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quinta-feira, 28 de junho de 2012

O vereador, o umbigo e o esporte

Na calada da noite, exatamente como reza a cartilha do político mal-intencionado, sem o mínimo constragimento, os vereadores de Santo André acabam de aprovar reajuste de 61,6% para a próxima legislatura.

A classe beneficiada? Ora bolas, a desses trabalhadores exemplares, escravizados e mais necessitados e merecedores do grande prêmio. A dos representantes do "indispensável" Poder Legislativo!

Pra variar, os nobres edis legislaram em causa própria. Quem for eleito, ou reeleito, em outubro, passará a receber cerca de R$ 15 mil mensais a partir de janeiro.

Sem dúvida, um absurdo! Uma vergonha! Principalmente se considerarmos o grosso da população brasileira, daquele operário braçal que pega no batente de verdade, de sol a sol.

Bem diferente de qualquer político, de qualquer partido. Com raríssimas e meteóricas exceções, vereador é enfeite de luxo, um adorno dispensável. Quase todos coçam ou se limitam a fazer conchavos o dia inteiro. O mandato inteiro.

Orçamento municipal é de aproximadamente R$ 2,6 bilhões. Câmara fica com R$ 50 milhões. Vereadores, além dos salários, têm carro à disposição, gasolina, telefone, e altas cotas de xerox e selos. E poder!

Também são contemplados com assessores de meia-tigela e cargos a serem distribuídos estrategicamente no Legislativo e no Executivo. A maioria, comissionados que não fazem absolutamente nada com competência, ética, responsabilidade social e profissionalismo.

São aqueles famosos cabos eleitorais capazes de dar a vida ou vender a alma da mãe para continuar mamando nas generosas tetas mantidas pelos impostos pagos pelo cidadão comum. Adoram puxar o saco do chefete que usa o nosso dinheiro para pagar o seu salário.

Enquanto isso, outros segmentos, que deveriam ser olhados com mais respeito e menos descaso, têm orçamentos pífios, inferiores a 1% do bolo. O esporte é um deles.

Lembrado apenas quando interessa a alguém, em anos eleitorais, o esporte da cidade é menosprezado, olhado com certo desdém, pelo prefeito Aidan Ravin e pela maioria dos vereadores.

Talvez Paulinho Serra, Bahia, Montorinho (também apoiaram o aumento umbilical) e Pinheirinho sejam exceções na área esportiva, mas não têm força individual suficiente para mudar muita coisa. Estádio Bruno Daniel e equipes de alto rendimento são exemplos do descaso do prefeitão e seus pares.

Poucos se dispõem a lutar pelo fortalecimento do segmento esportivo em todas as suas valências. Incluindo formação, pelo educacional e pelo social. Estão mais dispostos a perfumarias insignificantes, nepotismos, fisiologismos, benesses e troca-trocas envolvendo os poderes.

Olham descarada e apaixonadamente para o próprio, e lindo, umbigo. Se esquecem das verdadeiras necessidades da população. Aquela que precisa se virar com salário-mínimo e cujos filhos não têm oportunidade de inserção social.

Defendem o seu, o da família, dos amigos e demais protegidos. Dão de ombros para a responsabilidade fiscal e para os limites orçamentários, sempre lembrados quando a reivindicação parte de outros setores.

Enquanto isso, o esporte andreense -- e não só o futebol profissional --, que já foi referência nacional e destaque internacional, fica jogado às traças. Sem dinheiro e com competência administrativa discutível, o sucesso fica ainda mais improvável.

Há vagabundos de plantão, mas alguns profissionais comprometidos com o esporte e com a cidade se dedicam. Recolhem migalhas para sobreviver e tentar descobrir algum talento; quem sabe conquistar algum título na marra, formar um cidadão de bem, com a força do coração, de quem ama o que faz.

Nem sei se a tramóia legislativa me surpreende (São Caetano, Ribeirão Pires e outros vizinhos fazem o mesmo ou pior), mas, aqui, apenas Pinheirinho, o polêmico vereador das bicicletas, das traíras e das pizzas, votou contra o reajuste indecente. Alemão do Cruzado se absteve. Isso segundo o DGABC.

Os demais, candidatos ou não à reeleição, cravaram o punal nas costas do povão sem a mínima complacência. Isso sim é investir no futuro. Ao esporte, as batatas!

Se a torcida corintiana -- e nela me incluo -- se define como um bando de loucos, fica a nítida impressão de que em Santo André somos considerados um bando de idiotas. Um bando de trouxas!

Nos omitimos e nos portamos como pseudocidadãos, sem coragem para simplesmente exercer o legítimo direito à cidadania. Cordeirinhos, sem força pra berrar. Torcedores passivos, sem peito para gritar gol.

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