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segunda-feira, 16 de setembro de 2013

No, no te callas, majestade! Solte o gogó, meu sabiá-laranjeira!

"Por qué no te callas?". Frase do rei da Espanha para o ex-ditador da Venezuela entrou para a história há seis anos.

Incauto e falastrão, o finado Hugo Chávez, amiguinho de Lula, criticou o governo espanhol mas foi obrigado baixar a bola e calar a boca após a manifestação de Juan Carlos na Conferência Ibero-Americana, realizada no Chile.

E não é que agora, aqui mesmo na cosmopolita São Paulo, o embate de muitos internautas é direcionado a sua majestade, mas não o rei da Espanha. Muitos querem que o incomparável turdus rufiventris, nome científico do nosso sabiá-laranjeira, faça silêncio.

Há quem não suporte, madrugada adentro e muita claridade a confundir, um canto ininterrupto, forte, típico do macho alfa na marcação de território, na proteção e na aula da melodia aos filhotes ainda chorões.

Tanta coisa muito mais importante pra contestar num país de corruptos aos borbotões e justo a ave símbolo do Brasil vira polêmica. Quem diria?

Adoro vê-los e ouvi-los diariamente, a qualquer hora, no Jardim Tamoio, no Parque Central, no meu telhado (trato-os com mamão todas as manhãs), no muro, na cumieira do barracão, em qualquer lugar.

Levantamentos de especialistas definem que o canto do nosso belo sabiá-laranjeira atinge 75 decibéis, contra 90 de uma buzina de carro, 80 do ruído médio do trânsito e 60 de pessoas normais, aquelas que conversam sem gritar.

Respeito mas não concordo, de jeito nenhum, com os que pregam o silêncio da "ave que reza" (tupi guarani) e que já foi cantada em prosa e verso por Roberta Miranda, Jair Rodrigues, Chitãozinho e Xororó, Marisa Monte, Chico Buarque e, até, Tom Jobin.

Por isso, solte a voz meu sabiá. No te callas!!! Jamais!!! Que os incomodados se mudem, se retirem, coloquem proteção acústica nos quartos ou usem fones de ouvido!

Talvez seja mais interessante o ronco insuportável do maridão mamado ou da mulher que não dorme de lado e ainda fica furiosa quando leva aquele cutucão.

Quem sabe aquela música "maravilhosa", aquele batidão do espertão, individualista, que, às três da manhã, para o "carrão" diante do seu portão, abre o porta-malas e solta o som?

Ou seria melhor ouvir aquela trepada selvagem de alguém que urra e faz a cama pular no andar de cima? Ou casais de vizinhos briguentos a soltar acusações e palavrões dos mais cabeludos.

Criança chorando de dor ou adolescente/jovem discutindo com os pais ao chegar bêbado da balada talvez seja mais saudável e menos ensurdecedor do que o canto do sabiá.

Será que o latido incessante e ardido do cachorro do vizinho ( entenda como quiser) incomoda menos que sua majestade? Seu canto é meio atrapalhado, concordo, mas daí a irritar há um abismo.

O barulho das viaturas policiais, das ambulâncias e até dos tiros também não é páreo para o nosso turdus rufiventris. Dizem! Acham, os reclamões. Todos "adoram" ouvir os fogos de artifício após os títulos do Corinthians ou do São Paulo.

E quando alguns imbecis, mal-educados, cismam de tirar rachas e promover festivais de arrancadas em avenidas que contemplam residências. Portanto, gente que provavelmente vai trabalhar no dia seguinte.

Simples barulhinhos, perto de um pássaro com potência supersônica que hoje marca mais presença nos principais centros urbanos do que no Interior e mesmo nas matas. E olha que sou mateiro, hein! Não estou a falar besteira.

Não, meu querido sabiá, no te callas! Você sempre cantou e encantou. Jamais tirou meu sono. Também não abortou meus sonhos. Pouse na minha janela, no meu telhado, no meu muro, na minha mão, na minha alma...

Sem dó, majestade de peito enferrujado, alaranjado, solte a voz primavera afora! Como agora, exatamente agora, 18h, no muro do meu corredor. E como, com certeza, está a acontecer lá nas jabuticabeiras do Victor e da Júlia, onde os filhotes estão por nascer.

Então, fica combinado: às quatro da matina, quando eu acordar para aquela mijadinha e aquele copo d'água, você canta sem parar. Como se, sonoramente, recitasse: "jamais se esqueça do seu pai".

Pena que alguns manifestantes bravios não entendam que se trata de uma dádiva divina, maravilhosa. Não queiram, portanto, fechar seu bico, amordaçá-lo.

Por que não usar as redes sociais para soltar o verbo, botar a boca no trombone e calar a boca de incompetentes, corporativistas, que só fazem besteira e só olham para o próprio umbigo? Como a maioria dos nossos políticos, por exemplo.

Por favor, parem de implicar com o sabiá! Mesmo que seu canto muitas vezes seja triste ou soe como lamento ( sirene ou despertador?) durante a madrugada. Afinal, ele não rouba, não depreda, não é mascarado, nem usa colarinho branco.

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