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terça-feira, 7 de agosto de 2012

Medalhas, sonhos e a dura realidade olímpica

César Cielo sonhou com a medalha de ouro e ganhou a de bronze nos 50m livres. Como campeão olímpico, não se contentou. Está certo! Mas nós, brasileiros, ficamos felizes e orgulhosos do nadador de Santa Bárbara do Oeste.

Thiago Pereira não sonhou com medalha nos 400m medley mas vibrou com a prata ao chegar na frente do fenômeno Michael Phelps. Projetou medalha nos 200 medley e deu com os burros n'água. Agora, certa decepção. Mas nós, brasileiros, de novo ficamos orgulhosos. "Vai Thiago".

A piauiense Sarah Menezes entrou no tatame para ganhar medalha e ganhou. Sonhou com o ouro e ganhou ouro. Judoca foi recebida no Piauí como heroina e transbordou de felicidade. Nós também. Muito!

A gaúcha Mayra Aguiar projetou medalha de ouro mas parece que não se decepcionou com a de bronze. Outro motivo de orgulho para o judô e para o esporte nacional. Porto Alegre é só alegria.

Outro gaúcho, Felipe Kitadai talvez nem tenha sonhado com medalha, mas conquistou um bronze com sabor de ouro. Méritos para quem treina feito louco e supera obstáculos aparentemente intransponíveis. Desfile em carro aberto, Corpo de Bombeiros, é o mínimo.

O "pequenino" Baby, com quase 150 quilos de simpatia e dedicação, também ganhou bronze no judô. Nem sei se sonhou, mas ganhou com méritos e merece nossos aplausos.

Ainda no judô de tantas medalhas, os campeões Leandro Guilheiro e Thiago Camilo sonharam com medalha de ouro e voltaram com o peito vazio. Nem por isso precisam abaixar a cabeça, nem deixam de nos orgulhar.

Assim como Rafaela Silva. Sonhou com o ouro, aplicou golpe irregular e, desclassificada, acabou em prantos. Decepção de uma campeã que ralou para chegar ao topo e agora é humilhada e discriminada por cretinos virtuais, que a fizeram perder a paciência na Internet. Criticar é admissível; ofender, jamais. Nossa judoca vale ouro. E esses imbecis de plantão não valem nada.

No iatismo, o fabuloso Robert Scheidt com certeza sonhou com a medalha de ouro. Como campeão olímpico e mundial, ficou frustrado com o bronze. Nós, não! Só temos motivos para enaltecer as conquistas de Scheidt.

Quanto ao seu parceiro, Bruno Prada, deveria dar a medalha de bronze de presente aos "melhores dirigentes políticos esportivos do mundo", elogiados pelo medalhista em entrevista como capazes de convencer o COB a não excluir a classe Star em 2016, no Rio. Jeitinho?

Na ginástica artística, o andreense Diego Hipólito e a gaúcha Daiane dos Santos sonharam com um ouro inédito e deram com a cara no chão. Acontece! Não é por isso que vão deixar de merecer nosso respeito eterno. São ícones, são heróis solitários no país do futebol.

Outro ginasta, Sérgio Sasaki, de São Bernardo, não voltou com medalha, mas ficou entre os 10 melhores do mundo e por isso também nos faz sentir orgulho e reconhecimento. Um campeão sem medalha.

Arthur Zanetti, de São Caetano, foi medalha de prata no Mundial de Tóquio e agora ganhou ouro nas argolas. Com certeza, sonhou com o ouro e acordou com a medalha no peito. Orgulho é pleonasmo, redundância. O menino Arthur é o nosso rei de ouro sem espada.

No atletismo, nossa saltadora campeã mundial Fabiana Murer, da BM&F-Bovespa/São Caetano, sonhou alto demais e ficou no alto sarrafo da realidade. Queria ouro e voltou com a vara na mão.

Culpa do "vento", mais conhecido como incompetência emocional. É magnífica, mas amarelou! Nem por isso deixa de merecer nosso respeito eterno. Ofendê-la pelas redes sociais é um pecado. Imperdoável!

Maurren Maggi, campeã olímpica e uma das favoritas no salto em distância, não passou da fase classificatória. Com 36 anos e recém-recuperada de lesão muscular,a filha de São Carlos não quer encerrar carreira, mas parece ter chegado ao limiteda superação.

É outra vítima do Facebook e dos desbocados ocultos, protegidos pelo anonimato virtual. Maurren jamais deixará de ser nossa grande campeã. Obrigado, meninona!

No vôlei masculino e no feminino, sonhamos com medalha e ainda estamos no páreo. Independente de conquistas, somos dourados. Ninguém tira!

No vôlei de praia, sonhamos com medalhas de ouro tanto no masculino quanto no feminino. O masculino vai disputar ouro e o feminino a medalha de bronze, com Juliana e Larissa. Parece pouco pra elas, mas muito pra nós.

No futebol masculino, ainda não convecemos mas vamos fazer a final contra os mexicanos. É preciso jogar mais para ganhar a inédita medalha de ouro e a grana da CBF.

Sinceramente, para a maioria do pessoal do futebol, ganhar ou não a medalha de ouro não vai fazer tanta diferença. Eles não ralam um décimo dos outros atletas olímpicos.

A imensurável honra de defender o País numa Olimpíada não combina com premiação de R$ 180 mil prometida pela CBF. Soa como ofensa a tantos outros atletas mais guerreiros, mais dedicados e menos endinheirados.

No feminino, Marta, Cristiane e cia sonhavam com a inédita medalha de ouro mas abusaram da individualidade e da falta de organização tática. Dançaram diante do Japão e a medalha virou pesadelo.

As meninas são as menos culpadas. CBF nada em dinheiro mas não consegue nem promover um campeonato brasileiro decente. Se fôssem campeãs, o oba-oba seria geral. E agora?

Nosso basquete masculino viajou pensando em medalha e não está fora da luta. Tem tido desempenho exemplar e agora pega a Argentina. Parada indigesta. Se passar, vai encarar provavelmente os favoritos americanos. Aconteça ou que acontecer, merecem aplausos.

Já o feminino falava em medalha da boca pra fora. Não deu outra. Voltamos cabisbaixos, sem passar da primeira fase. Culpa das meninas? Também não! Nosso campeonato nacional é pobre; as excepcionais Hortência e Paula são doce passado. Que tal trabalhar mais e valorizar o conjunto, a base e os jovens talentos?

No boxe, já temos dois bronzes garantidos e podemos chegar ao ouro. Guerreiros desde crianças, no entorno da periferia da periferia sem ao menos saneamento básico, no fundo dos grotões, nossos heróis lutam primeiro pelo próprio direito de viver. Merecem respeito, acima de tudo.

Enfim, independente da modalidade e das condições oferecidas, os atletas quase sempre sonham com medalha. Mesmo que seja pura utopia, sonham um sonho impossível. E nós cobramos. Às vezes sem base, sem argumentos. E falamos besteiras.

Humilhamos, até, aquele ser humano que treina feito um cavalo, luta com todas as suas forças, mas está sujeito a falhas. Como todos nós. Pode até ficar com medo de perder, mas merece ser perdoado. Suas conquistas não podem cair no esquecimento.

Nossa realidade olímpica é bem diferente dos nossos sonhos. No país do futebol, ser ídolo em outra modalidade já é um ato de heroísmo. Ser atleta olímpico é uma proeza de poucos.

Por isso, todos, todos os nossos representantes esportivos devem ser respeitados. Com ou sem vitória; com ou sem medalha.

Que sejam cobrados os dirigentes descompromissados. Aqueles normalmente eternizados no poder. Aqueles nobres senhores, arrogantes e cínicos, que se adonam do esporte como se fosse sua propriedade.

Que sejam emparedados todos homens públicos responsáveis pela insuficiência de investimentos e pela inexistência de uma política de Educação Física e esporte (educacional, social, formativo e de alto rendimento) de longo prazo; consistente, abrangente e digna.

Medalha não deve ser prioridade, senhor ministro do Esporte!. Apenas consequência de um trabalho sério, que vise inicialmente à formação de cidadãos de bem, a serem inseridos na sociedade. Simples assim! Basta ter vontade e vergonha na cara!

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