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quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Ronan resiste, compartilha ou larga de vez o Ramalhão?

 

DANIEL LIMA - 5/11/2012

Há três alternativas excludentes a projetar o futuro do futebol de Santo André, durante quatro décadas sob a responsabilidade do Esporte Clube Santo André e há cinco anos cravejado de derrotas sob a denominação de Saged (Santo André Gestão Empresarial e Desportiva). Desde 2007, quando de fato e de direito migrou do modelo socioesportivo para o esquadrinhamento supostamente empresarial, o Ramalhão caiu pelas tabelas. São seis rebaixamentos em 12 campeonatos disputados, situação que colocou a agremiação na Série B do Campeonato Paulista (safou-se da Série C na última rodada este ano) e na Série D do Campeonato Brasileiro (à qual foi rebaixada dentro de campo já no ano passado, mas foi salva pelo tapetão).

Diante do estado de insolvência institucional, técnica, estrutural, financeira e econômica, parece não haver mesmo no horizonte de curto prazo quem seja capaz de sustentar algo minimamente confortável. A disputa da Série B Paulista no começo do ano que está chegando ganha a forma de ameaça, porque o elenco foi praticamente desfeito após a queda à Série D do Brasileiro, há 15 dias. Um time reverenciado até pouco tempo atrás como símbolo de competência nas páginas do Diário do Grande ABC, jornal de propriedade de Ronan Maria Pinto, mandachuva do Saged, foi completamente aniquilado na última semana. Sobraram poucos jogadores. E mesmo assim a maioria de qualidade duvidosa.

O que vai acontecer com o futebol de Santo André nos próximos tempos? Traçamos três cenários diferentes com base não apenas nas circunstâncias mas também em fatores históricos:

1. Ronan Maria Pinto segue dirigindo o Saged de forma autocrática e devastadora, na tentativa de provar o improvável: que entende de futebol e de gestão esportiva.

2. Ronan Maria Pinto cede parte do controle do Saged a indicados do prefeito petista Carlos Grana, em troca de suporte publicitário da Administração Pública e do governo federal petista à publicação que dirige e também de patrocínios à equipe.

3. Ronan Maria Pinto sente-se completamente isolado e devolve o ex-Ramalhão à direção do Esporte Clube Santo André.

Destrinchando as alternativas

O detalhamento dessas possibilidades é mais que necessário para compreender o que se avizinha a uma agremiação que terá enormes dificuldades para recompor-se entre as forças de médio porte do futebol brasileiro. Uma agremiação que chegou ao estágio mais desolador em quase meio século de existência, sempre considerando como parte integrante da história os cinco tenebrosos anos sob a administração do Saged.

Primeira alternativa – Ronan Maria Pinto segue dirigindo o futebol da cidade. A experiência desanimadora de cinco anos de autocracia, de dívidas estratosféricas, de desmonte da estrutura de formação de jogadores deixada pelo Esporte Clube Santo André quando da transposição do modelo socioesportivo para o empresarial, tudo isso parece não ter impressionado o dirigente. Ronan Maria Pinto estaria decidido a não entregar a rapadura nem mesmo ante o estouro de novo escândalo a envolvê-lo, conforme denúncia da revista Veja. A possibilidade de enormes contratempos que um dos principais operadores do mensalão, o publicitário Marcos Valério de Souza, lhe imporia, colocou Ronan Maria Pinto na defensiva, mas não a ponto de levá-lo a jogar a toalha esportivamente. Ronan Maria Pinto é denunciado por Marcos Valério no Ministério Público Federal por suposta chantagem ao então presidente Lula da Silva e ao então ministro Gilberto Carvalho por irregularidades na gestão de Celso Daniel na Prefeitura de Santo André. Há tempestade à vista. A oposição mobiliza-se para levar adiante investigações lastreadas no depoimento de Marcos Valério.

Segunda alternativa – Não está descartada a possibilidade de, mesmo sob o fogo cruzado de Marcos Valério, Ronan Maria Pinto continuar a comandar o Saged, agora com a companhia de representantes do PT da Província do Grande ABC. Haveria interesse da direção do São Bernardo Futebol Clube, especialmente do presidente Luiz Fernando Teixeira, em estender o domínio do futebol vinculado ao partido também a Santo André. O São Bernardo Futebol Clube tem estreitas ligações com o prefeito Luiz Marinho. Haveria uma aproximação com o prefeito eleito Carlos Grana. A perspectiva de que Ronan Maria Pinto poderia, como Edinho Montemor, em São Bernardo, virar presidente de honra, acabou abalada mas não afastada. O problema todo gira em torno não só das denúncias de Marcos Valério, mas também das dívidas do Saged, cujos valores são mantidos a sete chaves. Haveria viabilidade de criar-se nova empresa para acomodar os dirigentes do São Bernardo. Ronan Maria Pinto sairia de cena oficialmente, mas teria voz ativa nos bastidores.

Terceira alternativa – Ronan Maria Pinto estaria encalacrado de tal forma que não lhe restaria saída imediata senão acertar a toque de caixa a devolução do futebol ao Esporte Clube Santo André. Sabe-se que há resistência do clube que por 40 anos administrou o futebol com relativo sucesso. O que se pretende entregar é uma agremiação devastada tecnicamente, sem lastro econômico e financeiro, desmanchada na organização de divisões de base e com a imagem institucional completamente arrasada. Provavelmente só haveria um encontro de águas se a Administração Pública der total suporte ao futebol. Como nos tempos do prefeito Celso Daniel. E que Ronan Maria Pinto, de alguma forma sustentavelmente legal, assumisse todo o passivo do Saged. Um passivo que deixa brechas enormes a complicações para o Esporte Clube Santo André, porque oficialmente é o clube que representa o futebol da cidade nas instâncias esportivas e, em última instância, também nas áreas previdenciárias e trabalhistas. Sabe-se que passa de R$ 2,5 milhões o buraco atual de obrigações financeiros que o Saged está transferindo para o Esporte Clube Santo André em forma de impostos atrasados e sentenças trabalhistas e previdenciárias. Mas outras ações estão a caminho. O buraco pode multiplicar-se porque tem o formato de saco sem fundos.

É a terceira alternativa?

Se tivesse de apostar alguma coisa numa das alternativas, ficaria com a terceira. E mesmo assim com enormes dificuldades de consumação. Tudo vai depender da disposição do presidente do Esporte Clube Santo André, Celso Luiz de Almeida, e do ex-presidente Jairo Livolis, apeados do Saged por decisão de Ronan Maria Pinto. O afastamento dos dois dirigentes, em setembro de 2007, deixou um rastro de mágoa que o tempo pode ter apagado ou reduzido, mas provavelmente lhes ensinou uma lição que Ronan Maria Pinto subestimou: o voluntarismo com que o Esporte Clube Santo André foi conduzido ao longo dos anos não cabe mais no figurino do futebol destes tempos e não poderia ser reproduzido nem mesmo em situação emergencial. Tanto Jairo Livolis quanto Celso Luiz de Almeida dominavam essa percepção naquele 2007. Principalmente Jairo Livolis, autor intelectual da terceirização do futebol do Ramalhão. Tudo bem esquematizado. Só esqueceu de combinar com Ronan Maria Pinto.

Qualquer outra vertente que venha a se configurar resolutiva para o futebol do Esporte Clube Santo André derivará desses cenários. Não há outra estrada a percorrer. Transferir o futebol de Santo André a um grupo de investidores é utopia após o desastre do Saged. Dúvidas sobre o passivo financeiro impediriam avanços nas negociações. Sem contar que as seguidas quedas da equipe na hierarquia estadual e, principalmente, nacional, são uma ducha de água fria para quem vê futebol muito além das quatro linhas.

O Saged deste final de 2012 encurtou o horizonte já dúbio que o Esporte Clube Santo André reconhecia naquele começo de 2007, quando Jairo Livolis levou adiante a proposta de adotar modelo empresarial. Os acionistas do Saged não formaram um braço de suporte diretivo em vários departamentos porque Ronan Maria Pinto jamais levou a sério algo que aproximasse minimamente o futebol de métodos administrativos modernos. Restaurar a credibilidade do futebol de Santo André é uma tarefa árdua e demorada. Dentro e fora de campo. O prefeito eleito Carlos Grana sabe que seu prestígio está em jogo. Se não conseguir organizar e amarrar um pacote de soluções, tomará o lugar do antecessor Aidan Ravin, transformado em bode expiatório de uma derrocada que tem apenas um responsável – o homem agora sob a mira de Marcos Valério e do Ministério Público.

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