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domingo, 16 de dezembro de 2012

Um Guerrero, uma conquista e um Pai feliz

Momentos de tristeza e, principalmente, de muita felicidade,  são feitos para se compartilhar. Pra chorar ou sorrir junto. De preferência com a família e com os amigos mais próximos, aqueles com jeito de irmãos.

Hoje cedo, logo após o Corinthians conquistar o Mundial Interclubes e pintar o globo de preto e branco, abracei a Angela sem conter as lágrimas. "É campeão!!!. É nóis!!!"

Em seguida, meio que sem pensar, fui até a sala de estar, olhei para o telefone e aí... aí, sim, chorei de verdade.  De saudade. Uma saudade cortante.

Só que não adiantava ligar para repartir tamanha felicidade. Afinal, ainda não descobri o número do "céu". Momentaneamente resignado, ligo e festejo com filhos (Maira e Felipe), neto (Victor) e irmãos (Valéria e Moisés).

Ausente há um ano e meio, seu Valério "conversou" comigo quando ganhamos a Libertadores. Então, penso, hoje não seria diferente. Ele gostaria de saber como foi a conquista histórica, festejada até agora. Então, resolvi contar. 0193608...

-- E aí, Pai, tudo bem? Tô com saudade! O senhor faz falta, sabia?

-- Oi, filho. Aqui é muito paradão, meio quieto. Nem sabiá eu escuto cantar. Mas tá tudo bem. De vez em quando, tomo uma cervejinha com seus tios e jogo bocha com o pessoal mais velho. Posso pescar traíra, mas não me deixam caçar com aquela cartucheira de dois canos. Dizem que é pecado matar nhambu. E por aí, tudo em ordem com seus irmãos e com os meus netos?

-- Opa! Tudo certo e todos com saúde. Victor e Júlia são espertíssimos. E aí, assistiu a vitória do nosso Timão?

-- Como? Aqui ninguém tem rádio nem televisão. Sei de alguma coisa só quando alguém sobe e traz  notícia ou algum recado. Ou quando você inventa esse "telefone sem fio" com nome de saudade. Quanto foi? Gol de quem? Do Ronaldo?

-- Pai, foi muito legal. Ganhamos do Chelsea, da Inglaterra, por 1 a 0. Gol do Guerrero! O Ronaldo já parou.

-- Quem é esse Guerrero? Aquele que era do Santos e jogava com o Pelé?

--  Não, Pai! O Toninho Guerreiro já morreu. Talvez vocês se encontrem por aí pra tomar uma. Ele também gostava. O Guerrero é um peruano que chegou há pouco tempo. Jogou muito. Assim como o Cássio e o Danilo. O Cássio travou o gol, segundo seu bisneto. 

-- Como assim, travou?

-- Pegou até pensamento, Pai. Mas o time todo foi bem como conjunto. Foi intenso, solidário, aplicado, marcou muito e não se acovardou. Foi corajoso, foi pra cima dos caras e ganhou por me-re-ci-mento. E olha que eles são bons e assustaram várias vezes. Pararam num goleiro com cara de maluco.

-- Maluco por que?

-- Jeitão de doido, Pai. Antes maluco do que veado, como diz o antigo ditado, do seu tempo, quando não era encarado como preconceito. E olha que o nosso time foi bem diferente daquele Santos que levou um baile técnico e tático do Barcelona no ano passado.

-- Mas o Barcelona joga bonito e  é bem melhor que esse time aí. Parece o Santos do Pelé, o Cruzeiro do Tostão, o Flamengo do Zico...

-- Sim! Mas o Chelsea não é bobo não. Tem um monte de fera por lá. Cech, Lampard, David Luiz. Sabia que esse menino, David Luiz, é aqui de Diadema? Quando moleque, ele era corintiano. E hoje foi um dos melhores em campo. O senhor se lembra de que eu, quando criança, lá em São José, era santista, por causa do Pelé?

-- Lembro sim, mas isso é passado. Eu não podia te forçar a torcer pro meu time, né?

-- Ainda bem que eu cresci e virei corintiano. Por enquanto o Victor é palmeirense, como o pai (Danilo), mas também vai crescer e, quem sabe, entrar para o bando de loucos.

-- Como assim, bando?

-- É, Pai, agora é moda por aqui. Todo corintiano grita Vai Corinthians e se diz integrante de um bando de loucos. Acredita que lá no Japão tinha mais de 30 mil corintianos. Outra invasão! Fizeram como no Maracanã, contra o Fluminense, em 76. Só que desta vez eu não fui.

-- Um Guerrero fez gol pra 30 mil invasores?

-- Sabe que o senhor me deu uma idéia pro título da coluna? Um Guerrero, 30 mil invasores e uma conquista.

-- Você ainda escreve o Confidencial?

-- Não, Pai, o Diario é passado.

De repente, um silêncio  enigmático, quebrado pelo som característico de quem, a soluçar, tenta conter o choro. Lágrimas de um campeão. Lágrimas de um Pai feliz.  De um Pai que foi embora sem dizer adeus.

Tomara que Ele não se esqueça de dar o grande recado pra minha mãe...

    

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