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quinta-feira, 19 de maio de 2011

Esporte, muito além do vôlei (II)

Finalmente, o prefeito Aidan Ravin vem a público, por meio do Diario do Grande ABC, e tenta esclarecer a situação do vôlei masculino de Santo André. Frases do prefeito:

"Para você ter um time competitivo de vôlei, tem de ser um investimento grande. A Prefeitura não tem como assumir um investimento desse. Temos de investir em times de base, não no profissional, porque o dinheiro é pesado".

"Por enquanto continua. Não tem como competir com outros estados que firmaram parcerias com multinacionais. Se não achar patrocinador, temos como arcar somente com time mais simples".

"Não posso empenhar uma verba de R$ 2 milhões se eu só tenho R$ 200 mil".

Frases do supersecretário Nilson Bonome na audiência pública de segunda-feira na Câmara Municipal, quando o diretor de Esportes, Almir Padalino, tentava, sem sucesso, justificar a anunciada extinção do vôlei:

"Vamos esquecer o passado e nos preocupar com o presente. Não adianta ficar culpando as pessoas que por aqui passaram. É preciso resolver o problema".

"O time terá a mesma verba da última temporada. Mesmo sem apoio da iniciativa privada ( e a Spread?), a Prefeitura vai bancar esta despesa. Mas o vôlei não irá acabar".

Aparentemente, prefeitão e braço-direito entram em rota de colizão. Tanto que a manchete de página do DGABC estampa: Aidan não fala a mesma língua de Bonome e defende Padalino.

Isso não importa! O que realmente interessa é quem defenda o esporte em vez de ignorá-lo ou considerá-lo de segunda linha.

Aidan não fala em extinção; fala em redução de investimento público, em time ainda mais limitado. Não está totalmente errado quando alega que o investimento tem de ser grande. Mas isso não é novidade pra ninguém. Alguém disse que precisamos disputar títulos?

Prefeito cita investimento na base, mas peca quando sugere o fim do vôlei "profissional". O vôlei é caro, sim senhor! Não dá para o Poder Público bancar sozinho. Sem parceria privada, esquece! Apenas um time meia-boca. Mas ao menos um time que represente a cidade com dignidade.

Um vôlei de ponta, pra ser campeão ou vice da Superliga ou do Campeonato Paulista, não custa menos que R$ 2 milhões por ano.

Valor praticamente equivale à verba total do Departamento de Esportes de Santo André nos últimos anos. Orçamento pífio, por sinal, já que fica bem próximo de insignificante 0,1% do total de um município de 680 mil habitantes e tido como um dos mais importantes do País.

A chiadeira está focada no vôlei, mas a indignação deve ser pelo descaso com o esporte como um todo. Mesmo que prioridades devam ser respeitadas, o descaso dos homens públicos com o esporte vem de longa data.

Ninguém está aqui para exigir que o prefeito tire da saúde, da educação, da segurança, da inclusão social, da habitação, ou do próprio bolso, para por no esporte, que, por sinal, é ferramenta de todos os segmentos citados.

Porém, daí a encarar o esporte como prioridade "85" vai uma distância lunática. Poderes executivo e legislativo brincam com coisa séria; ignoram a importância do esporte.

Difícil acreditar que na discussão da peça orçamentária nenhuma voz se levante para exigir mais investimento e mais respeito ao esporte e ao lazer em todas as suas valências.

Incrível, mas parece que ninguém do alto escalão ou do baixo clero andreense fica indignado com o tratamento dedicado (?) a um esporte que já nos deu tantas glórias. A maioria dos homens públicos só sabe reclamar e priorizar apenas o que lhes interessa.

Duvido que um dia o prefeitão tenha dado a cara a tapa para tentar um patrocínio mais interessante. Semasa não vale! É autarquia municipal. Poderia pelo menos usar sua influência e se empenhar. Tem peso! Será que tem peito?

Duvido que o sempre ausente secretário de Cultura, Esporte, Lazer e Turismo tenha movido uma palha para ajudar seu diretor de Esportes a alavancar parcerias mais consistentes.

É mais fácil jogá-lo na arena, como segunda-feira na Câmara Municipal, para dar explicações sobre a anunciada extinção do vôlei.

Câmara Municipal também não faz nada. Lei de incentivo ao esporte -- com isenção fiscal -- parece um bicho-de-sete-cabeças. É mais fácil legislar em causa própria ou para beneficiar amigos.

No alto rendimento, a exceção andreense é o basquete feminino, campeão nacional e prestes a conquistar o título estadual. O investimento do Semasa é pequeno, mas ajuda muito.

Laís, Arilza e cia, inclusive familiares de atletas, fazem das tripas coração para bancar escolinhas, base e competitivo. O masculino, tão caro quanto o vôlei, está fora das principais competições.

O handebol também não tem patrocínio e por pouco não ficou novamente fora da Liga Nacional. Até as jogadoras se mobilizaram para arrumar transporte e disputar a competição.

A natação, obviamente, não nada de braçadas.Quando revela e lapida verdadeiras pedras preciosas, as perde para vizinhos ricos como São Caetano e São Bernardo. O mesmo acontece com o judô. Laís, Audrey, Piazza, Gil e cia fazem milagre há muito tempo. Assim como o Madeira cansou de fazer com o vôlei.

E aí o prefeito fala em investimento na base! Primeiro que fala mas faz pouco. Mostre os números reais, caro prefeito! Como seus antecessores, investe o mínimo na base, nos eventos, na educação física e no lazer. Salvo raríssimas exceções, não somos campeões de nada nas categorias de formação.

Sem investimento, pessoas certas e trabalho sério, com política pública a longo prazo, nada feito. Só conversa fiada para justificar falta de sensibilidade e respeito com as coisas do esporte.

Repito, pela enésima vez: é preciso ter mais ação, dedicação, comprometimento. Não adianta viver do brilhante passado pirelliano. A não ser que alguém tire da cartola uma grande empresa disposta a bancar 80% do alto rendimento. Aí voltaremos a ganhar tudo.

Hoje, é necessário pensar com grandeza e responsabilidade social; fazer esporte para o cidadão. A cadeia completa, mas com apenas quatro ou cinco modalidades escolhidas a dedo. Exatamente o quê o vôlei não tem há muito tempo. Há mais de uma década, dormimos no falso berço esplêndido do comodismo.

Pouco revelamos e pouco trabalhamos a iniciação. Não valorizamos nossas promessas, não encaminhamos nem cativamos nossos raros meninos de ouro para ficar e representar a cidade com o orgulho de antigamente.

Não damos o devido valor às crianças e aos importantíssimos Jogos Escolares, celeiros naturais de adolescentes sedentos por ao menos uma oportunidade de ser alguém.

Falar em falta de grana é fácil. Não vai cair do céu. Nem em forma de mensalão. Duro é convencer por que não se investe mais no esporte. Duro é engolir que se tira do esporte enquanto inserção e ascensão social mas se promovem os Jogos Regionais -- R$ 220 mil do Estado e R$ 120 do município.

Pois é... O prefeito reclama que não tem dinheiro pra bancar um time mediano, razoável, mas aceita substituir a rica São Caetano na organização dos Regionais, em julho.

Substituir não é bem o termo, já que vai dividir o evento com São Caetano e São Bernardo. Tá na cara que é uma jogada política para agradar o governador Geraldo Alckmin. Evento terá significado quase zero para a população. Mas, politicamente...

Outro detalhe que deve ter colaborado para reduzir o investimento é a reforma do Estádio Bruno Daniel. Está certo que é para o futebol, mas com sacrifício do próprio esporte?

Tomara que o momento delicado sirva para reflexão. Que Aidan use a inteligência, seja justo e olhe o esporte com mais carinho. Que tenha a grandeza de respeitar a história e a importância do esporte. Se quiser ser respeitado pelos homens do esporte.

Que Aidan tome decisões corretas, independentemente de palavras conflitantes de secretários e diretores de plantão. Que se limite a defender e olhar o esporte como direito legítimo do cidadão.

Ninguém clama por investimentos de campeões e conquistas históricas; apenas respeito, consideração.

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