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segunda-feira, 3 de junho de 2019

VALE DO PATI, DE BRAÇOS ABERTOS PARA TI!

 Faz bem pros olhos; faz bem pro coração. Faz bem pro corpo; faz bem pra alma. Afinal, tudo vale a pena quando a alma não é pequena.

Um quê de magia. Dois quês de liberdade. Três quês de superação. Quatro quês de sensibilidade. Cinco quês de admiração. Mil quês de respeito à natureza. 

Cachoeiras imponentes; rios de águas rasas e cristalinas;  poços  profundos de águas escuras como breu. Morros desafiantes; ladeiras íngremes. Grutas sinistras.   Campos gerais verde-amarelados a perder de vista. Exuberantes! Canions com paredões estonteantes.

Cenários cinematográficos. Paisagens deslumbrantes. Dignas de lágrimas; lágrimas de  emoção e  contemplação. De reverências à mãe natureza. Ali, só não ouve a voz  de Deus quem não quer. Só não sente a mão divina quem não quer. Reflexão inevitável. Quão pequenos somos nós, pobres mortais, sempre reféns de bens materiais. 

Vida simples; nativos  humildes, cativantes, trabalhadores braçais, sorrisos verdadeiros, anfitriões naturais. Assim é o baiano  Vale do Pati -- espécie de palmeira em extinção --, no coração do Parque Nacional da Chapada Diamantina, área de 152 mil hectares administrada (?) pelo Instituto Chico Mendes  -- ICMBio

O espaço  demarcado existe há  quase 34 anos. Nos limites, mais ao norte, ficam as  cidades de Lençóis e Palmeiras, com o charmoso distrito riponga do  Vale do Capão, onde dormimos e iniciamos nossa aventura.  Na parte central  estão Andaraí, o distrito de Igatu e a aconchegante Mucugê, antigo berço de diamantes, com o distrito de Guiné. Mais ao sul fica Ibicoara. 

Objetivo  da criação do parque é proteger  as serras do Espinhaço e do Sincorá, antigos berços de ouro, diamante, carbonato e silício. Lá existem três biomas predominantes, além de prados e campos rupestres: mata atlântica, cerrado e caatinga. E por ali serpenteiam rios, brotam quedas d'água e 300 km de trilhas de tirar o fôlego, em todos os sentidos.

Próxima ao Capão, a cachoeira da Fumaça, com 360m, é a mais alta da região. A do Cachoeirão, no Vale do Pati,  vem em seguida com 270m e aquela pedra, lugar cativo para fotos inesquecíveis.

Ao todo são 16 sítios arqueológicos, além do Marimbus, área alagada nos municípios de Lençóis e Andaraí. Uma pintura,   conhecida como Pantanal da Chapada.

Infelizmente, no parque não há  estruturas institucionais de apoio aos moradores e aos visitantes,  nem guaritas e tampouco segurança com guardas em número minimamente razoável.

Manutenção e conservação de tamanha beleza ficam mesmo mais por conta de guias e nativos, além da boa vontade de  trilheiros e turistas nem sempre tão conscientes e educados. Governos descompromissados praticamente nada investem no PNCD.

                                VALE DO PATI: DESAFIO E COLÍRIO

Fizemos -- Angela,  Ana e Raddi  -- a travessia em cinco dias, entrando pelo Capão.  Pati,   de braços abertos pra ti! Dia  6 de maio,  segunda-feira de manhã, pernas pra que te quero a partir das 9h desde o povoado do Bomba. Não sem antes ouvir as orientações do guia Neto, um condutor exemplar.  Agora um novo amigo. 

Mochilas nas costas, fotos de rostos  ainda saudáveis, lá vamos nós. De cara, equilíbrio para atravessar o rio. Em seguida a subida do Bomba. Frequência cardíaca sobe. Nada assustador.

Papo vai, papo vem: mais fotos  e mais informações locais  sempre relevantes do Neto, também corintiano e pai da Paloma, que adora futebol e se impõe nos campinhos e quadras de Andaraí.

Neto é daqueles profissionais realmente comprometidos com seu trabalho. Guia com segurança e conhecimento. Passa confiança.  Fala   da Chapada com desenvoltura, com detalhes históricos, geográficos, botânicos e culturais. 

Não tenho motivos pra duvidar, mas, a exemplo de muitos nativos daquelas bandas,  o Neto garante que viu OVNI quando trabalhava na Serra do Capa Bode -- na época de muito frio na montanha os testículos dos bodes desaparecem,  "sobem", dando a impressão de que os coitados foram capados. Ou seria obra dos ETs?

Então... bodes à parte... aclive superado, ritmo cardíaco controlado, ganhamos  a "planície"  Gerais do Vieira, por onde caminhamos por bom tempo em terreno encharcado. No seu final, antes do Rancho e da subida do Quebra-Bunda, pegamos uma chuvinha insignificante e uma densa neblina de boas-vindas. 

Porém, suficientes para exigir  corta-vento e capas protetoras, inclusive para as mochilas. A minha  agora mais pesada, porque, elegantemente,  a amiga Ana resolveu brindar a primeira noite na casa de nativos com um belo vinho chileno. Com certeza, valeu a pena. 








 Campos gerais do Vieira e do Rio Preto
Beleza ímpar e respeito à natureza


No final do Quebra-Bunda, inteiros, fomos  recompensados com janelas de visuais incríveis e  com o lanche/almoço do Netão. Pão caseiro, queijo, suco natural, mexerica,  manga, salaminho, atum, cenoura, pepino, tomate... meu Deus, que delícia.

Abastecidos. descansados, felizes e motivados, pé na trilha. Nada de subidas ou descidas no início. Um retão encharcado rodeado  por  belos morros, sempre nomeados pelo  G-10,  guia nota 10.  São as Gerais do Rio Preto. Vegetação baixa, já sem garoa e com temperatura ideal para caminhar.

Chegamos  ao famoso  mirante do Pati por volta das 17h,  com sol bem próximo de um horizonte colorido e infinito. Mais poses,  mais sorrisos, mais fotos,  mais alguns minutos... e começamos a descer a bem inclinada e temida Rampa da Ruinha/Igrejinha.  Um verdadeiro mergulho! Um "diponta" no açude , como se falava em Rio Pardo. 

Prestes a escurecer, não foi nada fácil. Risco de queda é iminente. Todo cuidado é pouco. Cerca de 30 minutos de  certa tensão, sem perder o foco.  Pior que  lá de cima dá a impressão de que a bem visível trilha final é fácil, plaininha.

Ledo engano! Tudo que desce também sobe; agora de lanterna na cabeça e um fiapo de lua no nível da montanha. Silhueta imperdível! Pra ficar na retina.

Só que a  casa do seu Wilson, depois da ladeira, lá embaixo, não chegava nunca. Nara, filha do  ausente anfitrião do dia, atendeu ao piscar de lanterna do Neto, mas depois a descida, no escuro, foi penosa. Um quiabo! Lisa, lisa! Escorreguei, mas como fechava a fila ninguém viu. Nem riu! 

Enfim, às 19h, após 22km de caminhada e um céu encantador,  salpicado de estrelas, a Nara veio nos receber de braços abertos. Indicou os quartos e disse que o  jantar já seria servido. Pra não atrasar outros hóspedes, brasileiros e gringos. 
Casa do seu Wilson: aconchego de 5 estrelas


Eu e a Angela ficamos numa quase suíte, com direito a luz. Luz! Cama boa, aconchegante, e quarto limpo. Banheiro exclusivo, bem ao lado. Chuveiro/ducha com água gelada. No ponto! À disposição até  tanquinho e varal pra lavar e secar botas e camisetas imundas e malcheirosas. 

Só pra lembrar: internet só para os moradores; captação de energia solar pra carregar baterias e alimentar tomadas e pontos de luz. Geladeira depende do gás que chega a cada 15 dias. Como quase tudo por lá, no lombo de mulas.

Então... banho tomado,  havaianas nos pés, leveza, liberdade, vinho bom, mesa farta, comida deliciosa. Só nos restava agradecer a Deus pela proteção, fazer o briefing do dia seguinte, admirar o imensidão celeste mais uma vez e dormir o merecido sono dos deuses.


MORRO DO CASTELO (LAPINHA), GRUTA E FUNIL 
Ana, Angela e Raddão na gruta de acesso ao Castelo


Morro do Castelo (Lapinha, para os nativos)
   
       Na terça-feira, após um belo café da manhã, o destino é o Morro do Castelo, pelos nativos chamado da Lapinha. Castelo foi definição de hippies e turistas. Mesmo porque, os nativos -- hoje não mais que 12 famílias que vivem do turismo e não mais as quase 3 mil  pessoas que dependiam do  extrativismo e depois do plantio  de café -- não conheciam castelos.   No  vale, antes também ocupado por quilombolas,  havia muitas casas, igreja, prefeitura e  até escola, mas castelo ninguém viu não.  

Pelas dicas do G-10, na terça-feira seriam mais cerca de 14km, incluindo o   icônico Morro do Castelo (1470m de altitude) e a Cachoeira do Funil.

Partimos com mochilas leves, por volta das 9h, pois na volta pegaríamos tudo pra comer e  dormir na dona Leia.  Atravessando e beirando  o rio, logo entramos na mata e começamos a subir. Inicialmente por terra, sem judieira: depois com inclinação pesada e por pedras, tipo escalaminhada. Por sorte, a maioria do percurso acontece pela sombra. 

Mas não foi fácil não! Creio que subimos e descemos pelo menos uns 8km.  No final da ascensão adentramos numa gruta bem ampla. Na ida  para o topo são 100m: na volta pegamos uma bifurcação e percorremos cerca de 300m. 

Valeu a pena! Visual  do Vale do Pati,  com a cachoeira do Calixto, é um colírio. Fotos de praxe nos mirantes. Hora de descansar, curtir e lanchar. Pra variar, o Neto ofereceu um belo e completo menu.

Após muita conversa e contemplação, é hora de descer. Quando o Neto perguntou se estávamos ok pra ainda encarar a caminhada até a Cachoeira do Funil, ninguém  titubeou. "Bora, manu! Aqui é  Curíntia!". Não me lembro bem o autor da frase... rsrs

Só sei que descemos pra caramba, entramos à direita e por menos de uma hora voltamos a caminhar junto ao leito  do rio. Cachoeira do Funil é bem bonita. Mergulho revigorante foi inevitável. Com algumas braçadas na água gélida. 

Voltamos já na boca da noite, pegamos as tralhas no seu Wilson e fomos pra dona Leia, uns 500m mais à frente. Também casa de pau-a-pique, energia limitada, fila nos dois banheiros,   Bohemia gelada, comida nota 7,  educação questionável,  cama quebrada, mas  sono pesado...

        CALIXTO: TODA NUDEZ SERÁ CASTIGADA!

Na manhã do dia seguinte tínhamos uma decisão a tomar: continuar na dona Leia ou voltar pro aconchego do seu Wilson, já que a casa da dona Raquel, nossa próxima parada, passava por reformas.  Decidimos sem titubear: voltaríamos pro sorriso da sempre educada jovem  Nara. 

Depois do café da manhã, deixamos a mochila pesada na casa do Agnaldo, meio do caminho entre seu Wilson e  dona Leia, e partimos pra vencer os 18km de ida e volta até a cachoeira do Calixto.

Andamos bastante. Sem  tantos sacrifícios. Trilha batida, sem esforço hercúleo para vencer  poucos morros e ladeiras. Pedras no leito do rio  exigiam muita atenção, mas já não representavam  obstáculos intransponíveis.

Cachoeira é de uma beleza ímpar. Mergulho e aquela cortada nas águas escuras de novo significaram músculos e mente revigorados pra retornar sem transtornos. 

Falar do lanche do Neto é chover no molhado; um exagero. E preciso contar que corri sério risco na cachoeira: não é que meninas e meninos de uma comunidade hippie acampada a uns 150m, na beirada do rio, resolveram mostrar seus dotes como ginastas e malabaristas? Verdadeiros artistas de rua. Ou de  rios e vales? 

Até aí tudo bem, mas em seguida as roupas  mínimas começaram a cair. Primeiro a loira novinha, depois a morena madura... Ficaram peladas justo quando eu olhava lá pra baixo e elogiava a destreza das meninas. 

Foi quando entendi o nome do filme de Arnaldo Jabour e da peça do excepcional  dramaturgo e escritor Nelson Rodrigues,  "Toda nudez será castigada".  

Quando a Angela perguntou pro Neto se ele tinha spray de pimenta eu olhei pros lados e percebi que estava num mato sem cachorro e  que não tinha pra onde correr; o jeito seria nadar. Minha esposa virou uma suçuarana!  Uma onça! PQP!

Meio sem jeito, com aquele sorriso amarelo, o guia disfarçou e falou pra Ana que era melhor voltar porque estava ficando tarde. O céu azul deu lugar a "nuvens pretas, carregadas",  todas sobre a minha cabeça. 

Pior é que na volta tivemos de passar novamente no meio do acampamento. Por sorte  (?), meninas na moita, atrás da pedra;  meninos de costas, na água escura. E o Raddão com o rabo no meio das pernas, ganindo como um cachorrinho e  olhando pro chão, com medo de cobra. 

Brincadeiras e licença poética à parte, retornamos inteiros. Passamos da casa do Agnaldo pra pegar as mochilas, tomamos uma latinha de cerveja (R$ 10 bem pagos) e pelo menos uns três copos da caldo de cana cada um. Cortada e moída na hora, por apenas R$ 4 cada. Um néctar! Fora o bom papo do  forrozeiro Agnaldo, um dos muitos filhos da dona Raquel.

Mais alguns minutos, já no final da tarde,  e estávamos de volta ao "5 estrelas" do seu Wilson. Nossa suíte já estava ocupada, mas de novo a Nara nos alojou com carinho, num quarto limpinho, perto de quatro banheiros, da cozinha e dos tanques. 

Mais uma vez fomos tratados com carinho. De novo, um belo banho gelado e um jantar divino, com direito a arroz, feijão, macarrão, carnes, saladas, sucos e  doces de sobremesa.

No briefing diário do final do dia o G-10 já avisou que o nosso quarto desafio seria "massa". Cerca de 16km de caminhada, tendo o Mirante do Cachoeirão  e a difícil  Fenda como destaque. 

               CACHOEIRÃO: 270M DE ADRENALINA E BELEZA

De novo demoramos um pouquinho mais pra sair. Café da manhã deixa no chinelo a maioria de pousadas 3 estrelas por aí. 

Por volta das 8h33min, partiu Cachoeirão! Voltamos um pouquinho na trilha final do primeiro dia, ainda bem escorregadia por causa da chuva da madrugada,  e entramos à esquerda, direção contrária da Igrejinha.  Pegamos o  chamado Arrodeio  e atingimos outra vez as Gerais do Rio Preto. 

Caminhada não foi desgastante. Visual  fascinante! De fazer esquecer qualquer cansaço. Uma grandeza! Várias cachoeiras, com direito a arco-iris. São 270m de altura, quase três campos de futebol oficiais. 

Uau!!! Deu medo fazer fotos na ponta daquela pedra com o Pati ao fundo. Minha nossa! Mas valeu  a pena. 


Neto (profissionalismo nota 10) e Ana (determinação nota 10)

Sempre vale! 

Raddi e Angela (cumplicidade e risco calculado)


  
Um  peão admira o arco-íris

 Mais um almoço do G-10. Antes, a Ana e o Neto retornaram uns 200m e foram dar um mergulho no rio. Ana adora água. Parece uma piabinha. Voltaram em poucos minutos. Hora do rango, regado a sucos de maracujá selvagem e cajá-manga. Pão caseiro sempre com salame, queijo, tomate, cenoura, atum e frutas frescas. Huuuummm! 

 Não me lembro ao certo, mas acho que saímos do Cachoeirão por volta das 14h17min. 

Havia um grande desafio a ser encarado. Descer pela famosa e íngreme Fenda e chegar à casa do seu Eduardo ( e do neto Domingos) antes de anoitecer. Lugar fácil de se perder. Tanto que poucos fazem esse caminho sugerido pelo Neto. Até mesmo certos guias têm respeito pelas dificuldades da trilha, que incorpora o Mirante da Fenda. 

 "Bora manu!  Aqui é  Curíntia!". Essa era a senha, na base da brincadeira com um baiano filho de garimpeiro que já morou em Itaquera-SP. Só como ilustração: com 15 anos o Neto foi acompanhar o pai no garimpo e quase morreu soterrado.  Foi salvo pelos garimpeiros e levado às pressas para Salvador. Só foi  se lembrar do ocorrido cinco anos depois.  (À noite conheceríamos  o hoje também guia  Humberto,  um dos garimpeiros que o salvaram). 

Então...Superar a fenda não foi brincadeira não. Ali se separam, sim, os homens dos meninos; as mulheres determinadas das meninas dondocas, patricinhas. Coisa bruta! 

Muita ribanceira colada no  paredão do morro.  Cabos de aço colocados estrategicamente ajudam bastante. Inclusive na hora de atravessar o riacho/cachoeira com corredeira, numa grota. Ali foi punk viu! Mas superamos com categoria. Sem tombos ficaria sem graça. Faz parte. Basta limpar o traseiro e seguir em frente.  

Quando ouvimos o som das águas e chegamos às margens do rio foi um alívio. Já era tarde para tentar fazer o Cachoeirão por baixo. Agora tudo plaininho até a casa do seu Eduardo.  

Final de tarde, ancoramos ao lado de outros hóspedes, todos meio quebrados .  De cara vimos que nossa mochila mais pesada,  naquele dia excepcionalmente transportada por mula, estava ali, inteirinha. 

Casa enorme, simples e, obviamente,  às escuras.  Energia racionada, luz minimizada,  banheiro apertado, banho gelado. Escolhemos um quartinho mais apartado, onde fiz da lanterna de mão com o fio do carregador de celular um belo  e salvador "lustre".  

Ambiente não prometia, mas me enganei redondamente nas deduções, confesso. O jantar e o café da manhã (5h) do Domingos estavam maravilhosos. 

Diz o ditado que "tempero de pobre é a fome", mas não foi isso não.  O jovem Domingos  manda bem mesmo na cozinha.  Café da manhã teve até cuscuz e bolinho de chuva impecável,  melhor até do que o da saudosa tia Guinha, lá na Boa Esperança.

              LADEIRA DO IMPÉRIO E TRILHA DO CALVÁRIO

Tomamos café da manhã reforçado por volta das 5h27min. Um almoço pra enfrentar os últimos 18km da travessia do Vale do Pati até a cidade do Neto e da Paloma,  a pacata Andaraí.  

De início, 6h25min, tranquilidade beira-rio. Até o momento de atravessá-lo equilibrando em pedras pequenas, às vezes pontiagudas. Me senti um Dumbo sobre o banquinho do circo.  Ridículo!

Pra me salvar, agora com mochila pesada e centro de gravidade alterado, abandonei a Angela pra trás. Egoismo latente. Companheirismo claudicante. Peço desculpas.


Subindo a  temida Ladeira do Império...

... antes  do Calvário até Andaraí


Mas lá vamos nós para encarar cerca de 4km subindo a temida Ladeira do Império. Calçamento regular e sombra da manhã ajudam bastante. Não chegamos a sofrer muito em momento algum. Menos pesada do que os relatos me fizeram imaginar.

Pra ser sincero, pra mim foi bem pior superar a descida nos cerca de 14km  restantes até Andaraí.  Minha nossa! Sofremos viu!  Não chegava nunca. Só declive, mas com muitas pedras pequenas soltas. Torção de tornozelo ou joelho poderia estragar nossa bela e desafiadora aventura. Um verdadeiro calvário.  Haja pecados! Paguei metade!

Depois de passar pelo mirante do Alto da Boa Vista, de onde se avista  parte do  Marimbus, o pantanal da Chapada,  além da cidade de Andaraí,  mergulhamos mais alguns quilômetros entre antigas áreas de garimpo, até desembocar na rua principal e chegar  ao centro, mais precisamente na tradicional sorveteria Apolo.  

Pregados, mas felizes por cumprirmos nossa meta  de atravessar o Vale do Pati e seus belos tentáculos  por cinco dias.  Cerca de 90km, média de 18km por dia. 

Abraços e agradecimentos mútuos. "Cheiroso", sem botas, já com havaianas nos pés ( não poderia ser na cabeça, né?), dois litros de água,  pernas pra cima e um  último pedido: "Duas bolas de sorvete, por favor. Uma de graviola e uma de cachaça".  Sim, cachaça. Um néctar. Merecido,  convenhamos.
Principais atrações do inesquecível Vale do Pati

(Nossa aventura  na Chapada continuou por mais alguns dias. Depois eu conto. Quando der vontade.  Agora vou caminhar. Preciso treinar pra fazer a travessia Marins x Itaguaré). Até. 



 





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