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sábado, 19 de setembro de 2009

Sobre táticas e táticas

Aprender e analisar táticas de todos os esportes é exercício dos mais saudáveis para quem se atreve a escrever com o mínimo de responsabilidade profissional. Especialmente sobre futebol. Algumas lições provam que, ao contrário do que eu pensava inicialmente, o técnico Antonio Carlos Zago tem rodagem e conhecimento acima da média.

Boleiro com vivência de grandes clubes nacionais e internacionais, além da Seleção Brasileira, o ex-zagueiro consegue aliar ainda o visão de gestão esportiva, competência emocional e de aprendizado técnico-diretivo. O somatório de experimentos é bom pra todos. Principalmente porque sugere ter a confiança do grupo e liberdade para trabalhar.

Exemplo claro é a postura do São Caetano no Campeonato Brasileiro da Série B. Depois de um início claudicante, também por pegar o time numa draga desgraçada, Antonio Carlos tomou as rédeas do elenco de tal forma a fazer inveja pra muita gente mais vivida como treinador.

Taticamente, até parece que Antonio Carlos move as peças do tabuleiro de xadrez futebolístico com a destreza de Karpov, Bob Fischer e cia. Jogo de ontem, na vitória de 3 a 1 diante da Ponte Preta, adversário dificílimo de ser superado quando joga em casa, foi mais um exemplar de capacidade cognitiva e executiva.

Equipe iniciou numa espécie de 4-5-1, com quatro zagueiros praticamente em linha e liberação limitada dos laterais. Outra linha de quatro mostrava Adriano e Jairo como volantes de contenção pelo meio, ladeados por Roger pela direita e Xuxa pela esquerda. Sem bola, os dois encontravam os laterais adversários. Com bola, saiam pro jogo e rapidamente se aproximavam de Washington, apenas aparentemente sozinho contra dois zagueiros.

parência, já que Eduardo Ramos dava o primeiro combate aos volantes da Ponte e, de posse de bola, movia-se com liberdade inclusive para chegar ao ataque de forma mais verticalizada e aguda, enquanto que Xuxa e Roger o faziam quase sempre pelas beiradas.

Irrepreensível taticamente, o São Caetano matou o jogo em 30 minutos. E olha que dois dos três gols vieram de jogadas ensaiadas em bolas paradas alçadas de Eduardo Ramos para o bom zagueiro Marcelo Batatais. Bem marcada e sem conseguir fugir da marcação, a Ponte foi dominada pelo adversário e pelos nervos. Como era de se esperar, a equipe campineira se desesperou e o São Caetano procurou tocar a bola.

No segundo tempo a Ponte foi para o tudo ou nada. E nem poderia ser diferente. Ao adiantar o meio-campo e liberar os laterais, complicou para o time do Grande ABC. Predominantemente pela direita, com Edilson, a Ponte criou várias oportunidades. Diminuiu o placar no início e quase fez o segundo gol em pelo mais cinco ocasiões. Numa delas, talvez a derradeira durante um período de domínio ostensivo, Danilo Neco cabeceou no poste e a bola correu sobre a linha de gol.

Por que isso aconteceu? Porque a linha de quatro à frente dos zagueiros já não funcionava a contento na marcação pelas beiradas. Tanto que Antonio Carlos manteve o 4-5-1, mas fez entrar o mais descansado e rápido Wendelll no lugar de Xuxa. Daí para a frente a Ponte perdeu a pegada, ameçaou menos e entrou no jogo cadenciado que interessava ao Azulão.

Quer dizer que o esquema falho no segundo tempo? Não! A execução das individualidades perdeu o alto nível de eficácia. De nota 8, caiu pra 6. Só isso! Esquema implantado por Antonio Carlos só prova que o São Caetano não é estanque, mecanizado. É capaz de atuar de várias maneiras, de jogo pra jogo e durante no próprio jogo.

Haja vista que na vitória sobre o Bragantino o esquema foi o 4-3-3, com dois volantes ( Jairo e Adriano), apenas um meia de ligação ( Eduardo Ramos) e três atacantes ( Vandinho, Washington e Wendell). Diante do Vasco, antes da expulsão de Anderson Marques e da lesão de Vandinho, prevaleceu o 4-4-2 . Lançamentos longos, para Vandinho receber ou fechar em diagonal eram arma quase mortífera. E agora o 4-5-1 bem executado. Até o cansaço chegar.

Fica bem claro que cada jogo tem sua história e os treinadores precisam estar atentos ao movimentar peças determinantes de vitórias e derrotas. Antonio Carlos não é um grande-mestre internacional de xadrez, mas tem demonstrado vocação desacreditada por muitos. Por enquanto, o rótulo de Mequinho está bom demais.

Agora o São Caetano está mais perto do G-4, mas a expulsão -- boba, infantil, por sinal -- de Adriano vai pesar no próximo jogo desta série decisiva para quem quer voltar à elite nacional. Na sequência, o Azulão recebe o Ceará -- concorrente direto à quarta vaga -- e o vice-líder Guarani. Depois vai a Goiânia enfrentar o Atlético Goianiense, outro postulante à vaga, e fecha o ciclo da morte diante da Portuguesa, provavelmente em Barueri.

O mestre Antonio Carlos já ganhou confiança suficiente para saber exatamente com que esquema deve jogar, e vencer. E a torcida não precisa se preocupar. Tem mais é que acreditar numa evolução consistente e capaz de conquistar o acesso.

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