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terça-feira, 3 de dezembro de 2013

O adeus de mais dois gênios da bola

Desse jeito, o time do céu vai ficar imbatível. Mais dois craques se vão. A bola está órfã. Assim é a vida. Um dia Pelé também dirá adeus.

Numa semana se vai Nilton Santos, a Enciclopédia do Futebol. Na outra, Pedro Rocha, um maestro. Ou, como diziam na década de 70, dom Pedrito ou o imperador dom Pedro III.

Pouco posso falar de Nilton Santos. Sei que era difícil, carimbada, nos álbuns da época. Quando foi bicampeão do mundo no Chile, em 62, eu tinha apenas sete anos. Como parou em 64, o vi muito pouco, pela TV (preto e branco, lógico), com a camisa do grande Botafogo.

A Seleção de 62 tinha Gilmar, Djalma Santos, Zito, Didi, Garrincha, Vavá, Zagalo, Pelé e cia. O Botafogo tinha Manga, Garrincha, Didi, Quarentinha, Zagalo, Amarildo e outras feras.

Ouvi muito sobre Nilton Santos porque ele era um dos ídolos do meu pai, também lateral-esquerdo e depois quarto-zagueiro. Seu Valério o colocava no mesmo  patamar de Garrincha, Didi, Djalma Santos, Leônidas, Zizinho,  Domingos da Guia e Luisinho, o Pequeno Polegar, ídolo do Corinthians.

Sempre de cabeça erguida, desfilava em campo. Exemplar raro de técnica e elegância no domínio e na condução da bola, raramente precisava pôr a bunda no chão. O contraponto daqueles laterais botinudos, valentões, limitados a marcar com porradas e carrinhos desnecessários. Naquela época, lateral era para colar no ponta. E fim de papo.

Porém, Nilton Santos -- que um dia sugeriu a contratação de Garrincha ao levar um baile do menino-gênio de pernas tortas -- não só marcava com categoria como ousava atacar, contradizendo a lógica e as ordens expressas dos treinadores de outrora.

Um homem simples, sem vaidades, de muitos amigos. Um craque de quatro  Copas do Mundo. Um craque do mundo. Agora um craque divino.

Tanto quanto o uruguaio Pedro Virgilio Rocha, considerado por Pelé um dos cinco maiores jogadores de futebol do mundo. Pedro Rocha também disputou quatro Mundiais. Não ganhou pela seleção uruguaia, mas pelo Penharol foi bicampeão mundial interclubes, tri da Libertadores e octa nacional.

Em 70, após a Copa do México, veio para o São Paulo, que não ganhava título há 13 anos. Dedicou-se mais à construção do Morumbi e permitiu que a hegemonia ficasse com o Santos de Pelé e o Palmeiras de Ademir da Guia, outro expoente da época.

Pelo Tricolor, dom Pedrito foi duas vezes campeão estadual e uma brasileiro, em 77. Encerrou carreira no Coritiba, como campeão. No São Paulo, formou um dos meio-campo mais  completos e eficientes que eu já vi, ao vivo.

Edson Cegonha ( pelas pernas longas), ex-lateral-esquerdo do Corinthians, e Gérson, ex-armador do Botafogo e da Seleção Brasileira,  completavam um trio de ouro num esquema que já alternava 4-2-4 com 4-3-3. Edson  marcava como poucos; Gérson ajudava na marcação, lançava e armava.

Pedro Rocha  cercava, armava, lançava, criava, penetrava e concluía com a competência de grandes. Fazia gol -- mais de 100 -- de tudo quanto era jeito. De falta, de fora da área, de dentro, de cabeça. Quase sempre com a classe dos geniais.

Pedro Rocha desfilava a sobriedade e a elegância de Ademir da Guia, com as passadas largas do Divino. Só que sempre foi bem mais meia goleador do que meia armador. El Verdugo (  o carrasco) foi sensacional.

Pode ser comparado ao Roberto Rivelino da década de 70 e a Zidane, o craque francês que nos humilhou na Copa de 98. Quer saber, pra mim, foi mais completo do que ambos.

Um artista operário inesquecível para uruguaios e brasileiros. Tanto quanto para são-paulinos, corintianos, palmeirenses e santistas. Torcedores do Penharol o idolatram até hoje.

Ouso dizer, sem menosprezo, que no São Paulo de hoje Pedro jogaria com uma perna só. Jadson e Ganso, que são bons e já vestiram a amarelinha, não jogam metade do que jogou Pedro Rocha.

Esse sim era craque. Por isso o time celeste transborda de felicidade. Os torcedores e fãs de deuses da bola já sentem saudade.

    

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