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segunda-feira, 16 de novembro de 2009

O Zorro e a mula-sem-cabeça

Domingo de manhã. Lá estou novamente na delícia do Parque dos Sabiás, o Parque Central, umdos futuros cartões postais de Santo André. Se o Poder Público souber trabalhar o produto com sabedoria.

De repente, um assobio conhecido -- assovio também serve, segundo o professor Pasquale. Achei estranho, parecia coisa do Zorro, antigo torcedor do Santo André. Calma! O assobio não era para um cavalo branco chamado Silver. Tampouco o Zorro é aquele. Só ganhou o apelido porque, na adolescência sempre foi bom de bola mas extremamente mascarado. Também era brigão, marrento e debochado.

E não é que o assobio fez eco novamente e percebi que alguém no alto da ciclovia, ali perto do Sabina, sem máscara mas com um capacete preto, acena insistentemente.

-- Ei, Raddão, peraí! Sou o Zorro, antigo torcedor do Ramalhão, gritou já cortando caminho pelo canteiro de belas flores amarelas.

Ao se aproximar, sem antes escorregar e quase cair com a bicicleta no último laguinho, lá onde os cachorros adoram nadar, foi inevitável.

-- Cara, como você envelheceu! Rugas, cabelos brancos... Com certeza, não joga mais bola?

-- Ainda brinco um pouco. Engano! Tubo bem com você?

-- Bom, você sempre enganou. Eu, sim, jogava muita bola. Metia um gol atrás do outro, lembra? E tirava o sarro de todo mundo. Mas a bola me puniu, como você sempre alertava, lembra?

--Lembro! O que aconteceu?

-- Peguei um becão maluco pela frente e ele quase me partiu em quatro. Estou com 56 anos e isso foi no ano 2000. Fiz graça e acabei com a perna quebrada em dois lugares, além de romper o ligamento cruzado anterior e estourar os dois meniscos do joelho direito. Justo o da perna boa, acredita?

-- Acredito! Por falar em acreditar, você ainda acredita que o nosso Santo André pode escapar do rebaixamento?

-- Você acredita em saci?

-- Saci?

-- É, saci-pererê, aquele neguinho de uma perna só, chapeuzinho vermelho e arteiro que nem ele só, principalmente com animais. Dizem que ele faz tranças no rabo do cavalo.

--Não!

-- E em curupira?

-- Curupira ou currupira?

-- Tanto faz, ô jornalista! É aquele que, dizem, tem os calcanhares pra frente e os dedos dos pés pra trás.

-- O quê?

-- Acredita ou não?

--Não!

-- Como bom caipira, você acredita em lobisomem, pelo menos?

-- Não acredito também não. Nunca vi! Mas lá em Rio Pardo eles diziam que na quaresma o Joaquim Balaieiro virava lobo e assustava a molecada. Na quaresma eu não passava na frente da tapera dele não!

-- Lá também tinha asssombração? E mula-sem-cabeça, aquela besta com três pés, dois atrás e um na frente?

-- Os mais velhos diziam que sim. Se borravam nas calças e estalavam os olhos de tanto medo. Já vi muita mula com cabeça. Sem cabeça, nunca! Mas é tudo lenda, folclore. Tudo superstição, coisa do povão desinformado. Não acredito não!

-- Se você não acredita nisso, também não leva a sério quando alguém fala em branca de neve, papai noel, fantasma e coisas do gênero.

-- Lógico que não! Já sou grandinho!

--Então, por que vem me perguntar se eu ainda acredito na salvação do Santo André. Situação é igual. Pura utopia, lenda. Nada mais nos resta diferente de abraçar o inimigo São Caetano. Mesmo que seja um abraço de tamanduá! Não confio mais e passei a torcer contra desde que mandaram o Sérgio Guedes embora. Agora, que assumam as consequências.

-- E se ganhar do Goiás hoje à noite?

-- Esquece, não vai ganhar. Vai perder, assim como o Botafogo vai penar contra o Barueri. E o Fluminense vai lotar o Maracanã e ganhar de novo. Se bobear, quem cai, além da gente, do Sport e do Náutico, é o Botafogo. A tabela deles é uma pedreira. E olha que o time deles é melhor que o nosso.

-- Percebeu que já demos a volta inteira na pista? E você empurrando a bicicleta!

-- Ela está pior que o Santo André. Furou o pneu de novo. Não tem mais jeito. Preciso ir embora. Dê um beijo na filha do conselheiro.

-- Em quem?

-- Na mineirinha linda dos olhos esverdeados! Tchau!

-- Zorro, o conselheiro morreu!

-- Mas a filha dele não!

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