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sexta-feira, 1 de junho de 2012

Políticos, fraldas, pizzas e bicicletas

Num discurso histórico, no Senado, em 1914, o escritor e político Ruy Barbosa foi cirúrgico e "premonitório" no desabafo: "De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantar-se o poder dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto".

Num ano qualquer do século XIX, já que nasceu em 1845 e morreu em 1900, Eça de Queirós escreveu: "Os políticos e as fraldas devem ser trocados frequentemente, e pela mesma razão".

Frase acima, igualmente secular, é atribuída ainda a Mark Twain e Bernard Sham, mas o que importa é a essência, o recado que cai como uma luva nos tempos e nas condutas atuais. Passaram-se cem anos e quase nada mudou.

Quer dizer, o que mudou foi pra pior. O modus operandi evoluiu. Ainda somos feitos de palhaços quando teimamos em acreditar em promessas de campanha e conversa fiada!

Hoje as fraldas são tão descartáveis quanto a maioria dos políticos. Só que as fraldas vão para o lixo e os "escolhidos" a dedo insistem em completar bodas de ouro no conforto do poder.

E continuam a fazer cagadas malcheirosas. Se é que há cagada perfumada! Melhor não duvidar da capacidade de dissimulação de senhores tão nobres. Infelizmente, sobra enganação, sobra fisiologismo. Também sobra omissão. E bosta! Isso mesmo, não se ofenda, sobra bosta!

Falta fralda, falta atitude digna de quem foi eleito para legislar com o mínimo de competência e transparência. Falta comprometimento com a coisa pública. Ninguém, aqui, está a cobrar condenação sem julgamento justo.

Salvo raríssimas exceções, que se perdem na generalização, políticos são mesmo como bebês, dados a cagadas sem aviso prévio. Nem ao menos flatulência. Nem um peidinho!Afinal, avisar pra quê?

Exemplo de mais uma omissão/cagada coletiva, bem coberta pelo manto do protecionismo descabido, foi perpetrado outro dia por alguns vereadores da base de sustentação do prefeito de Santo André.

O rabo preso com o poder maior, Aidan Ravin, fez a CPI do Semasa terminar em pizza. Que novidade! O cidadão foi enganado! Mais besteira! Mais caca! O teatrinho investigativo deu em nada. O esgoto semasiano conduziu tudo, inclusive a propalada propina, para uma enorme fossa séptica. Ou seria uma fossa de campanha?

Assim tem sido há séculos! Desde os imperadores da Roma antiga. Trocam-se favores, em todos os segmentos -- não é só político que é safado, não! --, sem se respeitar a ética dos homens de bem. E, já que o papa está tão longe, que o pobre munícipe vá reclamar com o bispo!

Por incrível que pareça, no caso da possível extorsão no Semasa quem está mais próximo da coerência é o folclórico e contestado vereador da bicicleta. A ideia não é nova, mas pelo menos o polêmico Pinheirinho teve peito para demonstrar sua insatisfação (e de muitos) ao oferecer pizza na Câmara Municipal.

A culpa recaiu exatamente sobre quem acusou a existência de pagamento de pedágio para liberar licenças ambientais. Não sobrou pra nenhum acusado. A CPI apurou superficialmente, relatou economicamente e concluiu precipitadamente.

Nova CPI já foi criada pela oposição. Sem contar as investigações da Polícia Civil e do Ministério Público, que, acredita-se, sejam mais sérias. A nova CPI, se não acabar amanhã, não pode ser outro engodo.

Tomara, também, que o prefeitão tome atitude firme e, mesmo que tardiamente, venha a público para dar respostas mais claras e consistentes. Se não quiser entregar a reeleição de mão beijada ou até ser apeado do poder antes mesmo de concluir o primeiro mandato.

O prefeito só não pode ser incriminado sem o sagrado direito do contraditório, da defesa. Afinal, embora limitado como gestor, Aidan não é bandido.

Como o cidadão comum já está de saco cheio de ser desprezado, empurrar com a barriga, sem justificar, não é a melhor alternativa. É sinônimo de boi fujão, de enganador dissimulado e inseguro, que não respeita e não se dá ao respeito.

E respeito, justiça e honestidade são fundamentais para quem faz parte de uma CPI que deve investigar sem sentença definida. Se a nova Comissão Parlamentar de Inquérito também der em nada, é melhor Pinheirinho contratar todos os ciclistas da Volta da França. Se faltar voluntário, basta dar um alô para o pessoal da Bélgica.

Se fosse vivo, talvez o senador/ministro baiano sentiria ainda mais vergonha, mais nojo do que acontece em todas as camadas do poder, independente das preferências partidárias. De Santo André a Brasília!

Talvez hoje o desiludido intelectual, o Águia de Haia, optasse por escrever sobre a final da Liga dos Campeões, sobre a semifinal da Libertadores ou sobre a revolta das bicicletas. Amenidades!

Já o grande escritor português, se ainda estivesse entre os vivos, não teria dúvida: "É muita bosta pra pouca fralda!" Vai faltar bicicleta, caro Pinheirinho! Não se esqueça das carretinhas e do perfume francês!

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