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domingo, 17 de outubro de 2010

Victor e Júlia, novas paixões

Quase oito da manhã. Com cara de sete, lógico, no horário de verão. Ruas desertas e um friozinho agradável. Na caminhada de casa -- junto à matriz -- ao hospital Brasil, um pensamento insiste em martelar.

-- Cara, estou ficando velho. Olha só... 55 anos, quatro filhos. O Fábio Vinícius já tem 32, a Maira, 31, o Felipe Augusto tem 27 e o Fernando, 25, bem próximo de 26. Há também o Victor, meu neto, minha nova paixão, com apenas três anos e meio-- penso.

Pois é... o tempo passa rápido demais. Por isso é preciso viver. E bem. Chego ao hospital e subo direto para o berçário. Minha filha já está no centro cirúrgico.

Me acomodo num sofá da confortável sala de espera. Pelo vidro, observo cerca de 20 berços e uma movimentação intensa, orquestrada. Não, no berçário não existe maestro. Os anjos seguem os sinais de Deus. A regência é divina. Só pode ser! Que maravilha!

Dez berços estão ocupados. Não há instrumentos de corda ou de sopro. Ainda falta um músico, ou uma criança, para completar o time-orquestra.

Perninhas que sobem e descem, abrem e fecham de forma desconessa. Talvez futuros jogadores de futebol. Pés grandes não lhes faltam. Miguel, Nícolas, Júlio César, Artur.

Os bracinhos das ferinhas também não param. Vicentina, Nicole, Carol, Lara, Gabriela, Mariana... Será que alguém vai jogar vôlei? Ou basquete? Nem precisa, basta que sejam saudáveis e pessoas decentes, do bem.

Caras e bocas se multiplicam. Choros deduzidos, bocas abertas de sono, dedos na boca a sugar o leite imaginário, olhos abertos, olhos fechados. O que será que se passa naquelas cabecinhas carecas ou cabeludas, de apenas um ou dois dias?

-- Nossa, acabei de sair. É melhor eu ficar de olho fechado. Vou fingir que não é comigo. Vão pensar que estou dormindo.Lá dentro estava tão quentinho! Ninguém me perturbava. Lá não havia agitação. Acho que aqui fora eu vou passar apertado. Comer, dormir, estudar, trabalhar, namorar, esconder da chuva e dos bandidos. Meu Deus! Chi, acho que quero voltar! Mãe,por favor, me esconde! Eu vou chorar! -- devem pensar nossos anjinhos -- por enquanto, já que crescem.

Afinal, o que sonham as crianças que daqui a 25 anos serão o nosso presente, nossos cidadãos? Será que em 2035 nossos políticos ainda serão tão corruptos, canalhas, sínicos, mentirosos e egoistas? Será que em 2035 tantas crianças ainda morrerão de fome, de frio, de doenças como a AIDS?

De repente, ouço um choro forte. Olho para dentro do berçário mas o gestual e a leitura labial não me permitem concluir. A orquestra não para. Emocionante, mesmo sem som.

-- É lá no centro cirúrgico, senhor! O choro é da sua neta. Júlia, né? -- alerta e pergunta Camila, a "recepcionista".

-- Isso, Júlia Raddi Renaldim, a irmã do Victor.

De pé, com lágrimas nos olhos, vou mais perto do corredor e ouço. Sim, o choro é de mais uma Raddi. Pura intuição. Nada mais!

Em poucos minutos, chega a princesinha, o time do berçário está completo. Pelo choro, está mais pra soprano. Faltavam os gestos da minha Júlia, os sonhos da pequenina Júlia. As caras-e-bocas da minha nova paixão.

Obrigado Maira!Que você e o Danilo sejam para Victor e Júlia muito mais do que eu consegui ser para meus quatro filhos. Sei que fiquei a dever. Uma dívida impagável. Nunca é tarde para pedir perdão e repetir que meu amor por todos será eterno.Passou!

Mil beijos de um vô coruja e babão. E chorão.

-- Vô Raddi...

A vozinha suave, os olhinhos brilhando, a inocência pairando no ar. A cada palavra, a cada choro, a cada bico, a cada gesto. Modéstia à parte, não tem preço.

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