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quarta-feira, 21 de março de 2012

Os gênios e as tardes de domingo

Hoje, por volta das duas da tarde, diante da TV,foi impossível não sentir emoção e saudade ao me lembrar das tardes de domingo em plenos anos 60 e 70, na então pequena São José do Rio Pardo, com não mais de 30 mil habitantes.

Como vim pra Santo André no início de 72, com 16 anos e meio, passei infância e adolescência entre a cidade e a fazenda Boa Esperança, onde avó, tios e primos eram colonos trabalhadores.

No final da década de 60 e início da de 70 eu já enganava um pouco pelos terrões e gramados de fazendas, e também cidades vizinhas como (São Sebastião da) Grama, Caconde, Tapiratiba e Mococa. Sempre como zagueirão; o típico becão de fazenda.

O que acontecia nas tardes de domingo? Depois de jogar de manhã, o então moleque de rua, com 12/13 anos, não desgrudava do rádio a partir da uma da tarde, quando a Rádio Bandeirantes apresentava O Cantinho da Saudade, programa em homenagem a ídolos falecidos.

"Lidu ficará incrustado para todo o sempre, na ternura e na sinceridade, do nosso... Cantinho da Saudade". Com narração carregada de emoção do incrível Fiori Gigliotti --tio do meu amigo Paulo, da Gráfica Equipe -- era difícil não chorar.

O mesmo Fiori, que era quase unanimidade ao lado do repórter Roberto Silva e do comentarista Luiz Augusto Maltoni. " O céu está carrancuuudo! Bola subindo, bola descendo, cabeeeça na bola, Ditão, aliviando. Domina Dino Sani, escapa de Ademir da Guia e toca pra Rivelino. Ele gooosta da bola! Uma finta em Dudu, outra no Divino. Lá vai o Reizinho do Parque; toca para Tales, o moooço de São Manuel. Flávio pede, recebe, passa por Minuca; ameaça bater, solta a bomba de pé direito; atenção, é fooogo torcida brasileira. É gol! Goooooooooooooooooool! Do Coriiiiinthians! Agora não adianta chorar, Valdir".

O gol é do Corinthians, 2 a 1, de virada, pra variar, mas poderia ser de um Palmeiras muito melhor -- assim como o Santos de Pelé e cia --, excepcional,que, além de Valdir, Dudu e Ademir da Guia, tinha Djalma Santos, Ferrari, Servílio e Tupãzinho.

Na década de 60 só dava Santos e Palmeiras. Portanto, o Corinthians tinha de se contentar em quebrar o tabu de 11 anos diante do Santos -- 2 a 0 em 68 -- e ganhar do rival Palmeiras de vez em quando.

As belas tardes de domingo, com radinho de pilha colado no ouvido ou encostado em algum boteco armado na beira do campo, na roça, praticamente se encerravam quando Fiori anunciava: " Agora não adiaaanta chorar, torcida esmeraldina! Tudo está consumado! Fecham-se as cortinas e terrrmina o espetáculo".

No bom programa da Rede Bandeirantes -- Os Donos da Bola, comandado pelo ex-craque Neto, que tem tudo pra melhorar se falar menos e for mais educado, não borrifando os convidados --, os lendários Rivellino e Ademir da Guia me levaram às doces e saudosas tardes de domingo ao pé do rádio.

Bons tempos em que verdadeiros gênios da bola -- Fiori Gigliotti, hoje num cantinho do céu, era um gênio do rádio, ao dar cores e vida aos jogos, do primeiro ao último minuto --, como o Reizinho e o Divino, nos faziam transbordar de alegria a cada toque, a cada simples matada de bola, a cada drible, a cada passe milimétrico, a cada pintura, a cada chute, a cada gol, a cada vitória.

Minhas tardes de domingo jamais seriam as mesmas se não existissem craques/ídolos (os dois, pois nem todo ídolo é craque e nem todo craque é ídolo) como Ademir da Guia, Rivellino, Roberto Dias, Pedro Rocha, Gérson, Ivair e tantos outros. Como um tal Pelé, "o moooço de Três Corações".

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