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sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Há rosas...Mas nem tudo são flores

A data pode ter passado despercebida. Com certeza, poucos se lembraram de que 25 de setembro é o Dia do Rádio. E, dentre outras características e virtudes, o rádio, para os mais antigos, lembra o vozeirão inigualável de Nelson Gonçalves. Gago, boêmio, mulherengo, dependente químico, pugilista e um dos maiores cantores dos áureos tempos do rádio. A Volta do Boêmio, Naquela Mesa, Pensando em Ti, Fica Comigo Esta Noite, Chão de Estrelas, Boate Azul, As Rosas Não Falam ( composição do inesquecível Cartola)... E por aí vai, um sem-número de sucessos a embalar corações apaixonados nos anos 40 , 50 e 60, principalmente.

As rosas não falam. Simplesmente, as rosas exalam o perfume que roubam de ti... Rosas realmente não falam. Lembram perfumes, flores. Flores lembram coisas boas, felicidade, conquistas. Enfim, um mar de rosas, diz o ditado popular. Exatamente o que a edição do Diario do Grande ABC do dia 25 tenta fazer crer com a matéria baba-ovo comemorativa aos dois anos da Gestão Empresarial à frente do Esporte Clube Santo André. Tudo é festa! Parece.

Não é bem assim! Menos, né minha gente?! Creio que o todo poderoso diretor-presidente e dono da GE ficaria chateado, mas não determinaria que o bom jornalista-setorista se limitasse a falar bem da empresa que comanda o futebol do Santo André. Seria abuso de poder, assédio moral.

Se assim fosse, a imparcial e reparadora coluna Confidencial, no DGABC de hoje, nem tocaria em algumas feridas. No caso, agenda positiva e matéria conduzida são bem semelhantes. Tão semelhantes quanto questionáveis em termos profissionais quando a pretensão não é engabelar leitores desavisados.

Mas, pra não dizer que não falei das flores, não posso deixar de lembrar que a Saged foi e ainda tem sido importante na vida do Santo André. Primeiro, porque em setembro de 2007, quando a empresa encampou o futebol do clube, o Ramalhão estava numa pindaíba danada. Não tinha mais como se sustentar. Nem pra que lado correr.

Tanto que, durante a festa de 42 anos do ECSA, Jairo Livólis, um os presidentes mais atuantes na história do clube, não mediu palavras quando questionado -- acho que pelo Nilo Ortiz, presidente do Primeiro de Maio -- sobre a maior conquista ramalhina: " Foi o memorável titulo da Copa do Brasil, em 2004. Foi um momento de glória, inesquecível, o mais importante do nosso futebol. Em compensação, também foi o que, em seguida, como consequência, provocou mais problemas e decepções".

Não há nada de errado nas palavras de Livolis. Explicação não é das mais difíceis: com o título, todos -- dirigentes, torcedores, imprensa e Poder Público -- acharam que o Santo André deveria agir como clube grande. Sem estrutura, sem dinheiro, sem público cativo, sem os pés no chão, o Ramalhão naufragou feio. Com dívidas e futebol aquém das expectativas, esteve bem próximo de cair para Série C em 2007.

Ao entregar o futebol para a Saged, o respaldo financeiro foi um alívio. Daí à salvação do rebaixamento iminente foi um verdadeiro salto triplo. Em 2008, a volta por cima de forma triunfal, com o acesso à Série A do Brasileiro, ficando atrás apenas do Corinthians, e o título da A-2 paulista, que lhe deu o direito de voltar à Divisão Especial.

Enfim, as sonhadas elites estadual e nacional, o que se significa grande visibilidade e belas cotas de televisão. São cerca de 4 milhões apenas no Brasileiro. O que poucos sabem, no entanto, é que a folha do clube é bem próxima de um milhão. Afinal, é preciso desperdiçar!

Raros também sabem que o escudo de patrocinadores, embora importantíssimo, ainda fica aquém das necessidades. Principalmente para quem paga pelo noviciado no futebol profissional, ignora o planejamento sustentável e exagera na dose de erros em contratações e troca-troca de treinadores. Faltou critério. Sobrou sonho. Faltou ação. Sobrou palpite.

Na hora de festejar, também não nos esqueçamos do Centro de Treinamento e Formação, importante infra-estrutura na aconchegante Chácara Santa Luzia, e do possível novo salvamento das garras da Série B do Brasileiro. Porém, quando se prevê dívida bem próxima de cinco milhões no final do ano, é bom colocar as barbas de molho, já que, se cair, o torcedor e patrocinador serão jóias raras. E adeus cota de televisão em alto nível.

Parece pouco, diante dos 100 milhões devidos pelo grande Corinthians. Mas lá eles têm como e de onde tirar. E aqui? Não temos dinheiro, não temos torcida permanente, não temos dirigentes competentes, nem times respeitáveis. Parece que a torcida/patrimônio deixou de existir. Culpa de quem?

Se a degola se concretizar -- o Santo André está em 17º lugar, com 25 pontos ganhos e apenas 32,05% de aproveitamento --, existe até risco de insolvência nos próximos anos. Está certo que o contrato com a Gestão Empresarial é de 20 anos, mas cotista quer resultado dentro de campo, com títulos e revelações que se traduzam em vendas e números dignos de um investimento rentável. Caso contrário, os acionistas vão definhando e o ECSA, que tem 20% do bolo, pode ficar com a brocha na mão. Pelo menos moralmente, vai sobrar para o presidente errado.

Isto posto, fica claro que nem tudo são flores, ao contrário do que deixa transparecer a matéria especial (?) publicada no nosso DGABC. Quem não leu o "mar de rosas" em que navega o bom patrão, não deixe de ler. Ao menos como parâmetro para avaliar o que escrevem com sabedoria Nelson Cilo, no Confidencial, e Daniel Lima, no CapitalSocial. Por sinal, leitura imperdível. Sem necessidade de concordância plena. Em comum, uma certeza: nós três gostamos muito do Esporte Clube Santo André, por isso não temos por que deturpar a dura realidade. Doa a quem doer!

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