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quarta-feira, 11 de maio de 2011

Inocência comovente

Conversa de homem. Quer dizer, de um avô cinquentão com o neto de apenas quatro anos.

-- Vô Raddi, minha mãe mandô te dá um abraço bem forte quando você me pegá aqui na minha escola.

-- Então, tá esperando o quê, já tamu no carro.

-- Então tá! Da aí um abraço de amigão do peito!

Abraço dado, nó na garganta e lágrima inevitável. Também indisfarçável.

Esperto, ligeiro, Victor percebe e não perde tempo.

-- Vô Raddi, cê tá chorano? Por que?

-- Tô! É saudade. Tô triste por causa do vô, do bisavô Valério.

-- Ele foi embora, lá pro céu, né vô?

-- Pois é, Vitão, foi!

-- Do que ele subiu pro céu?

Silêncio. Silêncio de um vô que não sabe o quê responder.

Dois ou três segundos depois...

-- Não sei! Só sei que papai do céu chamou. Chegou a hora e o bisavô Valério foi. Nem teimou. Foi sereno. Mas foi melhor assim. Ele não sofreu. Só não sei se ele foi de avião ou outra coisa.

-- Eu sei! Foi de para-queda.

-- Não, meu, para-quedas não dá!

-- Então foi de balão!

-- Pode ser. Pode ser.

-- Vô, não chora não. Não fica triste. Agora ele virô estrelinha, como o bisavô Mário.

-- É mesmo?

-- É sim! Olha... Agora ele vai virá um ovo.

-- Um ovo?

-- É! Presta atenção, vô Raddi! Depois que ele vira ovo, ele pula de para-queda e volta pra cá, pra terra.

-- Nossa, que legal!

-- Fica tudo normal. E nois vamu lá na chácara pescá tilapinha, né?

-- Tilapinha?

-- É! Tilapinha, tilapona, que nem o vô Valério. Até traíra, bem grandona, que nem o vô Valério.

-- Muito legal! Então, vamu esperá.

-- Tá bom!

Três/quatro minutos depois, no caminho da casa da Maira, a ferinha volta a fazer pergunta "fácil".

-- Vô Raddi, ainda bem que nois paramu na fera, comemu pastel e tomamu caldo de cana. Daí você esqueceu e parou de chorá, né?

-- É! Verdade!

-- Vô, você tamém vai virá estrelinha?

-- Vou. Mas quero demorá. Quero vê você crescê.

-- Mas eu não quero que você vire estrelinha, nunca. Tá bom?

De novo, silêncio e lágrima. Frutos de uma inocência comovente.

Obrigado, meu neto! Obrigado meus filhos! Obrigado meu pai! Por tudo.



P.S.: dias depois, no complemento da "conversa de homem", Victor encontrou a solução para que eu não vire estrelinha, nunca: "Vô Raddi, já sei. Vou fechar o céu". Estamos recrutando pedreiros e serventes para levantar "um muro enorme". E vamos terminar antes de sair o estádio do meu Corinthians. Alguém duvida?

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