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sábado, 4 de agosto de 2012

O vento, a pipoca e o medo de não ganhar

No momento em que vi a cena, fiquei triste; chocado, até. O estádio lotado, a pista e as áreas de salto recheadas de atletas olímpicos.

Desolada, desorientada, perdida, com olhar vago, a quilômetros de distância, ali estava mais uma vítima da derrota surpreendente. A grande saltadora brasileira Fabiana Murer, atleta de São Caetano patrocinada pela BM&F, acabara de ser eliminada pelo vento.

Sim, isso mesmo, pelo vento, segundo justificativa da própria campeã mundial do salto com vara. Favorita à medalha de prata e com possibilidades de desbancar a russa Yelena Ysinbaieva, recordista mundial, Fabiana Murer sonhou com o ouro e perdeu do vento.

Sim, depois de duas tentativas frustradas de passar o sarrafo a 4,55m, a brasileira abortou a terceira incursão por causa do vento. Ao se preparar outra vez e dar as primeiras passadas, parou novamente e estourou o minuto regulamentar.

Alegou que o vento estava ainda mais forte e que não saltou porque poderia se machucar. Era prioritário preservar a integridade física, segundo a atleta.

Aquela mesma que em Pequim, quatro anos atrás, ficou em décimo lugar porque sumiram com sua vara predileta, específica para o salto daquele momento. Fabiana também decepcionou em 2011, quando era favorita e foi derrotada no Pan de Guadalajara.

E agora, além do vento, justifica que alterou a forma de saltar há pouco tempo e ainda não está totalmente adaptada. Daí a oscilação. Argumentos não colam! Vento é para todas e alteração de forma de saltar não é do dia pra noite.

Respeito muito o atleta brasileiro, quase sempre um herói solitário, um exemplo de vida normalmente de origem humilde. Um guerreiro, sem tanto apoio, que treina feito um cavalo e realiza, no peito, sonhos quase impossíveis.

Porém, lamento sinceramente, mas não posso concordar com a atitude (ou falta de?) da nossa excepcional Fabiana. O que vi hoje de manhã me deixou decepcionado. Primeiro, pela frustração de quem treina e se prepara tanto para a conquista e, na hora H, dá tudo errado.

Segundo, porque foi chocante, intrigante, a falta de espírito olímpico, de determinação. Independente do vento, tinha de saltar. Mesmo que se arrebentasse em nome da "pátria" ou do orgulho próprio. Fiquei triste com a falta de gana com que tantas vezes nossos olhos já foram premiados em competições olímpicas.

Antes do primeiro salto para 4,55m Fabiana já demonstrava tensão. No segundo, então, a musculatura facial retesada indicava que algo estava errado. Na terceira, não me contive. Avisei minha esposa, Angela, que a brasileira estava com medo de saltar, com medo de errar. Não deu outra!

Dizem que o medo de perder tira a vontade de ganhar. Se não tira, é meio caminho andado para perder. O segredo é saber administrar. Parece que com Fabiana acontece outro "fenômeno", além do medo de perder e do próprio vento.

Dá a impressão, pelas últimas decepções, que Fabiana não pode aparecer com favorita a medalha em competições com alto índice de importância e idêntica carga de adrenalina, ansiedade e estresse.

Parece que ela sentiu o peso da responsabilidade e ficou com medo de (não) ganhar. Afinal, representa o sonho de milhões de brasileiros. Lamentavelmente, fiquei com a impressão de que Fabiana pipocou.

Sei que o verbo é pesado, mas não tira todos os méritos das conquistas da campeã brasileira. A brisa virou vento, o vento virou furacão, o furacão virou pesadelo, o pesadelo virou medo e o medo virou fiasco.

Puro complexo de inferioridade. Mais uma vez, ficamos na metade do caminho por falta de competência emocional. Nada que um bom psicólogo não pudesse ajudar a resolver. Se é que Fabiana não tem tal assessor.

Tomara que Maurren Maggi, outra grande campeã (no salto em extensão) que às vezes também costuma tremer e até ficar mais perto de lesões musculares em duelos da elite internacional, não seja vítima dos mesmos ventos.

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