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quinta-feira, 15 de março de 2012

O gaúcho, o louco e a ousadia

Andei lendo e ouvindo, ontem à noite e hoje cedo, que o Corinthians não venceu o Cruz Azul por absoluta falta de ousadia. Houve até quem -- pasmem! -- insinuasse que o time de Tite se acovardou. Só não ganhou porque ficou com medo de perder.

Peraí! Não foi bem assim! Jogar pela Libertadores, em 2.4 mil metros de altitude, com torcida contra e diante de adversário respeitável não é moleza não! Dificilmente alguém sai do México com vitória.

Quer saber? Acho que foi uma das melhores performances do Corinthians em 2012. O jogo, por si só, foi bom. Movimentado do começo ao fim. Tanto mexicanos quanto brasileiros poderiam sair com a vitória.

Falar em falta de ousadia ou imaginar covardia parece coisa de quem não viu o jogo ou não entende de bola. Ou seria algum anticorintiano travestido de jornalista e incapaz de exercer a imparcialidade, a mãe do bom profissional?

O Corinthians cansou, não teve posse de bola, recuou e foi acuado nos 15 minutos finais, sim senhor. Mas só no final. Foi superior ao Cruz Azul em pelo menos 2/3 do jogo.

Pra começar, o time de Tite subiu a marcação, botou pressão e não deu espaços para o adversário nem ao menos sair jogando. Anulou o poder de criação do Cruz Azul e, bem postado no sistema defensivo, deu raríssimos espaços a infiltrações e conclusões perigosas.

Como se não bastasse, criou pelo menos quatro belas oportunidades, especialmente com Paulinho e Liedson. No final, quando os mexicanos foram pro tudo ou nada -- e não poderia ser diferente pra quem joga em casa -- e chegaram de vez, mais por meio de chuveirinhos, Chicão apareceu para salvar. No contragolpe, Paulinho perdeu a bola do jogo.

Aí os "especialistas" de meia-tigela avocam a falta de ousadia como causa da igualdade. Como se o empate não significasse bom resultado. Além de cansar no final, o que é normal, o que aconteceu foi simplesmente deficiência nas finalizações, mal que aflige do time de Tite há bom tempo.

Será que querem que o Timão seja o Barcelona de Guardiola, que, além de marcar sob pressão, é uma máquina de jogar futebol e faz da criatividade e da ousadia ofensiva a atitude mais comum no campo da bola? Convenhamos, os amigos de Messi estão em outro patamar, individual e coletivo.

Ou será que queriam um Corinthians a la Atlético de Bilbao. Ao time espanhol não faltam combatividade, arrumação tática, velocidade, verticalidade, criatividade (olha o Tite aí!) e ousadia. Doce e louca ousadia!

Se concluísse com melhor aproveitamento e não fosse tão instável, o time do argentino Marcelo Bielsa, El Loco, seria imbatível. Não estaria classificado na Liga Europa mas em sétimo no Campeonato Espanhol.

As duas vitórias diante de um Manchester forte mas preguiçoso foram verdadeiras aulas de Bielsa diante do sir Alex Fergusson. Taticamente, uma lição de encher os olhos. Gostei muito do Atlético nos dois jogos, especialmente no primeiro, em Manchester.

O gaúcho Tite não é um exemplar de ofensividade. Também não é louco como o argentino. Mas não pode ser execrado exatamente quando seu time mostra futebol de gente grande e conquista importante resultado.

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