Como único país pentacampeão mundial, o futebol brasileiro quer porque quer o hexa. Diante da torcida, sob pressão, seria o máximo.
Porém, soa como missão das mais difíceis. Dependemos cada vez mais do desempenho diferenciado de Neymar. Como uma andorinha só não faz verão...
Nas conquistas anteriores, quase sempre a Seleção Brasileira teve pelo menos três/quatro grandes jogadores, craques mesmo, daqueles que chamam a responsabilidade e desequilibram na hora do pega-prá-capar.
Todo mundo enaltece a importância inquestionável de Pelé, o maior jogador de todos os tempos e três vezes campeão do mundo. Porém, o negão nunca jogou sozinho. Tanto no Santos quanto na Seleção, tinha companheiros de primeira linha.
Em 58, na Suécia, o Rei campeão tinha a companhia, entre outros, de Nilton Santos, Zito, Didi e Garrincha. Em 62, no Chile, Pelé se machucou no início da Copa, mas o Brasil foi bi com os mesmos protagonistas da primeira conquista.
Em 66, mesmo com Pelé e Garrincha, demos vexame na Inglaterra. Em 70, no México, Zagallo comandou um timaço montado pelo marrento João Saldanha. Pelé, Carlos Alberto Torres, Clodoaldo, Gérson, Rivellino, Jairzinho e Tostão.
Só fera! Craques aos borbotões! Paulo César Caju e Edu eram reservas de luxo. Na final, o tri, com goleada de 4 a 1 e um show de bola diante de italianos atônitos.
Em 82, na Espanha, o Brasil de Telê Santana tinha um timão -- um dos melhores de todos os tempos --, mas perdeu da Itália de Paolo Rossi e chora até hoje.
A geração de Leandro, Oscar, Falcão, Cerezzo, Éder, Sócrates e Zico merecia ser campeã do mundo. Mas futebol é assim mesmo. Tantos craques...tantas lágrimas.
Em 94, quando poucos acreditavam, o time do pragmático Carlos Alberto Parreira ganhou o tetra nos Estados Unidos. Um futebol sem arte, mas de resultados indiscutíveis.
Romário era a andorinha solitária. Não tinha tantos parceiros protagonistas como aconteceu com Pelé. Mas prevaleceram a disposição e o futebol solidário de Taffarel, Jorginho, Aldair, Dunga, Mauro Silva e Bebeto.
Em 98, na França, o Brasil de Ronaldo Fenômeno, dirigido por Zagallo, perdeu a final para a França do craque Zidane. Abalado clinicamente na decisão, Ronaldo não brilhou e o Brasil dançou.
Sob o comando de Luiz Felipe Scolari, o Brasil ganhou o penta na Copa de 2002, que teve Japão e Coréia do Sul como anfitriões.
Só que na Ásia o Brasil tinha um trio ofensivo espetacular. Ronaldo Fenômeno, Ronaldinho Gaúcho e Rivaldo resolveram a parada com a genialidade de poucos. Daqueles que já foram eleitos melhores do mundo. Ainda tínhamos Marcos, Cafu e outros bons coadjuvantes.
E hoje, sem força tática e sem um coletivo respeitável, quem vai dividir a responsabilidade com o menino Neymar? Se o craque o Barcelona não brilhar, Fred vai resolver? É mais fácil um burro voar! Mesmo que diante da fragilidade de Camarões o ator faça três/quatro gols e o Brasil goleie.
Diz aí, caro leitor, quem vai ser o maestro do sonhado hexa se o monstro de canelas finas estiver num dia ruim, se sair lesionado ou expulso ou for marcado com rigidez e competência? Oscar será o cara? Hulk? Jô? Bernard? Willian? Paulinho? Marcelo?
São bons jogadores, mas todos, sem exceção, estão a anos luz de Pelé, Garrincha, Didi, Tostão, Rivellino, Jairzinho, Gérson, Sócrates, Zico, Falcão, Romário, Ronaldo, Rivaldo e tantos outros.
Isto posto, se o Brasil sonha de fato com o título -- e tem o direito de sonhar --, é melhor fazer das tripas coração, dividir todas e rezar. Sem a ousadia de pedir a interferência do Papa Francisco, por favor.
Torcida é peça importante, mas não resolve sozinha. Cantar o hino a plenos pulmões também faz bem, alavanca o psicológico, mas não ganha título não. E, só pra lembrar, juiz nem sempre é japonês.
O Brasil de hoje -- goste-se ou não -- não tem time tão forte para se impor em casa, para atacar e pressionar o tempo todo, sem medo. Não tem time nem personalidade pra dizer "aqui mando eu e não tem pra ninguém".
Se o conjunto não ajudar, não se doar mais, não correr, treinar, guerrear e acreditar mais -- já que é limitado tecnicamente e carente de talentos criativos --, qualquer decepção vai cair nas costas do nosso grande artista. Não seria justo!
A Seleção Brasileira continua entre as favoritas ao título ao lado de Alemanha, Holanda e Argentina, mas se não melhorar muito, do meio pra frente, é bom o torcedor se preparar para o pior. Vai ser um parto!
Se nem o incomparável Pelé ganhou sozinho, por que antever o sacrifício de um menino? Ganham ou perdem todos. Individualidade solar de uma andorinha solitária não tem o dom de fazer verão. Nem milagre!
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