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domingo, 29 de abril de 2012

O esporte de batateiros e ceboleiros

Reza a história que no início do século XX nossa região era farta em fazendas de batatas pelas bandas do Município de São Bernardo. No então distrito, Santo André, sedento por emancipação, prevaleciam propriedades que priorizavam as plantações de cebola.

Ainda segundo historiadores locais(como meu amigo corintianíssimo Ademir Medici), por volta de 1920/1930, já havia rivalidade no futebol regional, entre os batateiros da AA São Bernardo e os ceboleiros do Corinthians. O mesmo Corintinha onde Pelé fez seu primeiro gol como profissional e agora está prestes a comemorar centenário.

Dizem que após um dos clássicos em São Bernardo, já no "bondinho" (ou trem? ou caminhão?) de volta pra casa, o Corintinha foi premiado com uma chuva de batatas podres. No jogo seguinte, aqui, a vingança, com um temporal de cebolas nas costas dos batateiros.

Começava aí a bronca que já passou por Santo André, Irmãos Romano, Primeiro de Maio, Palestra, Aliança, EC São Bernardo e cia. Nos dias atuais, infelizmente, a rivalidade saudável e motivadora está cada vez mais em baixa.

(O São Caetano, que já foi campeão estadual, e vice do Brasileiro e da Libertadores, não tem tanta torcida pra rivalizar e não entra na conta como nos tempos de Saad).

Hoje, o ascendente São Bernardo Futebol Clube está bem à frente do decadente Esporte Clube Santo André, um caminhão sem freio que em 2004 ganhou o título da Copa do Brasil em cima do Flamengo em pleno Maracanã e em 2010 fez a final do Paulistão contra o Santos.

Considerando-se o segmento esportivo como um todo, os batateiros também levam de roldão. Enquanto respiram a pura brisa do esporte vencedor, os ceboleiros exalam derrotas poluentes, além do nojento odor de propina. Quer saber por quê?

Porque em São Bernardo o Poder Público investe com coerência e respeita o esporte como instrumento de saúde, lazer, auto-estima, cidadania, ação, inserção e ascensão social, educação, segurança e empregabilidade.

Em contraposição, aqui na vizinha Santo André a Prefeitura praticamente ignora, pouco faz, desrespeita e esnoba coisa tão séria. Faz um investimento ridículo e menospreza a importância do esporte.

Por isso a primeira escala montanha do sucesso, promove grandes eventos e é campeã dos Jogos Abertos e Regionais, enquanto que a outra desce a ladeira dos perdedores, coleciona decepções (basquete feminino patrocinado pelo "Semasa" é exceção)e disputa a Segunda Divisão. No caso do futebol nacional, a Terceira. Até a próxima queda.

Porque, enquanto em São Bernardo a Prefeitura é parceira inseparável do Tigre na cessão e reforma significativa do Estádio Primeiro de Maio prestes a ser ampliado, em Santo André o Poder Público promete grandes intervenções mas transforma o Bruno Daniel em terra arrasada.

Porque, enquanto lá, independente do notório interesse político-partidário, o prefeito Luiz Marinho anda de mãos dadas com o presidente Luiz Fernando Teixeira e com o presidente de honra Edinho Montemor, aqui o prefeitão Aidan Ravin só falta sair no braço com Ronan Maria Pinto, o dono do DGABC e do Saged, que administra |I(mal) o futebol do Ramalhão.

Porque, enquanto 10 mil batateiros pintam, bordam, dançam e lotam o Vila Euclides, meia-dúzia de heroicos e fanáticos ceboleiros choram a dura realidade de quem se vê impedido de entrar no estádio para ver seu time do coração.

Porque, enquanto o quase cinquentão Ramalhão (18 de setembro de 1967) termina o Paulista da A-2 em 14º lugar e se salva do rebaixamento na última rodada, o jovem Tigre (20 de dezembro de 2004) garante acesso e vai disputar o título com o União Barbarense.

Portanto, em 2013, na elite estadual, não vai rolar o clássico. Enquanto os felizes batateiros vão ver o Santos de Neymar e o São Paulo de Lucas, cabisbaixos ceboleiros vão ter de engolir os pobres mas não menos respeitáveis Velo, Rio Claro, Catanduvense, Guaratinguetá, Comercial e cia.

Porque, enquanto o São Bernardo dá um jeito de arrumar dinheiro, administra as finanças com controle razoável e chega à decisão, o incompetente Santo André (Saged) está atolado em dívidas e ainda perde verbas significativas de patrocinadores e dos direitos de transmissão da TV devido aos seguidos rebaixamentos.

Porque, enquanto o vizinho tem planejamento profissional dentro e fora do campo, aqui prevalecem o improviso amador, as lambanças diretivas ( exceção a poucos, como o diretor de Futebol Sergio do Prado) e as contratações de baciadas, com reduzidas possibilidades de sucesso a curto ou médio prazo. Tomara que agora seja diferente!

Por esses e outros motivos, hoje o cidadão-torcedor de São Bernardo está com a auto-estima lá em cima e estampa um sorriso de orelha a orelha. Enquanto isso, Santo André vira manchete pelas derrotas no esporte e pelos escândalos que escorrem pelos esgotos do Poder.

Aplausos aos batateiros, que colheram o que plantaram. Vaias de alerta a nós ceboleiros, que, infelizmente, também colhemos o que plantamos. Como o tempo é o senhor da razão, Santo André precisa entender e responder, já que vitórias e derrotas não são definitivas, eternas.

Então, reaja Santo André! Hoje, Santos, Flamengo, Palmeiras, Grêmio, Fluminense, São Paulo, Corinthians e cia fazem parte do seu passado histórico e glorioso. Nada mais!Nos últimos tempos, o ceboleiro, cidadão e esportista andreense, que tanto já se orgulhou, está cansado de passar vergonha.

Para sair do fundo do poço, a sugestão imediata é trabalhar muito e mirar-se no belo exemplo do São Bernardo, um tigre criticado e humilhado quando jogou como gatinho mas exaltado quando se portou como verdadeiro vencedor e deu a volta por cima ao conquistar o acesso.

Se os nobres donos dos poderes na terra de João Ramalho e Bartira não assimilarem críticas construtivas, pertinentes, e preferirem o cinismo característico dos incompetentes, que se dignem a ir plantar batatas!

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