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sexta-feira, 2 de março de 2012

A cigana de Rio Pardo

Sou obrigado a confessar! Quarenta anos atrás, em São José do Rio Pardo, visitei uma cigana. O assunto passava distante de amores sonhados ou desmanchados. Era futebol.

Afinal, eu só queria saber se valia a pena vir pra Santo André tentar a sorte. Eu não era craque. Mas também não me julgavam perna-de-pau. Havia admiradores e admiradoras.

Por via das dúvidas, não custava uma olhada nas mãos ou nas cartas. Com todas as letras, sem titubear, aquela senhora estranha me garantiu:" Menino, você não é dos melhores, mas tem muita vontade. Pode dar certo".

-- Então, é melhor mesmo eu fazer Geologia ou Educação Física? Melhor não correr risco.

-- Quem sabe? Mas tem futuro como quem gosta e entende de futebol. Se estudar e se aprimorar, vai ganhar dinheiro na profissão. Vai dar aula de futebol.

Pois é... Não é que a cigana me enganou direitinho! Pelo menos na essência da frase final! Joguei um pouco, fiz Educação Física, além de jornalismo, e sempre gostei de estudar o esporte como um todo.

Só que, cada vez mais, tenho a impressão de que não entendo nada, ou bem pouco, de bola. A danada da mulher toda colorida me levou no bico.

Parece que quem entende mesmo do riscado é o meu conterrâneo Márcio Araújo (Longo), a quem admirei como jogador do São Paulo e respeito como homem.

Porém, não é possível que o Márcio seja tão bom e eu não conheça nada. Não consigo compreender, captar, aonde o moço quer chegar.

Nesses meses de São Caetano é provável que tenhamos concordado em apenas 20% das atitudes que tomou como treinador de um time sem torcida atuante, mas que já foi campeão paulista, vice brasileiro e da Libertadores.

Não consigo fechar os olhos e deixar de discordar. O Márcio consegue escolher o esquema inadequado, escalar errado, enxergar outro jogo e mexer sem inteligência. Até o banco de reservas é questionável. Tudo num jogo só! É demais!

Lamento, mas tenho a impressão de que o Márcio foi na mesma cigana e ouviu que seria o maior técnico do mundo. E olha que não por indicação minha, nem do Rondinelli, do Modesto, do Zanata, do Edson Boaro, do Luiz Fernando, do Souza, do Richard, do Aluísio ou do Andrezinho, todos também de Rio Pardo.

Salvo raras exceções, quando faiscam lampejos de futebol coletivo, com tática, técnica e aplicação, o Azulão tem sido um fiasco. Repito: um fiasco.

O primeiro tempo do jogo de ontem -- 2 a 2 diante do limitadíssimo Oeste de Itápolis quando poderia vencer sem atropelos -- foi mais um exemplo da antítese do bom futebol. Um marasmo! Uma afronta. Um desrespeito aos 350 torcedores que pagaram ingresso.

Um time burocrático, morto. Portanto, sem vida. Cada soldadinho inglês no seu posto. Sem piscar, sem olhar pro lado. Um goleiro, quatro zagueiros, dois volantes de contenção, dois armadores e dois atacantes.

Todos a marchar no passo certo. Mas tudo isso sem liga, sem tesão pela vitória. Por isso, o Azulão não sai mesmo do chão. Não voa mais alto porque não é um time. Tem individualidades estanques e sem brilho, e um coletivo com odor de lixo.

Enquanto isso, a pastor -- com todo o respeito -- Márcio Araújo exercita sua paciência. Faz experiência atrás de experiência, teste sobre teste nos três setores, e não consegue mostrar que, enfim, tem um time para não se limitar a fugir do rebaixamento. Sorte que os quatro últimos já parecem definidos.

Até mesmo a condição física pode ser questionada. Ou será que o grupo só acorda quando sente que pino 220 dá um choque razoável? O que é um paradoxo, já que jogador que anda ou se limita a passes laterais não tem por que sentir cansaço.

Se não quiser correr riscos, passou da hora de acordar. Inclusive o poder maior do clube. Ou será que o técnico é o único culpado? O time não tem atitude. O treinador também não! Ao menos é o que demonstra publicamente.

E o presidente Nairo faz o quê? Em vez de chacoalhar a roseira, cobrar duro, prefere o inadmissível comodismo da omissão? Tá esperando o quê, presidente?

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