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domingo, 29 de setembro de 2013

O adeus ao amigo Sperandio

Ontem, às 6h30min, o quarto 5l5 do H-Cor testemunhou  mais uma vítima de uma doença maldita. O câncer no fígado se espalhou e silenciou para sempre nosso Luiz Carlos Sperandio.

Velado por familiares, parentes e amigos da Imprensa e do Esporte, na tarde-noite de sábado e hoje de manhã no cemitério da Vila Assunção, o corpo do fundador da Photo&Grafia Comunicação foi cremado hoje em Itapecerica da Serra.

Neste momento, já deve estar lá em cima, provavelmente no Bar do Hilário, em mais uma rodada de pôquer ou cacheta com os parceiros Richard Nassif, Lázaro de Azevedo e José Luiz Coice Gonçalves.

Cada qual teve sua importância na história do esporte regional, especialmente do vôlei. Exceção ao Hilário, conselheiro, corneteiro e torcedor fanático do Ramalhão.

Pode soar como exagero pós-perda, mas, guardadas as devidas proporções, o Sperandio pode ser comparado a Luciano do Valle. Como empresário e narrador esportivo, Luciano foi tão importante para a valorização e o crescimento do vôlei nacional quanto Luiz Carlos, como repórter do Diário do Grande ABC e setorista da  saudosa Pirelli multicampeã em inúmeras modalidades.

Além de torcedor fanático do Santo André, Luiz Carlos passou a respirar o vôlei da Pirelli. Não entrava em quadra, só escrevia -- e bem --, mas sua imagem parecia estampada em cada  vitória, em cada título.

Tanto quanto William, Amaury, Xandó, Montanaro, Maurício Jahú, Renan, Brunoro, Roma, Márcio e cia, Luiz Carlos foi campeão estadual, nacional, continental e mundial. Ou não? Estava em todas. Não tinha número nas costas, mas que jogava, jogava.

Torcia com paixão pelo futebol do Ramalhão --  fundou e integrou até uma uniformizada --  e pelo vôlei da Pirelli. Tanto que virou assessor de imprensa do Clube Atlético Pirelli ainda no final dos anos 80, quando deixou o DGABC.

Depois, sim, criou a Photo, muito mais que uma simples assessoria a distribuir releases elogiosos. Pode parecer paradoxal em se tratando de cliente, mas ali se pregava a aplicação de um jornalismo profissional, com muita responsabilidade.

Ressalve-se que, embora torcedor, Luiz Carlos jamais distorceu a realidade de um futebol que sonhava com o acesso e de um vôlei  que sonhava com o topo. O Santo André chegou à elite estadual, ao Brasileirão e ao título da Copa do Brasil.

E o vôlei ganhou o mundo. Para  isso, contou com o empenho, com o comprometimento com a informação, com a análise fiel e com o texto limpo, direto e fácil do amigo Sperandio, o cara do vôlei. Luiz foi meu repórter, meu superior e meu sócio.

Nos últimos tempos, ainda falávamos sobre jornalismo, vôlei, Santo André e sobre o seu Palmeiras. Bem menos do que antes, mas conversávamos com certo saudosismo. Principalmente quando citávamos aquela equipe de Esportes do DGABC comandada por Daniel Lima.

Foi gratificante trabalhar ao lado de Daniel, Luiz, Divanei, Saulo, Lola, Milton, Edélcio e cia.  Não há como negar: a saudade é típica de cinquentões altos (58) e sessentões baixos (61). O importante é que fomos profissionais, protagonistas de uma bela história de jornalismo de verdade.

Mais comedido e calado, mas ainda com um olho no copo e outro no cinzeiro, o emotivo, sensível, ético e espirituoso, mas teimoso, Luiz Carlos lamentava a situação do Ramalhão, elogiava o Palestra rumo à elite nacional e ainda sonhava com o próprio retorno ao vôlei, a convite dos sempre amigos Heitor, Celsinho e Madeira.

Conforme palavras endossadas pelo irmão mais novo, Edair, Luizão não deixava de ouvir conselhos para se cuidar e ter mais qualidade de vida. "Mas não escutava. Queria viver do seu jeito. Também por isso já sofria há algum tempo"-- lembrou Edair .

Pois viveu! Exatamente como escolheu! Torceu, vibrou, amou, educou, empregou, demitiu, bebeu, reclamou, elogiou, fumou, escreveu, ensinou, mentiu, chorou, festejou, jogou, brincou...

Como  qualquer ser humano, teve erros e acertos, prazeres e dissabores. Proporcionou alegrias e tristezas. Assumiu todas as suas  escolhas. Com a mesma responsabilidade com que se dedicou ao jornalismo e às suas causas.

Foi embora cedo demais, é verdade. Mas já não reunia forças para lutar. Antes mesmo de dezembro, quando o câncer foi descoberto, o nosso Luiz já não era o mesmo. Já desdenhava da vida. Não tinha a mesma motivação nem a espirituosidade com que transformava simples fatos em piadas hilárias, cortantes, até.

Hoje cedo, quando voltei do velório, após nosso último adeus, caro amigo, tomei uma pinguinha amarelinha no meu barracão e olhei para aquele antigo pôster que você fez dos meus filhos mais velhos, o Fábio (com a camisa azul do nosso Santo André) e a Maira. E chorei!

Obrigado pela amizade sincera! Nunca vi maldade nem inveja nos seus sempre vivos olhos azuis. Nossa longa convivência profissional foi só um detalhe. Um doce detalhe que fez de nós bons amigos.

Vá com Deus, menino do esporte, do vôlei, da vida! Fique em paz! Vou sentir saudade! Distribua sorrisos, abraços e piadas ao se reencontrar com os antigos parceiros de quadra, mesa e churrasco.

Você não pregava nem exercia  hipocrisia, por isso não aceitaria ser endeusado agora que se vai. Mas jamais deixará de ser respeitado. 

9 comentários:

  1. Lindo e emocionante texto. Parabéns pelas palavras, na dose certa para homenagear seu grande amigo.

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    1. Obrigado. É sempre bom quando nosso exercício de vida tem a verdade como alicerce. Amizades sinceras são jóias raras. Raddi

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  2. Raddi, muito obrigado companheiro! Nobre demais de sua parte dedicar tantas minúcias para definir com a maior propriedade aquele que foi o melhor amigo que conheci. Não meu amigo, Melhor amigo de quem fosse. Só quem teve o privilégio de conhece-lo para entender nossa tristeza. Fez tanto, e tão bem feito que parecia que precisava fazer ainda mais. Viveu intensamente, mas com certeza tinha que viver mais. Parabéns pela amizade sincera que cultivou com o Luiz, vc era uma das pessoas que ele mais respeitava.

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    1. Verdade. Nosso amigo merecia viver mais. Obrigado pelas palavras - raddi

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  3. Raddi, parabéns pelo texto, descreveu bem nosso amigo Luiz, como eu escrevi lá na rede Fbook, ele era mais que um amigo, e deixará um buraco enorme.
    Ele foi um dos poucos que acompanhou a jornada final de meu pai, indo visitá-lo sempre, fosse na clínica, hospital ou em casa, meu pai sempre teve pelo Luiz um carinho e uma amizade.
    Eu aprendi a fotografar e gostar de fotos com ele também, nos tempos de Pirelli e Atlântica lá no Ibirapuera, bons tempos.
    Deixo um abraço para você e um sentimento de saudade de nosso amigo, se meu pai (Hermenegildo R. Neto) estivesse vivo hoje com certeza estaria aqui para parabenizá-lo por seu texto.

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    1. Lamentei muito não ter visitado seu pai, o nosso querido Neto, nos seus últimos dias. Falei com sua mãe, mas pequei pela ausência. Tanto quanto ao Luiz Carlos, sempre admirei e sempre serei grato aos seus pais. Obrigado pelas palavras. Raddi

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    2. Obrigado Raddi, esse foi um ano de deixar um vazio.
      Meu pai e em seguida minha mãe e agora nosso amigo.
      Abraços e parabéns pela homenagem ao Sperândio.

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  4. Raddi, o Luiz realmente merecia viver mais. Mas viveu como poucos. Leva minha honra por ter feito parte, num curto espaço de tempo, é verdade, da história dele e da Photo & Grafia. Lindas as suas palavras a um grande amigo.

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    1. Grande Sylvio, o Luiz sempre me falava de você como alguém do bem, bom profissional e amigo. Embora triste pelo momento, fico feliz pela sua manifestação sincera. Obrigado. Raddi

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