Conversa de homem. Quer dizer, de um avô cinquentão com o neto de apenas quatro anos.
-- Vô Raddi, minha mãe mandô te dá um abraço bem forte quando você me pegá aqui na minha escola.
-- Então, tá esperando o quê, já tamu no carro.
-- Então tá! Da aí um abraço de amigão do peito!
Abraço dado, nó na garganta e lágrima inevitável. Também indisfarçável.
Esperto, ligeiro, Victor percebe e não perde tempo.
-- Vô Raddi, cê tá chorano? Por que?
-- Tô! É saudade. Tô triste por causa do vô, do bisavô Valério.
-- Ele foi embora, lá pro céu, né vô?
-- Pois é, Vitão, foi!
-- Do que ele subiu pro céu?
Silêncio. Silêncio de um vô que não sabe o quê responder.
Dois ou três segundos depois...
-- Não sei! Só sei que papai do céu chamou. Chegou a hora e o bisavô Valério foi. Nem teimou. Foi sereno. Mas foi melhor assim. Ele não sofreu. Só não sei se ele foi de avião ou outra coisa.
-- Eu sei! Foi de para-queda.
-- Não, meu, para-quedas não dá!
-- Então foi de balão!
-- Pode ser. Pode ser.
-- Vô, não chora não. Não fica triste. Agora ele virô estrelinha, como o bisavô Mário.
-- É mesmo?
-- É sim! Olha... Agora ele vai virá um ovo.
-- Um ovo?
-- É! Presta atenção, vô Raddi! Depois que ele vira ovo, ele pula de para-queda e volta pra cá, pra terra.
-- Nossa, que legal!
-- Fica tudo normal. E nois vamu lá na chácara pescá tilapinha, né?
-- Tilapinha?
-- É! Tilapinha, tilapona, que nem o vô Valério. Até traíra, bem grandona, que nem o vô Valério.
-- Muito legal! Então, vamu esperá.
-- Tá bom!
Três/quatro minutos depois, no caminho da casa da Maira, a ferinha volta a fazer pergunta "fácil".
-- Vô Raddi, ainda bem que nois paramu na fera, comemu pastel e tomamu caldo de cana. Daí você esqueceu e parou de chorá, né?
-- É! Verdade!
-- Vô, você tamém vai virá estrelinha?
-- Vou. Mas quero demorá. Quero vê você crescê.
-- Mas eu não quero que você vire estrelinha, nunca. Tá bom?
De novo, silêncio e lágrima. Frutos de uma inocência comovente.
Obrigado, meu neto! Obrigado meus filhos! Obrigado meu pai! Por tudo.
P.S.: dias depois, no complemento da "conversa de homem", Victor encontrou a solução para que eu não vire estrelinha, nunca: "Vô Raddi, já sei. Vou fechar o céu". Estamos recrutando pedreiros e serventes para levantar "um muro enorme". E vamos terminar antes de sair o estádio do meu Corinthians. Alguém duvida?
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