"Foram quantos? Mil? Tem 199 milhões de brasileiros trabalhando e esses querendo atrapalhar. O povo brasileiro é tranquilo. Já, já, vai entender que a Copa é o maior evento do mundo. Vamos falar de futebol?".
Assim se expressou Marco Polo del Nero, presidente da Federação Paulista e vice da Confederação Brasileira de Futebol após as manifestações contra vultosos investimentos para se promover a Copa das Confederações e na construção de 12 arenas (quatro elefantes-brancos) para a Copa do Mundo.
Mas, pensando bem, como esperar algo diferente de alguém tão bossal e prepotente. Mais um dependente químico das benesses proporcionadas pelos tentáculos do poder. Tentáculos e tetas cheias, diga-se.
Afinal, Del Nero joga no mesmo time de João Havelange, Joseph Blatter, Ricardo Teixeira, José Maria Marin, Jerome Valcke, Nicolaz Leoz e outros dirigentes do futebol cujo sobrenome é enriquecimento fácil e provavelmente ilícito.
Com a palavra, o senhor Havelange. Endeusado por um cordão de puxa-sacos interminável enquanto enricava às custas do futebol. No caso de Del Nero, utopia seria esperar atitude diferente, digna, de quem faz do cinismo e da desfaçatez uma rotina irritante, quase sempre regada a champagne francês.
Como querer coerência e humildade de quem come ou já comeu na mesma mesa farta de Renato Pera, Ari Graça, Carlos Arthur Nuzman, Tony Chakmati, Roberto Gesta, Ciro Fontão, Luiz Boselli, Coaracy Nunes e outros coronéis do esporte.
O nobre Marco Polo del Nero empina o queixo, capricha no vestuário, exagera no perfume importado e desfila soberba, como se fosse intocável e dono da verdade, sem admitir o contraditório.
Del Nero se alia à empáfia do presidente da FIFA, Joseph Blatter, para quem as manifestações ( por muito mais que 20 centavos nas passagens e contra os investimentos ligados às copas) servem apenas para o brasileiro "aparecer, usando o futebol como plataforma para a imprensa mundial".
Os "nobres" preferem investimentos bilionários em arenas de última geração, muitas delas fadadas a se tornar verdadeiros elefantes-brancos. Nós, brasileiros simples, tão distantes da classe A quanto dos contemplados com o assistencialismo eleitoral, queremos muito mais que pão e circo.
Queremos mais que belas arenas e futebol campeão do mundo. Exigimos respeito. Somos apenas meio trouxas. Portanto, não inteiramente imbecis. Queremos decência política e da sociedade como um todo. Queremos saúde, infra-estrutura e educação de primeiro mundo.
Queremos segurança, emprego, saneamento básico, moradia digna, salário justo e tratamento digno aos aposentados. Queremos o fim de privilégios e da impunidade a políticos e servidores públicos corruptos.
Queremos cadeia para os mensaleiros, seus comparsas e seus chefes, aqueles que se julgam donos do Brasil e dos brasileiros. Queremos consideração e direito à liberdade de expressão como cidadãos comuns.
Apenas isso, senhor Del Nero. Sem vaidades. Sem autoritarismo. E também sem submissão aos caprichos do poder tão valorizado por pessoas da sua laia, da sua estirpe, do seu caráter. Sua soberba é inconcebível para um povo tão sofrido.
P.S: manifestações que ganham o País são legítimas, desde que sem vandalismo e violência. Polícia Militar paulista não pode ser truculenta com a maioria que apenas reivindica e frouxa com alguns vândalos que promovem quebra-quebra estratégico para depois saquear. Bandido tem de ser tratado como bandido, caro secretário da Segurança Pública. Sem omissão, como ontem.
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