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quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Um trator chamado São Caetano (2)

Há cerca de 15 dias, o título da coluna/blog foi "Um trator chamado São Caetano". Claro que não tenho nenhuma procuração para puxar o saco, defender ou endeusar este ou aquele dirigente esportivo. Além do que, não sou assessor de Imprensa de nenhuma das prefeituras do Grande ABC. Nem pretendo ser. A intenção foi apenas analisar e valorizar a 13ª conquista dos Jogos Abertos do Interior por São Caetano, além de cutucar a onça com vara curta. As onças, no caso.

Se bem que, hoje, São Bernardo não passa de uma jaguatirica de médio porte. Limita-se a comer galinhas e assustar crianças no terreiro da velha colônia. E a tendência é piorar no que se refere ao esporte competitivo. Opção como diretriz deve ser respeitada. A outra onça, antes predadora até de bezerros desmamados, dos grandes, virou cordeirinho. Há mais de um década -- como já cansei de escrever -- Santo André anda mansinha, mansinha. Está mais para as calopsitas da Rosana, minha cunhada, do que para algum felino parente do gato.

O caipira, aqui, tem consciência de que alguns leitores concordaram com o texto -- recorrente, por sinal. Outros discordaram mas silenciaram e alguns ficaram na bronca e se manifestaram por telefone ou email. E o contraditório saudável, educado e consistente é sempre bem-vindo. Principalmente quando sabemos que o assunto, embora dissecado nos últimos anos, não é de pleno conhecimento de todos. Nem meu, lógico!

Um dos comentários postados foi do jovem cidadão Thiago. Andreense, ex-aluno do Colégio São José, o jovem questiona alguns itens. Por exemplo: "Se tirar o caminhão de dinheiro investido por São Caetano em relação aos demais concorrentes, será que seria essa diferença toda?" Sinceramente, não há como garantir. Mas é preciso tirar o chapéu. Nossos vizinhos sabem fazer esporte. Tanto que nadam de braçadas há mais de uma década.

Como ilustração, é bom lembrar que na última edição a anfitriã São Caetano fez 373 pontos, contra 274 de São José dos Campos, 247 de Piracicaba, 240 de Santos, 226,5 de São Bernardo e apenas 142 de Santo André, a nona colocada. Foram 99 pontos de vantagem sobre São José dos Campos, 146,5 para São Bernardo e 231 para Santo André. Juntos, A e B somariam 368,5 pontos e ainda perderiam de C. Justificar? Talvez! Desmerecer? Jamais!

Nos três anos anteriores, São Caetano ganhou o título com as seguintes diferenças para o vice-campeão, São Bernardo, e o terceiro colocado, São José dos Campos: 331 a 320 e 198 em 2006, 284 a 280 e 209 pontos em 2007 e 341, 293 e 260 em 2008. São Bernardo vem descendo a ladeira! É bom frisar que em 2006, quando promoveu os Jogos Abertos e ficou a apenas quatro pontos do campeão, o investimento dos batateiros foi superior ao de São Caetano.

No mesmo período, Santo André foi quinto em São Bernardo e na Praia Grande, ainda na Primeira Divisão. Em 2008, em Piracicaba, já na Segunda Divisão, também ficou em quinto, o que, na realidade, significa a 17ª força do Estado. Se orgulhar como? Melhoramos em 2009, mas em 2010 voltamos para a Segundona.

Falar de orçamentos, como também questiona o esperto Thiago, é meio perigoso. São realidades diferentes, políticas públicas diferentes, problemas sociais diferentes, cabeças diferentes, comandos diferentes. Grosso modo, os investimentos totais -- totais! -- de São Caetano e São Bernardo são semelhantes. Só que os R$ 20 milhões de São Caetano representam maravilhosos 4% do orçamento total do munícipio em 2009. Os mesmos R$ 20 milhões de São Bernardo não atingem a 1 % de um dos maiores orçamentos municipais do País.

Em 2009, cerca de R$ 10 milhões foram para o alto rendimento do campeão. Os outros 50% dividem-se de forma quase equivalente entre pessoal e demais projetos, que incluem formação, comunitários, terceira idade, futebol amador, eventos e lazer. Em São Bernardo, o investimento do Tesouro no esporte competitivo ficou entre R$ 3 milhões e R$ 3,5 milhões. Como em pessoal são gastos cerca de extravagantes R$ 10 milhões por ano, o restante é rateado por inúmeros segmentos do esporte e do lazer. Para 2010 os montantes devem ser mantidos, mas com remanejamentos de verbas dentro da secretaria. E ainda há a dependência de possíveis parceiros.

Em Santo André, o orçamento de 2009 -- pífio e definido pela gestão anterior -- deve beirar os R$ 12 milhões, considerando-se esporte e lazer. Como já escrevi, o ideal seria de no mínimo 1%, cerca de R$ 19 milhões. Custeio com pessoal não fica longe R$ 7,5 milhões. Para projetos, que incorporam serviços, produtos, material, contratações, educação física, eventos, Expresso Lazer, aniversário da cidade e outros quetais, total não passa de R$ 2,5 milhões. Portanto, sobram cerca de R$ 2 milhões para o alto rendimento. Convenhamos, pouco se faz no cenário econômico-esportivo atual. Especialmente quando os empresários-parceiros são tão raros como conquistas relevantes.

O jovem Thiago também questiona as revelações de São Caetano: " Quantos que levantaram troféus são formados em São Caetano?" Realmente, são poucos. Santo André é forçada a revelar algumas promessas porque não tem alternativas financeiras nem ao menos para mantê-las na cidade. A Paloma, do judõ, é apenas um dos muitos exemplos. Ah, São Caetano contrata um o monte de gente! Verdade! São José, São Bernardo, Santos, Piracicaba e Santo André também. Ou o campeão de tênis de mesa, Duan Quan (?) nasceu na Vila Pires?

Que culpa São Caetano tem se pode investir no esporte como um todo? Se o jovem Thiago tiver um pouco de tempo, vai perceber que o esporte comunitário de São Caetano também é superior em quantidade e talvez qualidade. Se bobear, por absoluta falta de investimento coerente nos últimos anos e não por incapacidade do quadro profissional, Santo André também perde em atendimentos à comunidade -- esporte enquanto ação social -- para São Bernardo e Diadema. Quanto a São José dos Campos -- orçamento total de R$ 20 milhões -- e Santos e Piracicaba -- perto de 13 milhões --, não tenho subsídios para analisar com embasamento minimamente confiável.

Para o jovem Thiago, ficar em nono lugar na Primeira Divisão dos Jogos Abertos -- hoje sem o glamour de idos tempos -- não é demérito, "afinal, o investimento de é 1/10 dos demais concorrentes". A proporção orçamentária está equivocada, mas o opinião deve ser respeitada. Para mim, é demérito sim! E a culpa -- também como já cansei de escrever -- é de quem sempre virou as costas para o esporte ou fez dele simples moeda de troca política. A maldita política. Nenhum gestor público ou diretor de Esporte e Lazer faria milagre com as migalhas que lhes foram confiadas. E, independente de partido político, ninguém vai fazer sucessao do dia pra noite sem encarar políticas públicas como coisa séria. Independente de títulos.

Não tenho vergonha, mas, por enquanto, também não tenho um motivo sequer para me orgulhar do esporte de Santo André como um todo. Antigamente, o andreense tinha inúmneras razões para se orgulhar de cidadãos e campeões formados ou lapidados pelos homens do esporte. Hoje, temos alguns cidadãos, raríssimos campeões e apenas meia-dúzia de homens-líderes comprometidos de fato com o esporte. É uma pena!

Convenhamos, jovem Thiago, falamos quase a mesma linguagem; é mesmo muito pouco. E não é coincidência; é incompetência com tempero de menosprezo. Tomara, torço muito para que a administração Aidan Ravin respeite e valorize de fato o esporte em sua plenitude. Ficar comparando e jogando a culpa em antecessores o tempo todo não vai resolver o problema. Ficamos pra trás e precisamos reagir. O primeiro ano já está por terminar. É bom trabalhar mais e falar menos. De preferência, com mais informações corretas e sem parcialidade característica de quem ainda conhece pouco e cai do cavalo quando se arvora de defensor dos fracos e oprimidos. Mas dá pra entender...

Um abraço ao jovem assessor de Imprensa recém-contratado pela Prefeitura de Santo André. Um abraço respeitoso ao cidadão Thiago. Como esportista, não deixe de sonhar! Como esportista, não deixarei de cobrar. Quem quer que esteja no poder. Mesmo que se trate de amigo.

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