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quinta-feira, 24 de maio de 2012

Um cachorro no meio do caminho

Se você estiver pensando em se dirigir ao 1º Distrito Policial de Santo André, ali na Xavier de Toledo, centro, para fazer um simples Boletim de Ocorrência, pense bem. Pode dar com os burros n'água! Como eu, você pode perder tempo e sair indignado.

Ontem à tarde, fiquei lá por cerca de duas horas e meia e não consegui passar nem pela estranha "triagem de ocorrências". Um rio de perguntas repetitivas e um córrego de respostas evasivas, inconsistentes.

Expliquei pelo menos seis vezes por que queria fazer um BO. No guichê, pelos buraquinhos do vidro, o distinto "investigador" Luiz, educado mas aparentemente meio enrolado, parecia não entender.

Contei o que acontece há pelo menos um ano e ele me pediu pra desenhar e emprestar as fotos. Sou péssimo em desenho (e matemática), mas fiz um esboço da minha rua e das três casas envolvidas numa maldita passagem de servidão à qual também tenho direito, por escritura datada de, pasmem, 1947.

Pelo menos seis vezes, o "investigador" foi lá dentro e voltou sem que alguém, delegado ou escrivão -- talvez um detento? --, conseguisse classificar meu assunto como merecedor de uma simples ocorrência a ser investigada.

Mesmo sendo meu direito legal solicitar um BO, possivelmente de "esbulho possessório", o nobre "delegado" Vagner Bordon, ou alguém que falava em seu nome, entendeu que não era o caso. Convenhamos, pura falta de vontade!

Simplesmente, ninguém me recebeu, lá dentro, com o mínimo de educação. Só recados alternados: "O senhor já falou com o inquilino? O cachorro dele é grande? É bravo?". "O senhor já chamou a Zoonose?" "É melhor procurar o pessoal do Forum e entrar com ação".

No último recado, depois de muito insistir para ser recebido pela autoridade policial, alguém mandou a pérola: "Não cabe ocorrência. Seria mais fácil se tivesse lesão corporal, se o cachorro tivesse mordido o senhor" -- disse o moço enrolado que, acho, já estava me enrolando. Mas com educação ímpar! Só essa que me faltava!

Você deve estar curioso. Então, tento explicar sem entrar em detalhes nem desenhar. Desde que você não seja mais um investigador recadista ou um delegado oculto. Afinal, nem sei se o dr. é gordo, magro, alto, baixo, preto ou branco.

Amparado pelo "advogado-procurador" da proprietária do imóvel, o pouco sensato inquilino de uma casas laterais, a 3, plantou um cachorro no corredor de um metro de largura e fez da passagem de servidão comunitária seu quintal. Pode? É muita pretensão!

Um absurdo! Uma insensatez que já dura um ano e não foi resolvida na conversa franca, de quem se julga decente. Depois de mais de meio século sem problemas, de repente, por capricho de quem quer exclusividade, não tenho mais o direito de ir, vir e até alugar, como todos?

Se quiser reclamar do abuso, tenho de pagar para entrar na Justiça ou, conforme sugestão da autoridade, dar mole para o cachorro me morder. Tá de brincadeira, né, "delegado". Me recuso a acreditar!

Pensei que a falta de bom senso, de atitude sensata, fosse só do meu novo vizinho e de quem alugou o imóvel sem as devidas informações e, estranhamente, lhe dá respaldo, possivelmente de olho na área do corredor que deveria ser utilizado de forma igualitária.

Após o último recado/desrespeito, imaginei: pelo jeito, as autoridades competentes --ao menos para intimar os envolvidos a prestarem esclarecimentos -- estão muito ocupadas ou não parecem tão dispostas a trabalhar em caso, para eles, imagino, tão mesquinho. Detalhe: em duas horas e meia, foi feita apenas uma ocorrência.

Se, conforme orientação de especialista, a lei me faculta o direito ao BO -- afinal, não sei o que pode acontecer amanhã -- por que tantos empecilhos sem sequer se dignar a me ouvir sem intermediários? Me indignei, sim! Por isso o desabafo particular.

Fiquei chateado mesmo! Até cogitei procurar a Ouvidoria da Polícia, mas descartei ao concluir que poderia passar por mais um desconforto. Vim embora pra casa nervoso, com a sensação de que aquilo ali, pelo menos a julgar pelas atitudes de ontem, foi feito para dar canseira e não funcionar.

Lamento por não ter tomado uma atitude menos educada assim que o cara enfiou aquele cachorro no meu caminho, no corredor de todos. Perdi o momento e agora sou obrigado a pagar mico na Delegacia por tentar resolver com bom senso, com a mediação de quem ganha para orientar e fazer valer a autoridade; não para se omitir.

É triste, viu delegado! É duro ter como argumento um esbulho possessório (perda do direito de posse ou de uso) e sair se sentindo vítima de esbulho "paciensório" ( invenção minha, para a inevitável perda de paciência).

Se coloque no meu lugar (e de outro vizinho prejudicado) como cidadão comum. O cachorro não tem culpa, claro, mas late, morde, cheira mal, faz sujeira e impede a passagem opcional de duas famílias. Afinal, está no meio do caminho.

Se fosse vivo, talvez Carlos Drummond de Andrade pudesse trocar a famosa pedra pelo cachorro. "No meio do caminho tem um cachorro. Tem um cachorro no meio do caminho".

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