Seguidores

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Agulhas Negras, um doce desafio

Nascidas para vencer, raras e corajosas pessoas escalaram os 8848 metros do Monte Everest (China/Nepal) e/ou os 8611m do K2 (Paquistão/China), os picos mais altos do mundo.

Por aqui, muitos aventureiros já encararam os  seis pontos culminantes do Brasil: Pico da Neblina (2993m - AM), 31 de Março (2972m - AM), Pico da Bandeira (2892m- MG/ES), Pico do Calçado (2849m - MG/ES), Pedra da Mina (2798m - MG/RJ/SP)  e Pico das Agulhas Negras (2791m - RJ).

Sem querer parecer presunçoso, fico extremamente feliz por ser um deles, ao lado de duas meninas cinquentonas maravilhosas (a esposa Ângela e a amiga Marilene) e um quarentão (Milton César) sem medo de correr riscos para ser feliz. Estes, sim, verdadeiros amigos e companheiros de viagem.

Uma década depois, no último sábado, encaramos de novo os quase 2.800m das Agulhas Negras. Em 2003, o ponto mais alto do Estado do Rio ocupava a quarta colocação entre os mais-mais do Brasil. O anuário de 2011 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) oficializa as novas medições e coloca nossa "conquista" em sexto lugar.

Nenhum problema! Não muda nada! Superá-lo, melhor, abraçá-lo, bem próximo de virar sessentão, é motivo de orgulho. Um prazer enorme! Mais do que "conquista" ou superação de desafio, tenho a clara percepção de ser amigo da montanha.

Caminhamos juntos.  Incrível! Parece não haver uma explicação plausível. É um sentimento de quem faz parte daquela obra prima; de quem não quer, em momento algum, se adonar da natureza ou colocá-la no patamar inferior.

Amo, de verdade, a grandiosidade da montanha. A imponência da montanha. O silêncio da montanha. O abraço da montanha. A amizade da montanha (também gosto muito das matas, das flores, das águas, das cachoeiras, dos animais).

Mas Agulhas Negras  é um "morrinho" especial. Faz parte do meu ser, da minha alma, dos meus sonhos. A respiração não chega a ficar ofegante, a pulsação pouco se altera, mas quando me aproximo do cume o coração dispara;  dá um aperto danado no peito. Aperto de felicidade!

Ali, no topo, com fundo azul, no elo entre terra e céu, estende-se, no meu imaginário, um manto sagrado. Não contei para ninguém, mas ali, de novo, rezei, clamei por perdão, agradeci e pedi proteção aos mais próximos. Ousei ter uma "conversinha" com Deus. Sem a intermediação do Papa Francisco.

À minha frente, a bela Serra da Mina; abaixo, a  via Dutra, a represa do Funil; à direita, Itamonte e a região de Visconde de Mauá; atrás e à nossa esquerda,  Resende, Porto Real, Barra Mansa, Volta Redonda, Itatiaia, Queluz, Cruzeiro, Cachoeira Paulista, Lorena, Piquete e cia.

Sem falar nos distritos de Engenheiro Passos e a aconchegante Penedo,  e de todo o Parque Nacional de Itatiaia, o mais antigo do Brasil e criado em 1937.

Valeu a pena olhar tudo do alto, com respeito e admiração! Mas ser parceiro da montanha implica, até, em  uma doce pitada de sofrimento, dor. Subir, descer, fazer rapel e escalar com auxílio de guia (obrigado Marco Aurélio, da Gute Passeios), cordas e boldrier (a popular cadeirinha). Loucura! Mas valeu da pena!

Força, resistência, equilíbrio, coragem, medo, concentração. Se ferir nas fendas do precipício ameaçador, sangrar, se superar com determinação e assinar o famoso livro do cume (para poucos, diga-se, e desculpe a modéstia). Tudo isso valeu a pena! Afinal, como diz o poeta, tudo vale a pena quando a alma não é pequena.

Agulhas é sempre um paradoxo, um louco desafio, que ampara, aconchega. Gratificante! Envolvente! Acho, até, que conquista o homem. Engana-se quem pensa que o conquistou. Simplesmente, foi conquistado pelo grande pico, um marco do montanhismo.

Obrigado, Senhor!  Voltamos a conversar mais de perto antes dos 70. Conto com sua proteção para levar o Victor e a Júlia, meus netos, minhas paixões. Só não garanto que, na Terceira Idade,  voltarei a festejar mergulhando nas águas geladas e trincantes do lago junto ao abrigo Rebouças.

Nenhum comentário:

Postar um comentário