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sexta-feira, 8 de março de 2024

MONTE RORAIMA. A ANATOMIA DE UMA "CONQUISTA" HISTÓRICA



Caminho para um templo místico e lendário chamado Monte Roraima, à direita



 " A noite não tinha luar, mas algumas estrelas brilhavam e podia-se ver por um pouco a distância na planície. De repente, no meio da escuridão da noite,  algo passou voando, zunindo como um avião. Por um instante, todo o nosso grupo foi coberto por um dossel de asas coriáceas e eu tive a visão de um longo pescoço, parecido com uma cobra, um olhar feroz, vermelho, guloso, e um grande bico que se abria e fechava, cheio, para meu espanto, de pequenos dentes brilhantes. Por um instante, as asas monstruosas apagaram as estrelas, e depois a criatura desapareceu sobre o topo do penhasco acima de nós".


 

Encontramos!!!



Bem-vindo ao novo  velho planeta




Não é montagem! É a Clarice!


 

 

Vale dos Cristais
Um robô de pedra-cristal?


 








Festa no topo da Pedra Maverick...2810m.


 

Nosso "hotel" 6 estrelas, uma pra cada um do grupo









Quem pintou esse quadro? Deus!

 

Paredão sem fim


Os guardiãos da montanha




Cariocas no Copacabanas Jacuzzis


Caipira no açudinho transparente


Olha a chuva!




Dançando na chuva: Serge, Flavio e Renato


 

 


 


 Obrigado, Senhor!

Caramelus Curiosus


 

Guerreiros da montanha


 

O botafoguense e a dra

 

Sim..uma cachoeira no platô


 

Na Fenda

 

 


 

Homenagem aos oito netos


O amor é lindo...


 


Chegada triunfal à comunidade após sete dias de imersão total

 


 

Cadê a RG? Sem burocracia  e sem tanques na fronteira


 


Olha só a lua cheia! Que recepção! 


 

 

 


Precisa? No topo, Vai Curiiintia!!!

 

Lembra o Passo dos Anjos, na Serra Fina



 


Acampamento base


 





Céu azul: Henrique e Clarice nas alturas

 

Passo das Lágrimas, últimos metros perto do topo



 

Enfim, chegamos ao topo


 


 Yoga: veja  o que o Flavio fez assim que chegou ao topo



Boralá! Partiu Monte Roraima

 






Renato, a fortaleza dançante

















Cansadão no Acampamento Militar




Toyota lotada. Partiu!


Olha a libélula carioca...e o papagaio de pirata




 
Pqp!!! Nossa  primeira noite nos 34 km2 do místico e emblemático Monte Roraima não poderia ser mais assustadora, horripilante.

O engenheiro químico campineiro tremia que nem vara verde. Seus poucos cabelos estavam ouriçados. A companheira, gerente do Banco do Brasil, chorava grudada na sua cintura.

O casal carioca, marinheiros de primeira viagem, estava estupefato. A advogada e futura candidata a vereadora  não sabia se movia ação ou perguntava se a criatura gigantesca tinha título de eleitor no Rio.  " Vota em que zona?" Seu companheiro, funcionário do BNDES e torcedor do Botafogo, sorria de tão nervoso, mas deixava brotar dos olhos verdes duas lágrimas, as últimas, remanescentes da decepção com a entregada do time no Campeonato Brasileiro de 2023.

Corintiano, acostumado às agruras da vida,  sofredor por opção, o professor de Educação Física idoso/preferencial estava literalmente com o cu na mão (  amigos de grupo, vocês se lembraram da moça tarada,  insaciável, né?). Tiozinho olhava para aquela cabaninha verde musgo logo abaixo da barraca-cozinha. Sabia que, apesar do zíper estragado, era seu porto seguro. Afinal,  lá havia um troninho improvisado, com  cal no fundo do saco de lixo...fazer nas calças seria um vexame internacional.

O guia venezuelano nota 10 tentava de tudo para nos acalmar.  Orava, contava lendas e clamava pelos deuses da montanha.  Lamentava por o histórico  portal da salvação estar tão longe. Assoviava pra chamar o vento e se travestia de xamã ( respeito muito), movimentando os braços de forma ritmada pra tirar a paúra dos mais sensíveis. Sua companheira apenas sorria, calmamente, como se o monstro alado fosse um meigo beija-flor.

Por outro lado, Caramelo, preso à guia curta,  era sinônimo de impaciência.  Piscava sem parar, mas sem demonstrar  medo. Trocava os óculos vermelhos pelos pretos, estes pelos amarelos e voltava  aos vermelhos. Os azuis ele perdeu na Ótica Firenze.  em Santo André. Caracas!!! Era o único com  o celular online. Dedo nervoso! Pesquisava no dr. Google freneticamente. Seria um dinossauro? Imagina! Período jurássico, há 150 milhões de  anos!  Um iguanodonte? Também não!  Coisas pré-históricas. Uma serpente assassina do fantasioso Lago Gladys? Uma mariposa preta, enorme, de olhos vermelhos, devoradora de humanóides?  (Lembra, Yuri? Pousou em você e no Serge quando ele contava a história de xamãs espanhóis e mexicanos)  Um peixe-lagarto  voador de três olhos, uma serpente púrpura de 15m, um macaco antropóide, um estegossauro ( imensa ave feroz) ou um fororacos, o grande cervo?  Negativo! Período pré-cambriano. Ambiente inóspito.  Quase sem vida. Drummond recitava uma pedra no meio do caminho. Lá no alto, são pedras sobre pedras e inúmeras formações rochosas moldadas pela água e pelos ventos.

De repente, eufórico, tremendo  de  frio, mas sorrindo e  dançando ao som de um  joropo venezuelano, Caramelus intelectus plenus se manifesta gritando.

-- Bingo! É um pterodactylus longirostris, um "dedo voador" que decola a 68km/h. Chega a 12m, 200kg e é da família dos pterossauros. Se alimenta de peixes, insetos e pequenos animais.  Fiquem tranquilos. Estamos salvos. Por enquanto. Sei como espantá-lo ou induzi-lo a voltar pra casa. É  monogâmico, romântico e apaixonado por uma loira de asa comprida.

Caramelo busca sua play list preferida.  Aumenta o som. Acha um ritmo colombiano na voz de uma mulher. Nada feito! A criatura curte Shakira, mas fica ali. Rondando. Mostrando dentes em forma de serra.  Caramelo tenta o balanço venezuelano ( caribenho/espanhol/africano). Esquece!  Que tal Almir Satter? Ptero ( intimidade é uma merda!) sobrevoa o acampamento do "hotel" Tauasan (?) balançando o esqueleto sem parar. Adora Chalana, Tocando em Frente e Romaria, aquela em parceria com Renato Teixeira. Mas insiste nos rasantes.  Pqp! A coisa tá feia!

--Achei a música que ele ama!  Agora ele vai embora de vez,  de raiva ou em busca da mulher amada. 

E o vira-lata lasca Roberto Carlos cantando sucessos inesquecíveis. Para nós! Outra vez, Lady Laura, Amigo, Como vai você, Cavalgada,  Amada Amante...e nada.

Aí a dra., "fã ardorosa" do Rei,  sugere a cartada final, uma linda música de corno,  de zona, como diria meu  amado irmão Moisés. "Que tal Evidências? Mas com Chitãozinho e Xororó".

 

Truco!  Casal maior na mão. Zape  e sete de copas. Ptero amolece, se derrete todo. Chora copiosamente. Faz lembrar o Passo das Lágrimas.  Com água.  Range os dentes, abana o rabinho (ou rabão?), pisca pro   carregador gozador Renato e bate asas sem dizer adeus. 





 

Pois é...tudo isso soaria como verdade inconteste se, antes da expedição ao surreal Monte Roraima, esse caipira aqui não tivesse lido O Mundo Perdido, fábula-romance de Arthur  Conan  Doyle,  criador de Sherlock Holmes  ( primeiro parágrafo transcrito acima está na contracapa do livro). 

Antes, pura  fantasia! Agora, um cenário tenebroso, quase sempre com brumas,  perfeito para sete dias de desafios e surpresas sequenciais. Sete dias para realizar um  sonho que chegou a estar bem distante. "Conquistar" oito das 10 montanhas mais altas do Brasil.  Nem o  ditador falastrão   nos segurou. Conseguimos! Graças a todos os envolvidos. Todos!

 



 


RIO TEK. ACAMPAMENTO BASE E TOPO 



Início  real da jornada triunfal aconteceu na comunidade indígena Paraitepuy, já 110km dentro da Venezuela.  Quinta-feira à tarde, 22 de fevereiro. Vegetação baixa, com raros capões de mato verde e poucas   árvores de no máximo porte médio. Além de córregos cristalinos.

Até o acampamento do Rio Tek foram cerca de 14km, com ganho de elevação  de apenas 300m,  em quatro horas.  Terreno plaino na maioria. Mas engana.  Não sofri muito! 

Quase ao anoitecer, banho frio,  de rio, e muito repelente pra encarar os vorazes  mosquitinhos puri-puri. Depois do  lauto jantar, é hora de  apreciar um mar de estrelas sem igual, sentar na cadeirinha especial,  jogar conversa fora,  mergulhar na barraca  e dormir o sono dos deuses.

No segundo dia a pernada começou logo cedo. Trilha serpenteia levemente por vegetação rasteira entremeada por árvores pequenas. Estamos nas franjas da Gran Sabana, espécie de cerrado brasileiro.

Ganho de elevação perto dos 850m em 10km até o acampamento base me quebrou. Mesmo com muita água natural. Sem purificador. Logo após o reconfortante banho de cachoeira,  sob sol a pino, numa subida íngreme, senti câimbras no músculo  posterior da coxa esquerda e dor no quadril. Precisei sentar nas pedras pelo menos três vezes. Ady, carregadora, cozinheira e guia auxiliar,  me acompanhou de perto. "Raddi, como esta su corazón. Todo bien?"..."Tudo bem. Gracias,  Ady. Só preciso respirar e relaxar um pouco".

 Abacaxi, descanso e almoço no Acampamento Militar me deram forças pra  sacudir a poeira da bota, chegar ao destino do dia e ler a placa de Parque Nacional Canaima. Ufa!!! As pernas pesaram. Mas  o coração recém-recauchutado  pela cirurgia ainda é valente. Muito valente!

O terceiro  dia prometia. Mais ou menos 10km de caminhada/escalaminhada, com ganho de elevação superior a 1000m até nosso "hotel" cinco estrelas.

Sobe, sobe e sobe... dois barrancos íngremes logo de cara. Na sequência, sempre em zig-zague de descanso ativo enganador,  um trepa-pedras interminável, cansativo ao extremo. Mas mando melhor do que no dia anterior. No místico  paredão de arenito,  rezo um Pai Nosso, agradeço a proteção divina  e peço força e permissão aos deuses para atingir o topo da montanha tida como uma das velhas do planeta Terra.  Cerca 1,8 bilhão de anos.

No terço final, perto do portal, apenas duas descidas curtas antes de galgar os  derradeiros degraus da glória eterna. Ali se separam os homens dos meninos. É hora de a onça  beber água. Mesmo com o Passo das Lágrimas seco devido à estiagem providencial da última semana.

Enfim, atingimos o teto do tepuy chamado  Monte Roraima (serras verdes), maior topo plaino do  mundo.  Bem-vindo ao planeta Marte. Tepuy tem formato de mesa. Emoção toma conta. Lágrimas de felicidade. Cumprimentos recíprocos.

 

Todos mandaram bem. Mas ainda andamos mais uns 3/4 km até o hotel Towasen. Pedras. Muitas pedras no caminho. Estou inteiro! Agora é só tomar banho ( vale "canequinha"  e depois lenço umedecido?)  gelado no lago e descansar após o jantar, com direito ao macarrão com carne moída do Renato, e emoldurado pela lua cheia atrás dos rochedos.




LA VENTANA, JACUZZIS E MAVERICK




Bora acordar, tomar café e conhecer aquele ambiente tão belo quanto estranho, inóspito, cheio de formações bizarras, fendas, cavernas, cachoeiras, mirantes e penhascos. Tartaruga voadora, catedral, carro,  hipopótamo, sapo, iguana, torres, guardião e tudo  mais que as intempéries do clima e a imaginação  forjarem ou permitirem. Começamos pelo penhasco, mas na famosa La Ventana a janela se fechou de repente. As nuvens viraram cortinas e as  melhores fotos foram pra casa do chapéu. 





Um platô não tão plaino






Mordomia pós-descida





Descendo o Passo.. só garoa




A janela não abriu. Esperei à toa



"Bonitão" na jacuzzi


Tá pesado, né Clarice? 



Elza no nosso "hotel" Towasen





Pontinhos: Flavio, Henrique e Clarice



O timaço nas Jacuzzis

Recepcionados pela lua cheia


Barracas vermelhas e tendas


Igreja abandonada


Rio Tek do primeiro banho




Pertinho do topo


Barraca Serge/Ady


Olha o barranco!




 Atravessando rio Kukenan



Em seguida, fomos conhecer as belas jacuzzis, onde tomamos banho e almoçamos, antes de o frio e a garoa fina nos castigarem. Mas, sob a lona/tenda improvisada,  nos divertimos com Serge, Flávio e Renato dançando sem parar. E meu amigo jura de pés juntos que não tomou qualquer chá de cogumelos gigantes. Nem de coca, como fizemos na Bolívia. 

Logo depois do "show", o tempo melhorou e fomos agraciados com a bênção da Pedra Maverick,  verdadeiro topo ( 2810m) do Roraima, em território venezuelano, detentor de 85%  da área. Homenagem ao carro da Ford, sucesso nos anos 1960. A Guiana detém 10% do monte e seu ponto mais alto chega a 2772m. Para o Brasil sobram apenas 5%,  onde está  o oitavo ponto mais elevado do País, com 2734m. Fotos feitas, inclusive com a bandeira do Corintians,  é hora de descer e voltar pro nosso aconchego sob marquises de pedra, tipo gruta rasa.



À noite, choveu e ventou muito, o que sacramentou de vez nossa desistência de andar 22km e fazer  Tríplice Fronteira, Catedral e El Fosso. Só  Caramelo, em excelente forma, toparia. Alternativa foi bem interessante. Tempo abriu e nos permitiu visitar o Abismo ( Prisão do Dragão), a Fenda, a Gruta dos Guacharos (aves barulhentas), a Caverna e o Vale dos Cristais. Valeu a pena perambular por muita água e  pedra sobre pedra por  aproximadamente 12km.


Nóis na Caverna



 


À noite, durante a conversa pós-jantar, uma mariposa marrom de olhos vermelhos apareceu. Colou na perna do  palmeirense Yuri e depois nas costas do Serge.

Calma, pessoal! Nada de enorme mariposa negra assassina, personagem do livro. Tampouco dinossauros carnívoros de 40m à espreita, atrás dos inúmeros maciços de pedra. Por isso, apenas interessantes lendas e histórias locais vividas e contadas pelo próprio Serge. Atenção,  respeito  e muitas risadas de um grupo sempre animado,  sensacional. Agora sim, de verdade,  com direito a reggaeton venezuelano,  Roberto Carlos e cia.

Lá em cima, além da mariposis yurianas campinis e dos guacharos,  vimos aranhas, escorpião, o sapinho preto endêmico e um quati  amarelado enorme, que mijou no saco de dormir e roubou o lanche dos alegres amigos cariocas. Só recusou o tomate. Pode isso, Arnaldo?




HORA DE DESCER E BRINDAR COM CERVEJA POLAR. GELADA!

 


A manhã de descida brotou sob frio,  garoa fina, neblina densa e dor nas minhas costas.  Felizmente, melhorou quando  o motor aqueceu. Porém, por meia hora o camarada Caramelo me acompanhou a cada passo, a cada subida ou descida de pedra mais arriscada. Parceirão!

Na boca do gol o tempo já clareou e o declive absurdo foi vencido com  muito cuidado. Passo das Lágrimas tinha pouquíssima água. Perdemos em charme e  beleza,  mas ganhamos  em coragem e segurança.

Num certo momento de descanso após uma raríssima subidona, já na floresta do entorno ( Gran Sabana e não Amazônica),  Serge liberou seus dois "cachorros". Estávamos felizes e motivados.

Caramelo olhou pra mim, mostrou os dentes e latiu grosso, abanando o rabo de tanta felicidade:" Mano, tô me sentindo livre  da guia. Machuca meu pescoço.  Sabe quando solta o cachorro da coleira e ele dispara feito doido? Que delícia, meu! Vamos acelerar e  chegar no acampamento base antes do estipulado --12h30-- pelo guia? Seu apelido vai ser Fila. Ok? Você é grandão! Ah, tira essa focinheira ridícula".

Latiu três vezes e ligou o turbo. Sem tanto peso nas mochilas, alcançamos o Renato e o Rick e só descansamos, todos juntos,  no Portal. Mais três latidos e  o vira-lata montanhês partiu até o paredão, onde encontramos a Ady com aquele mochilão nas costas. Pit stop serviu pra tomar água e agradecer aos deuses pela permissão e proteção à empreitada.

Só voltamos a esbarrar na forte Ady no finalzinho da trilha. Cumprimos a promessa e chegamos, sim,  às 12h15min. Inteiros.

Valentim, um carregador de 44 anos,  nos recebeu com melão e suco vermelho de...sei lá o quê. Descansamos. Almoçamos o  delicioso arroz fresco  da Ady, com feijoada e ovos fritos.  Pqp!   Adoro. Salivei. Comi demais...

Às 15h, partimos para superar mais  10km até o Rio Tek. Agora nossa referência era o lépido Valentim com aquele cesto indígena (guaiary?) cargueiro lotado até o teto. Orientado por Serge, ele nos esperou  para atravessar o rio Kukenan. Sem molhar os pés.  Não sem antes passarmos entre resquícios de um grande incêndio apagados pelos indígenas ainda na  segunda noite de expedição.  Triste e recorrente. Depois, fomos juntos até a travessia, também a seco, do  rio Tek e chegamos ao acampamento, destino do dia.

Cerveja gelada -- só não rolou aquela caipirinha porque faltou a 51 --, banho frio, puri-puri;  mais cerveja, coca-cola, jantar e mais emoção. De surpresa, o guia nos entregou cartinhas motivadoras de esposas, filhos, netos, irmãos, pais e amigos do peito. 

A do meu  pequeno Davi, completando 10 anos hoje, dia 8, me balançou. Vô babão virou chorão ao ler a mensagem inocente e ver o  desenho do Monte Roraima com o  Raddão subindo. Emocionante! Amo esse moleque! 




Carinho do neto Davi. Tem preço?


 




 ENFIM, A CAMINHO DA LINHA DE CHEGADA




Os últimos   quase 20 mil passos  de caminhada da  aventura histórica nos reservavam mais 14km de sobe-e-desce, agora deixando  os mistérios do Monte  Roraima pra trás. A cada olhar, já sobra  um doce rastro de saudade. Afinal, foram  quase 100km e ganho de elevação de  2800m em sete dias tão desafiadores quanto gratificantes.

Até a comunidade indígena de Paraitepuy foram três horas, com direito a um morrinho estafante no final. Valentim chegou bem antes. Como estávamos felizes pelo feito e  secos por umas cervejas, tudo ficou menos difícil. Fomos recebidos com abraços e brejas geladas e festejamos ao lado de pessoas inesquecíveis. Meros desconhecidos que chegaram no topo como colegas legais e voltaram como amigos leais. 


Logo após as cervejas, passamos por rígida (?) revista no posto policial da comunidade antes da liberação. Afinal, há punições severas para clientes e agências caso algum pequeno cristal esteja na mochila.


Hora de subir na Toyota 4x4, ganhar estrada ( John, o motorista, nos mostrou a região onde teriam sido gravadas cenas do filme Jurassic Park), almoçar na Comunidade São Francisco ( onde recebemos belas medalhas da Clube Native) e trocar de carro. Despedidas  na fronteira da pequena Santa Elena de Uairén com Pacaraima ( na divisa.  ambas com muitas famílias em estado de pobreza), embarque nas Spin, parada no folclórico  restaurante Quarto de Bode -- pqp! todos no celular --, para superar a estrada esburacada  e desembarcar  em Boa Vista - hostel Clube Native -- por volta das 20h.

Caracas! Portão fechado.  De novo. Assovio alto. Caramelo entende. Ligeiro, pula o portão como um...gato. Resolvido. Bora arrumar as malas de roupas sujas,  fedidas, tomar banho normal, de chuveiro,  e ir com o  prestativo Matheus  para o aeroporto --  bem simplinho, pra não dizer meio chinfrim -- e embarcar depois da meia noite. Valeu a pena!



     GRATIDÃO ETERNA 




Obrigado ao amigo-irmão Flávio, parceiro/guerreiro de todas as horas e todos os  cumes e travessias. Aos  agora casais amigos Yuri/Elza e Henrique/Clarice pelo companheirismo e alto astral incomparável  nesta árdua jornada. Sim, com muito prazer, vocês quatro também fazem parte da nossa história.



Gracias ao  excepcional guia Serge, sua esposa Ady e toda equipe de suporte ( Valentim, Renato, Ricky, Eli e Abner).  Uma  dedicação incrível.  Indígenas pemón/tauperang foram  perfeitos. Palmas também ao pessoal da agência Clube Native, de Boa Vista, pela atenção e logística quase impecável.

 

Obrigado especial a quem confiou na determinação, na resiliência e na superação de um  caipira italiano idoso( exceção ao Flávio, todos os outros 11 componentes da expedição têm idade pra ser meus filhos), teimoso,  que no dia 2 de agosto de 2023 passou por  delicada cirurgia cardíaca pra colocação de uma ponte mamária. Gratidão eterna ao dr. Raphael Barreto e equipe da Prevent Senior.

Agradeço também a quem subestimou e duvidou de um trator "velho", motor 6.8, pai de quatro filhos e avô de oito netos,  que bateu no peito  antes e depois da operação e disse alto e bom som: "Eu vou subir o Monte Roraima". Papai do Céu me acompanhou. E eu consegui. Graças a Deus! E a todos vocês.

Obrigado, senhor!



 


TOME UM VINHO POR MIM



A montanha


Aqui eu me sinto

Nos braços da paz 


 Se eu não voltar um dia

Por favor, simplesmente sorria!


Nada de lágrimas!
Fui porque Ele (ela) quis

 
Tome um vinho por mim 
Fui embora feliz... 




Ah, alguém  vai  ter de levar minhas cinzas e jogar num morro qualquer, por favor.  Altitude mínima de 2700m...rsrs..Agora só faltam dois: Neblina e 31 de Março pro top 10.





Barraca verde:"Relaxa, Yuri, ninguém  tá vendo"







Yuri e Elza, sob o testemunho do por do sol




Fila caipira pede proteção para subir


Na descida, só nos resta agradecer



Força, Roberta! Falta pouco

Sócrates, in memorian


Mais uma vitória ao lado do amigo



Nuvens fechando a  Janela, com Roberta Sorriso lá longe






Amigos no cume, a 2810m. Nada de conquista (sem aspas). A montanha simplesmente nos recebeu com um forte e respeitoso abraço


Casal campineiro no Abismo







Na fronteira


Raddão chegando ao topo. De braços abertos para o doce abraço da montanha. Sim, meu coração foi valente.






Fila caipira alvinegro





Caramelo montanhês




 





 







16 comentários:

  1. Raddi!!! Sensacional!!! Obrigada por tudo!! Vc passou a ser meu Benchmark!!! Mas devo fazer uma observação sobre o banho no primeiro dia no cume... teve gente que tomou um banho tcheco né?!! Kkk

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  2. Expedição pra ficar na história!

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  3. Parabéns Raddi e a todos os participantes. Fiquei aqui na vontade de estar em cada degrau desta subida, desta conquista. Muito legal, muito prazeroso e saudável de+.....

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  4. Parabéns Raddi, que maravilhoso relembrar com a sua experiência o que foi viver o Monte Roraima. Pude sentir cada palavra e sentimento colocado neste texto.
    Foi a incrível poder compartilhar frações de momentos com vc e seu grupo, obrigada!!
    Siga sempre em frente, e espero que jamais vc “fique”
    E sim que seja levado…
    “Com relação a morar pra sempre na montanha.
    Grande abraço e saiba, um dia conquistarei os maiores cumes do Brasil e quem sabe a fora, mas quero que saiba que vc é o caramelo foram minhas inspirações.✌🏽😘

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  5. Grande Roberta, triatleta de Sorriso...muito grato pelas palavras..parabéns p pra vc tb.

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  6. Meu Deuuus...que legal valeu a pena esperar professor Everest. Fotos e relatos incríveis, parabéns à todos, em especial a você guerreiro pela fantástica recuperação. Lindona a tatuagem na panturrilha.

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  7. Uau!!! Professor Everest??? Kkk... Em nome de tds, obrigado pelas palavras

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  8. Outra vez por aqui professor Everest, para comentar que ontem dia 16 de março foi o Dia do Cavalo, enquanto você segue escalando suas montanhas, eu sigo na cavalgada!!!!!!!

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  9. É isso aí! Cada um na sua praia, campo ou montanha. Também gosto de cavalo

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  10. Grande Radii, obrigada pela postagem incrível, sua jornada aqui foi muito emocionante para nós, continuaremos te acompanhando por aqui :) Grande abraço!

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  11. Valeu por td. Sou muito grato a vcs do time Native

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