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quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Uma dupla derrota para Santo André, na política e no futebol

 

Texto de DANIEL LIMA
 
Seja qual for o resultado da disputa eleitoral deste domingo entre o prefeito Aidan Ravin e o oposicionista Carlos Grana, a certeza é de que Santo André perderá. Seja qual for a combinação de resultados da última rodada da fase classificatória da Série C do Campeonato Brasileiro, o Saged, ex-Ramalhão, já perdeu. A confluência desanimadora entre o futebol e a Administração Pública de Santo André não é peça do acaso. Santo André chegou ao estágio de profundeza máxima em quesitos que dizem respeito à cidadania e à autoestima.


No jogo eleitoral a derrota está expressa na fuga dos candidatos finalistas à responsabilidade de atuar com transparência. No jogo esportivo a derrota é explicitada no estado falimentar do modelo terceirizado do futebol do Ramalhão, danosamente concentrado num empresário do mundo da comunicação que há muito levou o jornal que dirige à Quarta Divisão do Campeonato Brasileiro de Imprensa, depois de adquiri-lo, a bem da verdade, já na Terceira Divisão.


Na política, fosse o eleitorado de Santo André mais politizado e menos bovino, a quantidade de votos nulos e brancos deveria ser estrondosa. Magnificamente estrondosa. As campanhas de Aidan Ravin e de Carlos Grana não têm nestas alturas do campeonato requisitos éticos e morais para exigir nada senão a desconfiança dos eleitores. As duas candidaturas simplesmente passaram por cima dos escândalos que marcaram a atual gestão e também a anterior. Preferiram tergiversar ao desfilarem ao longo da campanha propostas em conteúdo e qualificação muito aquém da abundância de ofensas.


As agremiações representadas por Aidan Ravin e Carlos Grana estão comprometidas com safadezas entrecruzadas do presente e do passado não muito remoto. São tantos os percalços que os dois grupos patrocinaram ou não fizeram a menor questão de apurar que é praticamente impossível conferir-lhes seriedade como opções restauradoras do processo de transformações de que Santo André tanto carece.


A minha dúvida é se votarei em branco ou anularei o voto. Como os leitores sabem, voto em todos os municípios da região, porque sou um regionalista empedernido. É impossível ir à urna eletrônica e esquecer o que a memória registrou ao longo dos anos.


Distanciamento que pesa


Carlos Grana é um bom moço, tem história de atuação comunitária na região mas também apresenta vácuo imenso a partir do momento em que, sindicalista de valor que é, meteu-se na direção dos metalúrgicos do Estado e se afastou desse território. Erraram aqueles que o acusaram de morar em Ribeirão Pires como pecadilho imperdoável. Não é o fato de morar durante bom tempo em outro endereço senão em Santo André que torna um candidato mais ou menos competente.


O deslize de Carlos Grana é que, independentemente de onde tenha morado, distanciou-se da região durante muito tempo. Voltou a Santo André escolhido a dedo pelo ex-presidente Lula da Silva. Sem quadros para comandar uma Santo André que, goste-se ou não, sempre terá o fantasma de Celso Daniel como referência, Carlos Grana procura tapar buracos de última hora, depois de um ajuntamento pragmático com forças até então antagônicas.


Carlos Grana tem a seu lado o que é de mais conservador da sociedade de Santo André. Gente que pouco produziu ao longo de décadas senão a especulação permanente e que, algozes do PT no passado, correram em direção ao candidato da agremiação porque tiveram, em larga parte, as portas fechadas pelo atual prefeito. Não há nada basicamente de magnânimo na frente partidária conservadora que se entregou ao PT de Santo André. A política de resultados, versão do sindicalismo de resultados tão criticado pelos petistas no passado, é a síntese da operação.


O prefeito Aidan Ravin seguramente está acima de todos os demais prefeitos que se deram mal no comando de Santo André, caso, por exemplo, do petista João Avamileno, herdeiro acidental do trono de Celso Daniel. Formam aqueles seis anos somados aos quatro de Aidan Ravin uma década de desperdícios, descontroles e desídias administrativas. Santo André é uma nau sem rumo econômico e social. O atual prefeito perdeu uma grande oportunidade de lambuzar-se de votos, de perpetuar-se na memória da população, portador que é de algo fantástico à abertura de portas, janelas e o diabo, ou seja, de carisma arrebatador que, se independe de poder, imagine-se então com poder, como ainda o tem.


Saged em decomposição


Já o Saged, que me recuso a chamar de Esporte Clube Santo André ou de Ramalhão, por motivos expostos e arquivados nesta revista digital, não precisa ser despachado à Quarta Divisão do futebol brasileiro, como tudo indica que será neste domingo, porque o que apresenta à sociedade é um estado de decomposição incontrolável. Depois do Saged será muito difícil o futebol de Santo André reerguer-se.


Uma pena, porque o presidente Ronan Maria Pinto é o condutor da equipe que mais condições dispôs para encetar uma grande reviravolta na história da agremiação a partir da terceirização, há cinco anos. Infelizmente, o dirigente pôs tudo a perder porque seu ego é muito maior que o preparo técnico, embora tente transmitir uma humildade que não passa de embalagem para boi dormir. Ronan Maria Pinto é docemente autoritário, educadamente concentrador e encantadoramente desastrado como dirigente de associação esportiva.


Pobre Santo André esportiva e pobre Santo André política que neste domingo vão se ver para valer no inferno. Quem sabe o enredo esportivo e o enredo político não se escreverão com linhas tortas?


Talvez seja preciso mesmo exorcizar todos os maus espíritos que dominam os gramados onde o antigo Ramalhão bota as chuteiras e os gabinetes administrativos onde as autoridades municipais tomam as mais importantes decisões para o futuro do Município.


Do caos poderemos, quem sabe, chegar ao consenso corajoso de que é preciso muito mais que simplesmente torcer e votar. Está na hora de Santo André tomar atitudes, mas quem o fará se um grupelho de aproveitadores domina todos os espaços de uma cidade fragilizada economicamente ao longo de décadas de desindustrialização, local onde os abutres posam de benfeitores?


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