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quinta-feira, 19 de junho de 2014

Neymar, a andorinha solitária

Como  único país pentacampeão mundial, o futebol brasileiro quer porque quer o hexa. Diante da torcida, sob pressão, seria o máximo.

Porém,  soa como missão das mais difíceis. Dependemos cada vez mais do desempenho diferenciado de Neymar. Como uma andorinha só não faz verão...

Nas conquistas anteriores, quase sempre a Seleção Brasileira teve pelo menos três/quatro grandes jogadores, craques mesmo, daqueles que chamam a responsabilidade e desequilibram na hora do pega-prá-capar.

Todo mundo enaltece a importância inquestionável de Pelé, o maior jogador de todos os tempos e três vezes campeão do mundo. Porém, o negão nunca jogou sozinho. Tanto no Santos quanto na Seleção, tinha companheiros de primeira linha.

Em 58, na Suécia, o Rei campeão tinha a companhia, entre outros, de Nilton Santos, Zito, Didi e Garrincha. Em 62, no Chile,  Pelé se machucou no início da Copa, mas o Brasil foi bi com os mesmos protagonistas da primeira conquista.

Em 66, mesmo com Pelé e Garrincha, demos vexame na Inglaterra. Em 70, no México, Zagallo comandou um timaço montado pelo marrento João Saldanha. Pelé, Carlos Alberto Torres, Clodoaldo, Gérson, Rivellino, Jairzinho e Tostão.

Só fera! Craques aos borbotões! Paulo César Caju e Edu eram reservas de luxo. Na final, o tri, com goleada de  4 a 1 e um show de bola diante de italianos atônitos.

Em 82, na Espanha,  o Brasil  de Telê Santana tinha um timão -- um dos melhores de todos os tempos --, mas perdeu da Itália de Paolo Rossi e chora até hoje.

A geração de Leandro, Oscar, Falcão, Cerezzo, Éder, Sócrates e Zico merecia ser campeã do mundo. Mas futebol é assim mesmo. Tantos craques...tantas lágrimas.

Em 94, quando poucos acreditavam, o time do pragmático Carlos Alberto Parreira ganhou o tetra nos Estados Unidos.  Um futebol sem arte, mas de resultados indiscutíveis.

Romário era a andorinha solitária. Não tinha tantos parceiros protagonistas como aconteceu com Pelé. Mas prevaleceram a disposição e o futebol solidário de Taffarel, Jorginho, Aldair, Dunga, Mauro Silva e Bebeto.

Em 98, na França, o Brasil de Ronaldo Fenômeno, dirigido por Zagallo, perdeu a final para a França do craque Zidane. Abalado clinicamente na decisão, Ronaldo não brilhou e o Brasil dançou.

Sob o comando de Luiz Felipe Scolari, o Brasil ganhou o penta na Copa de 2002, que teve Japão e Coréia do Sul como anfitriões.

Só que na Ásia o Brasil tinha um trio ofensivo espetacular. Ronaldo Fenômeno, Ronaldinho Gaúcho e Rivaldo resolveram a parada com a genialidade de poucos. Daqueles que já foram eleitos melhores do mundo. Ainda tínhamos Marcos, Cafu e outros bons coadjuvantes.

E hoje, sem força tática e sem um coletivo respeitável,  quem vai dividir a responsabilidade com o menino Neymar? Se o craque o Barcelona não brilhar, Fred vai resolver? É mais fácil um burro voar! Mesmo que diante da fragilidade de Camarões o ator faça três/quatro gols e o Brasil goleie.

Diz aí, caro leitor, quem vai  ser o maestro do sonhado hexa se o monstro de canelas finas estiver num dia ruim, se sair lesionado ou expulso ou for marcado com rigidez e competência? Oscar será o cara? Hulk? Jô? Bernard? Willian? Paulinho? Marcelo?

São bons jogadores,  mas todos, sem exceção, estão a anos luz de  Pelé, Garrincha, Didi, Tostão, Rivellino, Jairzinho, Gérson, Sócrates, Zico, Falcão, Romário, Ronaldo, Rivaldo e tantos outros.

Isto posto, se o Brasil sonha de fato com o título -- e tem o direito de sonhar --,  é melhor fazer das tripas coração, dividir todas e  rezar. Sem a ousadia de pedir a interferência do Papa Francisco, por favor.

Torcida é peça importante, mas não resolve sozinha. Cantar o hino a plenos pulmões também faz bem, alavanca o psicológico, mas não ganha título não. E, só pra lembrar,  juiz nem sempre é japonês.

O Brasil de hoje -- goste-se ou não -- não tem time tão forte para se impor em casa, para atacar e pressionar o tempo todo, sem medo. Não tem time nem personalidade pra dizer "aqui mando eu e não tem pra ninguém".

Se o conjunto não ajudar, não se doar mais, não correr, treinar, guerrear e acreditar mais -- já que é limitado tecnicamente e carente de talentos criativos --,  qualquer decepção vai cair nas costas do nosso grande artista. Não seria justo!

A Seleção Brasileira continua entre as favoritas ao título ao lado de Alemanha, Holanda e Argentina, mas se não melhorar muito, do meio pra frente,  é bom o torcedor se preparar para o pior. Vai ser um parto!

Se nem o incomparável Pelé ganhou sozinho, por que antever o  sacrifício de um menino? Ganham ou perdem todos. Individualidade solar de uma andorinha solitária  não tem o dom de fazer verão. Nem milagre!           

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