quanto infindáveis. Quase caí de costas e eles aprontaram uma gritaria danada. Vôo curto, mas barulhento.




CASA GERALDO, UMA  POTÊNCIA




Reserva Signature/cabernet franc, vinho nobre premiado da Casa Geraldo



Na terça-feira, dia 30 de abril, foram mais 30 km de Pinhal até  o Palace Hotel, em Andradas. Porém, o desvio esticado até a Casa Geraldo deu mais 4km. Por sorte, estrategicamente, deixei três vinhos na aconchegante  hospedaria do Maurício e da Heloisa, dois ex-jogadores de vôlei. Afinal, eu teria de voltar de Andradas pra Pinhal no dia seguinte pra pegar o ônibus de graça até SP. Vantagem de ser sessentão, idoso... rsrs.

Visita à Casa Geraldo, já no Caminho da Fé que virou Caminho do Vinho, do peregrino cansado que virou perevinho com sede, foi sensacional. Fui muito bem recebido pelo Igor, com quem desfrutei da degustação de oito vinhos deliciosos, visitei a cave do tesouro tomando um Signature e conheci rapidamente os terroirs.

Saí de lá e subi o morro, ladeado por café  e uva, de volta pro centro da cidade com três garrafas. Um malbec reserva 13,1% ( Todo Bien?)  um   red blend meio seco de cabernet sauvignon, merlot e tannat 13% ( 3 Tons) e um Reserva Signature, 2021/14,3%, tinto seco nobre premiado pela respeitabilíssima Decanter com medalha de bronze. Amadurecimento ocorreu por 12 meses em barris de carvalho francês.

Casa Geraldo -- vizinha da quase centenária Vinhos Beloto, o  tinto preferido do meu saudoso pai  -- está na quinta geração da  Família  Marcon, do Sul da França para o Sul de Minas. Clima tropical, com inverno ameno e seco. Sinônimo de sucesso de pai pra filho. Desde 1969 com o precursor  e visionário Geraldo Marcon. Exemplo de  muito trabalho e determinação.

Seis bons  vinhos e muito peso na mochila, mas valeu a pena 

Tilápia de 3kg

Antes do  Caminho do Vinho, cerveja e pescaria de tilápia e traíra ao lado do irmão Moisés, em São José do Rio Pardo


Abraço no irmão.  7h10min. Partiu Casa Verrone!





Renato com parreiras ao fundo




Jardins da  bela Casa Verrone, na divisa de Itobi/Rio Pardo







Aposta certeira de Márcio Verrone vai longe

Syrah 2021 e sauvignon blanc 2022 da Verrone. Delícia!!!


Em Andradas, me hospedei, como sempre, no Palace Hotel, dos meus amigos recepcionistas Irineu e Calves. Piscina, banho e depois tutu à mineira dos deuses, regado a uma Brahmona geladíssima. Afinal, o caminho é do vinho, mas não sou de ferro. No calorão,  posso me travestir de pereveja...rsrs

Antes, um perrengue, uma surpresa nada agradável. Fui comprar passagem pra Pinhal  pro dia seguinte, no horário das 9h.  Porém, esqueci que era feriado. Danou-se... ônibus apenas às 5h da matina. Pqp!!!

Fazer o quê? Quando não tem  remédio, remediado está, diria a vó Lica. Acordei às 4h15min e peguei o ônibus pontualmente às 5h. Três passageiros. Em meia hora eu estava descendo do ônibus em plena rodovia, perto do lago municipal de Pinhal.



Madrugada em Andradas: 4h45min


Madrugada em Pinhal: 5h30min



Sol nascente no lago de Pinhal: 6h







Tive de fazer hora até 11h10min. Então, bora andar com mochila nas costas antes de tomar café com pão com manteiga na chapa, pegar os outros três vinhos deixados na hospedaria e totalizar uns 11km até a  deserta rodoviária. Só que aí a mochila já pesava 15,5kg.

Cheguei gemendo, mas deu tudo certo...ônibus vazio, depois metrô normal, trem lotado e outro bus premiado com dois bêbados  inconvenientes ( redundância)  até o Ipiranguinha. Tudo de graça. Antes de vencer os 500m até em casa, fiz reverência à estátua do Rei Pelé e marchei com altivez até a rua Peru.

Mais uma vez, obrigado meu Deus pela proteção e a todos que me deram guarida.