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segunda-feira, 18 de março de 2024

Monte Roraima: o caminho das pedras

 



Passo das Lágrimas

Na boca do gol

Olha o Flavio lá embaixo. Pouca água

Chuva pouco antes de descer
Não é uniforme de jogo






Paredão sem fim


 Passo das Lágrimas de outro ângulo. Subindo



 

Cozinha, sala de jantar, sala de estar e papear

Renato e Serge. Coragem e força na Pedra Maverick (Mawary)

Parceria imbatível.Nota 10
Serge  no topo com seu pequeno William


Força Renato!






Polivalente:  Ady guia, cozinheira e carregadora





Bolacha com goiabada no Paredão da Permissão




Olha isso! Sherpa indígena?



Valentim nos recebe com melão

Rick se equilibra na descida


Guia exemplar





Barracas de primeira no acampamento base, aos pés do Gigante Azul



Serge serve o  abacaxi da ressureição no acampamento militar...sem tanques


O guia Serge com sua " mochilinha de ataque"


Arroz, frango e banana frita no primeiro jantar


Renato cozinheiro: macarrão com carne moída  e depois muito queijo ralado...Arrasou!



Barracas parecem iglu pintado de vermelho





Calma! O título  no início saiu meio sem querer. Embora lá em cima exista um oceano de pedras pré-históricas, aqui,  caminho das pedras significa simplesmente mostrar resumidamente nossa vereda, como fizemos pra chegar ao oitavo ponto mais alto do Brasil. 


Não é um tutorial. Apenas algumas informações pessoais de como eu e o amigo Flávio conseguimos realizar um sonho acalentado há tanto tempo. Afinal, foram nove dias longe da família. Sete só de expedição. Cerca de 100km de pernada e pesados 2.800m de ganho de elevação. Dos oito  cumes do top 10,  pra mim foi o mais difícil. Sem dúvida! Agora só faltam dois: Neblina (1) e 31 de Março (2).


Haja pernas!    Haja fôlego! Haja determinação! Haja superação! Haja confiança! Haja companheirismo!  Haja alegria contagiante! Haja logística confiável com guiada exemplar! Não foi fácil! Mas, como sempre repito, tudo vale a pena quando a alma não é pequena.


CIRURGIA, CONFIANÇA E TREINO PESADO


Sonho é antigo, mas tudo começou  mesmo no início de 2023, quando convidei e o Flávio topou sem pestanejar.  Ops! Antes, pediu autorização da "diretoria" das óticas Firenze e Maki. Sem justa causa por abandono de emprego!


Porém,  o sonho foi adiado quando simples  exames de rotina mostraram que  meu coração exigia mais rigidez no monitoramento. Foi quando, por fim,  o cateterismo detectou 70% de calcificação no tronco da principal  artéria coronariana e imediatamente confirmou necessidade de cirurgia de peito aberto -- aquele  corte de 25/30cm --   pra colocação de uma ponte  de safena ou  mamária. Previsão otimista de no mínimo 90 dias de molho. Caracas!


Aventura  adiada e operação marcada para 2 de agosto. Graças a Deus, não mais a convencional e sim a minimamente invasiva, com auxílio de  -vídeo e   corte de apenas seis centímetros à altura do mamilo esquerdo. Ponte mamária! Sucesso!


Dr. Raphael Barreto e toda equipe da Prevent Senior foram determinantes, cruciais para que esse  trator caipira sobrevivesse sem sustos e voltasse a treinar em  apenas 20 dias.  Coração Valente! Hora de intensificar  pernadas, fazer testes  progressivos  em parques,  Estrada Velha de Santos, Caminho da Fé e Trilha do Ouro, com o parceiro nota 1000, que também treinava na rua e na academia. Só faltava comprar passagens aéreas, concluir pesquisas com concorrentes e confirmar acerto com a agência e hostel do  Clube Native, de Boa Vista.



PASSAGEM CARA



Embarque pela Latam -- passagem custou caro, R$ 2.600 -- foi dia 20 de fevereiro. Guarulhos/Brasília/Boa  Vista. Chegamos por volta das 23h30min -- lá, fuso de uma hora a menos. Nosso transfer da Native até o hostel  demorou um pouco mais do que deveria devido ao acúmulo de clientes no mesmo horário de vôo. Faz parte!


Portão fechado!  Também acontece!  Flávio pulou e abriu. Quarto comunitário trocado! Fazer o quê? Ninguém morreu! E ainda fizemos amizade com os jovens Gustavo (Mogi Guaçu) e Valdey ( Osasco), do outro grupo. Tudo sob controle; sem estresse.


No dia seguinte, já em quarto novo e limpinho, conforme prometido, hora de enfrentar calor de 40° pra visitar o belo mirante da orla do rio Branco, o centro histórico,  as lojinhas de artesanato indígena e almoçar com o pessoal dos  dois grupos  da Native para os últimos esclarecimentos. À noite, dois chopes  cada   um com tapioca, de novo às margens do  famoso rio Branco, bem baixo devido à estiagem. Chope desceu escorregando. Delícia!



QUARTO DE BODE


No dia 22, quinta-feira, malas guardadas no hostel, mochilas prontas,  madrugamos e embarcamos às 5h nos taxis Spin, rumo a Pacaraima, na fronteira com a Venezuela. Asfalto horrível!  Perigoso! Um buraco dentro do outro. Uma vergonha!  Só paramos pra tomar café  com pão de queijo e ir ao banheiro malcheiroso do tradicional restaurante Quarto de Bode.


Metade do caminho de 205km até a fronteira -- vegetação já lembra o cerrado brasileiro,  sem gado nem plantação -- , onde apresentamos RG,  fomos liberados sem burocracia -- e sem tanques  de guerra brasileiros ou venezuelanos -- e trocamos de veículo. Agora uma Toyota 4x4 pra encarar asfalto e terra batida até a comunidade indígena Paraitepuy.  Time quase completo, com o casal de guias ( Serge/Ady) e  os seis do Grupo A ( Yuri/Elza e  Henrique/Clarice,  além de Flávio e Raddi). 


Usei minha credencial de 6.8 preferencial (rsrs) e  pedi pra ser o "co-piloto". Mais comodidade e menos sofrimento pra quem mede 1.86m. Sobram pernas pra todo lado. Afinal,  no total, são mais de cinco horas de carro em terrenos, na maioria,  pra carroças ou mulas.


Papo vai, papo vem, depois de mais 15 minutos, já entrosados,  estávamos em  Santa Elena de Uiarén para pequenas compras complementares sob responsabilidade da Native. Em duas horas o bicho ia pegar.



PURI-PURI NO RIO TEK!




 
 Valentim ou Valentão?



Enfim, chegamos na comunidade, devoramos um lanchão, assinamos o livro de ingresso no Parque Nacional Canaima, pagamos R$50, metemos as mochilas com  apenas 6/7kg nas costas e partimos pra encarar cerca de 14km  de sobe-e-desce  constante mas não muito acentuados. Eu e Flavio pagamos R$ 1050 para os fortes  Ady/Serge levarem mais 14kg extras, incluindo isolantes térmicos e sacos de dormir. Valeu a pena!  Aliviou muito!






Demoramos cerca de quatro horas até o acampamento do rio Tek. Quase na boca da noite e atacados pelos mosquitinhos puri-puri, entramos no rio e tomamos aquele banho gelado e ligeiro. Logo depois, já com repelente salvador,  hora de jantar o ótimo arroz com frango e banana frita da Ady e depois desmaiar na barraca vermelha, a do meio.


A partir daí, todos os dias tínhamos  farto café da manhã, almoço, pipoca e jantar, com plus de frutas -- abacaxi e melão -- quando chegávamos pregados e doidos pra almoçar. Como o cansado Raddão no segundo dia.  Nada de  passar fome.  Só muito protetor solar. Primeiro dia de cume teve macarrão com carne moída do  " cozinheiro" Renato, um gozador de mão cheia. Gente fina o garoto!


Além de não passar fome, pelo contrário, tudo em abundância,  com destaque pro queijo ralado, não passamos frio ( nem usei  meu pena de ganso e mal entrei no saco de dormir, apenas aberto sobre meu providencial  isolante térmico inflável).


DANÇANDO NA CHUVA, O SHOW! 



Clima também não chegou a atrapalhar. Fomos na época certa. Pouca chuva. Média mensal de apenas 61 milímetros. Névoa constante subiu e fechou a Janela no primeiro passeio.  Pena! Depois do almoço nas jacuzzis,  caiu uma chuvica passageira. Apenas motivadora para três pés--de--valsa ( Serge, Renato e Flávio) iniciarem o show.  Dançando na chuva! Ainda bem que a "diretora"  das óticas não viu ao vivo. Meu Deus!


Chuva e vento fortes,  só na segunda madrugada de cume. No dia da descida também amanheceu com neblina, garoa e frio. Mas naquele mundo tudo muda muito rápido. Não durou 33 minutos. Minha coluna lombar, com significativo desnível sacro-ilíaco, agradeceu. Motor aquecido, partiu sem medo.



AH! CABANINHA VERDE MUSGO!



Nossas necessidades?  Vixe! Aí complica um pouco. Especialmente pras meninas, né?  Pra todos, antes de sentar e fazer o n° 2 no saco de lixo com cal  da concorrida cabaninha verde musgo com zíper meia-boca, era necessário dar um mijão nas pedras.  Afinal, lá em cima, moita é como ganhar na mega-sena sozinho. 


Ah, após o  serviço sujo, mesmo com direito à  confortável privadinha de madeira,  é hora de pesar,  colocar a data e o nome de guerra (Caramelo, Fila, Pitbull, Botafogo,  Coração Valente, Tangará Dançarino, Paraíso Perfeito,   Dançando na Chuva, Cinderela, Mulher Maravilha,  Branca de Neve, Iracema, Josefina...) e rubricar pra devolver no posto policial da "aldeia". Isso mesmo!  Nada fica lá em cima. Um carregador leva  tudo de volta pra descartar em Santa Elena de Uairén (rsrs) Calma, galera! Piada pronta! Apenas  a última frase é verdadeira).



"HOTEL 6 ESTRELAS" E LUA CHEIA



Nosso "hotel 6 estrelas" ficava distante dos mais procurados.  Nada de luxo. Deu pra se virar sob as marquises das pedras. Complicado era sair de madrugada e dar 10 passos pra fazer xixi sem riscos nem  atropelos. Na segunda noite,  como já disse, com chuva e muito vento, cada  um se virou como pôde. Detalhe: antes,  na primeira noite, brotou uma lua cheia de imponência única. Maravilhosa!


Com dois dias e três noites de um cume gigante com pedra sobre pedra  -- o maior do planeta --, conhecemos as atrações possíveis: Abismo, La Ventana, Jacuzzis, Pedra Maverick ( topo do cume, com 2810m, fica em território venezuelano), Abismo (Prisão do Dragão), Fenda,  Vale dos Cristais, Gruta dos Guacharos ( pássaros)),  Cachoeira e Caverna. 






Procura-se um quati. Dos grandes



Sim, há beleza   também da flora   naquele mundo. Inclusive com bromélias carnívoras




No platô, um oásis entre rochas








Plantas endêmicas aos pés da Tartaruga Voadora


Sim, há raras flores na selva de pedras



Quanto ao belo e icônico Passo das Lágrimas, pouco antes do topo, estava seco na subida e com pouquíssima água na descida.  Só respingos! Nada de Cachoeira! Igualmente, nada de lamentos. Afinal, nem precisava ser perfeito para ser fantástico, surreal.



Carregador Valentim atravessa o  rio Kukenan. Sem se molhar.






Elza e Ady Mochilão chegando ao topo





Café da manhã reforçado



Almoço  com arroz da Ady, feijoada, ovo frito e mortadela. Abusei!



CERVEJA   POLAR GELADA. SEM 51!


 Na última tarde-noite da expedição,  no acampamento do rio Tek, é hora de festejar...com cerveja  Polar gelada e coca-cola -- R$100 de sete cervejas e três cocas -- , mas sem a caipirinha de limão com 51 prometida pelo Serge...rsrs. Cá entre nós, mais do que merecidas. Ah, ainda tomamos  cerveja quando chegamos ao destino final. Agora por conta da Native, que também nos ofereceu, além de lindas medalhas, almoço na comunidade São Francisco.





Três cervejas geladas cada pra comemorar




Sinceramente, medalhas merecidas



"Franguinho" assado na saideira



O famoso rio Branco, aquele do livro  O Mundo Perdido

No centro histórico




No topo, da  nela torre-mirante, onde  antes era favela

Mirante na orla do rio Branco à noite


Ady, Henrique, Clarice, Yuri, Elza, Rick, Raddi, Serge,  Flávio e Valentim 





 CLUBE NATIVE: VALEU A PENA


 A Agência Clube Native, de Boa Vista, entregou o prometido há mais de um ano, por meio da Nayra. Uma logística complicada beirou a perfeição, o que inclui hospedagem no simples hostel próprio ( diária de R$75, alimentação completa e boa  nos sete dias,  barracas e saco de dormir de primeira ( Deuter),  guiada de fazer inveja a sherpas do Himalaia, segurança e monitoramento do começo ao fim, alegria e descontração diariamente e transfer completo a partir da chegada no aeroporto -- que muvuca! -- de Boa Vista.


Sim, valeu a pena pagar os R$ 4.550 que inicialmente soavam como exorbitância. Pensei errado!  Valor  do investimento  foi justo. Custo-benefício está correto.



No total, minha aventura custou R$ 8.875, incluindo aéreo, agência, hostel, alimentação, cerveja,  ingresso no parque, Uber/ Guarulhos,  seguro viagem aventura, carregadores de peso extra e  lembrancinhas...


Fica, mais uma vez, meu agradecimento sincero a todos do grupo ( Flávio, Yuri, Elza, Henrique, Clarice), ao pessoal de suporte logístico  direto ( Serge, Ady, Valentim, Renato, Rick, Eli e Abner ) e da agência Clube  Native ( Nayra, Fabi, Vick, Dayane, Juliana, Matheus e Nailton, além dos motoristas João, John e Luís).


Respeite o idoso!

Coração Valente!


Confesso, aqui, minha gratidão eterna. Sem toda essa retaguarda e parceria, tudo não passaria de  apenas mais um sonho. Talvez  meu coração recauchutado não fosse tão valente. Sei lá. Mas foi!