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segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Conselho a um herói negro

Data vênia, excelência, mas ainda prefiro a ousadia pretensiosa à omissão despretensiosa.  Mesmo como admirador de atitudes tão pouco exercitadas.

O título acima fala em conselho, mas não é bem isso. Como temos praticamente a mesma idade, talvez seja um discreto puxão de orelhas em quem só tem recebido elogios. Mais do que merecidos, diga-se.

Pelo menos momentaneamente, a capa da Veja desta semana é tão adequada quanto verdadeira: o menino pobre que mudou o Brasil. Tomara que o tempo do verbo esteja certo e que a manchete seja duradoura.

Que tudo não termine sem que as acusações e condenações sejam levadas às últimas consequências. Doa a quem doer! Que bandidos,  com direito à ampla defesa e comprovadamente culpados, terminem, mesmo, atrás das grades.

Tudo leva a crer que a atitude e a conduta firme do ex-menino pobre da mineira Paracatu signifiquem, mesmo, o divisor de águas na Justiça brasileira.

Tomara que os atos capitaneados pelo nosso herói negro -- diga-se, sem depender de cotas raciais para estudar, ganhar respeito e notoriedade -- sejam eternizados e façam com que nossos políticos tenham o mínimo de  vergonha na cara.

Dizem que em Paracatu o menino pobre que, ao lado de sete irmãos, ajudava o pai a fabricar tijolos e a entregar lenha num caminhão velho jamais se humilhou diante dos preconceituosos, normalmente brancos e ricos.

Lá, o Fritz -- apelido de infância baseado no contraste do negro com o alemão -- já andava de peito empinado, segundo matéria da Veja. Dizem, também, que já não praticava a humildade com constância.

Talvez venha  exatamente daí a necessidade do puxão de orelhas no nosso herói negro. Hoje ministro, amanhã presidente do Supremo Tribunal Federal,  às vezes o  nobre relator do mensalão passa do limite. Parece limão!

Lógico que as dores provocadas pela inflamação na base da coluna judiam de Joaquim Barbosa. Talvez menos do que a falta de sofá, TV e geladeira e muito menos do que o preconceito racial da infância.

Mas, embora mexa com a formação da personalidade, nem isso justifica a conduta do ministro relator quando vira onça cutucada com vara curta e não aceita o contraditório do ministro revisor, Ricardo Lewandowski.

Por mais absurdas, tendenciosas e inconsistentes que sejam as justificativas do escorregadio juiz "criado" aqui em São Bernardo e apadrinhado por Lula, o relator precisa abaixar a bola e ter a grandeza de respeitar sem parecer onipotente, perfeito. 

Nada de acidez, caro Joaquim! Muito menos aparente prepotência. Deixa a vida te levar! No stress!  Por mais que esteja carregado de razão. E está, excelência! O caminho está bem calçado. Estamos de olho!

Atitudes assim não combinam com atos de heroísmo diante da calhordice, da cafajestagem  que campeia no Planalto e em quase todos os grotões do Brasil. Inclusive aqui, no desenvolvido Grande ABC.

Pena que não tenhamos por aqui um Joaquim como ouvidor independente de cada Prefeitura. Pena que ainda estejamos distantes de ter um herói de carne e osso para acabar com a bandalheira perpetrada por todos os partidos. Uns mais, outros menos.

Mas já é um bom começo para se dar fim aos abusos, caro herói! Lógico que, no fundo, excelência, você não tem feito mais do que a obrigação. Mesmo indicado por Lula, a exemplo de outros, você tem sido ético, justo, coerente e imparcial, como a maioria dos seus pares.

Exceções ao revisor e a Dias Toffoli -- e não se esperava postura diferente de quem tem rabo preso e acha que somos todos imbecis -- os demais ministros têm sido protagonistas exemplares e mensageiros da vontade  do verdadeiro cidadão de bem.

Hoje, nossos ministros têm recebido aplausos, palavras e mensagens de solidariedade. Talvez na realidade não sejam heróis, mas retratam, com austeridade e independência, o querer da maioria da população.

Goste ou não  aquele ex-presidente que não sabia de nada, não fala alemão, francês, inglês nem italiano. Mal arranha o nosso português.  Talvez  Joaquim Barbosa pudesse ser um ótimo professor. Quem sabe? Ao menos de línguas.

Com certeza, infelizmente, nosso herói referência não teria como ensinar nem vender  uma lista de virtudes que não se compram na venda da esquina nem nos bancos escolares.

Eis a grande diferença de dois ilustres cidadãos  brasileiros que vieram do quase nada e chegaram ao topo! Vivas o nosso herói negro!  Sem cotas, sem bolsa família, sem protecionismo, sem corrupção e sem conchavos.  Cadeia neles, Joaquim!  

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