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quinta-feira, 5 de julho de 2012

Sob o testemunho da lua cheia

Particularmente, prefiro a maravilha do futebol-arte. Admiro o futebol criativo, de plasticidade técnica. Aprendi vendo Pelé, Ademir da Guia, Gérson, Pedro Rocha, Rivelino...

Particularmente, acho imprescindível ter objetividade e jogar de forma verticalizada, sempre em direção ao gol. Também sou adepto de 90 minutos carregados de emoção, com lances que fazem o coração acelerar descompassado.

Particularmente, hoje, sou fã do futebol de Messi, Cristiano Ronaldo, Neymar, Iniesta, Fábregas, Xavi e cia bela. Sou fã de quem sabe jogar.

Pois é... O contraditório é que nem sempre a estrela ganha o jogo. Beleza não é sinônimo de título. O fenomenal Barcelona eliminado e o limitado Chelsea campeão da Liga dos Campeões são exemplos indiscutíveis de paradoxos explicáveis. Competência!

Assim como o Barcelona de Iniesta, Xavi e Messi, o Santos de Neymar, Ganso e Arouca foi eliminado na semifinal da Libertadores. O algoz foi o Corinthians, que acaba de ganhar o título inédito ao passar por um Boca Juniors que se apoia na história de seis conquistas mas hoje não assusta ninguém. Merece respeito, mas não mete medo.

Empurrado por 40 mil loucos e sob o clarão da lua cheia, foi assim ontem no Pacaembu. Se estivesse chovendo, também seria assim.

Quando o Corinthians de Emerson não foi submisso e ousou atacar, o Boca de Riquelme abriu as pernas. Se apequenou e, bem marcado,dominado, começou a querer dar porrada.

Cantado em prosa e verso, o Boca não criou nada. Os guerreiros incansáveis não deixaram. O Corinthians de Tite não permitiu. Os operários e a estratégia de jogo de Tite não permitiram.

Como devoto e torcedor do Corinthians, prefiro a ousadia ofensiva. Não tenho medo de correr risco, de perder. Faz parte. O que não pode é se acovardar. Mas sou obrigado a reconhecer que Tite foi o principal homem do campeão invicto.

A começar pela capacidade de gerenciar pessoas, de administrar egos, de liderar com profissionalismo, ética e invejável conjugação de justiça e comprometimento.

Tite teve cômpetência para armar como deveria armar, treinar o que tinha de aprimorar, barrar quem tinha de melhorar. Sem olhar a quem.

Também substituiu quem não estava bem e manteve personalidade para não entrar na pilha de quem exigia o time no ataque, sufocando um Boca matreiro, mas não invencível.

Depois de um primeiro tempo murcho, chato, sem chances de gol e perigoso ( bom só para o Boca), estava na cara que o Timão de tanta gente sofrida voltaria para o segundo diferente, mais com cara de Corinthians do que de Tite.

O defensivismo de doação do conjunto foi executado com perfeição. Como sempre! Tanto que é a melhor defesa da história da Libertadores.

O ofensivismo de ocasião foi objetivo, produtivo e fatal. Meu nome é Émerson! As limitações táticas, físicas e defensivas dos argentinos são visíveis. Por isso, respeito em excesso tinha cheiro de angústia e covardia. Sem contar o nervosismo que fazia a bola queimar nos pés, dando chances para a marcação chegar.

Mas, inteligente e concentrado, o iluminado Tite sabia o que estava fazendo. Sua leitura de jogo era racional e perfeita. Bem diferente da visão apaixonada do torcedor comum. Assim é o futebol moderno, mais à europeia.

Por isso deu Corinthians! Os deuses da justiça estavam de plantão. Não adiantou meio-mundo torcer contra. O Corinthians foi maior! A inveja perdeu! A humilhação está enterrada. O bulling soterrado! Que encontre outra vítima!

Pra quem gosta da arte e da plasticidade, foi mais um jogo sem graça, como Chelsea x Barcelona. Principalmente para argentinos e anticorintianos mais abusados.

Pra quem enxerga o desenho tático, a dedicação, e sente a carga emocional de uma decisão, foi um prato cheio. Principalmente para 30 milhões de corintianos. Que agora sonham com o Chelsea.

Fui festejar na Perimetral, onde encontrei vários amigos. Entre eles um palmeirense. Todos "animados". Gritei! Cantei! Chorei! E daí?

Voltei às duas da manhã. Rouco e cheirando cerveja. Mas feliz. Muito feliz! Ainda sob o inseparável e doce testemunho da lua cheia.

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