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segunda-feira, 2 de junho de 2014

Salkantay, inesquecível (dicas e sugestões)

No começo de maio, estive no Peru, onde fiz a Trilha Salkantay, alternativa à Trilha Inca para se chegar a Machupicchu, a sétima maravilha do mundo moderno.  O Nevado Salkantay é uma montanha selvagem que vou carregar na alma. Para sempre! Ainda escreverei um poema sobre aquela imagem inesquecível.

Ao lado da esposa (Angela) e do casal de amigos (Milton e Marilene), foram cinco dias e quatro noites no percurso. Cerca de 60 quilômetros de  rios, vales, nevados e outras montanhas; altos e baixos com o testemunho de uma natureza pródiga. Um ambiente mágico!

Não sou expert no assunto. Mas, como engano e dou conta nas minhas andanças por aí,  gostaria de deixar algumas sugestões aos aventureiros de plantão. Opiniões muito pessoais, diga-se. Sujeitas a discordâncias.

MELHOR PERÍODO

Especialistas sempre indicam de maio a outubro. Fora disso as trilhas não são suspensas, como dizem,  mas o risco de chuva forte, avalanche e deslizamento de terra é bem maior. E os grupos são escolhidos a dedo. Então, cuidado com a escolha. Chuva e neve podem ser tão belos quanto perigosos.

AGENCIAS - BRASIL

Existem importantes e conhecidas agências de viagem brasileiras que oferecem o pacote completo ( aéreo, hotéis, transporte, trilha, ingressos em sítios arqueológicos, trem etc). Nada contra, até nos pareceram bem idôneas, sérias, mas gastaríamos quase o dobro se fechássemos o pacotão aqui. Fique atento ao custo benefício. Fizemos tudo, sem qualquer problema mais grave, por metade do preço.

AGENCIAS - CUSCO

Pelo Booking,  compramos apenas as passagens aéreas e  reservamos três diárias de hotel em Cusco. Depois, tivemos de pesquisar algumas agências que faziam a  difícil trilha Salkantay, cinco dias e quatro noites, até Machupicchu.

São mais de 170 agências credenciadas pelo governo peruano em Cusco. Em cada buraco uma agência. Em cada porta um preço. Em cada cômodo apertado uma oferta e um poder de convencimento. Com a ajuda do TripAdvisor   --  tem  boa credibilidade, ajuda muito mas não é perfeito --, escolhemos seis prestadoras de serviços entre as 20 mais bem classificadas e fomos conversar.

Ambientes simplórios não definem nada, no caso. A primeira classificada do TripAdvisor era também a mais barata. Metade do preço médio. Mas  o conteúdo das informações, a explanação e o local não passaram firmeza. Optamos pela Alpaca Expeditions, bem perto das mais caras mas capaz de oferecer vantagens diferenciais e negociar preços com clareza e sabedoria.

Fomos premiados por uma equipe sensacional -- la máquina verde -- comandada pelo guia Amoroso. Tudo  bem perto da perfeição, do primeiro ao último momento: informações verdadeiras,  segurança, comprometimento, profissionalismo, competência, dedicação, infraestrutura e simpatia. Alimentação nota 10.

MARKETING AGRESSIVO

Cuidado! Abordagem agressiva pode começar com taxistas e agentes de turismo ainda no aeroporto. Na cidade, um "mercado" só. Lojas de roupas, agências, cafés, restaurantes, camelôs e até crianças espertíssimas. Se vacilar, você  compra uma caneta sem carga como se fosse relíquia de ouro esquecida  pelos conquistadores espanhóis.  Até no tradicional Mercado São Pedro o vendedor não faz rodeios. Lá se conversa sobre tudo. Em alguns casos,  higiene é tão duvidosa quanto conversa de político. Respeitem-se os costumes. Mesmo que estranhos.

Sugestão é usar a consciência e negociar em quase tudo. Desde a contratação do hotel adequado e da agência que te levará à cidade perdida até a melhor peça de lã de alpaca. Mercado-feira de Pisac é uma boa opção para quem tem tempo.

Na hora de dialogar sem vergonha e acertar ponteiros incluem-se: porta-níqueis, pisco, copinhos, chaveiros, castanha, sticks, pulôveres, gorros, camisetas, bonés, calças para chuva, blusas de frio...

ADAPTAÇÃO À ALTITUDE

Chegamos no domingo(3) de manhã. Por volta das 11h (duas horas a menos de fuso para São Paulo) já estávamos em Cusco. Foram cinco horas até Lima e uma até a capital histórica do Império Inca.

Já chegamos aos cerca de 3.400 metros de altitude tomando o famoso chá de coca, que ajuda a evitar o soroche. O temido mal da altitude, que pode causar cansaço, palpitações, febre, dor de cabeça, tonturas e até diarreia.

Foram dois dias e meio a cerca de 3.400 metros em Cusco para depois enfrentar altos e baixos e o limite de 4.600 de altitude, junto ao belíssimo e enigmático Nevado de Salkantay, com 6.271  metros. Ali o bicho pega!

Portanto, a adaptação é fundamental para quem quer encarar aventura tão desgastante quanto gratificante. Isso nem sempre quer dizer que não vai acontecer nada. Se fraquejar momentaneamente, não tenha vergonha de parar e até subir na mula. Faz parte! Olhe pra frente e pro alto! A ordem é não desistir, jamais.

VESTUÁRIO

Lógico que o ideal é se vestir como se sente bem, mas não dê sopa pro azar. Faz frio e o ideal, além de muito chá de coca,  é uma camiseta segunda pele, bem colada, que não congela o suor. Depois vem o fleece, a segunda camada, o isolamento térmico. Para completar, a terceira camada: um blusão corta-vento, que bloqueia frio e chuva,  de preferência com capuz.

Calça impermeável salva a lavoura em caso de chuva. Capa de chuva pra você também significa prudência. Emprestamos duas de amigos bondosos. Também  é bom levar um gorro para proteger a cabeça. Orelhas, principalmente. Além de luvas.

Durante o dia,  o boné é quase indispensável. Se tiver abas é melhor. Só o protetor solar não segura as pontas. Sol costuma ser traiçoeiro. Não abuse da sorte. Óculos escuros são  igualmente úteis.

CALÇADOS E CIA

No caso de Salkantay, nem pense em fazer de tênis. Muito arriscado e inseguro. Bota impermeável, de cano alto, cai bem porque é antiderrapante. Descida e chuva são verdadeiras arapucas. Bunda no chão e roupa ainda mais suja. Não precisa ser a mais cara. Nada que uma Timberland ou Bull Terrier não  resolva com sobras. Meias apropriadas, mais grossas,  para o frio,  e sempre secas, também não podem ser desprezadas.

Não é por isso que você vai dispensar o tênis para o último dia e o chinelo para todos os finais dos dias. Depois da caminhada extenuante, um chinelinho pós-banho é indispensável para aliviar a barra dos pés cansados e inchados.

Caminhada quase sempre é sinônimo de  dores em várias partes do corpo e bolhas nos pés. Então, além do kit primeiros-socorros com relaxantes, não se esqueça de agulha e linha. Também fica a sugestão de protetores de ouvidos em caso de você acampar junto a rios com turbulência com origem no alto da montanha.

EQUIPAMENTOS

Antes eu achava que stick era besteira. Pra o caso, não é não. Bastões ( um par é melhor) passam segurança na descida e  ajudam muito na subida, naquela hora em que qualquer apoio funciona como empurrão salvador. Acerte a regulagem de acordo com sua altura e com o terreno.  Deve ser alugado -- de 20 a 30 soles o par -- ou comprado -- de 20 a 35 soles cada -- lá em Cusco. Eu comprei dois; o Milton alugou.

Se optar por um cajado de madeira natura, ali da mata, como fiz no final da trilha, não há por que não se dar bem. Pelo menos não vai cair  tão fácil e ainda voltará como o músculo tríceps, do braço, fortalecido. Alterne o braço para ficar "fortão" por igual.

Já a mochila tem de ser escolhida e usada com sabedoria. Uma de 35 litros é mais do que suficiente, se bem montada, com peças segmentadas colocadas em sacolinhas específicas. Precisa ser forte e com encaixes de cintos perfeitos, junto ao corpo. Coluna deve ser protegida com prioridade. Nada de excesso de peso. Entre cinco e sete quilos, no máximo. Não se esqueça da capinha para a  mochila em caso de chuva. Quebra um galhão e não custa caro.

Saco de dormir e travesseiro inflável podem ser comprados -- ou emprestados -- aqui ou lá em Cusco. Os nossos sacos de dormir foram emprestados pelo Zé Luiz (companheiro do Caminho da Fé e de todas as horas) e pela Tereza ( triatleta e amiga da Angela). Compramos aqui os travesseirinhos. Os sacos de dormir do Milton e da Marilene foram alugados lá, por 25 soles cada, por três noites.

Também é bom não esquecer: canivete, fósforo, cortador de unha, isqueiro, papel  higiênico e aquela lanterninha de cabeça. Já pensou ir ao banheiro -- químico ou não -- à noite, a mais de 30m de distância, com chuva e o risco de pisar na bosta de vaca?

Confesso que, mesmo com duas lanterninhas eficientes, não saí da barraca não. Na cara dura, discretamente, usei uma garrafinha de inka-cola descartável e escondi na área de lazer da barraca até o dia amanhecer. Bem prático!

ÁGUA E ALIMENTOS

É fundamental que não se tome qualquer água natural da trilha. Evite para não ganhar uma diarreia. Pessoal da retaguarda ( la máquina verde é show de bola )sempre leva e ferve aquela aguinha especial antes de cada caminhada.

Para a trilha é bom que, além de água e repelente, se levem ainda lanches, frutas  frescas e secas, chocolates e barrinhas de cereais. Com um tempero de disposição e bom humor. Deixe a preguiça e a cara feia no Brasil.

A TRILHA SALKANTAY

Optamos pela alternativa Salkantay  também por indicação de um sobrinho carioca, o Júnior, e porque a Clássica exige reserva com muita antecedência. Não dava tempo ao considerarmos as quatro agendas.

Conforme combinado com o guia na noite anterior, pegamos uma van na famosa e bela Praça de Armas às 4h30min. Foram quatro horas de subidas, descidas, asfalto e terra até o povoado de Soraypampa,  marco inicial da grande aventura. Algumas agências iniciam essa trilha em Mollepata, um pouco antes, o que muda muito em termos de avaliação.

Se você não se preparou física, clínica e psicologicamente  por alguns meses, no Brasil, vai abrir o bico. Por isso, na realidade,  o desafio começa muito antes de se arrearem e se carregarem aquelas mulas salvadoras.

Por tudo -- novidade, altitude, terreno, altimetria e distância -- o primeiro dia dessa opção, dessa trilha específica, é o mais difícil de todo o percurso. Também é o mais belo!

Salkantay, a montanha selvagem no idioma quechua , é pura magia! Emoção sem limites! Salkantay é invencível. Ninguém escala! Salkantay não se leva no celular, nem no tablete. Tampouco na máquina fotográfica. Se leva na alma. Se leva no coração. Um retrato inesquecível.

Segundo dia mais desce do que sobe, sem tanto sol, à beira do rio. Terceiro é mais subida, a maioria dentro da mata, na sombra. Quarto tem descida e depois acompanha o rio e a linha do trem, em terreno plaino até Águas Calientes.

Depois de três noites de barracas, sem ou com banho frio, com o sem banheiro químico, finalmente uma noite com direito a cama e chuveiro quentinho. Uma delícia!

MACHUPICCHU

Visita à cidade perdida dos incas acontece no quinto dia. Segredo, além do bom guia, é pegar o ônibus -- também pode ir a pé -- por 25 minutos e chegar cedo para conhecer tudo. Aprenda, sem pressa.

Atenção para o detalhe: só entram 2.500 pessoas por dia. E só 400, com ingresso comprados com antecedência descomunal, pode subir  Huaynapicchu, a bela montanha das famosas fotos de cartões postais que correm o mundo.

HOTEL, TERMAS  E TREM

Hotel três estrelas, em Águas Calientes, aos pés de Machupicchu, é mais do que suficiente. Não há necessidade de ostentação. Atenção, limpeza, cama boa, chuveiro quente e um belo café da manhã. Está ótimo!

Fique atento à atração Águas Termais. Não sei se demos azar, mas não gostamos. Eu olhei pra Angela, o Milton olhou pra Marilene e quase desistimos. A água quente, mas suja, e provavelmente batizada com xixi, era um convite a cair fora. Ficamos apenas 10 minutos e corremos para o chuveiro do hotel. Pagamos  apenas 10 soles, mas eu não voltaria nem de graça.

Quanto ao trem, também não há necessidade de primeira classe. Respeitam-se as opções, mas o conhecido Expeditions, da Peru Rail, foi bem legal.  Gaste menos! Custo-benefício vale a pena. Confortável, seguro e proporcionando visuais inesquecíveis até o povoado de Ollantaytambo.

Da estação até Cusco a viagem de mais de duras horas é feita de van. Chegamos por volta das 20h, com cada um entregue no seu hotel, com segurança e sem sustos. Cansados mas felizes! E loucos por um belo vinho, num bom restaurante, e um chocolate quente. O que não falta em Cusco.

3 comentários:

  1. To curiosa para ver fotos desses lugares maravilhosos. Já fui até o Lago Titicaca, na divisa entre Bolívia e Peru. A sensação que tive lá era de que se esticasse a mão, traria uma estrela na bagagem. Impossível, trouxe a imagem na retina e a estrela no coração.

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  2. Olá gente, eu sou de Cusco e primeiro quero parabenizar pelo relato de sobrevivência na trilha Salkantay.

    Eu trabalho aqui no Cusco, numa agencia operadora de trilhas em especial a Machu Picchu para Brasileiros, nossa agência visita lugares que as outras agências normalmente não visitam, nós visitamos a Lagoa e Nevado Humantay, o sitio arqueológico de Llactapata a parte do mesmo Salkantay, também pronto lançaremos uma trilha salkantay com visita a duas lagoas.

    Se alguém esta procurando sugestões de que trilha fazer e por que, estarei pronto para poder ajuda-lhes sem nenhum tipo de compromisso.

    Convido-lhes que visitem nosso site: http://www.trilhaincasalkantay.com

    Abraços a todos.

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  3. Obrigado pelo comentário e pelo convite. Quem sabe... Só não sei o seu nome

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